Com show de cores e brilho, Coldplay encanta fãs em espetáculo lotado no Maracanã

Por: Danielle Barbosa
Foto: Isabela Catão/Universodorock
Foto: Isabela Catão/Universodorock

Banda britânica retornou ao país para megaturnê em São Paulo (07/04) e no Rio (10/04)

Quase cinco anos desde sua última passagem pelo Brasil, os britânicos do Coldplay finalmente voltaram ao país com a turnê “A Head Full of Dreams”, em grandes apresentações no Allianz Parque (SP) e no Estádio do Maracanã (RJ). O quarteto londrino, formado há mais de 15 anos por Chris Martin (vocais/guitarra/piano), Guy Berryman (baixo), Jonny Buckland (guitarra) e Will Champion (bateria) já tinha quatro passagens pelas terras tupiniquins: 2003, 2007, 2010 e 2011 (com uma apresentação memorável em uma das noites do Rock in Rio deste ano).

Logo após a chuva de pedidos pelo retorno da banda, duas datas estavam acertadas para que a turnê do disco “Mylo Xyloto” (2011) passasse por São Paulo e Porto Alegre, em fevereiro de 2013. Os rapazes, no entanto, cancelaram os shows três dias depois de estes terem sido confirmados alegando “circunstâncias inesperadas”, um tremendo balde d’água fria nos fãs, que tiveram de ser pacientes e aguentar um hiato da banda – inicialmente por tempo indefinido – para então sonhar com novas apresentações pelas bandas de cá. Com o lançamento de “Ghost Stories” (2014) e o ‘boom’ de sucesso de algumas faixas do “A Head Full of Dreams” (2015), finalmente a turnê homônima do trabalho mais recente do Coldplay viria para a América Latina e, consequentemente, ao Brasil.

A expectativa não poderia ser maior, e isto pode ser facilmente observado quando uma carga de milhares de ingressos esgota em poucas horas para ambas as apresentações. Também, pudera, ninguém queria perder a oportunidade de ver a consagrada banda inglesa, que já lançou sete álbuns de estúdio – colocando dezenas de singles no topo das paradas -, recordista de bilheteria e premiações, com 6 Brit Awards e 7 prêmios Grammy, dentre outras inúmeras nomeações. Além disso, os integrantes são tudo o que um fã brasileiro quer: simpáticos, alto astral e bons moços, já que o Coldplay apoia e é ativista em projetos que lutam por causas sociais e políticas.

As aberturas: poderio feminino!
Tiê foi a primeira a subir ao palco do Maracanã pouco depois das 18h, enquanto o estádio começava a lotar para o aguardado reencontro dos cariocas com os ingleses do Coldplay. Sem fazer feio, a paulista de 36 anos e três álbuns de estúdio, soube conduzir bem a apresentação com um som bastante pop e animado, ainda que não muito íntimo da plateia. No grande sucesso da cantora, o hit “A Noite”, tema de novela global, a multidão se rendeu e não economizou nos flashes e na cantoria.

Pouco depois, foi a vez da jovem inglesa Lianne La Havas. A britânica de 26 anos, dona de uma voz de presença, chamou a atenção do público. Mesmo que os dois álbuns de estúdio (“Is Your Love Big Enough”, 2012; e “Blood”, 2015) da cantora não sejam populares no Brasil, a artista tem sido bastante notada e destacada por críticos europeus devido ao seu talento vocal e como instrumentista. A britânica foi nomeada, inclusive, ao Grammy em 2015 por “Melhor Álbum Contemporâneo Urbano”. Só no cover de “I Say A Little Prayer”, grande hit de Aretha Franklin, que o estádio foi abaixo e cantou junto com Lianne. No fim das contas, foi um bom “esquenta” para o que estava por vir.

