Iron Maiden faz show inesquecível para 12 mil fãs no HSBC Arena, Rio de Janeiro

Por: Gustavo Franchini

Show histórico dos ingleses, apesar de marcado por adiamento e desorganização,
celebra o verdadeiro espírito do heavy metal

Foto/Marcos Hermes
Foto/Marcos Hermes

No domingo passado (27/03), mais de 12 mil pessoas estavam a caminho do show da maior banda de heavy metal da história. A ansiedade era extrema. O ano de 2009 foi marcado como a última passagem dos ingleses pelas terras cariocas, em um espetáculo incrível, considerado um dos melhores da banda, desde o seu surgimento no final dos anos 70. De qual banda estamos falando? Iron Maiden, é claro!

Porém, as coisas não estavam indo bem como deveriam. Assim que me deparei com a entrada do HSBC Arena, local escolhido pela produção para realizar o show destes monstros do heavy metal, um mau pressentimento começou a se apoderar de minha nobre e simples alma. Exagero? Não, não mesmo. Realmente, tudo o que os milhares de fãs daquela noite de domingo estavam desejando é que tudo não passasse de um mero exagero. Um mero “probleminha” da organização do show.

Pois bem. O que era possível observar, logo próximo à entrada, era uma fila gigantesca. Não, não era uma fila qualquer. Realmente, era uma fila de milhares, milhares de pessoas, de forma desorganizada, para todos os setores do local… Isso mesmo! Todos os setores, não importa que seu ingresso seja para o setor premium, camarote, cadeira ou pista comum; todo mundo entrava pela mesma “brecha”. O fluxo de entrada para o HSBC Arena era minúsculo, devido ao fato de, além da imensa fila na entrada, ter uma segunda fila para a roleta e uma terceira fila situada na rampa que dava acesso aos diversos setores.

Como eu tive a sorte de estar indo cobrir o show, como imprensa, não precisei enfrentar fila, o que já foi um grande alívio. Todavia, assim que adentrei as instalações do local, a preocupação bateu forte mais uma vez: o show de abertura, da banda paulista Shadowside, já tinha começado, mas nem 20% do público estava dentro da casa. Por sinal, a banda de abertura era excelente, formada por músicos de alto nível, em uma performance da vocalista Dani Nolden que deixou muitos boquiabertos! Para completar a cozinha, Raphael Mattos nas guitarras, Ricardo Piccoli no baixo e Fabio Buitvidas na bateria. Se você não teve a oportunidade de conferir o show, acesse o MySpace da banda (www.myspace.com/shadowsideband). É uma pena que grande parte do público não estava lá para vê-los. Quando olhei em volta, percebi que a pista premium ocupava mais espaço do que a pista comum! Foi a primeira vez na vida que vi um absurdo desses. Fiquei imaginando o que iria acontecer quando a grande maioria do público entrasse ali. E, infelizmente, o pior ainda estava por vir.

Após alguns minutos, quando a casa já estava cheia, os maidenmaníacos pediam calorosamente para o show começar. Apesar da demora, as luzes finalmente se apagaram e a introdução de “Satellite 15… The Final Frontier” já preenchia todos os setores da casa. Imediamente o coro começa “olê, olê, olê, olêêê… Maideeeen, Maideeeen”, seguidos de gritos histéricos e aplausos. Ao meu redor, vi crianças, adolescentes, adultos e idosos, muitos ali prestes a ver o Iron Maiden pela primeira vez na vida. O palco era idêntico ao do show de São Paulo, ou seja, todos estavam esperando as atrações (como o Eddie) e os efeitos que sempre brilham nos shows dos ingleses. Finalmente, as telas, com o clipe de introdução do show, se apagam, e a banda finalmente entra em ação.

E é aí que tudo se transforma em uma das maiores tristezas que pude presenciar na história do heavy metal. Após alguns segundos cantando, o vocalista Bruce Dickinson para de cantar e começa a falar com o público, em um tom de preocupação, porém o instrumental continuou até o final da música, ou seja, não dava pra entender direito o que havia acontecido. Quando a música termina, finalmente deu pra entender as palavras de Bruce: ele pede para que as pessoas dêem alguns passos para trás, pois a grade que separa o público do palco havia sido totalmente destruída, do lado direito. Ele demonstra preocupação em evitar algum acidente, para que os fãs não se machuquem. Portanto, era necessário dar uma pausa de 10 minutos, para que a equipe de produção conserte a grade e aí a banda poderia recomeçar o show.

