City and Colour aquece coração dos apaixonados em noite fria no Rio

Por: Danielle Barbosa
Foto: Bre Helvetia/Universodorock
Foto: Bre Helvetia/Universodorock

Grupo canadense de folk rock se apresentou em três capitais brasileiras

A cidade do Rio de Janeiro é conhecida por seu clima usualmente quente e dias ensolarados. A última sexta (29), no entanto, fugiu à regra. À noite, os termômetros marcavam temperaturas abaixo da média e uma chuva incessante caía na capital fluminense. Mas nem isso afugentou os dedicados fãs do City and Colour, banda de folk rock canadense liderada pelo talentoso Dallas Green, ex-membro do Alexisonfire. O grupo, que já havia passado por Rio e São Paulo em 2015, voltou com a turnê do álbum “If I Should Go Before You” (2015) para quatro apresentações: duas em São Paulo, no Cine Jóia – 26 e 27 de abril; uma no Rio de Janeiro, no Circo Voador – 29 de abril; e uma no Music Hall, em Belo Horizonte – 30 de abril.

A vinda dos rapazes ao Brasil foi uma promoção do Queremos! em parceria com os fãs e Circo Voador. Para quem não conhece a iniciativa, esta basicamente consiste no uso da plataforma como termômetro dos artistas que a galera quer ver tocando por aqui. Funciona da seguinte forma: de acordo com a quantidade de “assinaturas” virtuais de pessoas que tenham interesse em ir a uma apresentação da banda/músico X, é feita uma tentativa de viabilizar a apresentação. Em contrapartida, os fãs que participam da campanha ganham descontos e garantia de compra de ingresso antes do público em geral. De brinde, há ainda uma distribuição limitada de pôsteres da banda.

Com cinco álbuns de estúdio e músicos extremamente competentes em frente ao palco, o City and Colour tem espaço cativo no coração de muitos fãs brasileiros. Não à toa o local ficou pequeno para tamanha empolgação da maioria de jovens que compunham o público. Dallas Green, acompanhado de Jack Lawrence (baixo), Doug MacGregor (bateria), Matt Kelly (teclado) e Dante Schwebel (guitarra), arrastou uma multidão e lotou o Circo Voador – tradicional casa de shows na Lapa – apesar do clima nada convidativo.

Antes da bonança, uma leve e controlada “tempestade”
Não é novidade pra ninguém que qualquer chuva causa um transtorno imenso no tráfego de veículos no Rio, né? Em virtude do clima atípico e de também se tratar de um dia útil de trabalho, muitos fãs chegaram na correria nos arredores do Circo Voador. Pra se ter uma ideia, faltando menos de 30 minutos do horário estipulado para o início do show, havia uma grande fila formada em frente ao local. Os fãs (com uma observação para a grande quantidade de casais inclusos) estavam com seus guarda-chuvas a postos, ingressos em mãos e demonstravam bastante ansiedade em rever o grupo de Ontario, no Canadá.

Foto: Bre Helvetia/Universodorock
Foto: Bre Helvetia/Universodorock

Não demorou muito para que o contratempo inicial fosse resolvido e todos tomassem seus lugares, tentando chegar o mais próximo possível do palco. Aliás, é preciso destacar a ausência de um ‘pit’ no show do City and Colour no Rio, tradicional em eventos desse porte e que distancia consideravelmente o artista do público. Na noite de sexta-feira, banda e fãs viveram uma experiência realmente intimista, com todas as canções que foram executadas pela banda vistas bem de pertinho pelos fãs.

Chuva, folk-rock e muito amor no ar!
Logo de cara, os músicos mostraram a que vieram no Rio. A romântica “Woman” abriu a apresentação por volta das 22h30 e a plateia, entusiasmada, alternou a vibração que sentira sob forma de gritos, aplausos e palmas durante a canção. Sem interrupções para um contato inicial com o público, o grupo emendou logo na balada “Northern Blues”, o que definitivamente espantou o frio e trouxe o Circo Voador para se mexer. A setlist seguiu com “Two Coins” (do álbum “The Hurry and the Harm”, 2013) e uma melancolia pairou no ar por um breve momento. Em pouco menos de 20 minutos de show, uma explosão de sentimentos já havia sido sentida pelos fãs, em especial uma autorreflexão bem particular que cada um deve ter feito com seu “eu interior”. Cabe também um elogio à sonoridade da banda. Com bastantes influências do gênero folk, o som é original, instigante e penetra da alma daqueles que a ouvem, sem deixar que isso comprometa a intensidade necessária ao rock ‘n roll.

