Por Gustavo Franchini
Depois de apresentações de ambos os músicos finlandeses em setembro/outubro do ano passado por terras brasileiras, Tarja Turunen (veja resenha e fotos do show solo em SP) e Marko Hietala (veja resenha e fotos do show acústico com Anneke van Giersbergen no Rio), conhecidos mundialmente por serem ex-integrantes da famosa banda de symphonic metal Nightwish, resolveram voltar para cá com uma nova turnê; só que desta vez juntos. O encontro celebraria músicas de sucesso tanto solo quanto de seu antigo grupo, provando ser uma das escolhas mais acertadas da carreira deles, tamanha foi a reação positiva dos fãs com o show que já tinha rolado em São Paulo.
Contudo, por conta de mudanças bruscas de temperatura e outros fatores climáticos que facilmente afetam músicos que tem como instrumento a própria voz, os dois sofreram com perdas de voz nos shows que se seguiram em Porto Alegre, Curitiba e Belo Horizonte, infelizmente tendo que encerrar o repertório na primeira cidade mencionada antes do previsto e cancelando os outros dois shows. Após repouso e cuidados, em Brasília a alegria voltou a fazer parte da apresentação e, de fato, pareciam recuperados. O espetáculo no Rio de Janeiro seria o próximo e a ansiedade batia forte no público carioca.
Com a casa cheia, pessoas de todas as idades e um clima gostoso na Sacadura 154, tudo estava encaminhado para uma noite que prometia ser memorável. A apresentação da banda de abertura local Lumnia, que já teve esta mesma responsabilidade em outros shows da Tarja (setembro do ano passado em São Paulo), foi um aquecimento competente para uma plateia ávida por um gênero de metal que cada vez menos encontra espaço na cidade que é dominada por gêneros populares como funk, samba e sertanejo.
Em seguida, às 20h, Marko sobe ao palco bem à vontade, descalço e com roupas leves (leia-se calor do Rio). Seu amigo de longa data, o músico e produtor Tuomas Wainola, se fez presente assim como na apresentação acústica do ano passado, mas desta vez mais curta e servindo como prelúdio do que estava por vir. O formato também seguia o padrão de ter canções solo e covers, estas já agitando a galera através das ótimas “Stones” e “Two Soldiers”, assim como “Crazy Train” (Ozzy Osbourne), “Child of Babylon” (Rainbow) e “Children of the Grave” (Black Sabbath), músicas que combinam muito bem com a voz de Marko e se encaixam na base de violões. Mas foi na hora em que as primeiras notas de “The Islander” (clássica do Nightwish) começaram a soar que o plateia foi à loucura, cantando o refrão em uníssono! Ficou claro que realmente os presentes queriam ouvir algo atrelado à tão amada banda que fez parte da vida de tantos ali.
E, então, as luzes se apagaram. A iluminação se modificou e uma banda de apoio completa surgiu no palco. Após uma leve introdução, surgiu com ares de diva uma das artistas mais reverenciadas pelo público brasileiro do estilo: Tarja. A presença da cantora é tão forte, devido à seu carisma e reciprocidade com os fãs (além, claro, de sua poderosíssima voz), que na parte do camarote o chão chegou a tremer. Abrindo com as ótimas “Demons in You” e “Die Alive”, já era possível ver pessoas berrando pedidos de músicas, frases de amor à vocalista e até mesmo lágrimas no rosto de alguns/algumas. Não coincidentemente veio “Diva”, uma canção que tem um refrão épico que é um dos destaques de sua carreira solo. Para a execução de “Shadow Play”, Tarja se senta ao teclado e o clima se torna mais intimista, apesar do peso da música. Tal versão se estendeu com solos dos integrantes de sua banda de apoio, que por sinal é de muita qualidade, cozinha entrosada e animada assim como a frontwoman.
O difícil será descrever a reação do público após a reentrada de Tarja de mãos dadas com Marko para “Dead to the World” (Nightwish), momento tão aguardado por todos. Poucas vezes foi possível ver tamanha emoção e energia, um carinho enorme que mostra total respeito pela carreira de ambos e o quanto os fãs anseiam por uma volta da formação original (o que convenhamos é praticamente impossível de acontecer, mas vale pelas reuniões). Parecia que os problemas do passado entre eles foram resolvidos e ali estavam dois amigos prontos para darem à plateia o que ela tanto queria. E o que dava pra perceber com clareza era a química absurda entre os dois!
O setlist a partir daquele momento não iria se ater apenas às canções do Nightwish, já que Marko cantou também outras duas da carreira de Tarja, “Dark Star” e a melhor composição da discografia solo dela, “Dead Promises”, mostrando o quão sólida é sua empreitada como artista individual. Que riff animal! Já para homenagear o amigo, Tarja canta também a cativante “Left on Mars”, composta e lançada recentemente por Marko, tendo sido gravada com a participação dela em estúdio e videoclipe.
Mas é claro que o pessoal estava aguardando por mais Nightwish, e para o delírio de todos, os pedidos foram atendidos com a dupla “Planet Hell” e “Wish I Had an Angel”. Aí veio a chuva de sorrisos estampados nos rostos de quem nunca teve a oportunidade de ouvir ao vivo com ambos presentes no palco ou que só tiveram há mais de 20 anos. Não tinha sequer uma alma viva sentada neste momento, era praticamente a emoção musical servindo como a força da disposição de um energético. Marko se retira do palco, prometendo voltar, e surge ao fundo a introdução da belíssima “I Walk Alone”, um dos primeiros hits de Tarja. “Victim of Ritual” e “Until my Last Breath” vieram em seguida, fazendo jus ao setlist que já tinha sido tocado em Brasília. Só que não era o fim do show no Rio. Faltava uma surpresa!
E surpreendendo a todos que achavam que a apresentação se encerraria da mesma maneira que a da cidade anterior, Marko volta ao palco e tocam o famoso cover de Gary Moore, “Over the Hills and Far Away”, com todos abraçados e tudo se tornando uma verdadeira festa! Um espetáculo que não decepcionou por um segundo sequer e que com certeza vai gerar outras turnês no futuro por cidades brasileiras, devido à recepção tão positiva e também para cumprir os shows que foram cancelados pelos imprevistos ocorridos nas primeiras datas. Sempre serão bem-vindos, vida longa à boa música!
Nossos agradecimentos a todos os responsáveis por tornarem o evento possível e, em especial, para a Estética Torta e Lex Metallis Assessoria pela parceria, confiança e credibilidade dada à equipe do Universo do Rock.
Veja galeria de fotos do show (Tarja Turunen e Marko Hietala no Rio de Janeiro/RJ):
Veja galeria de fotos do show (Lumnia no Rio de Janeiro/RJ):
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