Ghost lotou casa de shows com apresentação teatral de alto nível em São Paulo

A banda retorna ao país trazendo a “Re-Impera Tour” para a América Latina após sete longos anos de espera e não decepciona

Por Bárbara Carias


Com duas apresentações sold out no Espaço Unimed em São Paulo, nos dias 20 e 21 de setembro, a banda sueca de rock Ghost, liderada pelo frontman Tobias Forge, não decepcionou os fãs e trouxe consigo toda a estrutura original da turnê que já vem sendo muito elogiada lá fora há algum tempo. Apesar do calor extremo e um palco relativamente menor que fora disponibilizado no evento, a banda entregou um espetáculo visual de tirar o fôlego.

A abertura ficou por conta da banda brasileira de death metal formada exclusivamente por mulheres, a Crypta, que fez um show bem competente, apesar de uma iluminação de palco que não favorecia a apresentação. A vocalista e baixista Fernanda Lira vociferou com maestria versos das músicas e empolgou os presentes que aguardavam pelo headliner da noite.

Veja fotos e setlist do show da Crypta

Diferentemente de outras passagens pelo país, hoje muito mais conhecida e com uma legião de fãs fervorosos, o Ghost reuniu seus ‘ghesties‘ em filas quilométricas em frente à casa de shows, todos vestidos a caráter, muitas camisetas que variavam as eras da banda, vários rostos pintados assim como pessoas vestidas de Papa Emeritus IV e até freiras. No quesito dress code, os fãs sabem muito bem como se apresentar antes do famoso Ritual (como são chamados os shows do Ghost).

Como de costume, para causar ainda mais impacto e ansiedade nos presentes, às 20h45 era possível ouvir a intro “Klara stjärnor” e “Miserere mei, Deus” (versão musicada a cappella do Salmo 51 feita pelo compositor italiano Gregorio Allegri), o que claramente dá certo, já que o ambiente se inundou por diversos celulares apontados para o palco durante todo o tempo, afim de não deixar escapar nenhum momento. Após 15 minutos de espera, podemos ouvir a intro oficial “Imperium”, executada ainda com as cortinas suspensas, e pontualmente, às 21h01, o tecido branco que escondia o palco montado caiu no chão revelando os Nameless Ghouls e o Papa Emeritus IV a.k.a Cardinal Copia, que iniciou a noite com um de seus ternos cintilantes durante a introdução eletrizante de “Kaisarion”.

Logo na primeira música é nítido ver que Papa Emeritus IV é uma das versões mais caricatas e entusiasmadas, completamente diferente das outras quatro encarnações já criadas pelo frontman Tobias Forge desde sua primeira versão. Nela, podemos ver um personagem muito mais lúdico, que interage com os fãs, mando beijos, pede aplausos para sua banda e se diverte no palco tanto quanto os fãs na pista.


Em seguida, a banda deu sequência à “Rats”, música de trabalho do álbum Prequelle, lançado em 2018, que empolgou ainda mais o público acompanhando o vocalista durante o refrão. Dali em diante foram distribuídos hits que intercalavam entre o álbum Meliora de 2015 e o Impera, lançado em 2022, que acredita-se ser o “boom” da banda, já que é perceptível a boa aceitação e interação do público durante as performances.

Passado o lado festivo e iluminado do show, para o lado mais esperado por todo fã de Ghost, o momento em que Tobias deixa a forma interativa e absorve um Papa Emeritus IV mais obscuro, onde faz uso de sua longa toga religiosa preta cravejada de pedras brilhantes e sua mitra, pronto para iniciar um verdadeiro ritual para o seu público. Numa mudança de tempo incrível, a banda dá início à músicas chaves e irrefutáveis de seu repertório, como Call Me Little Sunshine”, “Con Clavi Con Dio”, esta com direito a uso polêmico do turíbulo para abençoar seus fiéis, “Watcher in the Sky” e “Year Zero”, que foi, com certeza, a maior comoção da noite, fazendo com que as 8 mil pessoas cantassem em uma só voz a introdução da música que fez história na carreira da banda.

