Angra iniciou turnê acústica com show lotado para público caloroso em Belo Horizonte

Por Gustavo Franchini

Os mineiros tiveram a sorte de serem os primeiros a receber o show em formato acústico, tão aguardado e anunciado com veemência pelo Angra, uma das mais importantes bandas do gênero heavy metal no país, na casa BeFly Hall, que conta com uma estrutura decente para o evento, além de dispor de cadeiras confortáveis para cada um dos espectadores.

A curiosidade era deveras despertada nas conversas entre fãs antes do início do espetáculo, já que nunca tiveram a oportunidade de ver o resultado do verdadeiro sonho do guitarrista e vocal de apoio Rafael Bittencourt (fundador, líder e único membro remanescente da formação original), algo que foi declarado por ele em diversas entrevistas como um projeto que foi cogitado há muitos anos, desde o início de sua carreira, mas que só agora encontraram o momento oportuno para executar com maestria.

Uma apresentação desta magnitude exige não só uma revisão das composições que foram gravadas com guitarra distorcida, mas também a criação de arranjos de novos instrumentos e também do trabalho da orquestra, que contou com quarteto de cordas e flautas regidas por um maestro que entende a sonoridade do grupo. E o objetivo parece ter sido alcançado, considerando a receptividade da plateia, a repercussão positiva nas redes sociais e a possibilidade de gravação de um DVD futuro.

É importante ser dito que algumas músicas funcionaram bem melhores do que outras, em especial, claro, as que já possuíam elementos acústicos, como “Make Believe”, “Holy Land” e “Silence and Distance”, três clássicos da era Andre Matos do álbum Holy Land (1996), considerado por muitos o magnum opus, e que foram disparadas os destaques da noite! Aliás, o repertório que reuniu boa parte da vasta discografia da banda foi bem equilibrado e agradou a maioria dos presentes, abraçando todas as fases distintas que conquistaram diferentes gostos. E teve espaço até para surpresas como a belíssima “Reaching Horizons”, esta cantada na íntegra por Rafael; canção que estava na demo tape e nunca chegou a figurar na trilha sonora dos primeiros álbuns, apenas como faixa bônus.

Já “Nova Era” (do Rebirth, de 2001), responsável por abrir o show, não encaixou tão bem neste formato, assim como o encerramento com “Carry On”, que apesar de ser o hit absoluto, definitivamente precisaria ser retrabalhada de outra maneira para funcionar de modo acústico sem soar esquisita. “Gentle Change”, do Fireworks (1998), uma das canções mais interessantes e curiosamente injustiçadas (a banda só passou a tocá-la na fase atual com Fabio Lione e quase foi descartada do álbum na época de seu lançamento, por ser considerada fora da vibe proposta e na possibilidade de colocar a “Fairy Tale”, que depois foi oficialmente gravada pelo Shaman), parecia ter sido feita para a turnê, de tão boa que ficou. Lione já afirmou ser uma de suas canções favoritas do conjunto, chegando a anunciá-la como uma “linda canção” e, sem sombra de dúvidas, cai muito bem na sua voz.

Algumas músicas de álbuns mais recentes foram tocadas, como “Storm of Emotions” e “The Bottom of My Soul”, mas o que realmente levantou o público de vez foi a participação da cantora Vanessa Moreno. Com uma entrada triunfal executando “Here in the Now” com Lione, a sequência surpreendente na forma de “Wuthering Heights” simplesmente levou todos à loucura. A performance de Vanessa foi tão intensa que fez com que ao final todos aplaudissem de pé! E merecidamente, pois poucos(as) conseguem cantar a canção eternizada na voz de Kate Bush e na versão cover gravada por Andre Matos. “Tears of Blood” veio logo depois com Lione usando o lado operístico de sua voz, que fica ótima neste estilo de música, sendo o auge de sua técnica.

Vale ressaltar que a cozinha do Angra é completada por músicos de extrema competência, como é o caso do guitarrista Marcelo Barbosa, o baixista Felipe Andreoli (que tocou com baixo fretless em alguns momentos) e o baterista Bruno Valverde. Arrisco dizer que tecnicamente é a melhor formação no quesito progressivo e não à toa estão há tantos anos representando de maneira internacional o legado de uma das bandas mais importantes do gênero. Parabéns por manterem vivo o espírito do power metal em um país que praticamente não incentiva estilos que fogem aos popularescos como axé, sertanejo, pagode e funk carioca, dentre outros.

O show continua com “No Pain for the Dead”, que traz também outra presença ilustre, sim, ele mesmo, “Kiko, Kiko, Rá Rá Rá” (uma brincadeira carinhosamente cantalorada pela plateia que faz referência ao famoso personagem Quico do Chaves, programa mexicano que faz parte da cultura da TV brasileira desde os anos 80), ninguém mais, ninguém menos que o guitarrista Kiko Loureiro, ex-integrante muito querido pelos fãs por toda a contribuição que entregou pra banda durante mais de duas décadas. Sua passagem pelo Megadeth só mostrou o quão brilhante sempre foi e ainda é, não obstante todos ficaram extasiados assim que ele apareceu no palco. Além de “Holy Land”, ele marcou presença em “Late Redemption” e “Rebirth”, cantada em uníssono por todos.

A balada “Bleeding Heart”, composta por Edu Falaschi, foi a prévia do bis, se encaixando muito bem com os novos arranjos, antes de “Carry On”, que apesar de ter sido um pouco anticlimática, realmente não poderia faltar em um show do Angra. As outras cidades que já receberam os shows, como São Paulo (17) e Rio de Janeiro (18) lotaram as casas, ou seja, um sucesso absoluto. O próximo será em Curitiba (30) e os ingressos estão à venda. Que venham mais!

Nossos agradecimentos a todos os responsáveis por tornarem o evento possível e, em especial, para a Vianello Assessoria e Top Link pela parceria, confiança e credibilidade dada à equipe do Universo do Rock.


Veja a galeria de fotos do show (Angra Acústico/ BH):



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