Por: Daniela Baroni
Quinze anos se passaram desde a primeira e única visita da banda de nu metal Papa Roach no Brasil. Quinze anos! Foi, inclusive, tempo suficiente para que uma nova geração de fãs da banda surgisse sem ter a oportunidade de vê-los ao vivo. Mas, dois anos depois do trauma com o cancelamento da turnê na última hora, o Papa Roach finalmente vem à capital paulista matar a saudade dos fãs antigos e, por que não, dos novos. A apresentação rolou nesta última quinta-feira (15/12) no Tropical Butantã e, sem dúvida, foi uma montanha russa de emoções.
A responsabilidade de abrir a noite ficou nas mãos do Sioux 66. Tocando um hard rock claramente influenciado por bandas como o Guns N’ Roses, a banda paulistana é expert em abrir para grandes shows internacionais, como foi o caso do Aerosmith, também em 2016. O grupo fez um bom trabalho de pré-aquecer a casa para o show principal fazendo uma festa em homenagem ao rock brasileiro, muito embora o público não parecesse muito interessado. Rolou também um cover energético de “O Calibre” dos Paralamas do Sucesso e um trecho de “You gotta fight for your right (to party)” dos Beastie Boys.
Já havia passado das 22h00 quando as luzes finalmente tornaram a apagar e os californianos do Papa Roach subiram ao palco acenando. A plateia perdeu o controle quando o vocalista Jacoby Shaddix entrou e gritou no microfone “São Paulo, are you fucking ready?”, iniciando o primeiro som da noite, “Face Everything and Rise”, do novo álbum lançado este ano “F.E.A.R”. Em seguida, veio “Crooked teeth”, primeiro single do álbum que será lançado no ano que vem.
“We feel so fucking blessed to be finally here in Brazil. This one goes to the old school Papa Roach fans”, diz Jacoby e, então, o primeiro verso anunciou o início de “Between Angels and Insects”, e os gritos de alegria da plateia seguiram. Durante o resto do show, a setlist alternou entre singles novos e antigos da carreira banda, incluindo “Getting away with murder”, “Warriors”, “Forever”, “Where did the angels go?”. O único hit que estranhamente não foi incluído no show foi “She loves me not”, grande sucesso de 2002. Já sabendo que a música não havia sido tocada em Porto Alegre, o público paulistano pedia sempre que podia por ela, mas a banda disfarçava com piadas ou fazia que não ouvia, o que é uma pena.
Foi durante a música “Hollywood whore” que as coisas ficaram um pouco complicadas. Enquanto a plateia cantava o refrão num coro, a pedido de Jacoby, as luzes do palco se apagaram e ficaram por alguns segundos apagadas. O vocalista chegou a brincar sobre o fato de a luz ter apagado, mas viu que não adiantava esperar, seguindo com o show normalmente. Num gesto bonito, todos presentes ligaram as lanternas de seu celular para ajudar a iluminar a casa escura, o que ajudou provisoriamente. No fim da música, as luzes voltaram, mas com limitações: somente uma fileira de luzes brancas funcionavam e não davam conta de iluminar o palco e a casa. Infelizmente, o problema seguiu até o fim do show e dificultou muito a visão do palco. Para quem estava além do meio da casa, o baterista Tony Palermo desapareceu completamente; o guitarrista Jerry Horton, o baixista Tobin Esperance e Jacoby viraram silhuetas.
Qualquer um que olhe uma foto da banda poderia presumir que Jacoby Shaddix não é dos caras mais simpáticos. Contudo, foi uma ótima surpresa ver como Jacoby não só é um frontman de primeira como também estava genuinamente feliz de estar no Brasil. Se não estava dizendo o quanto ama o Brasil, estava mandando beijos, rindo de felicidade com o público cantando tudo de cor e indo na grade abraçar os fãs. As falhas técnicas da casa poderiam ter irritado um grupo mais esnobe, mas não o Papa Roach. Para eles, com a falta de luzes suficientes, era missão da banda tocar com mais vontade ainda e, segundo o próprio vocalista, até desmaiar de calor, se fosse preciso.
“Scars” foi a música que iniciou uma série de momentos marcantes que encerrariam a primeira parte do show. Somente com o violão de Jerry Horton acompanhando, Jacoby iniciou o emocionante hit e parou de cantar quando percebeu que a plateia gritava cada palavra e deixou que o coro de vozes cuidasse de um dos refrões. Vendo que o resultado foi incrível, Jacoby sinaliza um coração com os dedos em outra de suas muitas declarações de amor aos paulistanos. Em seguida, veio “Gravity”, que foi recebida pelo público com gritos e uma enxurrada de bexigas brancas, simulando as dezenas de lâmpadas do clipe. Com “Where did the angels go?” e “Still Swingin’”, Jacoby pediu que rodas de bate-cabeça abrissem nas duas pistas, dizendo que não queria nenhum pé no chão. Era possível sentir o Tropical Butantã tremendo antes de a banda sair para o intervalo.
A banda retornou para o bis com “Last Resort” e incendiou a casa de energia. A plateia cantava com todas as forças e não parava de pular. A energia continuou com “…To be Loved”, último som da noite, e continuou depois que as luzes se acenderam. Todos os presentes aguentariam facilmente mais uma hora de show. Antes de deixar o palco, a banda agradece e, mais uma vez, se declara para a capital paulista. “São Paulo! Amamos vocês! Voltaremos em alguns anos, eu juro!”, diz Jacoby e então incentiva o público a continuar gritando o nome da banda.
No meio do show, Jacoby havia reconhecido que o Brasil esperou tempo demais pelo Papa Roach. Inclusive acrescentou que eles próprios esperavam ansiosamente poder voltar para o país e pediu desculpas pelo cancelamento de 2014, que ocorreu porque o vocalista precisou fazer uma cirurgia. Por essa razão, prometeu que iria fazer um show incrível pois a banda ama São Paulo. Ficou claro que o amor do qual ele falava era verdadeiro, já que tanto os fãs quanto a banda deixaram o Tropical Butantã com um sorriso de orelha a orelha. Nos resta, agora, torcer para que a banda não demore mais 15 anos para voltar.
Setlist
1. Face Everything and Rise
2. Crooked Teeth
3. Between Angels and Insects
4. Getting Away with Murder
5. Warriors
6. Kick in the Teeth
7. Hollywood Whore
8. Forever
9. Blood Brothers
10. Broken as Me
11. Scars (acoustic)
12. Gravity
13. Where did the Angels Go?
14. Still Swingin’
Bis
15. Last Resort
16. … To be Loved
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