Essa parte do show é uma das mais aguardadas pelo público, assim como também uma das mais criticadas pelos mais religiosos que acusam o grupo de blasfêmia por usar símbolos sacros e roupas que remetem a uma missa. Apesar dos comentários negativos durante toda a carreira, é inegável que essa performance elaborada e executada com excelência por Tobias Forge é um dos pontos altos dos shows do Ghost.

Quem os conhece a mais tempo sabe que teatralidade do Ghost é um dos pontos altos de todos os shows. Desde a visão proporcionada pela atual montagem do palco, que é feita de forma com que o público consiga visualizar todos os integrantes da banda, até a performance e as trocas de roupas feitas por Tobias Forge, que incorpora uma persona a cada mudança de era do show, onde tudo entra em perfeita sincronia com as canções apresentadas. Exemplo disso é o momento em o antigo Papa Nihil é “ressuscitado” com direito a um desfibrilador em cima do palco para tocar um solo de saxofone em “Miasma”.

Após a balada “Respite on the Spitalfields”, parecia mesmo que o show já estava se encaminhando para o seu fim quando a banda deu uma breve pausa cedendo o espaço para que o Papa Emeritus IV pudesse trocar mais algumas palavras com o seu público: “A banda já foi embora, vocês também podem ir embora agora”, brincou o Papa antes de entrar em negociação com os fãs para saber quantas músicas ainda deveriam tocar. “Ok, eu acho que temos mais uma música. Duas? Três? Quatro? Não! Se eu tocar 2 músicas vocês vão embora? Não, quatro não. Três. Ok…”.


Para a tristeza de muitos fãs, apesar de muito pedida, a música “Twenties” ficou realmente de fora do setlist e não foi apresentada ao vivo. Acredita-se que o motivo dessa espera para o debut do single dançante, que faz parte do álbum Impera, seja por conta da gravação do clipe que ocorreu durante a apresentação da banda no Estados Unidos, no dia 11/09. Tobias Forge apesar de ter cortado os ghesties durante a onda de vozes que ecoou o espaço pedindo a canção, nos prometeu que ela estará presente em sua próxima apresentação no país: “Não! Nós não vamos tocar ela hoje. Me desculpem por isso. Mas querem saber de uma coisa? Prometo que quando voltarmos ela estará presente, tudo bem? Melhor assim?”.

Depois das devidas explicações, a banda estava pronta para o encore que trazem as 3 canções mais dançantes do Ghost, são elas “Kiss the Go-Goat”, que contou com coreografia inusitada dos Nameless Ghouls e vários beijos lançados pelo frontman Tobias Forge ao final, exatamente como os fãs ouvem ao final da canção no álbum gravado em estúdio e, por fim, “Dance Macabre” e “Square Hammer”, outras duas músicas extremamente bem elaboradas para um final de festa animado com direito a chuva de papel picado e uma troca de energia incrível com os fãs que pularam e dançaram junto com a banda.

Dez anos se passaram desde a primeira apresentação da banda no Brasil, que ocorreu no Rock in Rio 2013, onde eles tiveram a missão de abrir o show dos gigantes do Metallica, noite essa em que Tobias Forge e sua trupe enfrentaram um momento extremamente desconfortável no palco quando foram vaiados por simplesmente não se encaixarem no line-up montado para aquele de festival e obviamente, por se mostrarem diferentes do visual do metal apresentado na época. Com o tempo, o frontman Tobias Forge mostrou que todas as críticas e falatórios do início da carreira só serviram para fortalecer a ideia e a estética que ele queria que a banda causasse em seu público. Prova disso é como o Ghost vem cada vez mais se consagrando como umas as bandas mais concorridas do meio atual. De lá para cá, é nítido ver o quanto eles cresceram e ocupam espaços importantes em grandes festivais internacionais.

Após dois shows sold out, uma coisa é certa, o Ghost merece todo o reconhecimento e consagração que vem recebendo nos últimos anos e com isso estão focados em entregar a melhor apresentação ao vivo para o seu público. Com certeza a banda não irá esperar mais sete anos para retornar ao país.



Veja galeria de fotos do show do Ghost em São Paulo:


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