Neste momento, eu já tinha a certeza na minha cabeça de que alguma coisa muito errada estava prestes a acontecer. A soma de erros que presenciei na organização do show já havia deixado claro de que aquilo era um aviso. Não deu outra; após 30 minutos, nada da grade estar consertada, nada do Iron Maiden voltar. O público começou a vaiar fervorosamente. Eis que surge Bruce Dickinson, novamente, e com um olhar tão sério que muitos já estavam se dirigindo para a saída. Ele avisa que precisa dar um comunicado, e que a pessoa ao seu lado iria traduzir para o português. A realidade é que todos entenderam as palavras de Bruce e foi impossível ouvir sequer alguma palavra da pessoa ao lado dele, pois aí a revolta já era tamanha, já não havia mais razão. O vocalista disse que foi avisado pela produção de que não era possível consertar a grade, e que a polícia não estava deixando o show ser executado devido às normas mínimas de seguranças, portanto não havia como continuar o show. Ele também fala que esta foi uma decisão da banda em conjunto com a produtora, para evitar que alguém se machuque, e pede para que as pessoas voltem na noite seguinte (segunda, dia 28/03), no mesmo horário, para verem o show.

Bom, não é preciso ser vidente para saber como foi a reação do público. Muitas pessoas vieram de outros estados (algumas da Bahia), cidades e até mesmo de outros países (como Argentina), para verem o show. Como iriam pagar transporte, hotel e alimento para mais um dia na cidade? A produção avisou que quem não pudesse comparecer ao show, iria receber o dinheiro do ingresso de volta, a partir do dia 4 de Abril, na própria bilheteria do HSBC Arena. Mas e os outros gastos? Muitas pessoas tinham que trabalhar no dia seguinte e não poderiam voltar. O mais triste foi ver várias crianças e adolescentes chorando, pois não conseguiram ver o show dos ídolos, pela primeira vez na vida. É de cortar o coração!

Quando a grande maioria já havia se retirado da casa, dei uma olhada na grade e reparei vários remendos. Pedaços de madeira e metal espalhados por todo caminho, os apoios tortos e uma visão clara de que não era possível segurar uma massa pressionando contra a grade. Obviamente, apesar da revolta pelo adiamento do show, nada justifica a depredação da casa, porém alguns vândalos descontaram a raiva de forma vergonhosa. Uma das saídas estava bloqueada, pois alguns vândalos quebraram o teto de gesso que dá acesso ao bar. Na arquibancada, cadeiras foram arrebentadas. Do lado de fora, destruíram o balão da Antarctica que estava prostrado na entrada do HSBC Arena. Pelo menos, não houve relatos de nenhum ferido com esta confusão toda.

Era um dia triste para o heavy metal, que para sempre ficará guardado dentro de cada fã que não teve como voltar na noite seguinte. Espero que o Iron Maiden volte o mais breve possível, para compensá-los de alguma forma. E, também, que esta falta de organização não se repita, pois além de todos estes problemas já mencionados, ainda acaba por sujar a imagem da cidade maravilhosa, como palco para bandas consagradas! É importante lembrar que o Iron Maiden não teve nada a ver com esta desorganização e desrespeito para com o público e resolveram deixar isto bem claro na noite seguinte, com um show incrível e digno da importância da banda para o heavy metal!

Quem pôde conferir o show do Iron Maiden, na noite de segunda-feira, não teve do que se arrepender: os ingleses botaram a casa abaixo (desta vez no bom sentido), com um dos melhores shows da carreira! O setlist foi recheado de clássicos, além de músicas mais recentes e algumas do último álbum, The Final Frontier (2010).

É incrível como o frontman Bruce Dickinson consegue cativar o público, além de cantar como nunca. Chega a ser inexplicável assistir um senhor de mais de 50 anos de idade, correndo de um lado pro outro, pulando, agitando a platéia, e cantando clássicos (sem diminuir o tom original da música), sem interrupções, em tons altíssimos. Sua voz está magnífica, ainda melhor do que quando era mais jovem, é impressionante! Bruce uma vez disse, em uma de suas dezenas de entrevistas, que o segredo para tamanho fôlego está em se concentrar, priorizar aquilo que está sendo feito, no exato momento, sem distração. Pois é, mas não podemos esquecer que ele ainda pilota um avião durante toda a turnê, é esgrimista profissional, professor de literatura, pai, marido, compositor e, claro, cantor. Aplausos para o mestre!

