Por: Gisele Santos
Shadowside foi formada em Santos/SP em 2001 e desde o início das atividades a banda de heavy metal preza pela qualidade – seja dos discos lançados ou shows realizados. Dá gosto e orgulho de acompanhar a evolução desses músicos que levam o nome do nosso Brasil para outros países – Estados Unidos e Europa – onde são bastante conhecidos.
Dani Nolden (vocal), Fábio Buitvidas (bateria), Raphael Matos (guitarra) e Ricardo Piccoli(baixo) carregam na bagagem três discos e muitas turnês. A banda já abriu shows de Nightwish, Helloween, Primal Fear, Shaman e Iron Maiden. No ano passado Shadowside fez turnê com W.A.S.P.
Atualmente a Shadowside está divulgando o novo CD “Inner Monster Out” e o Universo do Rock bateu um papo com a vocalista Dani Nolden que explica o porquê da banda ter optado em gravar o disco no exterior, sobre as participações especiais, comparou o novo CD com os outros já lançados, também a importância da internet e abre o jogo sobre alguns perrengues que a banda já passou. Além disso, Dani confessa que Roger Moreira (Ultraje a Rigor!) é o seu maior ídolo no Brasil.
Confira a entrevista na íntegra:
Universo do Rock: “Inner Monster Out” foi gravado, mixado e masterizado por Fredrik Nordström, um dos principais produtores de Heavy Metal da atualidade, no Fredman Studio, em Gotemburgo, Suécia. Por que optaram gravar lá?
Dani: Fredrik já tem seu estúdio lá com todas as acomodações para as bandas, cozinha, quartos, e o essencial: videogame (risos). Durante o planejamento da gravação, acabou fazendo mais sentido financeiramente gravar lá do que aqui, pois o custo de trazer e manter um produtor estrangeiro aqui, somando as despesas do estúdio, tornariam a gravação quase duas vezes mais cara do que levar a banda inteira para lá. Com isso, ainda tivemos a vantagem de gravar onde nosso produtor está acostumado, com ele sabendo exatamente o que precisa fazer para conseguir o som que nós estávamos buscando. Ter Fredrik no controle técnico de tudo e morar no próprio estúdio fez com que a gravação corresse de forma tranquila, divertida, fácil e nem um pouco cansativa.
Universo do Rock: Como foi que aconteceu para convidarem os vocalistas Mikael Stanne (Dark Tranquillity), Björn “Speed” Strid (Soilwork) e Niklas Isfeldt (Dream Evil) para participações na faixa título do CD?
Dani: A letra da música “Inner Monster Out” tem personagens, é uma história meio inspirada em Nietzsche… “aquele que luta com monstros deve acautelar-se para não se tornar também um monstro”. A inspiração adicional veio de filmes como Hannibal Lecter, então a letra tem o investigador que escuta vozes, o assassino e uma luta interna entre o que é certo e errado.
Desde o começo, ficou evidente que precisaríamos de convidados ou teríamos que mudar a história. Pensamos em vários nomes dos quais gostamos, mas as melodias foram feitas para as vozes de Björn e Niklas ou ao menos vozes similares. Como Niklas está na mesma banda que Fredrik e Björn é amigo da nossa manager nos Estados Unidos, conseguimos organizar para que os dois participassem.
Mikael foi uma surpresa, eu teria feito mais partes para ele porque acho a voz dele fantástica, mas simplesmente não sabia que ele participaria (risos).
Nós conhecemos o baterista do Dark Tranquillity, Anders Jivarp, durante nossa “mudança” na Suécia e ele foi nos visitar com Mikael Stanne no dia da gravação de Björn. Ele perguntou se poderia cantar também e quem seria louco de dizer não?! (risos) Eu achei excelente, deu um toque ainda mais especial para a música, especialmente porque ele e Björn dividem os vocais guturais.
Foi algo muito divertido, porque nós tiramos todos esses caras das suas zonas de conforto, eles tiveram que fazer algo diferente do que estão acostumados a realizar em suas próprias bandas, mas também trouxeram algo diferente para nós e ficou uma mistura muito interessante.
