Por: Carla Maio
É claro que incendiar é somente força de expressão. O fato é que, quem foi ao Lollapalloza, ou não, teve mais uma chance para ver as bandas que se apresentaram no festival, em shows mais intimistas e em casas especializadas da capital paulista. Na terça-feira (15), o Lolla Parties trouxe ao palco do Cine Joia o Vintage Trouble e o Eagles of Death Metal, duas das bandas que arrebentaram nos shows do último final de semana, no Autódromo de Interlagos.
Como já era esperado pelos organizadores do Lolla Parties e a partir do próprio conceito do evento, a grande festa reuniu uma moçada bonita e bem inteirada com as principais novidades do festival. Com a capacidade de quase mil pessoas até as tampas, a balada começou por volta das 20h com a chegada dos primeiros fãs e convidados e durou até a despedida do EODM, por volta das 1h10 da madrugada, muito embora os fãs tivessem gás para mais 4 horas de show, tamanha a energia para um começo de semana.
Vintage Trouble com muito estilo, sim senhor
É necessário dizer tudo sobre o Vintage Trouble. Primeiro, quem são esses caras que incendiaram a plateia do Cine Joia, em poucos minutos? A banda americana de Rythm & Blues surgiu na Califórnia em 2010 e já exibe um currículo opulento, abrindo shows dos Rolling Stones no Hyde Park, em Londres, e participando de turnês de lendas como The Who e AC/DC. São eles quem definem o novo cenário do soul, blues e rock moderno, com composições e performances que abusam do live-wired, straight-shootin, dirty-mouth’d e do pelvis-pushing.
Sorridentes e elegantes, o cantor Ty Taylor, o guitarrista Nalle Colt, o baixista Rick Barrio Dill e o baterista Richard Danielson sobem ao palco e, antes de tocar, voltam-se uns para os outros e se cumprimentam, um ritual de força, respeito e extrema sintonia entre os músicos.
“Ladies and Gentleman are you ready for Vintage Trouble?” E o Cine Joia explode em berros com “High times are coming”, uma saudação ao público, seguido de inúmeros convites de Taylor para que as mãos permanecessem no ar, o tempo todo.
Eles nem pensam em descansar e já mandam a magnífica “Blues hand me down”, pedem ao público que repita I love you, baby em “Still and Always will”, canções cheias da sensualidade e paixão inerentes ao blues e nas quais é impossível ficar parado. “Vamos fazer um show especial, tocamos no final de semana embaixo de muito sol e está noite vamos fazê-los pegar fogo de outro modo”, anuncia Taylor.
Para as garotas e garotos suados do local, os solos poderosos de Nalle trazem “Total Strangers”, e enquanto Dill arrebenta as cordas de seu baixo e Danielson castiga sua bateria, Taylor convulsiona, vai ao chão, levanta, e dá muitas voltas em 360º, o que faz seu paletó esvoaçar, charmosamente.
Em homenagem às inesquecíveis tardes de domingo durante o pôr-do-sol em Venice beach, na Califórnia, a banda toca “Doin’ what you were doin”, uma balada folk ritmada, gostosa de ouvir e de dançar.
E por falar em dançar, Ty Taylor é mestre e a explicação para tanta excelência vem de berço, lá da Carolina do Norte, quando o senhor e a senhora Taylor, pais de Ty, arrasavam nas pistas das casas noturnas. Carismático, ele chama a aclamadíssima “Nancy Lee” e faz novo convite ao público: “dancem comigo, São Paulo!”.
“Se vocês tem um sonho, devem persegui-lo”, grita Ty. Durante “Run like the river”, o incrível frontman está incontrolável e se lança ao público, é trazido de volta, mas quer mais, e depois de longo passeio pela pista do Cine Joia, onde dança calorosamente com os fãs, sobe até o mezanino da casa, e de lá de cima, quase pendurado, torna a festa ainda mais viva, real e próxima das pessoas. Ty Taylor, sem dúvida, tem sede de gente, muita gente.
A banda fecha a noite com “Nobody told me” e “Strike your light”, num bate papo gostoso com o público. “Essa alegria que estamos sentindo aqui essa noite é única, quero que vocês saiam e contagiem as pessoas, digam àquelas que estão tristes e que se esqueceram de sorrir o quanto elas são especiais, o quanto elas são importantes”, pede Taylor.
Numa atitude surpreendente, os músicos deixam o lugar, descendo do palco em meio à plateia, que abre espaço para os novos deuses do R&B passarem. Todos, sem exceção, entre boquiabertos e abismados, ficamos ali, agitados e muito, muito arrepiados.
