Uriah Heep dá aula de rock genuíno em apresentação gloriosa no Rio

Texto e Edição: Gustavo Franchini

Um dos nomes mais impactantes da era de ouro do rock progressivo, desde o início dos anos 70 os ingleses do Uriah Heep marcaram a história da música por conta de uma sequência de lançamentos com características próprias, inspirados e que fogem ao padrão estipulado pela indústria, sempre mantendo a criatividade e ousadia em primeiro lugar. E com muita alegria os cariocas puderam conferir na última quarta-feira (09) o que seria a turnê de despedida da banda, mas que, ao longo da resenha, a boa notícia é que não é bem assim, mesmo considerando o título The Magician’s Farewell. Outras cidades brasileiras também tiveram a honra de contemplar tal evento, como São Paulo, Porto Alegre, Belo Horizonte e Curitiba.

Mesmo sendo no meio da semana, em uma noite chuvosa, o teatro se mostrou pequeno para a grandiosidade da banda que conseguiu lotar o local, demonstrando uma variedade de faixa etária, desde jovens adultos a idosos, todos claramente muito felizes por estar ali. Esta energia maravilhosa se estendeu do início ao fim do espetáculo, o que é bonito demais de se ver e sentir.

Tendo como único membro remanescente da formação original a lenda viva Mick Box, referência de guitarrista para amantes do instrumento e da boa música, mesmo aos 77 anos exibe uma qualidade técnica, feeling e pegada de dar inveja a jovens de 20 anos. A cozinha é completada por músicos de primeira linha, como seu grande amigo, frontman e talentosíssimo vocalista Bernie Shaw, o competente baixista Dave Rimmer, o carismático e afiado batera Russell Gilbrook e o excelente veterano Phil Lanzon nos teclados. Dentre todos, Bernie e Phil são os que mais tempo estão na banda junto a Mick, há quase 40 anos para ser exato.

Chega a ser impressionante como todos os integrantes são simpáticos, em especial Bernie que a todo momento tinha o público nas mãos, interagindo durante as canções e intervalos, deixando bem claro como estava feliz por estar aqui e em especial pela reciprocidade da plateia, que cantava em uníssono não só as letras, mas até mesmo as notas de guitarra, em nenhum momento deixando ‘cair a peteca’. Aliás, vale ressaltar que pela complexidade de harmonias vocais que é um dos pilares do Uriah Heep, a união de todas as vozes (integrantes e plateia) se transformou em uma celebração mágica, um momento único.

Percorrendo grande parte da discografia da banda que é imensa, afinal, são 56 anos de carreira, o setlist focou nos álbuns lançados em sequência Look at Yourself (1971), Demons and Wizards e The Magician’s Birthday (ambos de 1972), todos considerados clássicos absolutos, além do mais recente Chaos & Colour (2023) que traz um som mais moderno e cru, ainda que dentro da mesma proposta. O destaque ficou justamente para as músicas dos álbuns da década de 70, pois é impossível ficar inerte ao som de “Shadows of Grief”, “Stealin'”, “Sweet Lorraine”, “Gypsy”, “Free ‘n’ Easy” e, claro, a trinca “The Magician’s Birthday”, “The Wizard” e “Easy Livin'”.

Cada uma das canções tem tonalidades harmônicas com cores diferentes, melodias cativantes e a capacidade de mostrar toda a complexidade das composições do Uriah Heep, que mesmo somando esses aspectos, ainda assim tem uma sonoridade final de fácil digestão. Será realmente magia? Bom, com certeza o mago ajuda as pessoas a se sentirem livres novamente (trecho da letra de “The Wizard”).

Em “Sunrise” e “July Morning” o ânimo continua em alta, os sorrisos estampados, as mãos pra cima e os gritos sendo percorridos por todo o ambiente. As canções mais atuais como “Hurricane”, “Overload”, “Grazed by Heaven” e “Save Me Tonight” podem não ter o mesmo efeito que os hits do passado, mas são de qualidade inquestionável e mantém a banda na ativa. Por falar nisso, Bernie explica durante a apresentação que apesar do título de despedida, o Uriah Heep não está encerrando as atividades, apenas reduzindo o número de shows em turnês, limitando viagens longas e ficando menos tempo longe das famílias, pois já não são mais jovens e precisam dar uma desacelerada, o que é perfeitamente compreensível, até mesmo para manter a performance sensacional que sempre entregaram ao público ao longo de tantos anos. Inclusive, estão produzindo um novo material a ser lançado em breve. Tem como pedir mais? Vida longa ao mágico e que voltem ao Brasil o quanto antes!

Nossos agradecimentos a todos os responsáveis por tornarem o evento possível e, em especial, para a Rider2 pela parceria, confiança e credibilidade dada mais uma vez à equipe do Universo do Rock.


Veja a galeria de fotos do show (Uriah Heep/ RJ):



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