Universo do Rock: De repente, algo inusitado. A banda fez uma releitura de “Inútil”, famoso clássico do rock dos anos 1980, com Roger Moreira, líder do Ultraje a Rigor! Geralmente o pessoal que curte heavy metal é mais radical… Como tem sido a aceitação em relação a essa canção?
Dani: Agora que o álbum está lançado, eu finalmente pude observar a reação e está sendo excelente! Acho que o fã de metal, por mais radical que ele seja, entendeu qual é o espírito dessa música. A letra é extremamente atual, pois apesar de ter sido escrita nos anos 80, ainda é um retrato do Brasil. Para mim, é como refazer a crítica. A música é divertida, mas não deixa de falar a verdade. Fizemos uma versão bem mais pesada também, ficou bem com cara de Shadowside, é como nós soaríamos se tivéssemos letras em português. Como o Roger curtiu, pedimos para que ele participasse e foi uma honra tê-lo na gravação. Ele é meu maior ídolo no Brasil, uma lenda viva da história do rock brasileiro e deve ser respeitado mesmo por quem não curte algo fora do metal.
Universo do Rock: Por que a versão de “Ace Of Spades” (Motörhead) não fez parte do CD?
Dani: Nós a usamos como bônus para quem nos apoiou durante a campanha da Pledge Music – que levantou fundos para a divulgação do “Inner Monster Out” e para a Cruz Vermelha Japonesa. Quisemos deixar uma música como algo especial para quem comprou, até mesmo antes de escutar o disco. Talvez algum dia ela seja lançada como bônus, mas de qualquer forma achamos que seria certo quem participou dessa campanha tão especial para nós tivesse acesso a essa faixa primeiro.
Universo do Rock: Vocês tiveram alguma banda ou músico ou CD como inspiração para “Inner Monster Out”?
Dani: Não, nenhuma específica. Todos nós da banda temos um número grande demais de influências pessoais e muito diferentes entre nós também. Ao invés de tentarmos encontrar um gosto em comum e então acabarmos ‘copiando’ essa banda, músico ou CD, nós apenas decidimos que faríamos o que agradasse a todos da banda. Ficou uma mistura de tudo que cada um gosta, de uma forma que todos nós gostamos, com peso, melodia, agressividade e um toque de moderno sem deixar nossas raízes de lado.
Universo do Rock: Qual a diferença de “Inner Monster Out” com os outros álbuns já lançados?
Dani: Maturidade, principalmente. Nós começamos a escrever esse trabalho já com a ideia em mente de que deveria ser o melhor álbum da carreira da banda, mas que também deveria ser algo que toda a banda tem prazer em tocar e ouvir.
Logo que terminamos a produção do disco, saímos em uma longa turnê com o W.A.SP., tocando diariamente durante quase dois meses, em uma rotina completamente profissional. Nós vivemos, respiramos música durante todo esse tempo, porque não tínhamos tempo pra mais nada. Quando a turnê acabou, tivemos duas, três semanas de férias e então entramos em estúdio para gravar.
Isso nos fez gravar ainda com aquela intensidade da turnê e muito focados, decididos a sair de lá com o melhor álbum das nossas vidas. Ele é mais pesado, mais trabalhado musicalmente que os outros álbuns, porém muito mais espontâneo.
Nós não pensamos muito sobre o que poderia ou não estar em um álbum da Shadowside, apenas fizemos. Acabamos chegando a uma mistura de todos os nossos CDs anteriores, com algo extra que ainda não tínhamos conseguido alcançar.
Universo do Rock: Nesses últimos dez anos, mesmo tempo de vida da banda, aconteceram muitas mudanças no setor fonográfico – compartilhamento de música mp3 na internet e pirataria nas ruas, causando falências de muitas gravadoras. Todo mundo, mainstream e independente, ficou no mesmo barco. Com é lidar com tudo isso no mundo da música e ter, digamos, ‘coragem’ de lançar CD hoje em dia?
Dani: Eu não consigo enxergar um impacto negativo do compartilhamento de música na internet porque eu sou dessa era. A banda nasceu no meio disso tudo. Eu não sei se venderíamos mais se fôssemos uma banda dos anos 80… Talvez venderíamos bastante, mas será que teríamos crescido tanto, em tão pouco tempo, e sem muito apoio de gravadoras?
