Paul McCartney fez no Rio o que sabe fazer de melhor: proporcionar alegria e sorriso estampado no rosto em show brilhante

Por Gustavo Franchini

Foto: Marcos Hermes

A Got Back provavelmente foi a turnê mais aguardada do ano, seja pelo reflexo de venda dos ingressos em todas as datas e também pela expectativa do público, não só no Brasil, mas no mundo inteiro. Realizando o último show desta turnê no mesmo lugar que tocou em sua primeira passagem emblemática por aqui (para um público recorde de 184 mil pessoas, em duas noites), no Maracanã, em 1990, o multi-instrumentista e cantor britânico Paul McCartney, eterno Beatle, aos 81 anos de idade, nos presenteou com uma noite mágica que representa nada menos do que a união em prol da boa música.

Presente sim, pois com as dificuldades naturais da idade avançada, sendo o músico vivo mais bem-sucedido da história, em uma carreira prolífica com mais de seis décadas de discos que marcaram diversas gerações, não tem como dizer que tal turnê foi feita por conta do altíssimo retorno financeiro ou qualquer tipo de marketing. Foi puro e simplesmente amor pelo que faz. Não tem como pensar diferente.

Às 21h como esperado pela pontualidade britânica, a lenda viva que fez parte de uma das maiores bandas de todos os tempos subiu ao palco para iniciar um verdadeiro espetáculo que deixaria todos em êxtase, de diversas faixas etárias: jovens adultos, tiozões, crianças e idosos, todos ali juntos pulando, cantando e simplesmente felizes. Desde a primeira música, “Can’t Buy Me Love”, um clássico de The Beatles, já deu pra perceber que seria especial. E foi, do começo ao fim.

Vale ressaltar que, apesar de muita gente que estava indo a um show dele pela primeira vez ter a percepção de que Paul tocaria majoritariamente músicas de sua famosa banda da década de 60, o setlist foi composto de maneira equilibrada por canções também de sua carreira solo e do Wings, assim como em todos os outros shows em anos anteriores. E que tarefa difícil! Visto que tudo que Paul já participou é garantia de hits, sempre fica uma ou outra de fora, mas ainda assim não tem do que reclamar, já que o repertório teve simplesmente 36 músicas!


E por falar em Wings, já na sequência veio “Junior’s Farm” e “Letting Go”, depois voltando às dos Beatles, pois a ideia era agradar ambos os públicos (os que acompanham sua carreira solo e os que só conhecem The Beatles), e com certeza o fez com maestria. “She’s a Woman” e “Got to Get You Into My Life” despertaram os que estavam ansiosos por mais canções do antigo quarteto. A partir daquele momento, além de Paul ficar brincando ao reproduzir frases escritas em português, que gerou gargalhadas da plateia pelo conteúdo humorístico (“aha uhu o Maraca é nosso”, “o pai tá on” e outras tantas hilárias foram ditas por ele durante toda a noite), dava pra perceber que o frontman, além de cantar, tocar baixo, guitarra, piano, ukulele etc, ainda não parava por um segundo sequer, o que impressionava bastante os presentes.

A primeira da noite de sua carreira solo, “Come On to Me”, seguida de “Let me Roll It” (Wings) e, claro, “Getting Better” (The Beatles), deixou claro que a produção de palco também estava impecável. Praticamente havia um tema diferente para cada música, cores extraordinárias em tons diversos, jogadas de iluminação de primeiro nível, o que fez com que o show nunca se tornasse, em momento algum, enjoativo. Destaque vai para a plataforma retangular com telões durante as belíssimas baladas “Blackbird” e “Here Today”, esta dedicada a John Lennon, que também teve dueto virtual com Paul em “I’ve Got a Feeling”. Que emoção! Aliás, John não foi o único homenageado da noite; “Something” foi dedicada a George Harrison e “My Valentine” à sua esposa Nancy.

Durante a maravilhosa “Maybe I’m Amazed” era possível observar que, apesar de ser uma música de difícil execução, por conta de sua melodia vocal com notas altas e um drive característico, ainda assim Paul a tocou/cantou em seu tom original, algo que não abre mão, o que é louvável. Outra de sua carreira solo que fez literalmente todo mundo dançar foi “Dance Tonight”. Mas, claro, as que mais agitavam eram as dos Beatles, como “Love Me Do” e o autêntico teatro de balões coloridos na super animada “Ob-La-Di, Ob-La-Da”. É incrível que ainda sobrou fôlego para a sensacional “Band on the Run”, disparada a melhor da época do Wings, que preparou o público para o que viria logo a seguir.

Foto: Marcos Hermes

O nome da turnê se fez presente em “Get Back”, que abriria caminho para a cantoria generalizada com “Let It Be”. E, então, eis que o calor dos efeitos pirotécnicos viria com “Live and Let Die”, o que já conseguiu antecipar os fogos de Copacabana de tão grandiosos! Agora, o que todos queriam mesmo era cantar o tão aguardado “na na” em “Hey Jude”, talvez o momento mais marcante nos shows do Paul, pois grande parte do público estava com cartazes do trecho e foram vários minutos em que todos se conectaram de uma maneira que só pode ser sentida em um show deste porte.

Aliás, chega a ser impressionante a qualidade da banda de apoio, que conta com os guitarristas Brian Ray e Rusty Anderson, o tecladista Paul “Wix” Wickens, e o carismático, além de sensacional baterista, Abe Laboriel Jr, que inclusive estava com o braço em recuperação por conta de lesão em shows anteriores. O curioso foi ver a participação extra do trio de metais Paul Burton (trombone), Mike Davis (trompete) e Kenji Fenton (saxofone) tocando inicialmente no meio do público e depois se juntando ao restante da banda no palco. Paul não poderia ter escolhido banda melhor!

No bis foi uma sequência de músicas dos Beatles; obviamente não poderia faltar “Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band (Reprise)” e a empolgação máxima em “Helter Skelter”. Ao final do show, a sensação que ficou em todos os presentes é de que não poderia ser o último. E, parece que ouvindo as nossas preces, Paul se despede ao microfone, após “The End”, com a seguinte frase: “Até a próxima”. Tal frase tão simbólica levou os fãs à loucura! Se é verdade ou não, nada jamais vai tirar o sorriso estampado no rosto de todos naquela noite tão especial. Obrigado por tudo, Sir Paul McCartney!

Nossos agradecimentos a todos os responsáveis por tornarem o evento possível e, em especial, para a FleishmanHillard pela parceria, confiança e credibilidade dada à equipe do Universo do Rock.

Foto: Marcos Hermes


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