Entrevista e Edição: Gustavo Franchini
Merecidamente reconhecidos pela vasta carreira no cenário do heavy metal, o vocalista italiano Fabio Lione (Angra/Rhapsody) e o guitarrista brasileiro Marcelo Barbosa (Angra/Almah) se juntaram recentemente para realizar uma turnê acústica intimista no Brasil (veja o release aqui) com clássicos do Angra, Rhapsody e canções de rock que marcaram a história de ambos os músicos.
A equipe do Universo do Rock teve a oportunidade de bater um papo com eles sobre a turnê, pandemia e planos futuros. Confira a seguir!
Universo do Rock: O formato do show acústico por si só é mais intimista e geralmente com uma iluminação mais simples e direta. Há a possibilidade de gravação dessa turnê para um material ao vivo em DVD? Com certeza a já conhecida empolgação do público brasileiro facilitaria bastante!
Marcelo Barbosa: Eu não sei se essa gravação para um possível DVD seria feita já nessa primeira perna da turnê, porque é claro que é legal que o DVD registre um momento que o show já está mais maduro, que a gente já está mais acostumado com ele. Sem dúvida nenhuma faz todo o sentido, mas acredito que isso possa acontecer em uma segunda perna dessa turnê e não nesse primeiro momento.
Fabio Lione: Eu não acho que seja para essa turnê, mas é uma coisa possível em uma próxima. Já recebemos ofertas para o México, Chile, Argentina e outras cidades do Brasil. Acho que em breve teremos uma nova turnê onde poderemos organizar e pensar nessa eventualidade também!
Universo do Rock: O espetáculo terá um setlist repleto de músicas do Angra, Rhapsody e clássicos do rock. As músicas cover selecionadas são no estilo “balada” (por exemplo “Dust in the Wind” do Kansas) ou também arranjos de músicas que originalmente foram gravadas com guitarra distorcida?
Marcelo Barbosa: Sim, são muitas músicas românticas e tem também algumas que foram gravadas com guitarra distorcida; músicas pesadas que a gente vai fazer um arranjo que contemple esse formato, essa instrumentação de apenas violão e voz. É claro que um show como esse acaba ditando um pouco a direção do repertório a ser escolhido, mas a gente não se ateve apenas a baladas não, existem algumas músicas com uma roupagem um pouco mais pop, mais pesada, só que executada no violão.
Fabio Lione: No meio, boa parte das canções são baladas, mas também existe uma boa parte do repertório arranjado para o espectáculo de canções originais com guitarra distorcida.
Universo do Rock: Qual é a maior dificuldade em criar arranjos acústicos no violão (ou guitarra limpa) para músicas gravadas originalmente com guitarras distorcidas? Os solos marcarão presença nas canções ou será mais simples e direto?
Marcelo Barbosa: Excelente pergunta. Sem dúvida será um show mais simples e direto, até porque não existe um acompanhamento, eu não tenho uma outra pessoa tocando violão ou piano para me acompanhar enquanto eu toco os solos. Então, a dificuldade maior é justamente criar arranjos acústicos que não deixe os elementos imprescindíveis das músicas de fora, mas que ao mesmo tempo faça sentido dentro do universo de sons que o violão pode te oferecer. Esse tem sido o desafio, mas a gente tem cumprido ele com bastante sucesso e eu tenho certeza que será um show muito bonito!
“O que a gente ouve ajuda a forjar o que somos como seres humanos”
Universo do Rock: Fabio, você menciona que o seu álbum preferido do Angra é o Fireworks (1998), no qual algumas músicas já marcaram presença em shows desde a época do cruzeiro 70,000 Tons of Metal em 2013, que foi a primeira vez que pisou no palco com a banda. Isso talvez signifique que teremos canções do mesmo no show, visto que “Gentle Change” e “Lisbon” já possuem uma ‘veia mais acústica’?
Fabio Lione: Sim, claramente essas duas músicas são perfeitas para um show como esse, acho que tocaremos as duas. O Fireworks é um CD importante e o primeiro da banda que tive, então tem um valor especial para mim.
Universo do Rock: O Rhapsody possui uma vasta discografia e consigo pensar em diversas músicas que poderiam estar presentes no show. Contudo, as que menos se encaixam no formato acústico seriam bem interessantes, como a maravilhosa “Flames of Revenge” e a minha favorita “Beyond the Gates of Infinity”. Vocês pretendem encaixar alguma música inusitada no formato acústico com intuito de surpreender o público?
Fabio Lione: A discografia do Rhapsody é muito grande e haveria muitas músicas para tocar. Acho que faremos alguns clássicos que se encaixam bem nesse tipo de show e que as pessoas possam cantar conosco. O público ficará surpreso porque temos um set-list muito interessante e variado!
Universo do Rock: A sua tessitura vocal é impressionante, o que chama a atenção desde a época das suas primeiras bandas, como Labyrinth e Vision Divine. A impressão que passa é que há uma naturalidade de esforço na execução de notas limpas e agudas, assim como graves e bem cadenciadas, mesmo após décadas de carreira, a qual irá completar 30 anos em 2023. A que você atribui a qualidade de sua voz após tantos anos na estrada?
