Por Gustavo Franchini
A segunda edição do Summer Breeze Brasil começou com a presença de um fator natural que perdurou por todos os dias: o sol escaldante. Mesmo assim, o público se mostrou disposto a marcar presença, participando ativamente de tudo que o evento tinha a oferecer e é possível afirmar que foi mais um sucesso. Desta vez houveram algumas mudanças estruturais, como por exemplo o palco Waves, que deixou de ser fechado para a imprensa e ingresso VIP em ambiente interno, se tornando um novo palco que foi montado próximo à entrada, em tamanho decente e até grade para organizar a área de pit dos fotógrafos, mas ainda bem separado dos outros, o que atrapalhou um pouco o número de espectadores das bandas que tocaram por lá, já que era difícil conciliar com os outros shows.
O palco que ganhou destaque foi o Sun que, além de ótimas atrações, equilibradas e que possuem sinergia com o gênero proposto em cada dia, ainda entregou um som tecnicamente bem melhor do que o do ano passado, de fato em muitos momentos se tornando o preferido de muitos presentes. Nem as palmeiras ali atrapalharam a empolgação dos que lotaram muitos shows que foram agraciados neste espaço. A grande vantagem foi poder estar mais próximo dos ídolos, de banheiros, truck foods e bancos de cimento para descanso, tendo um pouco mais de sombra proporcionada pelas árvores e a área reservada à Horror Expo, na qual era possível observar muitas pessoas sentadas próximas às pilastras.
Neste primeiro dia tivemos a cobertura das bandas Dr. Sin, Tygers of Pan Tang, Massacration, Biohazard, Edu Falaschi, Black Stone Cherry, Exodus, Sebastian Bach, Mr. Big e Gene Simmons Band.
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Sun Stage
Dr. Sin
O sol já estava forte quando o power trio Dr. Sin subiu ao palco para uma apresentação que se torna cada vez mais rara, ao mesmo tempo em que “competia” com o show do Edu Falaschi no palco principal, visto que ambos tocaram praticamente no mesmo horário. E de fato uma escolha certeira para substituir o grandioso ex-guitarrista se deu com o acreano Thiago Melo, super competente nas seis cordas. Foi bonito ver o público cantando todas as conhecidas e dando apoio na nova “Only the Strong Survive”, que mantém fielmente a identidade da banda, além de mostrar todo o fôlego dos veteranos irmãos Ivan e Andria Busic. Viva o metal nacional!
Fotos / Setlist (Dr. Sin)
Tygers of Pan Tang
Após mudanças de formação e tretas internas, os ingleses do Tygers of Pan Tang mostraram ter dado a volta por cima, em especial o guitarrista Robb Weir, que mostrou determinação em manter o grupo em atividade desde o início da década de 80 até os dias de hoje. Se depender dos paulistas, o gênero NWOBHM está vivo e tem plateia, o que chega a impressionar pela quantidade de pessoas ali para prestigiarem o trabalho do quinteto. O repertório foi bem dosado com músicas antigas e novas para agradar a todos, sem tornar algo burocrático, com destaque para a ótima “Back for Good” e, claro, “Only the Brave”.
Fotos / Setlist (Tygers of Pan Tang)
Massacration
O brasileiro também merece relaxar e se divertir sem levar tudo tão a sério, então um grupo maravilhoso de sátira ao heavy metal como o Massacration, liderado pelo vocalista Bruno “Detonator” Sutter e seus parceiros do saudoso programa humorístico Hermes & Renato da extinta MTV Brasil, se tornou quase que uma válvula de escape para os problemas da vida. O interessante é que todos são muito bons no que fazem, sem playback, sem sampler, sem ninguém emulando guitarras, tudo feito ali ao vivo com a maior dedicação. Ou seja, se você vai a um show deles pra se divertir e também curtir boa música executada com qualidade, então está no lugar certo.
O hit “Metal is the Law”, que foi tocado incessantemente na mídia há quase 20 anos, é apresentado logo de cara, somado aos cômicos “Metal Milkshake” e brincadeiras no discurso de “Metal Milf”, no qual o frontman dedicada à todas as mamães (risos). Aliás, a quantidade de interações caricaturais de personagens famosos da televisão transforma o show em um verdadeiro espetáculo teatral, com direito à referências de Gilberto Barros, Max Cavalera e Roberto Carlos, dentre outros. A nova música “Metal is My Life” teve boa recepção, o que gera otimismo em relação ao próximo álbum a ser lançado.
Fotos / Setlist (Massacration)
Biohazard
O hardcore punk também se fez presente com os nova iorquinos do Biohazard, que pareceu querer presentear a relação com os brasileiros tocando um repertório com apenas os hits dos álbuns mais conhecidos, levantando demais os fãs que estavam ali para conferir uma apresentação forte e cheia de nostalgia, ainda mais com a presença de Evan Seinfeld de volta à banda. Era possível observar rodinhas (moshs) em um dia que nem era o reservado para o som mais pesado, o que surpreendeu bastante, já que era o mesmo horário dos headliners da noite. “Shades of Grey”, “Punishment” e “How It Is” foram garantia de headbangin’ em uma noite estrelada.
