Por Gustavo Franchini
Depois de dois dias espetaculares, o festival encerra no domingo com mais peso e velocidade, agradando aos fãs que queriam abrir moshs durante praticamente todos os shows. E foi exatamente o que aconteceu! O sol deu uma (pequena) amenizada e tudo estava em alta para o poder sonoro das bandas que estavam se apresentando. Quem ainda não tinha conferido as lojas e a praça de alimentação, teve mais uma chance de desfrutar das variadas (e boas) opções que o evento disponibilizou para o público. Neste terceiro e último dia tivemos a cobertura das bandas Death Angel, Amorphis, Overkill, Avatar, Carcass, Killswitch Engage, Anthrax e Mercyful Fate.
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Sun Stage
Death Angel
O thrash metal já começa a todo vapor com uma das principais bandas do gênero, formada na famosa Bay Area de San Francisco há mais de 40 anos, os norte-americanos do Death Angel. Misturando músicas novas com clássicos sempre presentes nos shows, sabendo que estavam tocando no mesmo horário de uma das bandas do palco principal, então resolveram recompensar os presentes com uma paulada extrema do início ao fim, sem firulas, desde a abertura com “Lord of Hate”, como “Seemingly Endless Time”, “The Moth”, a dupla “The Ultra-Violence” com “Mistress of Pain”, fechando com “Thrown to the Wolves”, dentre outras do setlist curto e direto. Ou seja, agradaram a todos e ainda mostraram que depois de tanto tempo ainda tem muita lenha pra queimar.
Fotos / Setlist (Death Angel)
Amorphis
Já os finlandeses do Amorphis, donos de um estilo que mistura progressivo e death metal com certa pegada melancólica, bem mais melódicos e cadenciados do que as outras bandas que se apresentaram na mesma noite, o que desperta curiosidade sobre o motivo de não ter sido encaixado na data anterior, se esforçaram na performance com sucesso a ponto de praticamente lotar a área dos palcos secundários. Apesar da baixa iluminação que deixou os membros da banda quase que nas sombras, o momento ali sem querer gerou um clima intimista, o suficiente para trazer aquela sensação de show isolado.
“Sky is Mine”, “The Moon” e “Black Winter Day” foram só algumas das contempladas em um setlist majoritariamente equilibrado, apesar de alguns álbuns importantes teram ficado de fora ou não terem sido devidamente representados. Mas em um show mais curto, não há do que reclamar, apenas sentir a emoção provocada por canções tão profundas.
Fotos / Setlist (Amorphis)
Hot/Ice Stage
Overkill
Outro gigante com uma carreira longínqua e uma discografia invejável é o Overkill, que com duas dezenas de álbuns teve que fazer um verdadeiro milagre pra conseguir agradar aos fãs novatos e veteranos, já que o que não falta são músicas de qualidade. A curiosidade é que pela ausência do baixista D. D. Verni (que teve que ser submetido a uma cirurgia no ombro e ainda estava se recuperando), o substituto temporário foi ninguém menos do que David Ellefson (ex-Megadeth).
A voz aguda icônica de Bobby “Blitz” Ellsworth só iria mesmo rivalizar com o headliner da noite em termos de personalidade. Aos 65 anos de idade, ainda mantém fôlego e animação no palco, algo de fato incrível de assistir. Canções como “Scorched”, “Horrorscope”, “Ironbound” e “Hello From the Gutter” fizeram a alegria do público em um setlist balanceado, contudo sem contar com nenhuma música do excelente Necroshine (1999), o que de certa maneira fez falta. Que voltem logo para suprir tal necessidade!
Fotos / Setlist (Overkill)
Avatar
Uma das surpresas agradáveis do festival, os suecos do Avatar com seu circus metal (se é que podemos rotular assim) apresentaram um show bem teatral e com performances irretocáveis. Para quem ainda não conhecia o som da banda, a considerar as reações do público, é de se acreditar que muitos se surpreenderam positivamente. O carisma do vocalista Johannes Eckerström, recheado de humor inteligente a todo momento e músicas que contém um clima que funciona muito bem ao vivo, foram fatores cruciais para a boa receptividade em um dia que tinham tantas bandas de renome no cenário.
Canções mais recentes como “Dance Devil Dance” do álbum homônimo lançado ano passado, assim como “Chimp Mosh Pit”, “Paint Me Red”, estas que levantaram a empolgação da plateia, de fato agradaram aos que estavam ouvindo pela primeira vez. O auge ficou por conta de “The Dirt I’m Buried In”, não à toa a mais tocada nos streamings, de fato levando a crer que o futuro da banda é promissor, em especial pela autenticidade.
Fotos / Setlist (Avatar)
Carcass
Muitos dos presentes neste dia do evento estavam ali pela oportunidade de ver os ingleses do Carcass, banda icônica da cena extrema, considerada a pioneira de algumas vertentes do estilo, como a mescla do lado mais melódico no death metal. Mesmo sem contar com o grande guitarrista Michael Amott, responsável por ter gravado os dois álbuns históricos do grupo (Necroticism – Descanting the Insalubrious, de 1991, e Heartwork, de 1993), era certo que muitas canções favoritas dos fãs seriam brindadas naquela tarde, né? Não exatamente.
