Entrevista com Mike Maeda, baterista do Republica Rock

Edição por Danielle Barbosa
Entrevista: Diego Melo
FOTO: Marcos Hermes/Divulgação.

A banda Republica Rock é uma das mais consolidadas e autênticas do rock nacional. Com letras em inglês e uma sonoridade única, Leo Beiling nos vocais, LF Vieira na guitarra principal, Jorge Marinhas na guitarra rítmica, Marco Vieira no baixo e Mike Maeda na bateria, já estão na estrada desde 1991 e, nesse período, já participaram de grandes festivais como o Rock in Rio (três vezes!) – inclusive na edição de 2017. Além disso, o grupo está escalado para abrir as apresentações do Scorpions e de Alice Cooper na Europa. Todos esses fatos contribuem para a solidificação e projeção da banda no cenário internacional da música.

Em bate-papo exclusivo com o Universo do Rock, o baterista Mike Maeda falou sobre todas essas conquistas, carreira, curiosidades e do novo álbum da banda, o “Brutal and Beautiful”, gravado pelo icônico produtor Matt Wallace, que trabalhou com bandas como Faith No More, Deftones e Three Doors Down.

Confira a entrevista na íntegra!

Mike Maeda. Foto: Reprodução/Instagram.

Vocês lançaram há pouco tempo um novo disco chamado “Brutal and Beautiful”, pelo selo também responsável por bandas como o Ghost, Papa Roach e o Bullet For My Valentine. Isso faz parte de um processo de internacionalização da banda?

Mike: Ah, sim! Já desde 2015, mais ou menos, a banda vem se preocupando com a imagem e o nome dela mais fora do país do que aqui, né. O motivo na verdade não é nenhum tipo de preconceito ou nada, é porque a gente acha que temos mais espaço lá fora por causa do nosso som. Infelizmente no Brasil a gente não consegue tanta abertura quanto lá fora.

Como vocês veem o cenário do heavy metal no Brasil?

Mike: Ele é forte, na minha opinião. Ele é estável, tem um nicho muito bacana, os artistas do metal são muito unidos, porém no espaço midiático ele é muito pequeno – representa de 1 a 2% do mercado fonográfico brasileiro. Então, isso acaba deixando a gente um pouco limitado e é por isso que a gente sempre procurou – desde 2015 – essa internacionalização do nome e do trabalho da banda.

Como é que foi o processo de gravação desse último álbum?

Mike: Putz, foi magnífico! A gente começou a compor o álbum em 2015, um pouco antes da nossa participação na edição de 2015 do Rock in Rio, e aí a gente gravou algumas demos e a nossa intenção foi sempre finalizar esse trabalho com algum produtor de cacife no meio do Rock. Então a gente procurou por nomes mais influentes, até por uma questão de divulgação, mas também porque a gente tinha esse sonho de fechar um trabalho com um cara que a gente respeitasse e fosse fã. E aí, literalmente, a gente foi atrás!

Mas vocês se reúnem para gravar juntos ou cada um grava individualmente?

Mike: Não, foi cada um individualmente, aí a gente foi atrás do Matt Wallace. Primeiro, a gente foi atrás de outros nomes e, coincidentemente, o Matt Wallace sempre esteve na lista dos caras que a gente queria trabalhar. Aí ele recebeu a demo, se interessou demais pelo trabalho, se interessou demais pelas nossas ideias e aí ele falou: “Quero fazer a banda!”, então a gente fechou tudo com o empresário dele, a gente chegou lá em Los Angeles com as nossas ideias que já estavam gravadas nas demos – que a gente enviou pra ele antes – e aí lá a gente fez uma pré-produção, ele mexeu no som inteiro. Assim, foi uma volta de 360º, foi uma loucura! E também foi uma aventura porque foi a primeira vez da banda gravando fora do país e numa estrutura que, infelizmente, ainda é anos luz na frente do Brasil. E aí, lá, cada um deu as suas ideias, o Matt colocou muito a ‘cara’ dele, mas ele quis entender também bastante entender qual que era a ideia da banda como um todo pro trabalho. E aí a gente começou a gravar uma semana depois da pré-produção. Foram dois estúdios de gravação, o Steakhouse Studio, que a gente gravou a batera. A Pink já gravou lá…

Pô, legal! E fluiu tudo como vocês imaginavam?

Mike: Exatamente! E aí eu fui o primeiro, né. A bateria foi a primeira a gravar. E aí, em seguida, no Sound City Complex, icônico estúdio do rock mundial, a gente gravou o resto das coisas e isso foi um processo que levou um mês. E aí depois disso, do nada, foi tão, mas tão magnífico, tão surpreendente, que a gente teve muito cuidado em lançar ele, a gente quis fazer algo muito especial, então o processo de lançamento desde a gravação levou quase um ano. E tá aí o trabalho agora!