Tudo que nós fizemos, foi de forma independente… As gravadoras, para nós, não eram mais que distribuidores e alguma ajuda na divulgação, mas antes de chegar até elas, construímos uma base de fãs grande por conta própria, apenas com música na internet.
Eu acho que as gravadoras que faliram são aquelas que não souberam trabalhar nesse novo mundo e tentaram manter o mesmo formato de antigamente. Eu sinceramente não acredito que o impacto é tão grande assim nas vendas de CDs. Apenas acho que aquela fórmula de vender disco por causa de uma boa música acabou. Os fãs baixam centenas de álbuns e então compram aqueles que eles mais gostam. Talvez um ou dois CDs por mês.
Ai perguntamos: Mas antigamente, não era essa a quantidade de discos que as pessoas compravam? Ninguém comprava centenas de discos por mês. A diferença é que hoje mais artistas são expostos, então parece que ninguém vende bem, mas o fato é que eles não venderiam bem com ou sem mp3.
Bandas como Evanescence não teve problema algum para vender 10, 20 milhões de cópias. A única coisa que eu sou contra são os fãs colocarem essas mp3 pra download sem autorização das bandas… Acho que é direito de cada artista decidir se quer oferecer a música de graça ou não. E se quer, onde e quando. O compartilhamento de mp3 deve continuar, porque ninguém deve ser obrigado a comprar um CD sem saber se gosta, porém o artista deveria ser respeitado e consultado sobre isso.
Eu sinceramente não me incomodo, desde que seja colocado links para todos os nossos sites, novidades, agenda de shows… E que nunca seja disponibilizado mais do que nós mesmos disponibilizamos no site oficial. Dessa forma, podemos fazer promoções para os fãs, dar música de graça em troca de divulgação. Quando colocarmos o CD inteiro no site, disponibilizem mesmo e encham o saco dos amigos para que eles comprem o disco se gostarem (risos). Ou uma camiseta… Qualquer coisa que torne possível manter a música que o fã gosta viva.
Universo do Rock: Em apenas quinze dias o videoclipe “Angel with horns” ultrapassou 84.300 views. Até que ponto a internet, atualmente com tantas redes sociais, ajuda uma banda?
Dani: Internet é fundamental para qualquer banda. Uma banda que não está nas redes sociais vai morrer eventualmente. É muito importante estar em contato com o seu público, mantê-lo interessado em seu trabalho. A carreira da Shadowside é baseada nisso. Nós construímos tudo na raça, interagimos com o público onde ele está, seja no MySpace, no Orkut, no Facebook, no Twitter.
Então quando lançamos o videoclipe de “Angel with Horns”, nossos fãs estavam ansiosos e muitos que ainda não gostavam de nós estavam, no mínimo, curiosos. Quem ainda não nos conhecia, ficou ainda mais curioso para saber quem era essa banda irritante que todo mundo fala nas redes sociais (risos). Agora, esse número já passou dos 90.000 e continua crescendo, provavelmente por conta dos elogios que o novo trabalho tem recebido e pelos fãs que espalham as novidades para os amigos. Quando você trata bem as pessoas que tornam a sua carreira possível, eles têm prazer em ajudar.
Universo do Rock: Se o mundo fosse mais justo, Shadowside não precisaria esperar dez anos para ser reconhecida como grande banda brasileira ao lado do Sepultura. As duas bandas, além de som pesado, têm outra coisa em comum: primeiro fizeram sucesso lá fora. O que acham dos brasileiros que às vezes só dão valor quando a banda é reconhecida no exterior?
Dani: Isso não me incomoda, mas deve ser porque eu já coloquei isso na cabeça desde o começo. Acho que já me conformei. Isso não vale para todos, mas realmente tem muitos que só abrem os olhos para bandas que estão indo bem no exterior. O que torna tudo mais difícil, porque no exterior eles querem saber qual é o sucesso que fazemos aqui (risos).
É muito mais fácil conseguir algo lá fora quando você já tem história para contar daqui. Nós tivemos a sorte de conseguir agradar o suficiente por aqui e abrir para bandas grandes, que tornou possível nosso sucesso lá fora. Mas se o Brasil fosse um pouco mais parecido, por exemplo, com Finlândia e Suécia, que abraçam seus artistas para que então eles saiam dos seus países como estrelas nacionais, nós teríamos um número muito maior de grandes bandas brasileiras.