Fabio Lione: Sinceramente não sou um cantor convencional, não estudei muito e nunca cuidei da voz como a maioria dos meus colegas. Acho que tenho um estilo, ambientação e emissão vocal atípicos e a natureza certamente me deu uma mão em tudo isso. Praticamente tenho todas as notas de um tenor e barítono com experiência em várias bandas, shows, gravações em estúdio etc. Adquiri uma maior variedade e versatilidade vocal e isso é muito bom, pois eu gosto de experimentar.
Universo do Rock: Marcelo, considerando seus álbuns gravados com bandas como o Khallice, Almah e Angra, é possível sentir em suas linhas de guitarra uma ligação fortíssima com o progressivo, flertando com o clássico e com nuances do moderno. É possível afirmar que há grandes chances de no setlist termos a presença de covers do Rush, Led Zeppelin, Deep Purple, Pink Floyd ou até mesmo Dream Theater?
Marcelo Barbosa: Sim, você citou aí várias das bandas que são importantes para mim, que fizeram parte da minha formação como músico e como pessoa. O que a gente ouve ajuda a formatar, a forjar o que somos como seres humanos. Algumas das bandas que você citou estão sim no repertório. É claro que sendo um show com duas pessoas, o Fabio tem também todo um background das coisas que ele ouviu durante a vida e a gente tentou deixar equilibrado, agraciando o gosto e a história pessoal de ambos.
Universo do Rock: O show acústico também celebrará a volta do público para os eventos presenciais. Podemos esperar participações especiais e outras surpresas?
Marcelo Barbosa: Sem dúvida nenhuma! Vocês podem esperar algumas participações especiais, ainda mais em um show intimista como esse que fica um pouco mais fácil de agregar pessoas. Eu acho muito legal dar espaço a artistas locais que são talentosos, vários deles amigos, e que teriam nessa oportunidade um momento interessante na carreira. Então, estamos sim conversando com algumas pessoas e teremos surpresas na maioria das datas.
“Tenho um estilo, ambientação e emissão vocal atípicos e a natureza certamente me deu uma mão em tudo isso”
Universo do Rock: A pandemia com certeza afetou bastante os profissionais que trabalham diretamente com o público consumidor, ainda mais com a transformação da indústria musical que passou a valorizar mais a venda de ingressos dos shows do que a de álbuns de estúdio. Vocês pensam em produzir algum trabalho futuro no formato online?
Marcelo Barbosa: O mundo online já é o presente e cada vez mais será o futuro. Eu tenho o meu curso online de guitarra (MB Guitar Academy), por exemplo, no qual eu atendo mais de 7 mil pessoas, não só no Brasil como no resto do mundo. A tendência é que, além dos shows presenciais, a gente possa estar fazendo lives e shows virtuais. Essa questão dos óculos 3D de realidade virtual é algo que já acontece mundo afora e acredito que seja um caminho sem volta. Dá um pouquinho de saudosismo, um pesar pelas coisas estarem tomando esse rumo, mas a gente tem que se adaptar a ele e não adianta apenas ficar preso a algo que está mudando.
Fabio Lione: Eu não pensei sobre esse tipo de coisa pelo momento.
Universo do Rock: Fabio, você sempre se envolveu em diversos projetos durante sua trajetória como vocalista, e atualmente, além do Angra, você também participa da excelente banda Eternal Idol, que para mim é uma das gratas surpresas do gênero. Há algum novo projeto a ser anunciado ainda esse ano?
Fabio Lione: Obrigado! Sim, gravei um CD com artistas americanos no qual, além de cantar, eu escrevi todas as letras e melodias vocais. Acho que será lançado no início do ano que vem. Também tenho um EP completo e um CD com uma banda italiana que sairá ano que vem e acho que será uma surpresa agradável para muitos!
Universo do Rock: Marcelo, como fundador da escola de música GTR, atualmente também lecionando no curso de guitarra MB Guitar Academy e ainda gravando/divulgando seu CD instrumental solo, além da turnê acústica com o Fabio, podemos esperar um espaço na sua agenda apertada para o anúncio de mais algum projeto ainda esse ano?
Marcelo Barbosa: Sim, na realidade a minha agenda é uma coisa de louco. Eu estou com mais uma música solo para lançar ainda esse ano, mas a maior parte das novidades (principalmente após o agendamento dessa extensa turnê acústica com mais de 15 shows no Brasil) com certeza virão no ano que vem. Com essa retomada, acredito que será um ano acelerado de muitas realizações e projetos!
Universo do Rock: Em nome da equipe do Universo do Rock, eu gostaria primeiramente de lhes agradecer por concederem essa entrevista e a dedicação do tempo em respondê-la. Deixem uma mensagem para os fãs brasileiros!
Marcelo Barbosa: Eu quem agradeço o convite para esse bate-papo, é um prazer estar aqui conversando com a audiência de vocês! Eu convido todo mundo que mora no Rio ou perto das cidades pelas quais vamos passar para que compareçam aos shows, pois tenho certeza de que serão momentos muito especiais e divertidos. Será um prazer vê-los novamente, grande abraço!
Fabio Lione: Obrigado. Um grande abraço a todos, nos vemos em breve. Iremos cantar juntos e ter um bom momento, meus amigos!
Saiba mais sobre a turnê: Facebook, Instagram e Site Oficial.
Crédito foto da citação: Daniel Fantini (Marcelo) e Flavio Hopp (Fabio)
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