Eagles of Death Metal e o pulinho do gato
A divertida performance do EODM no Cine Joia na noite desta terça-feira foi um show a parte. Renovado em pouquíssimo tempo depois da pancadaria rítmica do Vintage Trouble, o público se manifestou carinhosa e euforicamente ao recebê-los. “Jesse, Jesse, Jesse”, gritam os fãs, para o excêntrico vocalista Jesse Hughes, que junto com o amigo e vocalista do Queens of the Stone Age, Joshua Homme, fundaram o EODM, em 1998, em Palm Desert, na Califórnia.
A explosão veio logo na primeira música, “I only want you”, hit cuja imagem compõe alguns dos signos de bad boys da banda, como o logotipo colorido e a mulher tatuada com seios de fora, também projetados nas paredes da Casa. Entre juras de amor eterno, Hughes promete e a banda cumpre: “vocês vão ter uma noite verdadeiramente incrível”.
“Make a bang”, “Complexity” e “Whorehoppin” vem na sequência e são acompanhadas pelos fãs, que além de pular e dançar freneticamente, cantam cada uma das músicas da banda, um fenômeno que eclodiu recentemente, mas que já garantiu excelente receptividade e, claro, lucro alto aos organizadores do evento.
“Got a woman”, um rock’n’roll pesado com guitarras distorcidas, alimenta o imaginário dos garotões, enquanto as carnes ardentes de “I gotta feeling” eletrificam a meninada.
“Nesse lugar funcionava um teatro pornô japonês, talvez por isso eu me sinta tão bem aqui”, brinca o vocalista Jesse Hughes, e a banda toca “So easy” seguida de “The reverend”, mais uma dentre tantas sátiras do grupo.
Por detrás do tipo cafajeste, excitado e oferecido, Jesse revela-se um camarada carinhoso com os companheiros de palco e chega a abraçar o baixista Matt McJunkins. Jesse é um homem grato pela vida, extremamente hilário no jeito de andar, dançar e pular. Numa proposta de disputa de gritos entre garotas e rapazes, dá voz de vitória à ala feminina, sem dúvida, um cara inteligente. Extravasa em “Cherry Cola”, “Oh girl” e a punk rock “Miss Alissa”.
Como não podia faltar, o EODM toca a esperada “Save a prayer”, hit dos anos 1980 dos ingleses Duran Duran. No show não faltaram sucessos esperados pelos fãs, como “Stuck in the metal”, “Secret plans”, “Move in the night”, “Wanna be in LA” e, para encerrar a magnífica apresentação, eles tocam “I want you so hard”. Sim, nós também, baby!
Depois de algum tempo de espera, Jesse retorna ao palco para o bis. Vestindo agora a camiseta dos Rolling Stones, toca “Brown sugar”. Os demais músicos se juntam a Jesse e mais uma vez quase levam o Cine Joia abaixo com “Love you all the time” e “Speaking in tongues”.
Lolla parties
O Lolla parties foi um sucesso, levou para além dos portões do Lollapalloza algumas das mais cobiçadas bandas, e quem não teve a chance de ir ao festival, também pôde curtir apresentações bombásticas, com preços acessíveis.
Antecedendo a grande festa do primeiro dia do festival, na sexta-feira, 11 de março, a grande sensação da indie pop, a galesa Marina and the Diamonds fez show na Audio Club. Na segunda-feira, foi a vez das bandas norte-americanas Alabama Shakes e Cold War Kids repetir o sucesso do show do domingo no
Lollapalloza.
Sem dúvida, os shows do Vintage Trouble e do EODM fecharam com chave de ouro a passagem dos músicos pela capital e consolidaram um legado de fãs enlouquecidos por aqui.
Set List do Vintage Trouble
High times
Blues hand me down
Still and Always will
Total Strangers
Doin’ what you were doin’
Pelvis pusher
Nancy Lee
Run like the river
Nobody told me
Strike your light
Set List: Eagle Of The Death Metal
I only want you
Make a bang
Complexity
Whorehoppin
Got a woman
I gotta feeling
Silverlake
So easy
The reverend
Cherry cola
Oh girl
Save a prayer
Miss Alissa
Stuck in the metal
Secret plans
Move in the night
Wanna be in LA
I want you so hard
bis
Brown sugar
Love you all the time
Speaking in tongues
VEJA GALERIA DE FOTOS DO SHOW – VINTAGE TROUBLE
GALERIA DE FOTOS DO SHOW – EAGLES OF THE DEATH METAL
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