Por: Eduardo Valente
Nem melhor nem pior. Na verdade, qualificar o novo álbum do Raimundos, “Cantigas de Roda”, requer uma observação que vai além da comparação com o passado. Não se trata de uma competição, mas sim de uma reflexão. Poucas bandas no país – e quiçá no mundo – conseguiram reconstruir sua imagem após mudanças na formação original (Frejat que o diga!). Dizer que o Raimundos conseguiu este feito talvez ainda seja prematuro. Mas o novo disco reforça que o quarteto está no caminho certo, e muito próximo de atingir este feito.
São com as guitarras potentes e cozinha característica que os Raimundos apresentam o que é sua formação em 2014. Do eterno triângulo, viajando por uma sonoridade inédita com metais,“Cantigas de Roda”conseguiu unir em 12 faixas um pouco de cada fase na carreira da banda.
Gravado e produzido em Los Angeles por Billy Graziadei (vocalista do Biohazard), o novo álbum já nasceu grande. Distante do mercado fonográfico convencional, o disco foi pago pelos próprios fãs, por meio de um financiamento coletivo, na qual cotas foram adquiridas. A meta era R$ 55 mil, mas no fim o montante levantado foi pouco mais de R$ 120 mil. O sucesso deste método ganha ainda mais importância se pensar que, há 12 anos, o Raimundos não lançava um CD de inéditas. Afinal, quais eram as garantias do público de que o investimento teria o retorno à altura?
A resposta para esta pergunta está nos shows. Com energia de sobra, a apresentação é uma das mais marcantes no atual cenário do rock brasileiro. Além do peso, entra nesta concepção o quesito harmonia. Diferente de outras fases, quem vai a um show do Raimundos atualmente observa quatro grandes amigos fazendo o que mais gostam: tocar.
Talvez foi esta energia inquestionável o ingrediente que faltava para que boas músicas fossem criadas. “Cachorrinha”, a primeira do disco, serve não só como cartão de visitas como também um respeitável ‘cala boca’. Se Digão não dominava letras rápidas, agora ele faz isso com maestria. Aliás, mais do que nunca, o atual vocalista mostra qualidade e técnica vocal para diferentes tipos de músicas.
O mesmo pode-se dizer das canções de duplo sentido. De fato, Rodolfo era um excelente compositor, mas não o único. “Cera quente”, “Gordelícia” e “Baculejo” são hits em potencial, assim como “Mulher de Fases”, “A mais pedida” e “I Saw you saying” foram na década de 90.
Se o hardcore de “Nó Suíno”, “Descendo na bengala” e “Rafael” têm um ar de nostalgia, o mesmo não se pode dizer “Dubmundos”, que foge da linha convencional da banda e mostra com clareza a evolução musical que só o tempo permitiria. Esta faixa também conta com a participação do rapper Sen Dog, do Cypress Hill.
Outros destaques ficam para “Politics”, com letra séria semelhante às presentes no disco Lapadas do Povo, e BOP, considerado um verdadeiro desabafo em forma de rock. Se foi preciso matar um leão por dia para chegar a atual fase novamente? A música responde.
Desde o lançamento antecipado para os apoiadores, em 5 de fevereiro, “Cantigas de Roda”tem recebido críticas positivas, não apenas dos fãs, como também daqueles mais descrentes. Impossível dizer se este disco terá o sucesso que merece, mas certamente ele deve ser ouvido com atenção, sem qualquer juízo de valores. Mais vivos do que nunca, este é o Raimundos. “Muito respeito!”
Tracklist:
01. Cachorrinha (part. Frango do Galinha Preta)
02. BOP
03. Baculejo
04. Gato da Rosinha
05. Cera Quente
06. Rafael
07. Descendo na Banguela
08. Dubmundos (part. Sen Dog do Cypress Hill)
09. Nó Suíno
10. Importada do Interior
11. Gordelícia
12. Politics
Seja o primeiro a comentar