Universo do Rock: Como vocês veem o cenário rock atual do Brasil?
Dani: Pra mim, tem muito talento e pouca ambição. Já enfiaram na cabeça do brasileiro que ele não é capaz… Quase sempre que converso com boas bandas novas, eles nem consideram possível fazer metade do que nós fizemos lá fora, o que é triste considerando o potencial que eles possuem.
A falta de lugar pra tocar por aqui também não ajuda… Os organizadores de shows internacionais, ainda menos. Com tanta banda estrangeira tocando aqui no Brasil, seria tão bom se em cada um tivesse uma boa banda brasileira abrindo. Isso agitaria a cena. Isso também não acontece em muitos lugares lá fora. Os organizadores do “Indianapolis Metal Fest” sempre levam banda Indiana para tocar, por exemplo. Não vai faltar banda estadunidense de fora do estado, também. Eles sempre favorecem os locais. É ridículo que as nossas bandas tenham que conquistar as coisas de maneiras muito mais complicadas que em qualquer outro país.
Universo do Rock: Vocês têm sonho de tocar com alguma banda em show ou isso já foi realizado?
Dani: Um dos meus sonhos foi realizado com o Iron Maiden. Mas ainda tem tanta banda legal pra tocar! Megadeth, Metallica… Bandas mais modernas como Disturbed, mas que eu gosto muito. A realidade é que qualquer show com outras bandas acaba sendo interessante. Sempre tem alguma coisa pra aprender com os outros, além de ser divertido interagir com outros músicos, sejam eles de bandas grandes ou pequenas.
Universo do Rock: Vocês estão planejando uma turnê brasileira, certo? Conta pra gente como será tudo isso:
Dani: Estamos com show marcado para Penápolis, como atração principal do “Plis Rock”. Temos conversas bem adiantas com Rio de Janeiro, Minas Gerais e boas possibilidades para capital e interior de São Paulo, e Nordeste. Eu quero tocar em cada canto do Brasil, se for possível!
Universo do Rock: Alguma atração internacional será convidada para a turnê?
Dani: Não, talvez no futuro façamos um show especial com os vocalistas que participaram do disco, mas não é fácil conciliar as agendas. Se conseguirmos reunir todo mundo para uma apresentação, vamos aproveitar para finalmente executar a música “Inner Monster Out” como ela foi gravada.
Universo do Rock: Fazendo um balanço, o que é Shadowside hoje e qual a maior dificuldade que já enfrentaram?
Dani: Hoje, Shadowside é uma banda em ascensão, com muitas conquistas, mas com muito para realizar. Ainda temos muitos planos, muitos sonhos e muito trabalho pela frente.
As dificuldades foram muitas, mas isso só fez com que nos tornássemos uma banda persistente, determinada e que não desiste por pouco. Nós começamos a carreira com problemas, com a primeira gravadora que assinou conosco, porque eles faliram antes mesmo de colocar qualquer CD no mercado e nos deixaram presos em estúdio, donos do material, sem que pudéssemos completar o trabalho ou usar o que já estava feito e ficamos nesse impasse durante dois anos. Depois foram mais dois anos para conseguir financiar o restante da gravação.
O problema mais recente foi durante a turnê europeia, com a quebra do nosso ônibus. O seguro lavou as mãos e nos deixou segurar a barra sozinhos, então tivemos que gastar tudo que tínhamos e não tínhamos para consertá-lo e seguir em frente. Passamos a sobreviver e continuar com a turnê, custeando alimentação, hospedagem e combustível para seis pessoas apenas com a venda de merchandising. Só sabíamos se faríamos o show seguinte depois das vendas da noite. Vendemos tão bem que nunca faltou nada, felizmente. Mas todos os dias, dava um medo terrível de não agradar ao público daquele local e não ter como comer ou tomar um banho no dia seguinte (risos).
Universo do Rock: Muito obrigada pela entrevista! Aproveite o espaço para deixar um recado aos leitores do Universo do Rock:
Dani: Muito obrigada pelo apoio de todos do Universo do Rock e espero que curtam o novo álbum “Inner Monster Out”! Escutem bem alto, divirtam-se e nos vemos na estrada!
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