O show: o Maracanã virou um céu estrelado, iluminado e multicolorido
Já com a lotação quase máxima do estádio (aproximadamente 70 mil pessoas) e sob um céu cheio de estrelas, que parecia pactuar com o espetáculo visual que o Coldplay traria pro palco – além de fazer referência a uma de suas canções (“A Sky Full of Stars”) –, os músicos ingleses não deixaram o público esperando e foram pontuais ao iniciar a apresentação na hora marcada. Nem antes, nem depois do relógio marcar 21h. O palco, que dispõe de uma passarela gigante, é bem intimista e faz com que a banda chegue bem pertinho dos fãs.

Foto: Isabela Catão/Universodorock
Foto: Isabela Catão/Universodorock

A abertura do show ficou por conta do single “A Head Full of Dreams”, que nomeia o disco lançado em 2015 e a turnê na América Latina. Antes, porém, um trecho de um discurso de Charlie Chaplin foi apresentado à multidão, que mal continha a ansiedade e foi à loucura quando as luzes se apagam, um espetáculo de luzes começou a brilhar por todo o Maracanã e as primeiras notas da canção foram executadas. É interessante destacar que as luzes coloridas vinham da própria plateia, que – ao entrar no estádio – recebeu uma pulseirinha personalizada (as ‘xylobands’) distribuída pela produção da banda. O adereço funcionava de maneira sincronizada e independente, sem ser necessário que a pessoa o ativasse. O mar de luzes piscando e brilhando se fez presente durante todo o repertório da noite, divertindo os fãs e dando um efeito muito bonito à apresentação.

Fogos de artifício e uma explosão de pó colorido anunciavam o fim da canção e o show seguiu com a aclamada “Yellow”, hit do álbum “Parachutes” (2000) e que fez o Coldplay popular no mundo inteiro. Chris Martin, impressionado com a festa de balões amarelos que o público fazia ao entoar cada trecho do sucesso da banda, fez um coração com as mãos e não conseguia esconder a satisfação de estar performando para os cariocas mais uma vez. “Boa noite pessoal, tudo bem? Que alegria estar no Rio! Cidade maravilhoso! [sic]”, disse em bom português para delírio geral.

O espetáculo teve sequência com a empolgante “Every Teardrop is a Waterfall”. Chris Martin, sempre sorridente e com uma incrível presença de palco, ganhou a plateia de vez ao estender uma bandeira do Brasil e acoplá-la ao seu violão, carregando o ítem junto a si durante todo o show. Em menos de 20 minutos e apenas três músicas tendo sido executadas, as cartas do Coldplay já tinham sido jogadas na mesa e Chris Martin e cia. tinham o público na mão para dar continuidade com a setlist. A partida estava ganha. Mas sem perdedores, o que é o melhor.

Dando uma pausa na vibe “festa” e transformando toda a agitação em emotividade, a balada melódica “The Scientist” trouxe lágrimas aos olhos de muitos e o 1º refrão foi cantado à capella pelos fãs. Chris, por sua vez, passou a canção toda sentado em seu piano – coberto por flores – e dividiu a responsabilidade de cantar com as pessoas. “Vamos cantar juntos”, pediu o cantor já nos versos finais, sendo prontamente atendido.

“Que incrível!”, “Muito bons!”, “Lindo demais!”, alguns fãs exclamavam ao meu redor. Aliás, devo admitir que fiquei impressionada com a diversidade no público: jovens, adultos, idosos, amigos, casais, pais e filhos, cariocas, pessoas de outros estados que vieram só pelo show, brasileiros e até mesmo ‘gringos’. E não era só a luz das pulseirinhas ou dos efeitos do cenário que brilhavam na noite do Domingo, o que vi foi uma série de gentilezas entre as pessoas (como no ato de solidariedade para com a vendedora ambulante que perdeu parte de suas mercadorias e um grupo grande a ajudou a arrecadar o dinheiro para que esta não saísse no prejuízo), de respeito e de amor compartilhado. “O público é reflexo da banda que é fã” fez completo sentido.