Fotos / Setlist (Biohazard)
Hot/Ice Stage
Edu Falaschi
Figurinha certa nos palcos paulistas, o vocalista ex-Angra com uma carreira solo estupenda (diga-se de passagem), Edu Falaschi, mesmo no calor que já esquentava a todos no horário ingrato em que foi selecionado para se apresentar, se mostrou bem à vontade para um público que cantou em uníssono todas as canções do início ao fim do show. Das 13 músicas que figuraram no setlist, 10 eram do Angra, ou seja, Edu já está preparando para a nova turnê de comemoração de seu clássico álbum tão querido pelos fãs (Rebirth – Live in São Paulo, de 2002).
Com uma banda formada por músicos de primeira, “Acid Rain”, “Heroes of Sand”, “Rebirth” do álbum mencionado, somadas a “Live and Learn”, “Temple of Hate” e “Bleeding Heart”, exemplos de algumas tocadas de outros, o objetivo era percorrer as canções de sucesso de sua carreira. A faixa-título do excelente Eldorado, uma das melhores de sua fase solo, e “Sacrifice”, certeiramente funcionaram ao vivo. Considerando as dificuldades técnicas em sua voz para executar músicas de mais de 20 anos atrás, Edu está muito bem e definitivamente tem a plateia nas mãos com seu carisma e disposição.
Fotos / Setlist (Edu Falaschi)
Black Stone Cherry
Falando em dificuldades técnicas, uma das bandas que mais sofreu com isso foi justamente os estadunidenses do Black Stone Cherry, uma das atrações mais aguardadas do festival. Não só o som do palco estava aquém do esperado (além de um volume ensurdecedor dos graves), mas também vários problemas com pequenos detalhes como cabos e correias, atrasando bastante o início da apresentação e testando a paciência dos espectadores, que só permaneceram nos devidos lugares por conta da simpatia dos integrantes e pela expectativa de finalmente ter a oportunidade de ouvir um hard rock com bastante groove.
Ao longo da apresentação, as coisas foram sendo resolvidas e o show foi tomando forma como merecido, demonstrando o poder de músicas como “White Trash Millionaire”, “Again” e “Cheaper to Drink Alone”. Empolgação não faltava por parte do vocalista e guitarrista Chris Robertson e cia., todos muito animados de poderem estar pela segunda vez em terras tupiniquins. Inclusive as músicas presentes do álbum lançado no ano passado, Screamin’ at the Sky, “Nervous” e “When the Pain Comes”, foram bem recebidas.
Fotos / Setlist (Black Stone Cherry)
Exodus
Pioneiros no gênero, o thrash metal de Bay Area do Exodus simplesmente foi o mais arrebatador do primeiro dia, gerando êxtase nos presentes que batiam cabeça até cansar ao som de clássicos como “Bonded by Blood”, “Blacklist”, “A Lesson in Violence” e “The Toxic Waltz”, que fez até questionar se o grupo deveria ter se apresentado no terceiro dia. A sequência de bandas que agitaram a todos desde o começo do evento parece que não tirou nem um pouco o fôlego de quem estava lá para sentir literalmente de corpo (e também de alma) os riffs destruidores do duo de guitarras Lee Altus e Gary Holt, ou a bateria agressiva de Tom Hunting, complementada pelo vocal tradicional de Zetro e o baixo quase inaudível de Jack Gibson, um detalhe técnico que não atrapalhou a performance geral.
Fotos / Setlist (Exodus)
Sebastian Bach
O eterno ex-Skid Row e dono de uma vasta cabeleira que se mantém intacta mesmo aos 56 anos, o vocalista e frontman Sebastian Bach entra empolgado em palco já apresentando música do álbum prestes a ser lançado, Child Within The Man, “What Do I Got to Lose?”, uma boa composição que, somada à outra presente no repertório, mostra que este novo disco com participações especiais variadas tem tudo pra impactar o mercado. Se em estúdio ainda consegue gravar uma voz de qualidade, por outro lado, em shows recentes anda deixando a desejar, lembrando um pouco Axl Rose nas dificuldades em alcançar tons mais agudos, apelando para falsetes ‘secos’ e um timbre mais anasalado.
Como era de se esperar, as músicas famosas de sua ex-banda formaram praticamente todo o repertório, salvo 3 músicas solo (rolando até trecho a capella), 1 cover do PainmuseuM e a tentativa de executar “Tom Sawyer” do Rush, mas que infelizmente não foi bem-sucedida. O público recebeu bem músicas clássicas como “18 and Life”, “Slave to the Grind”, “Monkey Business”, “Youth Gone Wild” e, claro, a balada “I Remember You”, aceitando que o tiozão já não tem a mesma potência vocal de outrora. O lado bom é que tentou compensar com uma postura enérgica, simpatia, bastante interação artista/plateia e atitude rock’n’roll, algo que sempre teve desde o início da carreira.
