Red Hot Chili Peppers une tribos e encerra Rock in Rio com show marcado

Por: Danielle Barbosa
Foto: I Hate Flash

Banda de Los Angeles deixa clássicos de fora do set e faz show curto.

O Red Hot Chili Peppers é quiçá a banda mais democrática do cenário mainstream hoje em dia. O grupo da Califórnia, que surgiu em 1983, foi responsável por marcar um grande encontro de gerações na última noite do Rock in Rio, 24. Entre o público, desde jovens dos anos 2000 à adultos dos anos 80, todos em clima de paz e confraternização. Anthony Kiedis (vocais), Flea (baixo), Chad Smith (bateria) e Josh Klinghoffer (guitarra) são queridos pela grande maioria. Pare e pense por um minuto: quantos amigos(as) seus(uas) não curtem Red Hot? Mesmo entre os que não são tão chegados em rock ‘n’ roll, O RHCP é apreciado – ainda que pelos seus hits – os clássicos e velhos “Californication”, “Otherside”, “By The Way” e etc.

 Um fator que fortaleceu a união de ‘tribos’ no último domingo foi o restante do lineup, que incluiu The Offspring, uma banda da década de 80 – mas que é adorada por jovens de seus vinte e poucos anos -, e Thirty Seconds to Mars, trio que se destaca pela originalidade e som mais moderno. No cenário nacional, o Capital Inicial e o carisma de Dinho Ouro Preto, que fez toda diferença no palco. Provavelmente, o melhor show dentre os brasileiros nesta edição do festival.
Sempre muito aguardados e ovacionados por onde pisam, os californianos entregaram o seu recado sem grandes delongas, o que resultou em um setlist bem enxuto. Um pouco de mal gosto, principalmente por se tratar de um headliner de peso e – caso consideremos o épico show de quase quatro horas na noite anterior do Guns N’ Roses – o cenário é ainda mais desapontador. Apesar disso, logo que os primeiros riffs de guitarra de “Can’t Stop” soaram, sendo seguidos sem pausas por “Snow ((Hey Oh))” e “The Zephyr Song”, a multidão foi à loucura. Kiedis desejou ‘boa noite’ à todos e se manteve fiel ao set que havia preparado, rejeitando as firulas. A tríade inicial resultou em um excelente começo – bastante empolgante e energético – e contagiou a maior parte do público. Não era pra menos: três grandes sucessos de mais de três décadas de carreira. E a voz do vocalista estava na medida – consistente e afinada!
Foto: Wesley Allen/I Hate Flash
O dia 24 era um dia especial para os músicos. Não só por encerrarem um festival do porte do Rock in Rio. Nesta mesma data, há 26 anos, a banda lançava seu quinto álbum, o “Blood Sugar Sex Magik”. No set da noite, quatro músicas do disco foram tocadas: “Under the Bridge”, “The Power of Equality”, “Sir Psycho Sexy” e “Give It Away”. Uma pena que “Suck My Kiss” tenha ficado de fora, assim como os poderosos hits “Otherside”, “Dani California”, “Scar Tissue” e “Aeroplane” – as quatro últimas de outros CDs, mas igualmente fizeram falta e certamente comporiam melhor a curta setlist – de apenas 16 músicas.
A pouca interação dos integrantes do Red Hot – inclusive de Flea, que sempre faz muitas gracinhas – com o público também encurtou a duração da apresentação. Não foi mais de 1h30 de show, o que pra uma banda que fica responsável por fechar o último dia de performances é pouco. Todos esses fatores incluídos fizeram com que alguns saíssem do Parque Olímpico com a sensação de que o show foi “protocolar”, “marcado”, “ensaiado” ou qualquer outro vocábulo sinônimo à estes. Muitos, por outro lado, pareceram satisfeitos e felizes – afinal, a última vez do Red Hot no Rio havia sido em 2013, no Circuito Banco do Brasil. Eram quatro anos sem eles e a saudade estava apertando, não é mesmo? O que os fãs puderam aproveitar do show, cantar, dançar, filmar e confraternizar entre si foi feito.
Isso, talvez, tenha dividido um pouco as opiniões sobre o show que foi apresentado no Palco Mundo em 2017 e diferenciado completamente a experiência vivida pelos fãs e pelo público normal – que apenas curte o som. Pra quem é fã, o set enxugado já não é novidade: em 2011 e 2013 também foi assim. Para os menos conhecedores do trabalho afundo dos artistas, 2011 foi melhor: “É só olhar as músicas que eles tocaram em 2011!”, alguns comentaram no fim. “Around the World”, “Higher Ground“, “Factory of Faith”, “Otherside” e “Dani California” estavam lá.
Um outro ponto que gerou dúvida e dividiu posicionamentos foi o quanto pertencedor das guitarras do RHCP o músico Josh Klinghoffer se sente. Sucessor de John Frusciante, o guitarrista de 38 anos até se empolgou no palco, arriscando umas dancinhas, mas não chegou – dizendo com todas as letras – a convencer os mais exigentes. Isso ficou evidente quando no ponto alto de “Californication”, o solo, algumas pessoas torceram o nariz ou fizeram comentários comparativos entre ele e Frusciante. Outro momento em que a qualidade técnica de Josh foi questionada foi na longa “Sir Psycho Sexy”, na qual Anthony Kiedis deu uma escorregada e esqueceu parte da letra. Nada de não-usual, já que o ocorrido aconteceu durante uma apresentação em Paris, em dezembro de 2016. Na ocasião, a música era “Go Robot”, que foi apresentada sem problemas no Rock in Rio 2017.
“Ficamos tão gratos de ter a oportunidade de tocar para vocês. Muito obrigado!”, disse o baixista Flea pouco após a metade do show. Mesmo mais contido e menos atuante no palco – como costuma ser – Flea é sempre um espetáculo à parte. Uma figura icônica do Red Hot Chili Peppers. Os solos de baixo não seriam os mesmos sem ele. E, sabendo disso, é claro que a banda soube aproveitar do talento do australiano de 54 anos para cativar a multidão e mantê-la interessada mesmo nas curtas pausas que aconteciam no palco, fosse para que os outros integrantes da banda se hidratassem ou enxugassem o rosto.
Foto: Wesley Allen/I Hate Flash

