Por Ana Beatriz Melo e Daniel Croce
Bem como diria o incrível roteiro de Roberto Bolanos, porém na boca do imortal don Ramon Valdez, A.k.a., Seu Madruga: “quando a fome aperta, a vergonha afrouxa”. Ainda que bem longe de sequer algo próximo de se passar fome ou ter que pagar uns boletos atrasados, é bastante preciso se afirmar que a dupla de ex Titãs Arnaldo Antunes e Nando Reis decidiram capitalizar ainda na recente passagem da (ex) banda matriz em sua tour de “reunion”, e presentearam o Qualistage com o show duplo Amar para dar e receber. O nome do show faz sentido, caiu num dia dos namorados (o fake, do dia 12 de junho, criado pelo João Dória pai).
Dando o salto inicial ao especial de dias dos namorados, subiu ao palco o primeiro Titã a pular do barco do então octeto em fins de 1992, acompanhado do virtuoso pianista Vitor Araujo. Sabemos que Arnaldo Antunes não é um artista de digestão fácil. A mistura de dissonâncias, dodecafonias no esquema piano, voz e poesias (volta e meia pouco concretas) não é pra todos. E até que um bom pedaço dos presentes ali estava gostando, mas definitivamente não era unanimidade. Mesmo releituras de “O Pulso” e “Saia de Mim”, ambas de sua banda original, musicalmente ficaram bastante diferentes daquelas originais gravadas com os Titãs.
Convenhamos, goste você ou não, Nando Reis tem uma carreira solo com enorme apelo pop por mais de duas décadas. E talvez exatamente por isso sua forma de compor não “coube” mais nos Titãs, ainda que a heterogeneidade fosse a marca registrada da banda. Foi notável a diferença tanto de sonoridade quanto de reação do público, quando o ruivo multi instrumentista entrou sozinho e executou o hit “Segundo Sol”. Ué, mas cadê o Sebastião? Calma, ele veio na segunda música e não saiu mais do palco até o fim.
Nando se encaixou numa reserva de mercado que estava vaga na hora certa. O estilo de “songwriting” presente em “Cegos do Castelo” (uma das suas últimas contribuições aos Titãs), “Resposta” (estourada pelo Skank) , “All Star” (famosa na voz de Cassia Eller), provou que não só as músicas funcionam no seu formato pessoal e particular, bem como para outros artistas pop bem diferentes dele mesmo. Sebastião conduziu de modo quase solo “Dona”, do Sá e Guarabira (e catapultada pelo Roupa Nova). Um pouco de nepotismo entre pai e filho não faz mal a ninguém.
Ponto positivo para este formato de show: a passagem e equalização dos sons limitam-se a dois violões, um piano e três vozes. Bem menos até que uma banda padrão (já viu o quão complicado é microfinar cada peça de bateria?). O resultado é a rapidez em se trocar os blocos dos artistas, coisa de um minuto, dando dinamismo. E para a terceira parte, junta-se a galera toda.
Na terceira parte do show, com 1/4 de Titãs originais atuando juntos ali, abriu-se com um clássico titânico, “Não Vou me Adaptar”. Mas de presença de “crássicos” do rock nacional oitentista, ficou só por ali mesmo. De resto, o que se viu foi um verdadeiro “bailão bom” da primeira década dos 2000, figurinhas fáceis em festas de formatura – vide as presenças de “Já Sei Namorar” (Tribalistas), “Do Seu Lado” (composta por Nando e feita famosa na versao do Jota Quest), “Mantra” (Nando com Os Infernais). É perfeitamente possível afirmar que mês e meio depois da passagem dos Titãs, este show atua como “bônus track”, complementando o anterior. E com ele, realça o gostinho da “doideira” enérgica e heterogênea de umas das maiores bandas brasileiras.
GALERIA DE FOTOS (NANDO REIS E ARNALDO ANTUNES/ RJ):
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