O líder e baixista da banda, Steve Harris, compositor de grande parte das músicas renomadas do Iron Maiden, demonstrou por que é tão consagrado no meio das quatro cordas e do rock em geral. Dave Murray, com a sua técnica e carisma, nas guitarras. Adrian Smith, com seu feeling sobrenatural, também nas guitarras. Janick Gers, com sua performance sempre teatral, igualmente nas guitarras. E Nicko McBrain, com o seu domínio único das baquetas e bumbos, na bateria. Pronto, está montada a maior banda de heavy metal de todos os tempos!

O show abre com a (já tocada na noite anterior) “Satellite 15… The Final Frontier”, do álbum recente The Final Frontier, que possui um dos mais empolgantes riffs da banda, após 30 anos de carreira, mostrando que ainda possuem o pique para lançarem boas canções. Logo em seguida, mais uma do recente álbum, a poderosa El Dorado, que virou single. Como o Iron Maiden sabe que grande parte do público quer mesmo ouvir os clássicos, já emendam com a maravilhosa “2 Minutes do Midnight”, do álbum Powerslave (1984), cantada em uníssono pelo público.

Como a turnê estava focada em promover o novo álbum, tocaram a “The Talisman” e “Coming Home”, que foram muito bem recebidas. Então, um dos melhores momentos da noite, com a estupenda “Dance of Death” do álbum homônimo Dance of Death (2003). Confesso que não imaginava o quanto essa música soava bem ao vivo, e realmente foi uma surpresa agradável! “The Trooper”, do álbum Piece of Mind (1983), clássico absoluto, não poderia faltar. Aliás, foi quando as rodinhas começaram a se formar, momento presente em todo espetáculo da música pesada!

Mais uma surpresa estava por vir, com a execução de duas músicas do sensacional Brave New World (2000), álbum que celebra o retorno de Bruce Dickinson ao posto de vocalista do Iron Maiden, com a “The Wicker Man” e “Blood Brothers”, esta última com um discurso de Bruce, dedicando a música aos japoneses, que não puderam fazer parte da turnê, devido às catástrofes (terremotos e tsunamis) recentes no país, além de agradecer a todos os fãs e afirmando que todos são irmãos de sangue! Para fechar as composições do The Final Frontier, a bela “When the Wild Wind Blows”.

A partir deste momento, teremos uma lição de heavy metal, que começa com “The Evil That Men Do” do Seventh Son of A Seventh Son (1988), continua com “Fear of the Dark” do homônimo Fear of the Dark (1992), e termina com “Iron Maiden” do também Iron Maiden (1980). Além das músicas em si, que são clássicos inquestionáveis, o público carioca viu o tão esperado monstro Eddie, mascote da banda, andando pelo palco, em uma perfeição de detalhes, de movimentos, que encantava a todos! Era de deixar qualquer um com um sorriso no rosto! Contudo, o destaque vai para a sua segunda aparição: durante a “Iron Maiden”, após o solo de Steve Harris, duas mãos gigantescas aparecem na parte elevada do palco, mexendo os dedos, as luzes de trás se apagam, e de repente surge a cabeça de um Eddie que ocupa a parte toda do fundo, com a boca aberta, olhos vermelhos brilhando e mexendo a cabeça de um lado pro outro. É simplesmente incrível!

Para o bis, mais clássicos, como a fenomenal “The Number of the Beast” (com direito a um boneco do diabo sentado no palco!) e o hino “Hallowed Be Thy Name”, ambas do The Number of the Beast (1982). Para fechar o show, a animada “Running Free” do álbum Iron Maiden (1980). Ou seja, um setlist para fã nenhum botar defeito. Vamos torcer para que The Final Frontier não seja o último álbum da banda e que continuem nos proporcionando momentos que apenas o Iron Maiden consegue proporcionar. Up the Irons!

SETLIST SHADOWSIDE:
1 – Gag Order
2 – In The Night
3 – Red Storm
4 – I´m Your Mind
5 – Disrupted Reality
6 – Highlight

SETLIST IRON MAIDEN:
1 – Satellite 15… The Final Frontier
2 – El Dorado
3 – 2 Minutes to Midnight
4 – The Talisman
5 – Coming Home
6 – Dance of Death
7 – The Trooper
8 – The Wicker Man
9 – Blood Brothers
10 – When the Wild Wind Blows
11 – The Evil That Men Do
12 – Fear of the Dark
13 – Iron Maiden

BIS:
14 – The Number of the Beast
15 – Hallowed Be Thy Name
16 – Running Free

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