Por: Kamila Piovesan (@kapiovesan)
Sugar Kane é uma banda brasileira de punk rock/hardcore formada em Curitiba, Paraná, no ano de 1997. É a mais bem sucedida banda independente de hardcore do Paraná e uma das principais do Brasil. Formado por Alexandre Capilé (vocal e guitarra), André Dea (bateria),Rick Mastria (guitarra/vocal) e Flavinho Guarnieri (baixo/vocal).
Leia abaixo a entrevista:
01 – Como foi pra você o começo com o Sugar Kane? Como profissional hoje, quais erros você vê que foram cometidos e que as bandas de hoje em dia cometem também?
O começo foi pura diversão. Éramos 4 amigos de colégio, querendo simplesmente ter uma banda de hardcore, que na época era o novo som e pegou a gente de jeito. O SK sempre teve, além de dedicação, a sorte ao nosso lado. Erros são inevitáveis, pra crescer como banda ou até mesmo como pessoa você tem que errar, existe algumas coisas que hoje em dia eu faria diferente, mas se tivesse feito talvez a banda não estivesse viva como esta após 15 anos. O que deixo de dica pra bandas novas é não desistirem facilmente, se dedicarem de cabeça e sempre fazer o som que realmente gostam independente de moda ou tendências.
02 – Como você vê a cena independente hoje? Você acredita que ela tem piorado ou melhorado?
A cena hoje em dia tem pontos positivos e negativos. No passado era muito mais unida, existia mesmo um grupo de bandas, fazendo o corre juntos. Hoje em dia ela é mais comercial mesmo, o que é bom, pois sustenta muita gente, não só as bandas. Claro que sempre vai rolar a nostalgia daquele começo despretensioso da cena, mas hoje ela tem uma estrutura legal e podemos tocar em muito mais cidades por todo Brasil e alguns países. Eu acredito que ela tenha melhorado sim.
03 – Eu acho interessante que muitas letras do SK falam sobre alienação, o sistema, governo e como não devemos deixar de “sonhar colorido”. Qual sua visão sobre isso em relação às letras?
Somos muito transparentes quando escrevemos nossas letras, elas sempre têm uma ligação direta com o que pensamos e acreditamos. Independente do tema, sempre buscamos ser extremamente sinceros, elas retratam muito bem como vemos o mundo. Acho legal que muita gente se identifique. Existem momentos que queremos protestar e dizer algo para um bem maior, ainda bem que temos a banda pra isso, pois atinge muita gente!
04 – Teve um clipe de vocês (Revolução, se não me engano) que foi feito na casa dos integrantes, que não custou nem R$ 100. A idéia surgiu através da filosofia “Faça você mesmo” ou foi pra economizar mesmo?
O custo final na verdade é muito maior que R$100, mas como temos grandes amigos e parceiros ele caiu pra esse valor quase insignificante. A idéia do clipe era simples mesmo, nem foi feita pra economizar, mas no final acabou ficando animal. Sem contar a ajuda dos fãs e amigos que enviaram suas imagens, acredito que com tudo isso o que dizemos na musica ficou bem explicito no clipe. O mais barato do disco e o mais assistido no canal do youtube da banda.
05 – O André e o Flávio fazem parte das Vespas Mandarinas, acha que isso pode atrapalhar o Sugar Kane de alguma forma ou não?
De forma alguma, pra gente isso só soma. Desde o fim de 2010 decidimos que a relação dos integrantes com a banda seria uma espécie de “open relationship”, pois desde 2007 nos dedicávamos integralmente ao SK. E essa dedicação integral colheu bons frutos, mas também gerou algumas crises. Quando o peso de muitas responsabilidades está somente focado em uma coisa, crises podem acontecer, por isso decidimos que a banda continuaria, sem atrapalhar a vida de ninguém, mas respeitando alguns projetos pessoais de cada um, podendo ser como nesse caso do Flavio e André em outra banda. O reflexo dessa atitude foi 100% positivo, e também o SK e o Vespas são muito amigos, o Chuck acabou de produzir nosso último EP. Conseguimos conciliar muito bem esses dois projetos e os frutos que temos colhidos são bem legais por isso. Pra que limitar se podemos expandir!
06 – O que mudou no SK após um 2006 morno, para um SK que em 2007 ganhou o prêmio Prêmio Dynamite de melhor álbum Punk/Hardcore e também o prêmio de “Disco do Ano” pelo Zonapunk com o álbum “Diversão Esquizofrênica para Mentes Ociosas”?
Mudou muita coisa. Em 2006 a banda parou, alguns integrantes saíram, foi um “turning point”. A relação estava bem saturada e esperávamos por algumas coisas que acabaram não acontecendo. O disco Elementar lançado em 2005 foi um projeto mal trabalhado, fizemos poucos shows e apesar de parecer pra quem via de fora que estava tudo 100% o clima da banda já não era dos melhores. Paramos, correndo o risco de nem voltar. Quando decidimos voltar em 2007 eu e o Vini (Guitarrista na época) tínhamos composto vários sons durantes a pausa, mais de 40 músicas. Foi ai que surgiu o D.E.M.O., uma compilação das 13 músicas que escolhemos dessas 40. Ele foi produzido numa vibe muito boa, com dois integrantes novos (Andre Dea na bateria e Karacol no baixo), foi gravado ao vivo em estúdio, e os sons ainda eram levemente experimentais como no disco ELEMENTAR. Foi no lançamento dele que decidimos nos mudar pra SP, isso sim acredito ter sido o fato mais importante de todos. Os prêmios vieram em boa hora, pra dar o gás que precisávamos pra tocar a banda em frente, com força total, nessa nova fase.