Priorizando o álbum mais recente, o ótimo Torn Arteries (2021), a banda optou por dois medleys e apenas duas músicas completas de seus álbuns mais impactantes, além de uma ou outra de álbuns que contemplam a ‘meiuca’. A abertura já chegou com força na forma de “Buried Dreams” e “Incarnated Solvent Abuse”, além de levantar os ânimos com “This Mortal Coil” e “Corporal Jigsore Quandary”. A resposta foi boa pra atual “Dance of Ixtab (Psychopomp & Circumstance MArch No.1 in B)”, gerando um saldo total bastante positivo.
Fotos / Setlist (Carcass)
Killswitch Engage
Após mudanças na formação com o retorno do vocalista original, o Killswitch Engage, único representante do metalcore no dia, sem pestanejar levantou a multidão que estava aglomerada para conferir o show. A pirotecnia foi constante durante a apresentação que além de enérgica no palco, ainda teve uma interação poderosa com o público, entregando um setlist completo que respeitou bastante os fãs antigos e novos. Provavelmente foi o de maior intensidade, se considerar a reação do público, muito histérico e pulando sem parar com os cabelos ao vento.
Os estadunidenses mostraram que não estavam pra brincadeira e mandaram ver com “This Fire”, “The Arms of Sorrow”, “Rose of Sharyn” e, claro, a sensacional “The End of Heartache”, somado a um curioso cover da grandiosa “Holy Diver” (originalmente do eterno Dio), em quase vinte músicas tocadas uma atrás da outra.
Fotos / Setlist (Killswitch Engage)
Anthrax
Mesmo com o público já exausto de tantas pedradas em sequência durante toda a tarde do festival, ainda assim conseguiram ter força pra estar de corpo e alma à noite pra conferir os mestres do Anthrax, responsáveis por canções que foram sucessos comerciais durante muitos anos com seu groove metal e riffs matadores. Aliás, a existência do adorado carequinha Scott Ian nas guitarras, o mais antigo de todos os membros (desde 1981 comandando a banda), já é suficiente pro show dar certo. Teve até participação de Andreas Kisser (Sepultura) em uma das músicas (“I Am the Law”). O animadíssimo Joey Belladona nos vocais. Precisa de mais?
O potente álbum Among the Living (1987) foi a marca registrada de um repertório até bem diversificado (apesar de ignorar o lançamento mais recente, For All Kings, de 2016), além de outro que sempre faz parte dos shows, Spreading the Disease (1985), ao mesmo tempo que covers frequentes em suas turnês, como “Antisocial” (Trust) e “Got the Time” (Joe Jackson). Então, sim, tivemos “Madhouse”, “A.I.R.” e a clássica “Caught in a Mosh”, dentre várias outras. E, por falar em mosh, sem dúvidas foi o show que mais teve rodinhas, simplesmente em todas as músicas.
Fotos / Setlist (Anthrax)
Mercyful Fate
Encerrando o festival com chave de ossos (desculpem-me pela piada infâme), um dos shows mais aguardados não só no festival, mas também por fãs do clássico heavy metal, os dinamarqueses do Mercyful Fate e seu icônico vocalista King Diamond apresentaram um verdadeiro espetáculo teatral com uma produção de palco diferente e única. É curioso ver como o som da banda não tem absolutamente nada a ver com a imagem promovida, já que tudo visualmente falando remete à uma banda de black metal, enquanto que as músicas são de um estilo rock clássico (a la Black Sabbath) com ênfase nos riffs bem cadenciados e solos super melódicos.
A voz de King Diamond também entra em conflito com qualquer expectativa do gênero, já que ele alterna vozes rasgadas com um timbre único e um deslizar de notas bem característico ao final dos versos, além de um alto falsete que combinado com as pegajosas guitarras, se transforma de fato em músicas com muita identidade e força. Há uma interpretação profunda das letras sombrias por parte de Diamond, que blasfema a todo momento de variadas maneiras com seu corpse paint e imagens profanas.
Relevando (ou melhor, ignorando de modo integral) esta parte, musicalmente falando a banda é de fato excelente e com mérito de ter dois dos seus álbuns considerados influentes por muitos artistas, como é o caso de Melissa (1983) e Don’t Break the Oath (1984), somado ao EP homônimo de 1982. A partir disso foi montado o setlist que só contou com uma música fora deste trio clássico, que no caso é a nova “The Jackal of Salzburg”, que nem chegou a ser gravada em estúdio ainda e apenas foi tocada como prévia do que está por vir no próximo lançamento. E assim, é finalizada mais uma edição do Summer Breeze Brasil!
Fotos / Setlist (Mercyful Fate)
Confira como foi o primeiro dia (26/04) do Summer Breeze Brasil 2024
Confira como foi o segundo dia (27/04) do Summer Breeze Brasil 2024
Nossos agradecimentos a todos os responsáveis por tornarem o evento possível e, em especial, para a Agência Taga, Consulado do Rock e Roadie Crew pela parceria, confiança e credibilidade dada mais uma vez à equipe do Universo do Rock. Nos vemos em 2025!
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