Por: Danielle Barbosa
Em retorno à cidade, o britânico levou os fãs ao delírio com show repleto de hits.
Ed Sheeran é um show à parte. Apesar de ser um hitmaker e colecionador de nomeações e títulos em premiações internacionais, o cantor é um artista diferenciado de outros grandes nomes da indústria pop atual. Resumindo em poucas palavras, ninguém faz o que ele faz ao vivo. Sozinho em cima do palco, o ruivinho conduz o show como poucos, sem precisar de grandes parafernálias visuais ou pirotecnia. Nem banda Ed leva para as suas turnês. Ele, seu talento, presença e carisma bastam.
Não à toa, os três shows agendados para a turnê brasileira em 2017 – Rio de Janeiro, São Paulo e Belo Horizonte – foram sold out em pouquíssimo tempo e despertaram o interesse de mais pessoas do que as casas comportavam. Arrisco a dizer que se cada cidade abrisse mais uma data, esta também esgotaria devido ao tamanho furor que a confirmação da vinda do britânico – ainda em janeiro – causou.
Em 2015, Ed se apresentou no Rio para casa cheia no mesmo local, que na época ainda era HSBC Arena. Se voltarmos dois anos no tempo, podemos observar inúmeras similaridades em ambos os shows: a abertura também ficou por conta do talentoso Antonio Lulic; o delírio dos(as) fãs a cada movimento que o artista faz é de espantar; além da multiplicidade de funções que Ed desempenha sozinho no palco e a não necessidade de uma produção extravagante para entregar sua mensagem ao público. Por outro lado, a principal diferença fica por conta da maturidade musical que ele desenvolveu nesse tempo: em 2015, o músico de belos olhos azuis era bem mais introspectivo e tímido do que é hoje em dia. Pode ser a recepção sempre positiva e acalorada dos fãs, a experiência de performar nas principais arenas do mundo, mas é fato crucial e determinante que o cantor se sente mais à vontade, brincalhão e interage bem mais ao longo da hora e meia de show. Isso, é claro, influencia na vibe mais empolgante que a turnê “Divide” traz.
Na produção de 2017, o que despertou maior interesse foi o palco. Cheio de telões de LED espalhados por toda a sua estrutura em formato de “nave” ou algo semelhante – provavelmente projetado exclusivamente para Ed –, o elemento com certeza auxiliou a criar uma atmosfera ainda mais intimista e beleza para a apresentação, que tinha todos os refletores e luzes voltadas para um rapaz ruivo com seu inseparável violão nas mãos.
Do pop de baladas às baladinhas românticas
Como de costume em um show de um britânico, é tradição não deixar o público esperando. Dez minutos após o programado, às 21h40, Ed Sheeran subiu ao palco da Jeunesse Arena, na Barra da Tijuca, para comoção geral. O público, que se compôs em sua maioria de adolescentes na faixa dos 15 anos acompanhados de seus responsáveis, foi às lágrimas e transformou o ambiente em histeria coletiva – mas não! Esse não seria o único momento da noite em que isso ocorreria. Simpático, Ed sorriu e emendou com “Castle On The Hill” – um dos singles do “Divide” que atingiu posições no topo da Billboard –, e foi cantada em coro uníssono do início ao fim.
“Oi, Rio! É bom estar de volta! Vou tocar algumas músicas e espero que vocês conheçam. Se não conhecerem, finjam que conhecem, ok? Eu quero que cantem tudo!”, instigou Ed antes de tocar “Eraser”, faixa do mais recente trabalho também – mas que fica mais escondida da mídia por não tocar nas rádios ou programas de videoclipes. Isso não foi um problema e o cantor foi acompanhado por vozes empolgadas e palmas da mesma forma. A arena já tinha dado uma resposta ao músico: “Sim, nós vamos e sabemos cantar tudo!”. Quando essa conexão acontece, é impossível não ser um sucesso o show. Cerca de uma hora e quarenta de amor e dos mais variados sentimentos compartilhados entre fãs x ídolo.
Mas o tom da noite foram as baladinhas mais lentas. “The A Team”, que não fala exatamente sobre amor – mas tem uma sonoridade melancólica – foi uma das mais comemoradas pelo público, que acendeu as luzes de seus celulares para fazer do local um céu estrelado. Enquanto a voz de Ed preenchia a arena, as batidas de seu violão tocavam o coração dos jovens, que mal puderam conter a emoção. A mesma sensação veio em “Dive”, “Perfect” e “Happier”, que falam em suas composições sobre corações apaixonados e partidos.
