Por Gustavo Franchini
Intitulada Six Strings and a Voice, a turnê acústica de Marko Hietala (ex-Nightwish) e Anneke van Giersbergen (ex-The Gathering) passou por diversas cidades brasileiras (Rio de Janeiro, Belo Horizonte, São Paulo e Curitiba) e, no dia 5 de outubro, o público carioca teve a sorte de fazer parte de uma noite belíssima no Teatro Rival. Com um setlist eclético, muita simpatia e carinho com os fãs, além de uma qualidade musical inegável em cima do palco, a dupla conquistou o coração de todos.
O formato em si do evento é perfeito para a ocasião: mesas numeradas, palco com altura boa e som de primeira, além de visão ótima em diversos ângulos para os que estavam posicionados em qualquer ponto da casa. A cozinha formada pelo baixista e vocalista finlandês, conhecido pelo seu trabalho de décadas com o Nightwish, um dos precursores do symphonic/gothic metal e a outra grande atração, a guitarrista e vocalista holandesa que se destacou pelos anos no The Gathering, banda esta que tem um som mais leve e que flerta até com o rock progressivo, deixa bem claro que possui uma das vozes mais poderosas do estilo, tanto em estúdio quanto ao vivo, somado ao competente guitarrista Tuomas Wainola, músico de apoio que participou do álbum solo de Hietala e estará presente em toda a turnê.
A partir do momento em que as luzes se apagaram e a plateia se posicionou em suas mesas, o que estaria prestes a ser vivenciado seria uma experiência mágica. Seguindo a organização de outros shows da turnê, o setlist começaria com Hietala e Wainola, depois com a entrada de Giersbergen e seu repertório individual, no final encerrando com os três em canções que, inclusive, foram cantadas a capella e com backing vocals muito bem executados. Mesmo com alguns presentes não conhecendo parte das músicas apresentadas (até porque pelo menos uma delas nem tinha sido lançada oficialmente ainda), o que mais chamou a atenção foi a reciprocidade e carinho do público com as interações do trio. Gritos de fãs, ligeiramente cômicos de amor aos artistas e piadas leves para descontrair um momento tão único, se tornaram uma constante durante a noite bastante intimista.
Abrindo com duas músicas de sua carreira rolo, “Stones” e “Isäni ääni” (algo como “A voz de meu pai”), esta segunda cantada em finlandês, Hietala já de imediato surpreende com sua voz bem afinada e, mesmo considerando que algumas músicas estavam com tom abaixo do original, no caso de covers, ainda assim eram tocadas e cantadas com muita qualidade, a exemplo das clássicas “Crazy Train” (Ozzy Osbourne) e “Holy Diver” (Dio). A linda “Two Soldiers”, outra solo de Hietala, realmente combinou com o formato do show. E eis que após outra clássica, “Children of the Grave” (Black Sabbath), a casa veio abaixo com “Child of Babylon” (Whitesnake), já que esta foi marcada pela entrada de Anneke no palco, ovacionada pelo público.
O set de Anneke percorreu brevemente toda sua carreira e gosto musical, além de shows recentes que tem feito mundo afora, contando com canções de sua carreira solo, do The Gathering e, por incrível que pareça, um cover de Ayreon (“Valley of the Queens”) e até mesmo Kate Bush, no caso com “Cloudbusting”, que substituiu “Like a Stone” (Audioslave), presente em outros shows da turnê. Definitivamente o destaque da apresentação com sua espetacular voz, que transita em diversas notas com facilidade, tons variados, alcance inacreditável e uma delicadeza/suavidade que realmente impressiona. Algumas técnicas utilizadas de maneira quase que improvisada, praticamente se divertindo em cima do palco, mostram como Anneke domina suas cordas vocais e deixou muitos boquiabertos com sua performance.
A parte final do repertório, agora já com os três em palco, foi muito bem escolhida por ser a mais emocionante, seja com a bela versão de “Catch the Rainbow” (Rainbow), banda esta que é inspiração máxima para os músicos, e até mesmo uma palinha de “Waves” (Tom Jobim) por Wainola, homenageando os brasileiros e, claro, a Cidade Maravilhosa. Logo na sequência, “Wasted Years” (Iron Maiden) e a melhor de todas na versão acústica, “I See Fire” (Ed Sheeran), presente no filme O Hobbit (veja trecho acima), ponto alto do show. Após “Strange Machines”, do The Gathering, chegou a hora que os fãs de Nightwish tanto esperavam com “The Islander”.
Pra fechar a festa com maestria, mais um cover de Ozzy Osbourne (“Perry Mason”) e a atemporal “The Sound of Silence” (Simon & Garfunkel), deixando todos com um sorriso no rosto e desejo de ‘quero mais’. E parece que fomos atendidos, já que Hietala voltará no ano que vem, desta vem simplesmente com Tarja Turunen dividindo o palco em versões acústicas! Ainda assim, resta a esperança de uma gravação em estúdio com Anneke, já que a sintonia entre os dois se mostrou bem forte e, pelo fato de ambos serem compositores, com certeza lançariam material de primeira qualidade.
Veja galeria de fotos do show (Anneke van Giersbergen & Marko Hietala/RJ):
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