Texto, revisão e edição: Gustavo Franchini
Foto: Paty Sigiliano
Se você é apaixonado pela boa música certamente já ouviu falar ou é fã do trabalho do guitarrista e cantor britânico Eric Clapton, já que seu nome ecoa por todos os cantos do mundo em uma carreira de sucesso, que compõe não só canções de rock, mas de outros gêneros associados, como o blues, soul e até mesmo pop. Dono de composições autorais, covers impactantes e parcerias que ficaram registradas na história, seu estilo de tocar é tão característico que se tornou influência para grandes nomes da guitarra e também referência em diversas mídias, seja em filmes, comerciais de TV ou como trilhas sonoras da vida das pessoas.
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A Farmasi Arena foi escolhida como a casa para comportar tamanho espetáculo e, de fato, o que se observou foi o público lotando cada espaço com respeito, famílias reunidas, jovens e idosos unidos em prol de um objetivo: celebrar a paz e alegria. E foi sobre isso a apresentação de um músico que sabe de suas limitações (não só da idade, mas como artista), sabendo aproveitar cada qualidade que tem e dando oportunidade para os músicos de sua banda de apoio mostrarem o que sabem fazer de melhor. A abertura ficou por conta do excelente guitarrista Gary Clark Jr., que acumula diversos prêmios Grammy e uma recente discografia solo com bastante groove, contudo não foi possível chegar a tempo do show devido às condições de trânsito no local.
Foto: Paty Sigiliano
A pontualidade britânica se mostrou presente lá às 21h com a introdução de “Sunshine of Your Love” (Cream), apresentando uma produção tímida no palco, mas bem estruturada com diversos postes modernos e uma disposição organizada de cada um dos músicos que contemplavam a força sonora de Clapton. A dupla de backing vocals Sharon White e Katie Kissoon, o baixista (e voz de apoio) Nathan East, o guitarrista Doyle Bramhall II, os tecladistas Chris Stainton e Tim Carmon, além de Sonny Emory nas baquetas, não são apenas meras figuras, mas sim parte de um todo necessário para o show acontecer. A qualidade absurda de todos os integrantes chega a deixar qualquer um boquiaberto, somado à simpatia e respeito mútuo. Em vários momentos, Clapton colocou de lado a atenção em si mesmo e deixou que cada um brilhasse, o que é algo louvável para um artista com mais de 60 anos de carreira.
A sequência como “Key to the Highway” (Charles Segar), “I’m Your Hoochie Coochie Man” (Willie Dixon) e mais uma do Cream em forma de “Badge” aqueceu os corações (e ouvidos) de uma plateia que estava muito focada em cada uma das notas tocadas de um dos deuses da guitarra. Como era de se esperar, se baseando em setlists em outras cidades, o formato acústico viria a seguir e, considerando que alguns podem não curtir essa mudança de clima, ainda assim se mostrou quase que obrigatório diante do que foi tocado, como a maravilhosa “Change the World” (Wynonna Judd) e, claro, “Tears in Heaven”, uma de suas obras-primas.
Na volta com a parte elétrica, a emocionante e bluesy “Old Love”, que se mostrou facilmente o destaque da noite. Que música sensacional, gerando um tom tão multifacetado, colorido e com notas literalmente escolhidas a dedo por um artista de verdade! No meio de um bom número de solos, deu tempo ainda de interagir com a plateia e transmitir mensagens positivas, que solidificam toda a evolução como ser humano que Clapton foi mostrando ao longo dos anos. Duas seguidas de Robert Johnson, “Cross Road Blues” e “Little Queen of Spades” encaixaram como uma luva e abriram caminho para uma das mais pedidas, “Cocaine” (versão da canção de J. J. Cale).
Muitos clamavam por “Layla”, pedido este que infelizmente não foi atendido por não constar na turnê e talvez por ter feito parte do outro show que ele fez por aqui em 2011. Aliás, apesar de ser uma cativante composição de seu antigo grupo setentista Derek and the Dominos, não fez enorme falta com vários petardos emendados um no outro. Solos improvisados eram constantes, muitas vezes brincando com a dissonância nas notas entre instrumentos e sendo devidamente inseridos por mestres em suas artes. A título de curiosidade, não teve uma vez que Clapton saiu dos acordes e frases para os solos, que o público não se concentrava totalmente em prestigiar os movimentos tão belos quanto a luz angelical.
Chamando para o palco Gary Clark Jr., um final estendido com uma pegada de peso mais classic rock com “Before You Accuse Me”, que arrancou ainda mais aplausos de uma plateia que não parava de cantar, gritar o seu amor pelo ídolo, pular e se abraçar de felicidade por estar presente naquele momento inesquecível. Foram mais de 10 anos de espera por uma nova passagem dele pelo Brasil e a espera definitivamente valeu a pena. Agora é torcer para que ele venha mais uma vez antes de encerrar a carreira, pois música genuína é sempre bem-vinda!
Nossos agradecimentos a todos os responsáveis por tornarem o evento possível e, em especial, para a Midiorama e Move Concerts pela parceria, confiança e credibilidade dada à equipe do Universo do Rock.
Veja a galeria de fotos do show (Eric Clapton/ RJ):
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