Por Gustavo Franchini
A lendária banda de southern rock Lynyrd Skynyrd, unanimidade quando se trata de listas das maiores do gênero em todo o mundo, dá as caras pela segunda vez na história em terras brasileiras para dois shows, um na capital paulista, no Espaço Unimed e, logo na sequência, curiosamente no festival de rodeio em Jaguariúna, interior de São Paulo, neste dividindo palco com atrações do sertanejo. A nossa equipe teve a oportunidade de conferir o show do dia 22 de setembro, que além de ter casa praticamente lotada, ainda se destacou por momentos únicos.
Enquanto a banda não subia ao palco, clássicos puderam ser ouvidos no espaço que era ocupado por muitos fãs de faixas etárias diversas, desde crianças e jovens da nova geração, como veteranos quarentões e idosos que estavam ali com a mesma empolgação. Considerando os 50 anos de carreira, o Lynyrd Skynyrd tem o poder de reunir gerações que outrora puderam acompanhar a formação original, hoje apenas um tributo de respeito, diga-se de passagem. Vale ressaltar; com muita competência!
Liderados pelo irmão do falecido vocalista Ronnie Van Zant (no trágico acidente aéreo na década de 70), Johnny Van Zant, o grupo se mantém entrosado com a cozinha bem seleta formada por três guitarristas, dentre eles Rickey Medlocke, o único que já fez parte da era de ouro (na época em gravações como baterista), o que potencializou a força dos riffs e solos em cada uma das músicas. Aliás, sobre o setlist, não há do que reclamar; 12 das 15 músicas estavam presentes nos quatro primeiros álbuns, que representam o auge da banda antes do hiato causado pós-tragédia e a história verdadeira do legado que foi deixado por tantos músicos que já se foram.
Após um vídeo de abertura com bela produção, ironicamente ao som de “Thunderstruck” do AC/DC, os americanos surgem no palco já com o petardo “Workin’ for MCA”, a primeira de muitas clássicas que seriam tocadas naquela noite inesquecível. De imediato dá pra perceber o carisma do vocalista Johnny Van Zant, não à toa capaz de manter a banda na ativa depois de tudo o que aconteceu no passado, segurando as pontas desde o final da década de 80. Seu desempenho nas linhas de voz, aos 63 anos de idade, somado ao sorriso estampado no rosto durante todo o show, é realmente de aplaudir de pé.
Em uma noite de homenagens, com a banda afiada demonstrando sintonia com o público a todo momento, telões de qualidade nas laterais com ângulos perfeitos dos músicos e o do meio com vídeos relacionados à cada uma das músicas, tudo parecia estar se conectando para se tornar um dos melhores shows do ano. “Skynyrd Nation”, única do ótimo God & Guns (2009), abre espaço para hits como “What’s Your Name”, “That Smell” e “I Know a Little”, todas do Street Survivors (1977), último álbum lançado pela formação original.
Os álbuns Second Helping (1974), Nuthin’ Fancy (1975) e Gimme Back My Bullets (1976) deram as caras com uma verdadeira chuva de clássicos, dentre eles “Tuesday’s Gone”, dedicada ao guitarrista Gary Rossington, que faleceu em março deste ano (o último que ainda restava da formação original), contando com um lindo vídeo mostrando imagens do músico em turnê, com amigos e família, a dançante “Gimme Back my Bullets” e, como era de se esperar, o hit máximo “Sweet Home Alabama”.
Obviamente um show do Lynyrd Skynyrd não poderia deixar de lado músicas do álbum de estreia (Pronounced ‘Lĕh-‘nérd ‘Skin-‘nérd) (1973), considerado por muitos o melhor da discografia, e duas de suas canções em especial fizeram a noite se tornar única. Uma surpresa estava por vir na divina “Simple Man”, quando Johnny leu o cartaz de um homem que afirmava ser fã número 1 e que gostaria de ter a oportunidade de estar em palco com sua banda do coração. Eis que, em um gesto surpreedente de completa humildade, o vocalista convida para subir ao palco o paulistano Nando Fernandes (Sinistra), conhecido da cena por ser, como ele mesmo diz, um “guerreiro do rock”. E aí que as lágrimas e sorrisos começam a surgir, não só no Nando, mas em grande parte do público.
Ao brincar com a frase “ele parece um cantor, certo?”, Johnny se surpreende ao ouvir os primeiros versos cantados por Nando, que fez dobradinhas de qualidade com o frontman durante toda a música, visivelmente emocionado, aos prantos, ajoelhado e parecendo não acreditar na experiência. A plateia estava presenciando a realização de um sonho diante de seus olhos, um momento que certamente ficará marcado por toda a história. Que maravilha!
Como se não bastasse, a noite ainda reservava mais um momento com sentimentos à flor da pele: o hino “Free Bird” e seu famoso solo, não só foi executada à perfeição, mas também contou com uma gravação da época do próprio Ronnie cantando parte da música (o que lembra o que o Queen ainda faz nos shows em “Love of My Life”, esta sendo cantada por gravação pelo Freddie Mercury), uma preciosidade sem tamanho! Com aproximadamente cinco minutos de solo, o público não parava de agitar um minuto sequer e o espetáculo se encerrou da melhor maneira possível. Agradecemos pelo show histórico!
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