Entrevista, Tradução e Edição: Gustavo Franchini
O Symphony X é considerado por muitos a nata do prog metal mundial, apresentando trabalhos impecáveis com muita personalidade e atraindo uma legião de fãs brasileiros. Não à toa estão de volta ao Brasil para a turnê comemorativa de mais de 25 anos de carreira (confira as datas e ingressos aqui), adiada em 2020 por conta da pandemia, que percorrerá diversas cidades apresentando músicas do trabalho mais recente, Underworld, além de sucessos da discografia da banda.
A equipe do Universo do Rock teve a oportunidade de bater um papo com o baixista Mike LePond sobre a turnê, pandemia, o álbum mais recente e planos futuros. Confira a seguir!
Universo do Rock: Esta turnê comemora os 25 anos da banda, após um período tenso de pandemia para todos, no qual além de impactar a vida de muitas pessoas, ainda fez com que todos os shows fossem adiados. Como a pandemia afetou os integrantes da banda? Estamos muito felizes em ter a oportunidade de assistir vocês de volta aos palcos!
Mike LePond: A pandemia foi devastadora para todos nós no Symphony X. Em 2020, tínhamos planos de fazer uma turnê pelo mundo inteiro. De repente, não tínhamos mais grana entrando sem respostas à vista. Eu não acho que poderíamos ter sobrevivido mais um ano sem fazer turnê. Graças a Deus tivemos uma ótima turnê norte-americana este ano e a América do Sul será ainda melhor!
Universo do Rock: Falando agora sobre o lançamento mais recente (Underworld, de 2015). Após mais de 25 anos de carreira, vocês ainda nos surpreendem com álbuns únicos e, de fato, renovadores. Os elementos operísticos e melódicos, que estavam presentes em V – The New Mythology Suite e The Odyssey, deram espaço para álbuns mais diretos e pesados, nos trabalhos mais recentes. Todavia, em Underworld há um trabalho intenso que mistura ambas as fases do Symphony X com uma variedade de estilos, momentos e nuances em músicas tanto pesadas quanto melódicas. Tal característica foi incorporada naturalmente ao longo do processo de composição ou era a intenção da banda desde o início?
Mike LePond: Como você descreveu com precisão, nosso som passou por mudanças ao longo dos anos. Quando ficamos mais pesados, houve fãs que adoraram a nova direção, mas também outros que não aceitaram e queriam que voltássemos às nossas raízes neoclássicas. Quando chegou a hora de escrever o Underworld, nós tentamos fazer todo mundo feliz!
Universo do Rock: O tema central que serviu como inspiração para Underworld é a obra-prima “A Divina Comédia”, do poeta italiano Dante Alighieri, mais especificamente a parte “Inferno”, além da mitologia grega de Orfeu no Submundo. Apesar de o álbum não ser conceitual, há uma clara fluidez entre as faixas, cada uma com sua própria identidade, nos remetendo ao clássico The Divine Wings of Tragedy, sendo coeso do início ao fim da audição. A faixa-título pode ser considerada a junção de todos os elementos musicais propostos em Underworld? Você acredita que o álbum é melhor absorvido como um todo, da mesma maneira que ocorre com o conceito outrora apresentado em V – The New Mythology Suite?
Mike LePond: Consideramos o Underworld um álbum conceitual da mesma forma que um álbum como Paradise Lost. Acho que nenhuma música pode ser considerada um mosaico. Eu acho que o V – The New Mythology Suite é o único disco verdadeiramente conceitual que o Symphony X já fez, e deve ser tocado como um todo, na íntegra. Talvez uma boa ideia para o futuro?
Universo do Rock: Seguindo uma linha diferente da esperada após o enorme peso em Iconoclast, o álbum mais recente nos apresenta uma performance vocal que varia do timbre limpo ao agressivo, o que sem sombra de dúvidas é o grande destaque individual de Underworld. Músicas como a própria “Underworld”, além de “Run With The Devil” e “Swan Song” são ótimos exemplos da positiva união entre distintas maneiras de utilizar a voz. Qual é a razão para essa mudança de direcionamento vocal?
Mike LePond: Russel Allen é um dos melhores cantores do heavy metal. Ele é tão versátil, que basicamente pode cantar do jeito que quisermos. Acho que no Iconoclast foi tão pesado quanto sempre quisemos ser. O próximo passo lógico foi ser mais melódico. Como discutimos anteriormente, tivemos o Russ usando todas as suas ‘armas vocais’ para fazer um álbum bem equilibrado e completo.
Universo do Rock: Para a arte do álbum, mais uma vez vocês trabalharam com o talentoso ilustrador Warren Flanagan, que vem realizando um excelente trabalho desde a sua estreia em Paradise Lost. Seu estilo artístico nos remete a uma modernidade dentro do tema de fantasia, com traços bem atuais. A arte dele é uma referência à constante evolução do Symphony X como banda?