De volta ao show, que não tinha chegado nem até a metade, mais brilho, gritos e coros de “ôôô” em “Paradise”, sucesso do álbum “Mylo Xyloto” (2011). Diferente da original, porém, o Coldplay trouxe para o show uma versão com remixes do DJ Tiësto. As batidas eletrônicas estenderam a música em cerca de um minuto, fazendo do Maracanã uma gigantesca pista de dança, com todos pulando e balançando como se estivessem em uma boate. “Muito obrigado! E aí Rio, tudo bem?”, interagiu o vocalista com o público. “Me desculpem, eu vou falar em inglês agora, eu já usei todo o meu português”, brincou. “Vocês não sabem o quanto nós amamos tocar aqui, vamos voltar quantas vezes mais pudermos, obrigado por nos receberem! Isso significa muito pra nós!”, derreteu-se Chris antes de apresentar seus companheiros de banda e seguir a apresentação com “Everglow”, faixa do último disco do Coldplay. Apesar de não ser das mais populares, a balada calma, a letra e os vocais quase limpos de Chris Martin fazem da canção uma das melhores do “A Head Full of Dreams”.

A primeira novidade (e surpresa) na setlist viria a seguir. Ao invés de “Ink”, que foi a opção dos rapazes em São Paulo, “Princess of China” foi a escolhida para o Rio – e o curioso é que esta foi a primeira vez na atual turnê que os artistas a incluíram no repertório. O single, gravado em parceria com a pop-star Rihanna, também faz parte do “Mylo Xyloto”. Quando o rosto da morena apareceu no telão do Maracanã, gritos de admiradores soaram por todos os lados e Chris deu um sorriso e até mesmo tentou uma dancinha durante a música.

Foto: Isabela Catão/Universodorock
Foto: Isabela Catão/Universodorock

O carisma e simpatia de Chris Martin transbordavam. O frontman do Coldplay, de 39 anos, sabe entregar um show como poucos. Não só pelo talento inegável o artista tem como compositor e instrumentista, mas especialmente pelo fato de que Chris sobra em bom humor e alto astral. Mesmo “preso” ao piano em diversos momentos da apresentação, ele faz questão de reger palmas, acenos e aplausos nas intercaladas que faz entre o piano e o microfone. Outro ponto que favorece o cantor é sua voz marcante. É impossível ouvir uma canção do Coldplay (ainda que você não saiba quem canta) e não identificar o timbre e falsetes do britânico. Por fim, a produção com balões, enfeites e cores torna o ambiente ainda mais propício e favorável para uma grande noite. E foi o que aconteceu no Rio.

“Magic” (com transição dos instrumentos para enorme passarela em frente ao público), a sempre pedida “Clocks”, “Midnight” e “Charlie Brown” deram continuidade no repertório, que foi bastante abrangente, soube dosar canções vibrantes e mais reflexivas, e passeou pelos principais sons da carreira da banda, a notar-se por esta sequência de 4 músicas vindas de 3 álbuns diferentes. O destaque foi o público, que se divertia com as pulseiras luminosas – e não se esqueceram de registrar o momento com várias selfies e flashes – sem deixar de acompanhar Chris nos vocais na maior parte do tempo.

“Mãos pro alto! Olê, olê, olê, olê”, puxou um coro digno de um estádio de futebol o vocalista antes da dançante e super pop “Hymn for the Weekend”, sendo seguido pela multidão. “Muito obrigado, vocês são incríveis”, rasgou elogios. Provavelmente, a faixa – que conta com a participação de Beyoncé na versão de estúdio – foi a mais comemorada da noite dentre as lançadas no AHFOD. A empolgação foi lá em cima e o grupo britânico colocou todo mundo pra pular, antes de acalmar os ânimos novamente com a melancólica “Fix You” e um cover de “Heroes”, homenagem ao também britânico David Bowie, que faleceu há pouco mais de três meses. *Tenho que confessar que foi deveras desapontador perceber que poucos sabiam de que música se tratava.

“Acendam as luzes, eu quero ver todo mundo”, pediu Chris. Os primeiros acordes da energética “Viva La Vida” soaram para felicidade geral. O coro de “ôôôôô” puxado pelo baterista Will e ecoado em uníssono por todo o Maracanã perdurou por algum tempo após o fim da música, que foi uma verdadeira celebração. Se por um lado Chris Martin pulava e corria de um lado a outro do palco para se aproximar e fazer a alegria dos fãs, estes faziam barulho: soltavam a voz e aproveitavam cada segundo do hit, fazendo valer o ingresso e o momento. Sem pausa nos ânimos, a banda emendou com o sucesso “Adventure of a Lifetime” e uma dezena de bolas gigantes e coloridas foi jogada na plateia, que fez a festa.