Você vão abrir agora em dezembro pro Alice Cooper na Europa…

Mike: Isso! Semana que vem a gente já viaja, a gente vai fazer dois shows de abertura pro Scorpions, na Suécia, e aí depois a gente faz três shows de abertura pro Alice Cooper, na França e na Bélgica.

Qual é a sensação, o pensamento de vocês, quando vocês trabalham com bandas como o Scorpions e o Alice Cooper?

Mike: Olha, eu vou falar por mim, mas eu acredito que seja um sentimento geral da banda. Eu cresci ouvindo esses caras, literalmente, eu sou o mais novo da banda, mas tenho certeza também que todos cresceram ouvindo essas bandas e, às vezes parece que é meio que um sonho, saca? Parece que você não tá acordado (risos). Já aconteceram várias coisas com a gente por causa do Republica, de já estar presente com os caras do Guns N’ Roses, com o filho do Ringo Starr, já ter aberto pro Megadeth, ter tocado no mesmo dia do Metallica no Rock in Rio, enfim… Hoje, a gente é amigo dos nossos ídolos. É uma coisa muito engraçada isso. A sensação, a minha pelo menos, é de um sonho realizado, mas ao mesmo tempo de saber que… Não é nem uma prepotência – mas saber que a gente tá numa posição privilegiada e a gente quer trazer isso todos os dias, porque é muito difícil chegar nesse patamar, é trabalhoso, mas no momento que dá certo, você fala: “Não, beleza, tô aqui!”. E é entender que os caras são gente como a gente, são meros mortais também no final e ser o mais leal possível à isso que a gente construiu, porque a gente batalhou bastante.

Vocês escutam alguma banda nova no cenário do heavy metal?

Mike: Olha, eu nem coloco tanto como heavy metal porque a gente, na verdade, nem se considera uma banda de heavy metal. A gente se considera uma banda de heavy rock. Na verdade, eu falo rock. Eu sou muito das ‘antigas’, né, acabo sempre ouvindo “mais do mesmo”… Mas sim, eu tô sempre antenado nas novidades, gosto muito de bandas como Muse – que já nem é tão nova assim, mas… Então, eu acho que a gente acabou trazendo um pouco dessas influências pro trabalho novo, um pouco de pop. A gente não tem vergonha disso. Eu, por exemplo, eu gosto de Beyoncé, eu ouço Justin Timberlake – o acho um cara fantástico. Então eu tô sempre antenado em tudo o que lança, independente de ser rock ou não. O importante é que seja música.

Existe algum artista nacional ou internacional que vocês gostariam de fazer uma parceria inusitada, alguém que fuja um pouco do meio do rock?

Mike: Ah, eu não teria problema nenhum em uma parceria desse tipo. De Metallica com a Lady Gaga, né? Olha, eu não tenho nenhum nome assim na cabeça, mas acredito que um trabalho assim com a Pink… A Pink tem uma pegada bastante rock n’ roll, já trabalhou com muita gente, eu acho bacana o que ela faz. A própria Beyoncé também é. A Beyoncé, eu considero uma artista completa, né. Mas nesses casamentos inusitados, eu não teria problema nenhum, por exemplo, em fazer algo com a Sandy (risos). Quem sabe um dia… Eu até conheço o Junior. Mas pra colocar um nome, eu vou falar de um gosto pessoal meu, pra ser bem inusitado… Eu falaria o Justin Timberlake. Eu acho que ele é um cara que casaria com o nosso som de alguma forma, por ser um blues, e a voz dele acho que casaria com o Leo, que tem um contraste ali que seria muito interessante.

A música “Beautiful Lie” entrou pra trilha sonora do filme nacional “Amor.com”. O que vocês acham de ter uma música – que não tem uma pegada muito rock, é mais lentinha – mas mesmo assim entrou num filme nacional que fala sobre amor, uma pegada diferente do que a imagem da banda costuma passar. O que vocês acham disso?

Mike: Eu acho sensacional! É o que eu acabei de te falar, né, a gente não tem essa pretensão de “ah, somos uma banda de rock, não devemos participar disso ou daquilo”. A gente faz música e o tema do filme tinha a ver com o tema da música, que é bastante generalizado, encaixaria em vários temas… Várias novelas, vários filmes. E, pra gente, foi uma surpresa porque a gente não imaginou que um filme desse approach iria acreditar numa música nossa, escolher uma música nossa… Mas a gente achou super legal, porque é uma música ‘moderninha’, com um apelo mais pop mesmo, que tem a ver com esse ‘link’ com a linguagem mais jovem, mais adolescente. Então, foi bacana, eu achei muito legal, achei até que foi um espaço que a gente conquistou pra mostrar que o rock tá vivo e que ele pode ser parte de uma linguagem de um filme mais “mela cueca”.