Mike LePond: Warren está conosco desde Paradise Lost. Ele é tão conhecido por seu trabalho em grandes filmes de Hollywood, e estamos tão agradecidos por ele ter reservado tempo para nós. Como ele é um grande fã do Symphony X, ele entende completamente nossa evolução e isso se reflete em sua arte.
“Gostaríamos de fazer uma turnê com orquestra sinfônica.”
Universo do Rock: O estúdio The Dungeon, localizado na casa de Michael Romeo, foi novamente o local de gravação de um álbum do Symphony X, no qual Romeo também foi responsável pela produção. Underworld conta com o mixing do renomado Jens Bogren (no Fascination Street Studios), que já trabalhou em Paradise Lost e em álbuns de bandas como Arch Enemy, Kreator, Opeth, Dragonforce, dentre muitas outras, o que inclui a banda brasileira Angra. A produção de Underworld está demais, bem coesa e refinada! Quais as vantagens e desvantagens de ter um home studio a disposição, no que concerne ao desenvolvimento do álbum em si? O processo de gravação foi o mesmo de álbuns anteriores?
Mike LePond: A maior vantagem de um home studio é que você pode levar todo o tempo que precisar para gravar. Você não está pagando alguém por hora, então não há pressão. Você pode torná-la tão perfeita quanto quiser. A maior desvantagem é… você poder levar o tempo que precisar (risos). Às vezes, os membros da banda contam com esse tempo.
Universo do Rock: As músicas do Symphony X possuem uma forte presença épica e tonalidade teatral, principalmente nas de longa duração como “The Divine Wings of Tragedy” e “The Odyssey”, dentre outras. Isso nos remete, nas devidas proporções, à grandes produções da Broadway. Muitos fãs questionam o motivo pelo qual a banda não apresenta shows com produções de palco à altura da grandiosidade das músicas ou mesmo com a presença de uma orquestra, com o intuito de criar uma ambientação ainda mais intensa. Vocês pretendem um dia realizar uma turnê mundial desse nível?
Mike LePond: Nós temos conversado sobre fazer isso por cerca de quinze anos. Gostaríamos de fazer uma turnê ou uma quantidade limitada de shows especiais com uma orquestra sinfônica. Até este presente momento, não tivemos o orçamento para fazer isso da maneira que gostaríamos. Seria ótimo filmar esses shows, talvez em um anfiteatro antigo e lançá-los em vídeo.
Universo do Rock: Em 2020, você lançou o seu terceiro álbum solo, Whore of Babylon, que apresenta um power metal vigoroso e conta com excelentes músicos ao seu lado. O título remete a uma passagem bíblica muito marcante, o que chama a atenção por não ser nada usual. Devo ressaltar que é um maravilhoso lançamento! Tem algum projeto em vista ainda este ano?
Mike LePond: Muito obrigado! Eu amo fazer esses álbuns solo. Este ano já toquei em dois grandes discos de metal: uma banda norte-americana chamada Cauldron Born e uma banda alemã chamada Mentalist. Ambos os álbuns estão disponíveis agora ou muito em breve.
Universo do Rock: Neste mês, nós brasileiros teremos mais uma vez a honra de prestigiar um espetáculo do Symphony X, o que pode ser citado como um dos shows mais aguardados do ano. Nesta turnê, existe algum plano de gravar um show ou trecho em alguma cidade do nosso país, para um posterior álbum ao vivo ou DVD?
Mike LePond: Para esses shows em particular, não planejamos fazer nenhuma gravação. Estamos apenas felizes em tocar para os incríveis fãs brasileiros!
Universo do Rock: Pelo que vi do setlist desta turnê, vocês focarão o álbum mais recente, além de passear um pouco por toda a carreira da banda. A adição das clássicas “Sea of Lies”, “Evolution (The Great Design)” e a volta da obra-prima “The Odyssey”, para a alegria dos fãs antigos, com certeza é uma grata surpresa! Contudo, não pude deixar de notar que não há nenhuma canção do espetacular álbum Twilight In Olympus (1998). Por que a banda decidiu não incluir este álbum dentre os que celebram a sua carreira?
Mike LePond: O Twilight in Olympus não vendeu muito bem na América do Norte, mas sabemos que os sul-americanos adoraram. Vou conversar com a banda sobre incluir uma música deste álbum na turnê pela América Latina!
Universo do Rock: Mike, em nome de toda a equipe do site Universo do Rock, agradeço pela atenção e dedicação na entrevista. Nos vemos em breve!
Mike LePond: Obrigado pelas perguntas muito inteligentes. Foi uma honra e um prazer!
Saiba mais sobre a banda: Facebook, Instagram e Site Oficial.
Crédito foto da citação: Leandro Almeida/ Galeria Universo do Rock
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