Já quase no fim, uma sessão ‘old-school’ da setlist. Em São Paulo, “Trouble” e “Speed of Sound”. No Rio, ficou por conta de “Parachutes” (do disco de estréia da banda; e que não era executada desde 2011), a queridinha dos fãs de longa-data “Shiver” (também do álbum “Parachutes”, 2000) e “A Message” (do X&Y; não tocada desde 2010). A última, aliás, foi um pedido feito pela fã Fernanda à banda por meio de um vídeo enviado através do Instagram. A campanha foi uma maneira que a banda encontrou de fazer com que os fãs participassem do processo decisório do repertório: por meio de mensagens enviadas às redes sociais oficiais do Coldplay com a hashtag #RioREQUEST, cada cidade teria uma música tocada especialmente no local. Para os cariocas, foi “A Message”.

Para encerrar, Chris Martin pediu que os fãs participassem balançando as mãos em “Amazing Day”, faixa do ADFOD. Em “Sky Full of Stars”, o momento romântico – já esperado – da noite. Assim como em São Paulo, três casais foram escolhidos para subir no palco. “Vamos ficar noivos!”, propôs Chris. “Vocês tem certeza?”, perguntou a cada casal. Com a afirmativa, o músico cedeu espaço para que os rapazes fizessem o pedido e recebessem o “sim” de sua respectiva amada. Os recém-noivos foram aplaudidos e celebrados pelo público, que ficou encantado com a atitude e generosidade do vocalista. Chris, por sua vez, abraçou em grupo os futuros cônjuges e os felicitou. “Parabéns, pessoal!”, disse.

“Obrigado por nos darem o melhor trabalho do mundo, por nos deixarem vir à sua linda cidade, o Rio de Janeiro! Se estiver tudo bem pra vocês, prometemos voltar logo. Nós amamos vocês, vejo vocês em breve!”, enfatizou Chris para delírio de todos, antes da música que finalizou a apresentação, “Up and Up”.    O único percalço, talvez, tenha sido um rapaz que aproveitou uma desatenção dos seguranças e invadiu o palco para dar um beijo no cantor, que ficou surpreso mas encarou com muito jogo de cintura. “Está tudo bem, ele só quis me dar um beijo, eu entendo. Sejam legais, sejam legais por favor!”, pediu à equipe de segurança que retirou o fã do palco. A plateia? Obviamente que aplaudiu. Poucos são os que reagem com tanta simplicidade após uma situação que provavelmente pegou o líder do Coldplay de surpresa. Ponto pra ele pelo temperamento tranqüilo e agradável.

Os fãs, em um último suspiro, ainda tentaram fazer um coro para pedir “In My Place”, hit do disco “A Rush of Blood to the Head” (2002). Mas foi em vão. As luzes já estavam perto de se apagar e só deu tempo para Chris, Guy, Jonny e Will tirarem uma foto que vai ficar para a história do grupo britânico e agradecerem com uma reverência à multidão, para logo após seguirem para o backstage.

O showbusiness precisa de mais bandas como o Coldplay, que consegue lotar grandes arenas e orquestrar um espetáculo de entretenimento (e boa música) em duas horas.

Que voltem sempre!

Setlist
O mio babbino caro
A Head Full of Dreams
Yellow
Every Teardrop Is a Waterfall
The Scientist
Birds
Paradise (Tiësto remix)
Everglow
Princess of China
Magic
Clocks
Midnight
Charlie Brown
Hymn for the Weekend
Fix You
“Heroes” (David Bowie cover)
Viva la Vida
Adventure of a Lifetime
Kaleidoscope
Parachutes
Shiver (Acoustic)
A Message
Amazing Day
A Sky Full of Stars
Up and Up

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