Alter Bridge apresentou emocionante show com simpatia e boa performance em São Paulo

Por Pedro Viana

Foto: Gabriel Ramos

Seis anos após sua primeira vinda ao Brasil, a qual naquele momento contemplou Rio de Janeiro, São Paulo e Curitiba, os americanos do Alter Bridge retornam ao Brasil, desta vez, em show único. A expectativa era alta, tendo em vista que desde então fomos presenteados com os ambos excelentes Walk The Sky (2019) e Pawns And Kings (2022). O setlist prometia ser bem maior, pois a noite era exclusiva dos mesmos, sem aquela dinâmica de festivais que afastam muitos hits menos óbvios do palco.

Com pontualidade britânica (ou melhor, americana), às 21h o Alter Bridge inicia seu show no Espaço Unimed com “Silver Tongue”. O som por vezes embolado ou grave demais, que por sinal demorou a se acertar, não conseguiu apagar o brilho da apresentação. O carisma da banda e a potente voz de Myles Kennedy envolvem todos na sequência com “Addicted to Pain”, que faz a todos baterem cabeça com vontade ao som dos riffs matadores, marca registrada de Mark Tremonti e suas influências no heavy metal, mas é em “Ghost Of Days Goes By” que o público solta sua voz e deixa Myles incrédulo, um sorriso de ponta a ponta com a reação de todos que cantam em alto e bom tom, cada verso e refrão do grande hit. Ao término da mesma só consegue dizer ‘What the fu**? This is incredible!’. Uma aura toma conta do Espaço Unimed, com fãs e banda finalmente conectados como um só.

“Sin After Sin” desce a temperatura da apresentação, mas na sequência, Myles larga sua guitarra para se dedicar somente aos vocais e Mark ao iniciar as primeiras notas de “Broken Wings”, leva todos ao delírio, sendo um dos picos do show. Seu refrão cantado em uníssono pelo público, mostrava uma plateia repleta de sorrisos, choro e realização. ‘Alter Bridge! Alter Bridge! Alter Bridge!’, gritavam bem alto. Myles, em meio a sorrisos mais do que espontâneos, continua com a mesma reação de quem parece surpreso e impressionado com tudo aquilo, mas parece óbvio ao fã que um hit desses não teria como causar uma sensação menos intensa que essa.

Myles convida Mark para os vocais e é a vez de “Burn It Down”. O guitarrista é ovacionado por diversas vezes ao cantar e Myles vira destaque na guitarra com seus solos bastante expressivos. É nesta dinâmica entre os dois que fica evidente o por que de serem os pilares da banda. Dois excelentes vocalistas, guitarristas e também compositores que se complementam. Seguindo o show, Myles começa na guitarra de forma bem tímida, chegando ao auge com a intro de “Cry Of Achilles”, trazendo novamente a agitação e euforia do início do show. Bom, não é necessário reforçar que este foi mais um refrão cantado com vontade por todos ali presentes.

Foto: Gabriel Ramos

A banda sai do palco e deixa somente Myles que dessa vez segura um violão em seus braços. O público de alguma forma já demonstra que sabe exatamente qual música virá a seguir, e uma belíssima versão acústica de “Watch Over You” é oferecida. Com direito a refrão inteiro cantado somente pelo público e um Myles que parece agora entender a paixão do fã brasileiro pela banda, mas mantendo o mesmo sorriso de quem está feliz por tocar em terras tupiniquins novamente. Na continuação do set acústico, os roadies trazem duas cadeiras e dessa vez quem assume o violão é Tremonti, enquanto Myles se dedica somente aos vocais em “In Loving Memory”, mantendo o clima intenso e emotivo no show.

Retiradas as cadeiras, Brian e Scott retornam ao palco e Myles começa uma tímida intro na guitarra de “Blackbird”, mas no caso a do The Beatles, gesto clássico que precede o grande hit de mesmo nome da banda. O público vai à loucura e os icônicos oito minutos, recheados pelo potente refrão e belíssimos solos de Mark e Myles, parecem passar em segundos. O público que parecia ter dedicado sua energia toda, grita ainda mais alto quando Tremonti vai até a ponta do palco e puxa “Come To Life”. A dobradinha do belíssimo album Blackbird traz uma sensação de nostalgia, euforia e êxtase. A dinâmica neste ponto do show se torna a seguinte: Quanto mais o Alter entrega, mais o público corresponde!