07 – Em 2009 a banda arrebentou com o “A máquina que sonha colorido”. Só no primeiro dia foram mais de 20.000 execuções e em um mês foram mais de 100.000 audições. Você acredita que houve um amadurecimento nas letras e som da banda?
Eu acho que esse disco é o melhor de todos na carreira do SK. Claro que vai ter um fã lendo isso que vai dizer “Não é, é o Continuidade da Máquina”, mas ele foi muito bem pensado e produzido. Pra você ter idéia antes de gravá-lo nós chegamos a compor outro disco inteiro, que apelidamos de Pesadelo (O lado B do AMQSC), desse disco só restou à música Repito. Foi o primeiro disco que compusemos em SP, isso ta bem implícito nele eu acho. Compomos ensaiando e gravando várias prés em casa, no clima família. No meio de todo esse processo pensamos “Ha muito tempo não lançamos um disco de hardcore puro mesmo” ai que surgiu a idéia de produzir mais um “MAQUINA”, juntamos os sons HC que tínhamos, escolhemos os 14 que mais gostávamos e gravamos o A Maquina que Sonha Colorido. Só de pré-produção foram 7 meses. A gravação final foi em Curitiba, no estúdio Solo, com o nosso querido amigo e parceiro Victor França. Quando lançamos o disco, o twitter estava surgindo com força total, foi ai que pensamos em fazer uma ação com ele. Cadastramos vários fãs dispostos a ajudar e com mais a força de amigos de outras bandas fizemos uma barulheira no dia do lançamento, no emblemático 7 de setembro, dia da independência! Lembro que esperávamos uns 10.000 downloads no primeiro dia, e chegamos a 23.000, foi surpreendente. Esse disco deu um novo gás pra banda, renovou muito o show, tocamos 7 sons dele ao vivo e estamos nesse momento no fim de sua tour, que será finalizada com a gravação do nosso segundo DVD ao vivo.
08 – No documentário “Eles ainda acreditam”, você declarou que “hoje em dia vale muito mais a pena estar em uma produtora do que em uma gravadora”. Que razões te levam a crer nisso?
Bem, quando dei essa entrevista eu estava acreditando nisso rs. Acho que atualizando esse meu comentário pros dias atuais, o formato gravadora do passado já era mesmo, inclusive as produtoras já perderam sua força. Acho que hoje o que mais vale é você estar trabalhando com uma boa equipe, da pra fazer um trabalho bom independente, tendo uma boa base, sabendo como funciona a coisa toda. Hoje você pode fazer tudo que uma gravadora faz, basta contratar as mesmas pessoas, isso tem um custo é claro, mas pra mim ele é bem menor do que se prender a alguém por tanto tempo correndo o risco de ficar congelado, como rola com muita banda de gravadora. Se não tem grana, faz o corre você mesmo, o mundo ta ai provando que o que mais vale é uma boa idéia, um bom som e boas ações de divulgação. Tem gente que num gasta quase nada e bomba, tem gente que gasta horrores e num da em nada.
09 – Nesse mesmo documentário você cita “quem continua, conquista”. Em algum momento na sua carreira de músico você pensou em largar tudo e desistir? (Se sim, qual?) Tens em mente algum projeto longe do Sugar Kane?
Viver de banda é uma bipolaridade constante, e claro que já pensei em desistir. Em 2006 eu realmente acreditei que eu poderia largar o Sugar Kane, mera ilusão rs. Quem vive de música tem que se adaptar a realidade dos altos e baixos, e tem que curtir muito que faz, caso contrario, desiste. O SK já passou da fase das crises de fim de namoro, hoje em dia vivemos uma casamento feliz e que nos trás muita coisa boa. Quanto a outros projetos musicais, eu tenho um parado desde 2004, o Damien, que quero resgatar o quanto antes. Também quero levar outro projeto com nosso ex-baterista Renê Bernuncia, só estou esperando passar o DVD do SK.
10 – O que os fãs podem esperar do Sugar Kane daqui pra frente? CD novo, mais shows, tours?
Em setembro vamos gravar nosso projeto do ano, o DVD ao vivo, que vai celebrar os 15 anos da banda. Vamos encerrar a tour do cd AMQSC nesse show. Pararemos até o lançamento em novembro, quando se inicia a tour do DVD, que vai começar pelo nordeste e rodar o Brasil até março de 2012. Nessa tour mesmo iremos pra Europa mais uma vez e tudo indica que Estados Unidos e Canadá. Ainda no primeiro semestre de 2012 devemos lançar nosso próximo disco de estúdio. Como podem ver estamos bem ocupados até lá.
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