Mas não se trata de um show pesado e custoso de assistir. Muito pelo contrário. O show do City and Colour é de uma leveza singular, o que contrasta com as letras profundas da maioria das composições da banda, algo que é característico em todos os álbuns, do “Sometimes” (2005) ao “If I Should Go Before You” (2015). Entretanto, as melodias são gostosas de ouvir, extremamente hipnotizantes e a dramaticidade toda envolvida nas produções toca bem no fundo das emoções.  Outro ponto que é incrível de notar é a capacidade de o vocalista Dallas Green trazer o público para dentro da apresentação. De tão imersos no show, o público mal sentiu a cerca de uma hora e meia passar. Tudo encaixou tão bem que foi como se o tempo transcorresse de maneira imperceptível…

Os momentos “altos” da primeira metade do concerto ficaram pela celebração com muitos berros e pulos logo que os acordes dos singles “If I Should Go Before You” e “Wasted Love” ecoaram, ambas do trabalho mais recente do quinteto canadense. Não dá pra esquecer, é claro, da comoção gerada por “Hello, I’m in Delaware”. A canção, que repete versos saudosistas como “Eu vou ver você de novo daqui a algum tempo” e, em dado trecho, questiona “quantos corações morrerão essa noite?”, trouxe muitas lágrimas aos olhos do público. Àqueles que estavam acompanhados, restava curtir o som abraçados.

Foto: Bre Helvetia/Universodorock
Foto: Bre Helvetia/Universodorock

“Vamos cantar juntos essa próxima!”, pediu Dallas pouco antes de “Lover Come Back”. Até o momento, havia sido a primeira interação significativa do músico com os fãs. Os que não conheciam tão bem o artista talvez tenham se incomodado com a falta de contato e bate-papo do cantor, já que este se limitou a fazer apenas agradecimentos protocolares nos 40 minutos iniciais. No entanto, fica a questão: importa mais falar ou sentir? Pois, no fim das contas, a certeza de que tudo estava dando certo na sexta-feira não precisava ser traduzida na forma de palavras ou diálogos longos com a plateia. E, ainda que seja naturalmente bastante reservado, compenetrado e calado, o frontman do City and Colour conseguiu espalhar o amor durante 90 minutos e aquecer o coração dos casais apaixonados somente com seu timbre aveludado, cuidado vocal, agudos precisos e compassos bem marcados em cada canção.

A partir daí, o show esquentou pra valer. Em “Waiting”, belíssimos coros em uníssono de “oooh” tomaram conta do refrão e “We Found Each Other in the Dark” foi acompanhada com palmas. Ainda antes do bis, Dallas Green apresentou toda a banda, que foi aplaudida de pé com todos os méritos. A galera também merece os créditos por ter seguido afiada e participado do começo ao fim do show. As aguardadas “Sleeping Sickness”, “The Grand Optimist” e a sofrida “As Much As I Ever Could” fecharam o primeiro ciclo da apresentação do City and Colour no Rio.

Na volta para o bis, Dallas Green faz um momento voz-e-violão, sozinho no palco. Assim foram as canções “Day Old Hate” (com um arrepiante coro no verso “and how safe it is to feel safe”) e “Body in a Box”, quando o músico demonstra mais uma vez toda sua habilidade ao dar atenção para o som acústico do violão e tocar uma gaita ao mesmo tempo nas primeiras estrofes da canção. “Muito obrigado por terem vindo, isto é muito lindo. Alguns de vocês podem estar desapontados de não ouvirem a música que vocês gostariam de ouvir, mas eu espero que vocês tenham curtido mesmo assim.”, disse Dallas. “Algumas músicas eu toco, outras e não toco porque não me sinto mais confortável sobre certas coisas. Me desculpem. Espero que o show como um todo reduza seus tweets negativos ao mínimo possível.”, brincou o vocalista, se referindo à músicas populares da banda canadense e que não fizeram parte da setlist da noite. Uma delas, inclusive, é “Coming Home”, do primeiro álbum de estúdio do City and Colour.

Foto: Bre Helvetia/Universodorock
Foto: Bre Helvetia/Universodorock

Pra fechar com louvor, os músicos se reuniram no palco para finalizar com a energia lá em cima. “The Girl” – dividida em um primeiro momento no qual Dallas ficou solo no palco e num segundo instante onde todos os instrumentos entraram em harmonia – e a igualmente aguardada “Hope for Now” deram o tom da despedida de Dallas e seus parceiros aos fãs cariocas. Pode-se constatar que foi, de fato, uma grande noite de música!

Que voltem em breve!

Setlist:
1. Woman
2. Northern Blues
3. Two Coins
4. If I Should Go Before You
5. Killing Time
6. Hello, I’m in Delaware
7. Wasted Love
8. Lover Come Back
9. Waiting…
10. We Found Each Other in the Dark
11. Sleeping Sickness
12. The Grand Optimist
13. As Much as I Ever Could
Bis (Dallas Green solo)
14. Day Old Hate
15. Body In A Box
Bis (banda inteira)
16. The Girl
17. Hope For Now

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