Os momentos de grande euforia foram mesmo no fim, que reuniu uma sequência interessante: “Under the Bridge”, “By the Way” e “Give It Away”, precedida por “Goodbye Angels”, ganharam um coro bem alto e de respeito do público. Canções mundialmente conhecidas, né? Fosse fã ou fosse ‘só’ admirador, todos puderam se jogar de vez e soltar a voz. Faltou essa sagacidade de trabalhar melhor os momentos em que os que não são fãs ficavam parados, até certo ponto apáticos. Quem sabe um diálogo mais frequente ou uma presença maior de ocupação de espaços no palco tivesse dado um gás e retorno maior à apresentação? Quem sabe….

Enquanto ficamos levantando hipóteses do lado de cá, o fato é que o Red Hot Chili Peppers vai continuar atraindo multidões por onde passar, independente do quão inspirados estejam no showtime ou o quão minuciosa seja a preparação do set. Não é à toa que já foram convidados e estarão no próximo lineup do Lollapalooza, em 2018. Aguardemos cenas dos próximos capítulos então. Combinado?!

Setlist:
1. Can’t Stop
2. Snow ((Hey Oh))
3. The Zephyr Song
4. Dark Necessities
5. Did I Let You Know
6. I Wanna Be Your Dog (The Stooges cover)
7. Right on Time
8. Go Robot
9. Californication
10. Tell Me Baby
11. Sir Psycho Sexy
12. The Power of Equality
13. Under the Bridge
14. By the Way

Bis:
15. Goodbye Angels
16. Give It Away


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