A gente vê muito fã de rock criticar outros estilos musicais e, das próprias bandas, a gente vê o contrário. Como você acha que as bandas conseguiriam mudar a mente dos fãs nesse quesito?

Mike: É uma boa pergunta, porque o fã de rock é muito conservador.

Sim, até mesmo com outras bandas de rock… Por exemplo, no Rock in Rio 2013, teve Avenged Sevenfold e Iron Maiden no mesmo dia. E os fãs de Iron rechaçaram completamente o show do Avenged. Durante o show, o Matt Shadows teve até que falar com eles, não foi uma coisa muito legal de se ver…

Mike: Eu concordo. Olha, a sua pergunta é muito interessante, porque eu acho que o público, no geral, às vezes ele só quer enxergar aquilo que é de gosto próprio, gosto pessoal, e acaba deixando de enxergar que música… Ela tem que ser universal, ela tá ai pra unir, não deveria existir essa rixa. Acho que sim, realmente as bandas têm um papel muito importante em tentar unificar o máximo possível. Acho que a melhor forma de fazer isso é não criando obstáculos para participações inusitadas como você citou, não colocar obstáculos para participar de festivais mistos, de outros etilos. Acho que tem que haver sim um intercâmbio entre os próprios artistas, cada vez mais, e também não ter vergonha de se expor. Falar mais, mostrar mais. Cada banda e artista tem suas próprias mídias sociais… tá valendo, eu acho. O importante é procurar e ceder espaço ao mesmo tempo. Procurar o intercâmbio, chegar sem preconceitos de falar com outros artistas, convidá-los pra participar do seu universo e fazer essa troca, né. Eu acho que isso, inclusive, é uma ideia do Republica. A gente até aproveita o nome. Nós somos uma República, uma república da música, da arte, então pra gente não tem essa… A gente pode ser desde o funk carioca até o pagode que – pra gente – não tem essa diferença. Somos artistas e músicos. Tanto é que no disco do Republica, tem uma faixa que a bateria – a rítmica dela é um samba – que, inclusive, deixaram os americanos lá em Los Angeles malucos. Eles falaram “Meu, isso aqui é impressionante! Legal pra caramba!”. “Beautiful Lie” tem uma levada de bateria eletrônica, de dance, de trance. A nossa ideia é não se limitar a nada e fazer com que os fãs enxerguem isso.

Vocês já se apresentaram três vezes no Rock in Rio, o show de 2017 deu o que falar e atraiu a atenção de muita gente…Quem não conhecia a banda, passou a conhecer ali e gostar por causa do show. Como é que foi a preparação de vocês pro show do Rock in Rio e a expectativa que vocês tinham – ela se concretizou, se realizou?

Mike: A preparação, assim como foi pro disco, ela foi longa, não foi da noite pro dia. O mesmo cuidado que a gente teve de fazer uma grande produção do disco, a gente também teve com a produção do show, em criar algo inovador, por isso que a gente encheu de telões, de pirotecnia, porque a nossa ideia – acima de tudo, de fazer um trabalho muito bem feito – é oferecer entretenimento de qualidade. No final, a gente tá ali pra dar as caras, mas – ao mesmo tempo -, a nossa intenção é entreter, trazer algum tipo de  sentimento pro cara que tá ali embaixo, porque não é fácil também ser fã… A gente sabe disso. Então, a ideia ao máximo sempre foi de levar o sentimento de alegria, de até tristeza… De passar o que a gente sente com as nossas músicas pro público. Essa preparação foi demorada porque – ao mesmo tempo que a gente compôs as músicas e preparou o disco -, a gente pensou em criar músicas já pensando no show, então a gente sempre teve essa preocupação. Desde o início da criação do álbum, a gente sempre pensou: “Vamos fazer telão assim…”. A gente foi procurar por produtores, por pessoas que pudessem nos ajudar a criar esse show… É um espetáculo, né. Então, a gente foi atrás de tudo isso, não foi fácil… Foi um trabalho árduo, seis meses de produção, montagem, criação, vídeo, ensaios também… Muitos ensaios! A gente é uma banda que ensaia bastante. Gravar um ensaio pra ver se tá tudo certo, programação da parte eletrônica do show, então tudo isso aconteceu e, no final, levou quase um ano pra gente aprontar tudo isso. E aí, depois de isso feito, a gente ensaiou, fez alguns shows testes, sem divulgação, pra gente testar tudo. E isso gerou, naturalmente, uma expectativa de ansiedade. De falar: “putz, será que vai dar certo?!”, a gente tá vindo com um disco novo, autoral, a gente vai tocar um disco inédito pra um público que não conhece as músicas novas. Mas, no final, deu tudo certo, acho que a recepção foi ótima, muito boa! Até surpreendente, de certa forma (risos). E, agora, é trabalhar, colher os frutos e manter essa rotina de shows no Brasil.

