Entrevista com Kiko Loureiro, guitarrista do grupo Megadeth

Por Juliane Assis
Foto/Divulgação

O Megadeth volta a se apresentar no Brasil com a turnê do álbum Dystopia. A banda formada por Dave Mustaine e Kiko Loureiro na guitarra, David Ellefson no baixo e Dirk Verbeuren na bateria se apresenta nos dias 31 de outubro em São Paulo no Espaço das Américas e 01 de novembro no Rio de Janeiro no Vivo Rio. Os ingressos podem ser comprados online no site: www.eventim.com.br.
Para falar um pouco sobre os shows no Brasil e a premiação do Grammy de Melhor Performance de Metal nós entrevistamos o guitarrista Kiko Loureiro, confira abaixo.

 

Como é ser um fã do Megadeth e agora tocar com eles?

Kiko: É aquelas sensações indescritíveis da vida. É uma responsabilidade, alegria, tudo isso, lembrando sempre de se conectar com o Kiko adolescente sonhando em ser guitarrista, sonhando em conseguir tocar um solo. Lendo as revistas e vendo as coisas, coisas distantes, e de repente hoje eu estou lá. Então eu lembro bastante desses momentos quando você sobe num festival grande. Agora que a gente está tocando com o Scorpions, quando eu era moleque eu ficava ouvindo Scorpions e eu vi o Matthias (guitarra) e o Rudolf (guitarra) e falei para eles “eu estou aqui hoje porque vocês são grande colaboradores para o fato de eu tocar guitarra”, inclusive pois eu tocava violão clássico com professor e depois por esses artistas eu resolvi tocar guitarra elétrica. É muito bom ter essa conexão e saber que você fez as escolhas boas da vida. E sempre tentar lembrar, porque eu subo no palco e vejo a galera curtindo lá embaixo e lembro de mim em 1991 assistindo o Megadeth também apertado lá com o público, é uma cena que me vem bastante a cabeça e isso é fantástico. Espero que seja também motivador para as pessoas, guitarristas e qualquer músico que pensam se essa profissão da certo, porque as coisas não são fáceis mas se você trabalhar sério como se fosse qualquer outra profissão você vai longe.

Como foi o convite para tocar no Megadeth?

Kiko: Então já fazem dois anos que eu estou na banda e foi um email e depois uma ligação. O David Ellefson tinha meu email e eu já conhecia ele de alguns eventos de Metal, dai tinha uma lista de guitarristas que eles estavam procurando e eu estava nela, então o Ellefson me indicou. Depois eles me ligaram, eu filmei tocando algumas músicas e marquei um encontro com o Mustaine na casa dele e passei um dia com ele conversando. Dias depois ele me chamou para a banda.

Como foi o processo de gravar o álbum Dystopia?

Kiko: Foi em maio de 2015 e era tudo novidade para mim, eu ainda estava conhecendo os caras da banda e já entrei nessa fase de gravar no estúdio, que é diferente de você conhecer no palco. Mas eu já toco faz muito tempo, já tenho o Angra faz muito tempo, então tenho a experiência de estúdio, de ter gravado no padrão do Megadeth em estúdio. Eu era novo, mas por estar inserido na galera nova eu sempre toquei, tinha tido essa experiência, mas com o pessoal do Angra, com os brasileiros amigos, e de repente eu estava nessa situação com várias pessoas que eu não conhecia e com a responsabilidade de tocar numa banda lendária com o Dave Mustaine que eu não conhecia ainda muito bem. E por ai tem várias coisas sobre eles, e eu sempre pensava “Será que eu estou fazendo a coisa certa?”, mas eu me adaptei, entendi qual era a pegada deles tanto que tive três participações autorais no CD, que não é uma coisa muito comum de ver. Foi legal, provou que teve essa energia boa.

Como ocorreu o processo de abertura para suas ideias?

Kiko: É uma coisa natural, essas coisa não são planejadas, a gente está lá gravando no estúdio eu estava atento e sugeri algumas coisas e eles gostaram. Mas é difícil saber como sugerir, que horas sugerir, afinal de contas eu estava ali chegando, você não chega na casa de alguém e fala “Ow porque você não muda a cor do sofá?”. Eu estava na casa deles e eles já tinham uma história de sucesso, então é delicado você chegar e falar “eu acho que vocês estão fazendo errado, porque vocês não fazem do meu jeito?” eu nunca ia falar assim, então você tem que saber e dar a opinião certa na hora certa, estudar o que você vai falar para dar certo. E também nem todas as ideias que eu dei foram, mas essas foram então é ótimo.

Como é lidar com as expectativas de ser um guitarrista brasileiro tocando em uma das maiores bandas de Metal do mundo?

Kiko: Tem essa responsabilidade de fazer a coisa direito. Minha carreira não começou aqui no Megadeth, eu já trago uma bagagem foi só aplicar essa experiência dentro desse novo ambiente e estar sempre atento para aprender, participar.