A condução da apresentação foi inteligente e soube alternar entre momentos mais vulneráveis e o pop/hip hop animado e dançante de canções como “Don’t”, “Bloodstream” e “Galway Girl” – que tem uma pegada de música tipicamente irlandesa no som, além da letra tratar justamente de uma menina da cidade de Galway, na região oeste da Irlanda. A atenção e os olhos dos cariocas fitavam Ed, que correspondeu à altura e fez o papel de uma banda mesmo sendo um só. É incrível, mas isso já acontece há anos e poucos artistas teriam capacidade de desempenhar todas as funções que Ed acumula durante suas apresentações.
Versatilidade e múltiplas funções sob o palco
É curioso, mas como o segundo álbum de estúdio do cantor supõe – o “Multiply” (X), Ed é versátil e se multiplica em vários nos seus shows desde o início da carreira. Ao utilizar um equipamento e pedal que grava e reproduz sua voz, além dos riffs de sua guitarra ou batidas de seu violão, ele se transforma em sua própria banda, se multiplicando em vários Eds ao vivo e espantando a monotonia do show unicamente acústico. Incrível!
O grand finale com os hits de arrasar os corações
Sempre interagindo como pôde, Ed teve o público ‘nas mãos’ desde o começo. Ele regeu palmas e o ‘mar’ de mãos balançando, conversou, brincou e chegou perto dos(as) fãs várias vezes, momentos esses em que largou do violão para assumir papel de rapper em trechos de suas canções. Um pouco engraçado para a figura do músico de 26 anos, que é todo fofo e um pouco desengonçado para a função, mas como questionar algo que ele faça e a plateia aplauda e grite cada vez mais alto, não é mesmo?!
“Ed, eu te amo! Ed, eu te amo!”, a arena gritava. Com certeza, não foi uma novidade para ele – que está acostumado a ver as pessoas vibrando e o ovacionando por onde passa. Mas definitivamente, como todo artista diz, o Brasil tem um tempero especial nas apresentações ao vivo. Sabendo da paixão dos brasileiros, Ed fez uma leve provocação ao comentar do barulho ensurdecedor produzido pelos argentinos poucos dias antes da apresentação no Rio e propôs um desafio para os cariocas: gritar e fazer mais barulho que o público de Buenos Aires. Pra quê? O êxtase foi incorporado por cada um que ali estava, música a música, até o fim do bis.
A setlist também ajudou, temos de convir. Com um medley de “Feeling Good” seguido por “I See Fire”, da trilha sonora do segundo filme da trilogia de “O Hobbit”, a plateia se derreteu de vez. Na sequência, hit atrás de hit e corações espalhados pela pista e arquibancadas. “Give Me Love” em uma versão apaixonante – com o telão focando no rosto do cantor e suas reações -, “Photograph” em versão estendida e o acapella dos fãs em “Thinking Out Loud” foram um prato cheio para mais lágrimas e abraços por toda a parte. Grupos grandes de amigos, pais e filhos, alguns casais… todos bem juntinhos e agarradinhos com os olhos marejados. E a histeria e o coro (é claro) foram os pontos mais altos da noite!
Ed, por sua vez, também parecia bastante feliz e satisfeito. “Eu realmente estou curtindo hoje à noite, está muito divertido. Vocês parecem um coral, obrigado!”, elogiou o britânico, sem arriscar palavras em português e nem perder a pose. Era só mais uma noite de trabalho bem sucedida, com um público literalmente aos seus pés. Ou seja, tudo dentro dos conformes. Dono de uma das carreiras com maior ascensão da década, o ruivinho não perde o charme e o encanto, a doçura com que se comunica e o olhar de uma criança vivendo o seu sonho. Magnético. É assim que pode ser descrito o (ainda) jovem astro do pop mundial. Onde ele está, atrai a multidão para si.
Mas ainda não havia acabado. Com uma camisa da Seleção brasileira – assim como em 2015 – e portando a bandeira do Brasil nas mãos, Ed comandou a festa final com as empolgantes “Shape Of You” e “You Need Me, I Don’t Need You” – dando tudo de si e sem deixar os ânimos baixarem. Afinal de contas, pouco antes do bis, “Sing” já tinha colocado as mais de 15 mil pessoas para pular e suar aos comandos do inglês. “Cantem alto!”, e seu pedido foi atendido sem dificuldade. Tudo o que ele propunha era uma ordem, na realidade. Essa foi a vibe da noite.
Sem muitos alardes e com uma despedida tímida após quase 2h de um grande show, Ed Sheeran deu um “até logo” ao público brasileiro, deixando saudades.
Volta, Ed!
Setlist
1. Castle on the Hill
2. Eraser
3. The A Team
4. Don’t / New Man
5. Dive
6. Bloodstream
7. Happier
8. Galway Girl
9. Feeling Good / I See Fire
10. Give Me Love
11. Photograph
12. Perfect
13. Nancy Mulligan
14. Thinking Out Loud
15. Sing
BIS:
16. Shape of You
17. You Need Me, I Don’t Need You
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