A banda tem 26 anos, está desde 1991 na ativa, 3 Rock in Rios já, muito tempo de estrada… Mas, mesmo assim, ainda dá um frio na barriga?

Mike: Ah, com certeza! Você não faz ideia! (risos) Antes do Rock in Rio mesmo, a ansiedade ali antes de subir no palco foi gigante, porque por mais que a banda tenha todo esse tempo, o trabalho de internacionalização começou em 2013, essa entrega de “vamos só fazer isso!“. E então, cada show é uma novidade…

Cada show é único, é diferente?

Mike: Ah, sim, com certeza! Eu não tenho dúvidas disso, porque nenhum é igual ao outro, por mais que seja tudo ensaiado, testado antes, mas nenhum show se repete.

Qual foi a história mais engraçada que vocês já presenciaram em turnê?

Mike: Engraçada? Ah, acontecem várias coisas, né… Já aconteceu de a gente esquecer o Leo pra trás, o vocalista. A gente foi tocar em Minas Gerais, Belo Horizonte eu acho, aí a gente tava no ônibus e tal, aí quebrou o pneu do ônibus e a gente parou num acostamento, aí ele foi num posto, foi no banheiro, foi comer alguma coisa… E aí, todo mundo subiu e foi embora, né. Quando foi ver, cadê o Leo? Ficou o Leo e um roadie de guitarra pra trás.

Mas isso foi resolvido?

Sim, foi. Mas a gente percebeu isso com uns 20, 30 kms a frente do ocorrido, daí teve que voltar… Só essa volta aí deu umas duas horas de atraso. Fui eu que percebi que ele não tava no ônibus, né, eu olhei assim, encostei no tour manager e falei: “Cadê o Leo, vei?! Ele não tá no ônibus não, a gente esqueceu ele lá pra trás”, aí quando foi ver ele tava lá mesmo.

Mas ele percebeu ou ficou lá, de boa, comendo?

Mike: Não, ele percebeu, tentou até ligar, mas a gente tava sem sinal… Mas deu tudo certo! Devem ter outras histórias, histórias não faltam, né. (risos)

E vocês tem algum ritual pré-show, alguma coisa que vocês sempre fazem?

Mike: Tem, cara, cada um tem a sua mania. O Leo gosta de ficar mais ‘quietão’, na dele, eu normalmente uma hora antes do show começar, eu me aqueço, faço um alongamento, começo a dar umas estudadas com as baquetas dentro do camarim, o Luiz também costuma fazer isso. Normalmente, uns 10, 15 minutos antes, a gente se reúne e dá uma conversada, e aí depois a gente ‘vai pra dentro’.

Quem é o Mike Maeda quando ele não é o baterista do Republica?

Mike: Olha, que pergunta! (risos) Eu sou um cara simples, gosto de sair pra me divertir, gosto muito da noite, sou um boêmio confesso, e engraçado que o meu hobby acaba sendo a própria música. Quando eu não tô tocando no Republica, eu tô tocando com outras pessoas, oras gosto de me arriscar na guitarra – bastante – geralmente tocar com outras pessoas, com outros artistas… E um profissional muito dedicado à bateria, não só como músico, mas também como um incentivador do instrumento mundo afora.

E se você não vivesse de música, o que você estaria fazendo hoje?

Mike: Cineasta, com certeza!

E qual seu diretor favorito no cinema?

Mike: Quentin Tarantino!

Quais são os planos da banda para 2018?

Mike: 2018 a gente vai continuar com a ‘tour’ do “Brutal and Beautiful”, provavelmente a gente vai ter mais algumas turnês fora do Brasil – algumas coisas já encaminhadas -, a gente vai lançar algumas coisas novas – com certeza, algum material vai subir -, temos uma novidade que ainda não dá pra noticiar, mas que vai sair no ano que vem. E vai ter uma turnê Brasil, né, provavelmente no verão. É a melhor época pra poder fazer uma turnê mais confortável.

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