Neste momento, acontece algo único e incrível no show: Um fã pede à banda insistentemente que toquem “Lover”, belíssima canção do album Fortress e Myles diz que vai tentar pelo menos um verso para ele. Brinca dizendo que se não ficar bom, a culpa é do mesmo e em bom tom começa os acordes e versos de forma bem suave. Porém no primeiro refrão, Scott puxa a bateria junto, o que leva Mark e Brian a se sentirem confiantes a tocarem junto. E o resultado? Somos brindados com uma música a mais em nosso set, sem ensaio, de forma muito espontânea e intensa. Mark não cansa de sorrir enquanto toca, como se não acreditasse a que ponto chegou naquele improviso de última hora. Ao final, o público reage de forma insana e Myles aponta para o fã e diz “For You!”. Incrível!

Tremonti toca um trechinho de “Down To My Last” na guitarra e a banda segue com “Pawns & Kings”, faixa titulo do último album, esta recebida por todos de forma mais branda. Na sequência, “Isolation” convoca os fãs novamente a cantarem o marcante refrão e, a partir deste ponto, há a sensação de que estamos chegando ao final do show. Myles larga sua guitarra e fica mais solto no palco e então apresenta Scott Phillips na bateria e o mesmo puxa a icônica intro de “Metalingus”. A plateia enlouquece e Myles, mais solto do que nunca, caminha empolgado pelo palco e parece ter o público em suas mãos. Ao meio da música, a banda estende um trecho e diminui a dinâmica enquanto Myles conversa com os presentes. Um dos fãs diz que é seu aniversário e então Myles, que tenta decifrar o nome do fã e não consegue no meio do potente som, deseja ‘Happy Birthday to you’ de forma bem carismática. Obviamente, aparecem vários aniversariantes na sequência e após dar parabéns a vários, Myles diz que poderia dar parabéns a todos do público e ri bastante da situação.

Foto: Gabriel Ramos

Então é chegado o momento de retomar a música e convocar o público para pular junto com a banda em ‘Could You Set Me Free!’. Myles coloca a energia do show lá no alto e a banda leva o espaço Unimed abaixo com este final apoteótico de “Metalingus”. A banda sai então do palco, mas as luzes se mantém apagadas, o que obviamente faz o fã querer o óbvio: cadê nosso bis? A banda retorna e “Open Your Eyes” embala todos de forma mais amena, porém muito marcante, o que relembra a vibe sentida em “Broken Wings” lá no meio do show. O público sabe que é o fim, mas não se cansa de cantar tudo que sabe, o que consegue e o que não consegue. Quem liga pra rouquidão no dia seguinte, não é mesmo?

É chegado o grand finale, Myles assim como fez com maestria ao longo de todo o show, começa de forma bem tímida, como um improviso, o início de “Rise Today”, que ao ser reconhecida pelo público arranca berros do fundo do coração de cada um dos fãs que aguardaram seis anos para assistí-los! O refrão, que parece grudar igual chiclete na mente, não cansa de ser repetido e a sensação de saudade já toma conta do Espaço Unimed. ‘I want to rise today and change this world!’, diz Myles. Enquanto os quatro agradecem ao público, nas caixas de som, “My Way” de Frank Sinatra, na excelente voz de Mark Tremonti, dá o tom de despedida. De missão cumprida ao quarteto americano.

Ao final de tudo, a banda parece plena, satisfeita e muito feliz de ter voltado ao Brasil. A apresentação mostrou um setlist variado e que contemplou as diferentes fases da banda, mas é justamente ao mesclar momentos acústicos, refrões marcantes e riffs matadores com momentos onde Mark brilha na voz, Myles na guitarra e vice-versa, além da poderosa cozinha de Brian Marshall e Scott Phillips, que o Alter Bridge consegue mostrar toda sua energia, carisma e deixar sua marca em todos os presentes com duas horas de show raiz, sem alegorias, estratégias ou grandes esforços. É de músico para músico, músico para fã, músico para espectador. Puro, emotivo, visceral e intenso. Isto é Alter Bridge!

* Fotos do fotógrafo Gabriel Ramos (@gabrieluizramos) cedidas gentilmente pelo site Igor Miranda.

Foto: Gabriel Ramos


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