Bush deu um show de nostalgia aos fãs cariocas em apresentação curta e direta

Texto e Edição: Gustavo Franchini

Após alguns anos de espera, os fãs dos idos tempos gloriosos do grunge tinham motivo para se animar, já que os ingleses do Bush anunciaram sua volta ao país com shows que contemplaram três cidades. As apresentações no festival Lollapalooza em São Paulo (30/03), somadas as de Curitiba (01/04) e finalmente Rio de Janeiro (02/04), no final das contas foram um sucesso de público. A pergunta que não quer calar: A banda resistiu ao teste do tempo?

Com mais de 30 anos de carreira, o quarteto estruturado por Gavin Rossdale (vocal e guitarra base, o único membro remanescente da formação original), Chris Traynor (guitarra solo), Nik Hughes (bateria) e Corey Britz (baixo) de fato representa uma boa cozinha, entrosada e competente. Gavin conseguiu reuniu bons músicos, que além de possuírem uma ótima técnica, também são carismáticos. E às 21h em ponto, a curiosidade para saber como seria a performance no palco realmente empolgou a todos, pois era bem claro o ânimo dos presentes, que gritavam adoidado pelo nome da banda com suas cervejas em uma mão e o celular pronto pra gravar na outra.

Uma escolha acertada foi a abertura com “Everything Zen”, do clássico álbum de estreia multiplatinado Sixteen Stone (1994), que já despeja toda a energia de imediato, fazendo o público pular e sorrir como se fossem adolescentes. Para nao perder o nível de entusiasmo, a sequência veio com o hit “Machinehead”, uma das melhores do grupo, que já deu ares de mosh no meio da plateia, que ainda se comportava bastante diante de um riff tão bombástico. Ali parece que a banda já tinha conquistado a todos, não tinha como ser diferente.


E a partir de “Blood River”, uma das três do álbum The Kingdom (2020), assim como “Flowers on a Grave” e “Quicksand”, as coisas passaram a ficar um pouco esquisitas. Isso porque, se não falha a percepção, Gavin usou playback em toda a linha vocal. A diferença de sonoridade era óbvia, o esforço era mínimo e em alguns trechos até saía o som da voz enquanto o lábio não estava sincronizado com o microfone. Inclusive, independente da distância em que estava do instrumento, o som saía exatamente com a mesma projeção. Isso aconteceu também com todas as executadas do mais recente The Art of Survival (2022), “Heavy is the Ocean”, “Identity” e “More Than Machines”. Confesso ter ficado na dúvida se rolou na “The Chemicals Between Us”, a única do ótimo The Science of Things (1999), mas se for seguir o padrão das mencionadas, acredito que o recurso foi utilizado.

O motivo para tal é óbvio: Gavin, no intuito de manter um pouco da qualidade vocal no auge da sua juventude, considerando que agora está perto dos 60 anos de idade, se resguardou nas composições mais atuais para ter fôlego tonal nas famosas. É de se apreciar a determinação para cantar músicas mais agressivas como “Little Things” e “Greedy Fly”, assim como foi feito no início do show, pois dava pra perceber a dificuldade em conseguir alcançar alguns tons e manter notas, mas pelo menos estava tentand e dando o máximo para agradar aos fãs. Justamente por isso acho que seria melhor ter uma performance sofrível nas outras canções do que se entregar à uma base pré-gravada, já que tal escolha torna o espetáculo menos orgânico do que deveria ser. Afinal, não é um show de pop dançante, é puro rock dos anos 90. Acho que o público entenderia que não tem como ser perfeito, mas poderia ser pelo menos verdadeiro na íntegra.

Ainda assim, apesar de poucas interações com o público e de fato um setlist curto, a banda teve tempo para encaixar duas versões modificadas de “Swallowed”, outra do excelente Razorblade Suitcase (1996), e “Glycerine”, que dividiu opiniões. A primeira foi cantada a capella com um arranjo suave e límpido que tirou totalmente a pegada crua da original, o que realmente soou esquisito. É nitida a falta que fez a guitarra e a banda tocando junto. Já a segunda contou apenas com Gavin no palco, cantando e fazendo a base harmônica, o que definitivamente ficou melhor na comparação. Em relação à performance vocal, ambas foram as que Gavin mostrou sua voz atual genuína, o que é um ponto muito positivo.

Outra bela sacada foi ter encerrado o show com a potente e cadenciada “Comedown”, cantada em uníssono por todos e voltando a botar aquele brilho nos olhos de quem sentiu a nostalgia tomar conta de toda a casa. Então, a banda resistiu ao teste do tempo? Sim e não. Sim, por mostrar a força de suas composições após três décadas e que ainda há um grande público para o gênero nos dias de hoje. Não, por se recusar a trabalhar as limitações vocais da idade de maneira autêntica (já que isso pode, por exemplo, ser resolvido ao baixar o tom das músicas mais difíceis ou mesmo cantar apenas o que for possível), além da dificuldade em se reinventar nos novos lançamentos, algo que, claro, depende da criatividade e inspiração para canções mais impactantes. De modo geral, acho que o Bush ainda tem muito a mostrar para o mundo e com certeza os fãs brasileiros querem um retorno da banda ao país. Vida longa ao grunge!

Nossos agradecimentos a todos os responsáveis por tornarem o evento possível e, em especial, para a Agência Taga pela parceria, confiança e credibilidade dada mais uma vez à equipe do Universo do Rock.


Veja a galeria de fotos do show (Bush/ RJ):



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