Fotos / Setlist (Sebastian Bach)
Mr. Big
Detentora de muitos hits que aconchegam o coração dos brasileiros há decadas, o atual trio de hard rock Mr. Big (após o falecimento do baterista da formação original, Pat Torpey e, atualmente, com o competente Nick D’Virgilio assumindo as baquetas e vocais de apoio) resolveu retomar shows na segunda turnê de despedida, a The Big Finish, que prometia muito e… entregou mais ainda! Eric Martin, Billy Sheehan e Paul Gilbert juntos parece a fórmula da cozinha perfeita, visto tamanho entrosamento e qualidade individual que se transforma positivamente em uma obra coletiva bem polida.
O vocalista e frontman, além de ser uma figurinha carismática, ainda mantém o timbre que lhe deu fama na juventude, apesar de ter dificuldades em cantar certos trechos de canções mais emblemáticas, mas que em nada atrapalha o espetáculo. Aliás, espetáculo é poder ter o privilégio de ver a poucos metros de distância o virtuoso e perfeccionista guitarrista que, mesmo com seu problema auditivo, mostra como dom é para poucos mesmo. Que aula nas seis cordas! E temos ainda o mestre das quatro, conhecido por ter sido um dos percursores da técnica de two-hand tapping no baixo, usando um timbre bem característico pela sua potência. Em suma, temos aqui grandes músicos reunidos em prol de simplesmente fazer o público sorrir e pular, feito que conseguiram sem o menor esforço.
O setlist já começa com a paulada “Addicted to That Rush”, seguida do lindo refrão de “Take Cover”, cantada em uníssono por todos. Puro anos 90! Uma das favoritas dos amantes da técnica instrumental em “Daddy, Brother, Lover, Little Boy (The Electric Drill Song)” e a brincadeira com a furadeira no solo, a excelente”Just Take My Heart”, a balada absoluta “To Be With You”, o cover que muitos acham ter ficado melhor que o original, “Wild World”, a praticamente speed metal “Colorado Bulldog”, dentre outras que de fato não deixaram sequer uma alma viva parada. O que dizer do riff de “Green-Tinted Sixties Mind”? A energia era fabulosa, a entrega era intensa e o resultado não poderia ser melhor. A intenção era tocar de forma íntegra o álbum mais bem-sucedido da banda, Lean Into It (1991), mas três ficaram de fora pelo tempo relativamente curto de festival. E vale lembrar que Martin, Gilbert e Sheehan já são senhores de idade, mas com a disposição de jovens adultos. Quem sabe podemos aguardar por uma terceira turnê de despedida em terras tupiniquins?
Fotos / Setlist (Mr. Big)
Gene Simmons Band
Apesar do fim da lendária banda Kiss, o baixista e vocalista Gene Simmons não parece querer interromper sua carreira tão cedo. Prova disso é o projeto em que reuniu grandes músicos para tocar canções de sucesso de sua ex-banda com a chamada Gene Simmons Band (nome não muito criativo, mas que com certeza atrai público), realizando show inédito no Brasil e que de fato gerou muita curiosidade. Vale ressaltar que não é a primeira vez que Simmons se apresenta sem máscara e em carreira solo, mas é a primeira que apresenta uma banda ousada teoricamente fixa para um público gigante em festival brasileiro.
A escolha pelos guitarristas Brent Woods (que havia se apresentado mais cedo ao lado de Sebastian Bach) e Jason Walker, somado a Brian Tichy na bateria pareceu acertada, já que as músicas foram executadas de maneira limpa e coesa, sem parecer algo amador e desconexo. Pra completar, o som claramente estava mais pesado do que a gravação original, mostrando um lado mais heavy de Simmons, que ainda é habilidoso no baixo e nos momentos em que assumia os vocais. Isso porque Walker foi responsável por cantar várias canções com tons mais agudos na época de ouro de Paul Stanley, mostrando muito talento, além de um timbre que combinou com a proposta apresentada.
Entre piadas e discursos para os fãs, Simmons disparou petardos como por exemplo “Shout It Out Loud”, “Detroit Rock City”, “Cold Gin”, “Calling Dr. Love”, “Lick It Up”, “Love Gun”, “I Was Made for Lovin’ You” (com a participação da cantora brasileira Miranda Kassin) e, obviamente, “Rock and Roll All Nite”. Teve espaço para covers inesperados também, na forma de “Communication Breakdown” do Led Zeppelin, e “Ace of Spades” do Motörhead. O público cantava entusiasmado praticamente todas as conhecidas, mesmo depois de um dia inteiro de evento, o que prova que o som do Kiss e a figura de Simmons são capazes de agradar com êxito hoje em dia, sem espaço para preocupações de ‘fim de carreira’ ou algo assim.
Fotos / Setlist (Gene Simmons Band)
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Nossos agradecimentos a todos os responsáveis por tornarem o evento possível e, em especial, para a Agência Taga, Consulado do Rock e Roadie Crew pela parceria, confiança e credibilidade dada mais uma vez à equipe do Universo do Rock. Nos vemos em 2025!
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