Fabio Lione e Dogma entregaram experiência distinta e de qualidade para público carioca

Texto e Edição: Gustavo Franchini

A turnê apoteótica de Fabio Lione, Dawn of Victory, tem dado o que falar nas redes sociais brasileiras por conta do impacto da sua apresentação de músicas épicas do seu tempo no Rhapsody of Fire (com uma orquestra completa) e a curiosa junção com a banda de abertura Dogma, que tem um estilo quase que oposto à atração principal, duas propostas bem diferentes. Talvez seja justamente tal paradoxo que justifique o sucesso por todas as cidades em que passou. E não foram poucas. Foram 14 shows (13 cidades, duas datas em São Paulo), casa cheia, muita animação e reciprocidade do público.

A realidade é que ninguém sabia o que esperar da Dogma, banda de abertura formada por cinco mulheres de origem desconhecida, apenas com pseudônimos, vestidas de “freiras góticas” e, apesar de criarem polêmica com o visual religioso que se contrapõe ao tema de pecado nas letras de suas músicas (e no erotismo da dança da vocalista, que se distingue da parte instrumental neste sentido), além de mostrar boa parte do físico e utilizar corpse paint (atingindo diretamente os mais tradicionais conservadores que as classificam como blasfêmia; e com toda a razão), a sonoridade é bem light, às vezes melancólica, algo próximo a um doom metal, flertando um pouco com o pop, hard rock e até mesmo com direito a um cover de Madonna. Ou seja, algo muito parecido com o que o Ghost faz, dentre outras bandas que tentam despertar a atenção do público em um mercado tão competitivo.

Composta por integrantes que se nomeiam como Lilith, Lamia, Rusalka, Nixe e Abrahel, respectivamente vocalista, dupla de guitarristas, baixista e batera, a banda que lançou o primeiro álbum em 2023 estreou em terras brasileiras no festival Bangers Open Air 2025, logo de cara dividindo opiniões. Apresentando um setlist que tem em torno de 1 hora de duração, pela reação da plateia no Teatro Clara Nunes, na Gávea, o resultado foi positivo. Mesmo a maioria não tendo a menor ideia de como as músicas iriam soar, parece que os riffs de guitarra e certo peso com harmonias e melodias cativantes dentro de uma simplicidade rítmica se mostrou uma fórmula que pode dar certo. Tecnicamente, a banda tem potencial, e não parece amadora. O som da casa estava tão bom, que com alguns trechos pré-gravados nos refrãos e alguns arranjos podem fazer pensar que tinha playback, mas aparentemente não, de fato são elas tocando com qualidade surpreendente. É uma banda que só o tempo irá dizer se veio para ficar.

Um pouco após o horário marcado, devido a um certo atraso para o início dos sows para esperar o público carioca chegar (conhecidos por não terem uma pontualidade britânica), o versátil cantor italiano Fabio Lione (Angra, ex-Rhapsody of Fire, Vision Divine, Labyrinth, Kamelot e outros inúmeros projetos), que já conquistou o carinho dos brasileiros há muitos anos, sabia que sua tarefa de agradar seria fácil, desde que mantivesse uma boa performance e interação com todos. E parece que tudo saiu perfeitamente como o planejado.

Com o palco todo montado para uma orquestra composta por jovens talentosos em diversos instrumentos, como violino, violoncelo, flauta, trompete percussão, coros e backing vocals regidos por um experiente maestro, somado a uma banda com formação típica do power metal, ou seja, duas guitarras, teclado, baixo e bateria, o espetáculo se iniciou com a introdução “Epicus Furor”. Sim, a mesma do álbum de maior repercussão do Rhapsody (atualmente com ‘of Fire’ devido a direitos autorais), o clássico Symphony of Enchanted Lands (1998), responsável pela ascensão da banda em sua época de ouro e tocado na íntegra nesta turnê, já que, apesar do nome, não é uma comemoração do Dawn of Victory (2000), mas um best of de Lione nos tempos de outrora.

A empolgação já se fez presente logo no hit “Emerald Sword”, que dispensa comentários. A composição por si só foi responsável pela popularidade do ‘metal espadinha’ ao redor do globo, promovendo a reunião da música erudita com heavy metal e temas de fantasia medieval com muito bom gosto (distinto em detalhes sonoros do que outras bandas como Helloween e Stratovarius já faziam). A voz operística de Lione dentro de um gênero que é recheado de clichês e cantores tão similares em timbres e projeções tonais, foi um dos diferenciais para tornar tudo tão autêntico.

E a partir dali era só alegria com canções nostálgicas que todos os fãs sempre desejaram ouvir, sem samplers e backtracks, como “Wisdom of the Kings”, “Eternal Glory”, “Beyond the Gates of Infinity” e “Wings of Destiny”. Assim que a execução do álbum completo se encerra, a sequência que viria a seguir de fato é para ninguém botar defeito. Lione brevemente sai do palco enquanto “In Tenebris” é emendada com “Knightrider of Doom” e “Land of Immortals”; esta última o frontman pede para o público levantar, o que é atendido prontamente. Aliás, a plateia gostou tanto da ideia que permaneceu em pé até o final da apresentação, afinal, era um petardo atrás do outro. Álbuns como Legendary Tales (1997), Rain of a Thousand Flames (2001) e Power of the Dragonflame (2002) e, claro, Dawn of Victory (2000) também contaram com algumas músicas de sucesso que encantaram o público.

Vale ressaltar que Fabio Lione não só é um excelente cantor, mas também tem uma presença muito potente, assim como sua voz, interagindo a todo momento. Para completar, durante “The Wizard’s Last Rhymes” ele desceu do palco e foi cantar no meio da galera, algo que se repetiu várias vezes ao longo das músicas. É tão satisfatório ver um artista retribuindo o calor dos brasileiros, sendo simpático e brincando como se tivesse nascido aqui, tentando ao máximo se aproximar de quem o abraçou desde a sua primeira vinda ao país com o Rhapsody of Fite e, em especial, após se tornar membro do Angra. Aos 51 anos de idade, a performance parece intacta ao vivo se comparado com a sua gravação em estúdio de mais de 20 anos atrás, o que realmente é de se aplaudir.

A celebração de sua carreira teve espaço até para “We Are the Champions”, cover do Queen, o que particularmente não sei se foi uma boa escolha, considerando a ambientação e atmosfera gerada pelas outras músicas do setlist. Ainda assim, foi bem recebida e cantada por todos. Quem não conhece essa obra-prima? Pra concluir as quase 2 horas de espetáculo, não poderia ser outra: “Dawn of Victory”, fechando com chave de ouro um dos melhores shows do ano. Bem que Lione poderia repetir a dose nos intervalos de turnês do Angra; definitivamente o público brasileiro quer mais shows paralelos do nosso mago!

Nossos agradecimentos a todos os responsáveis por tornarem o evento possível e, em especial, para a Estética Torta e Acesso Music pela parceria, confiança e credibilidade dada mais uma vez à equipe do Universo do Rock.


Veja a galeria de fotos do show (Dogma/ RJ):



Veja a galeria de fotos do show (Fabio Lione’s Dawn of Victory/ RJ):



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