Quais são suas expectativas para voltar para o Brasil pela segunda vez já com a banda?

Kiko: Nós vamos repetir São Paulo e vamos tocar no Rio de Janeiro. É ótimo voltar, é sempre bom, rever os amigos e ainda mais que nós vamos tocar no Espaço das Américas, porque eu cresci em Perdizes, eu ia criança ali perto no parque da água branca, então você chegar lá com os americanos é muito louco. E com esquema que a gente faz aqui, faz na Europa também, então de repente estar no bairro que você cresceu. Porque estar em turnê é meio que estar numa bolha, você fica morando em hotel e van, você fica fora do mundo normal, as vezes eu nem sei que dia da semana é, se você me perguntar rápido agora eu não vou saber, eu sei quando tem show e quando tem dia livre. A gente segue o calendário da tour, não o calendário que as pessoas vivem, então é muito louco você estar nesse esquema e de repente estar no bairro que você cresceu e estar seu pai e seus amigos na plateia.

Como foi participar e ajudar a realizar o momento que o Megadeth ganhou o Grammy como melhor Performance de Metal?

Kiko: Foi demais, não tinha essa expectativa. Eles foram indicados 12 vezes e daí quando eu entro lá eles ganham, eles até brincaram que foi um pé quente da história. A banda merecia ter ganhado antes, mas faz parte o esquema do Grammy e é fantástico estar lá, já entrei na banda, já ganhei o Grammy, nós também tocamos no Madison Square Garden semana passada. Eu vou conhecendo meus ídolos de infância ao longo das tours e dos festivais, tocando sempre nesses festivais que a gente sonhou em tocar em posições altas. Tudo isso é legal demais, você vai curtindo, mas sempre tem a responsabilidade de fazer a coisa direito, porque se não a casa caí e o tombo também é maior com essa questão mas da para segurar a onda sem problemas.

E os seus projetos, você tem um curso de guitarra e um de musical business, conte mais um pouco sobre eles?

Kiko: O curso de guitarra eu tenho dois que é meu site kikoloureiro.com/hacks, onde tem mais a forma que eu estudo, porque tem muito esse mito de que para ser bom você precisa estudar 10 hrs por dia e eu falo no curso que não, se você estudar direito por uma hora ou duas horas e ter uma organização você vai se sair bem, porque eu não estudo 10 hrs por dia , nem dá. E eu comecei a fazer um negócio que eu to curtindo bastante que também está dentro do site kikoloureiro.com/evolution que eu vou gravando uma aula por semana, como se o cara fosse meu aluno só que eu estou cada hora em um lugar do mundo, pode ser em um hotel ou no camarim e eu vou ensinando um pouco o que eu acho necessário que o cara saiba e também as coisas que eu estou estudando, é bem divertido fazer. Esse curso já uma assinatura, não é um curso fechado, o cara vai me acompanhando, aprendendo comigo toda semana com uma aula nova, ai tem a discussão sobre a aula, ontem eu até fiz um hangout com os alunos. Tem o curso que eu faço apenas uma vez por ano por ele ser mais complexo que é o musical business, porque eu acredito que tem muita gente com dúvidas sobre a carreira de ser músico, se ser músico vale a pena no Brasil. E a realidade é que você tem que estar preparado, se você estiver e entender como funciona a profissão, como por exemplo: esse curso tem mais de 30 horas aonde eu explico tudo. É bastante coisa, mas aos poucos você vai reconhecendo os termos e as coisas que você tem que saber e ai você está preparado para qualquer coisa. Saber como você se posiciona como artista, como cria algo relevante, como você consegue juntar os fãs, coisa que a gente trouxe lá do Angra, como ter uma base de fãs e conseguir manter por muito tempo e apresentar shows e discos sempre com uma boa qualidade, para isso é necessário uma série de conhecimentos, não tem nada de sorte.

Como você se relaciona com o pessoal da banda?

Kiko: O Ellefson é o cara mais gente boa que tem, e o Mustaine também, o cara é fantástico, super inteligente só que ele é exigente e quer um nível alto e eu entendo total. Ao invés de eu reclamar, eu falo “manda mais, esse é o nível alto? Então vamos lá ver se eu consigo também”, aí você consegue o respeito, apesar de eu ser novato e brasileiro. Você consegue o respeito mostrando que é capaz, tem conhecimento e dedicação para causa.

Você gostaria de dar algum recado para seus fãs?

Kiko: Eu queria sempre agradecer essa presença, dedicação e convidar a todos para ir ao show. Ir ver o Megadeth em São Paulo numa ótima casa como o Espaço das Américas é uma boa oportunidade, porque o show está muito bom e nós estamos mais afiados do que da última vez que a gente veio.

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