Guns N’ Roses faz retorno triunfal e memorável ao Rock in Rio

Por: Danielle Barbosa
Foto: Diego Padilha/I Hate Flash

Como definir a apresentação do Guns N’ Roses no Rock in Rio 2017? “Memorável” caberia muito bem. Nem o fã mais otimista imaginaria presenciar o que aconteceu no Palco Mundo no último sábado, 23. O grupo da Califórnia, liderado por Axl Rose, Slash e Duff McKagan, retornou à Cidade do Rock este ano decidido a mudar a má impressão causada em 2011, quando os músicos demoraram mais de duas horas para subir ao palco e quase não o fizeram por alegarem que a forte chuva que caía – e molhava todo o público e o stage – afetariam as condições técnicas de som da apresentação. Na ocasião, somente Axl estava presente – acompanhado por Dizzy Reed, DJ Ashba e cia – e o pós-show gerou polêmica pra dar assunto por meses. Os organizadores do Rock in Rio dizendo que não queriam vê-los mais no festival, Axl retrucando de outro lado e os fãs com a sensação de que não tinham visto o show das suas vidas, pelo qual haviam pago. No dia 2 de outubro de 2011, quem brilhou foi o System of a Down e seu frontman, Serj Tankian, na primeira vez da banda de heavy metal no país – o que lhes carimbou passaporte para a edição comemorativa de 30 anos do RiR, em 2015.

Seis anos se passaram desde então e muita coisa mudou no Guns. A principal mudança, certamente, é a volta de Slash e Duff aos palcos. O protagonismo absoluto de Axl – que no período afastados era indiscutível – agora é dividido com os dois e quem sai ganhando é quem assiste aos shows. É impressionante a capacidade de preenchimento de espaços que os três artistas têm. Enquanto Axl está interagindo com a multidão do lado direito, Slash está do lado esquerdo, Duff no centro, ou vice-versa. Todas as combinações possíveis são testadas e postas em prática em cima do palco, mas o show não pára um instante sequer e toda a plateia é contemplada com a proximidade com um dos rock stars. O mais discreto é o guitarrista Richard Fortus, ex-Love Spit Love e Psycaledic Furs, e na formação do Guns desde 2002. Mesmo mais apagado, já que a estrela dos três membros de formação original da banda toma conta do cenário, Fortus arrisca umas poses mais ousadas, desabotoa a camisa e capricha no principal motivo que o faz estar ali: a habilidade musical.

Foto: Diego Padilha/I Hate Flash

Trajando uma calça destroyed e uma camisa xadrez amarrada na cintura durante todo o show, Axl adicionou algo de novo ao look em quase todas as pausas. Foram, sem brincadeira, uns cinco chapéus e jaquetas de cores e modelos diferentes – além da clássica bandana vermelha. Duff trocou o figurino uma vez, assim como Fortus. Quem animou o público e manteve o ponto de interesse focado para o show durante esses momentos foi Slash, que se mostrou incansável. Após 3h30 de apresentação, ele continuava impecável, com muitos holofotes – merecidos – sobre si e impressionando até o fã de Guns que já foi aos oito shows da banda no país – sendo quatro deles no Rock in Rio. Com seu clássico chapéu e sem se preocupar com mudar o visual, o músico de 52 anos foi um espetáculo à parte e segurou 50% da responsabilidade do sucesso do show. Um verdadeiro mestre das guitarras! O solo de “Sweet Child O’ Mine” não seria o mesmo se não houvesse a persona de Slash presente.

Na plateia, as camisas eram quase que em sua totalidade em referência ao Guns como um todo, mas algumas figuras estavam ali basicamente para venerar o guitarrista, o aplaudindo e berrando o seu nome. Muitos “Uau! Que fod*!” e reações parecidas aconteciam música após música. Mesmo depois de 32 anos – entre idas, vindas, brigas com Axl e hiatos para projetos paralelos, inclusive com o próprio Myles Kennedy, do Alter Bridge -, o Guns não é o Guns sem Slash. É quase um show solo de Axl Rose, que convida sua turma para tocar e fazer um gig.

Foto: Diego Padilha/I Hate Flash

As 100 mil (ou mais?) pessoas que pisaram na Cidade do Rock no sábado presenciaram a história sendo feita, ali, naquele momento. À apresentação do Guns N’ Roses, alguns recordes foram batidos: o de show mais longo de todas as edições do Rock in Rio – que antes estava na conta de Bruce Springsteen, em 2013, com 2h40 de performance – e a setlist mais extensa também, com trinta e duas canções. A listagem passeou por vários momentos da trajetória do Guns e contemplou grandes nomes da música, em covers bastante diversificados. Entre os destaques, teve “Live and Let Die”, do Wings, “Whole Lotta Rosie”, do AC/DC e “The Seeker”, do The Who. Sobre esse último, em uma das poucas situações que Axl se dirigiu verbalmente à plateia, disse que havia pedido para Roger Daltrey se poderia tocar a canção e perguntou se a multidão havia curtido o show dos britânicos. A resposta foi positiva, afinal o The Who tinha acabado de fazer um show de dar inveja em muita banda de artistas jovens há poucas horas. Por último, mas definitivamente não menos importante, um tributo à Chris Cornell, com “Black Hole Sun”. A homenagem se repetiu em São Paulo, durante o São Paulo Trip, na terça-feira, 26.

Canções como “Estranged”, “This I Love”, “November Rain”, “Knockin’ on Heaven’s Door”, “Sorry”, “Patience” e “Don’t Cry” opuseram-se à pegada hard rock e trouxeram um clima intimista, agradável e vulnerável à apresentação. Rostos de pessoas felizes, chorando copiosamente – ou sorrindo de orelha à orelha – e coros realmente altos – e de sobrepassar a voz de Axl. Os assobios clássicos no início de “Patience”, as jogadas para a plateia nos refrões de “KOHD”, o vocalista no piano em “November Rain” e as guitarras de Slash chorando em “Sorry” permaneceram intactos e executados com perfeição. Isso mostra a versatilidade e cartas na manga que a lendária banda de rock n’ roll tem para não fazer do show algo monótono e com a mesma sonoridade o tempo todo. Ajudou, certamente, a manter a multidão entretida e envolvida. Exceto por quem estava ali em função do The Who, os fãs do Guns foram firmes, fieis e – apesar do cansaço e dor nos pés, costas e o onde mais doesse – ficaram até o final, que foi por volta das 4h30.

O encerramento veio com explosões, muita pirotecnia e chuva de papeis picados. Era a vez de “Paradise City”, que geralmente é a que fecha os shows. O baterista Frank Ferrer foi acompanhado por palmas nas batidas iniciais, e logo após o restante da música foi ‘bate-cabeça’ dos fãs e hora de dar o último gás e festejar. Por onde se olhava, via-se famílias, amigos, casais, uma reunião de admiradores e seguidores do rock do Guns se confraternizando e cantando juntos os versos, até a voz literalmente se esgotar. Algo, como o início do texto já sugeriu, ME MO RÁ VEL!

Nota da redatora:

O pós-show foi um misto de emoções e uma sensação de que o Guns N’ Roses fez questão de ser headliner de uma das noites do Rock in Rio novamente para compensar o vexame e falta de respeito que aconteceu em 2011. Ao abrir a internet, porém, me deparei com inúmeras críticas, piadas e memes sobre Axl, frontman do Guns. “Mickey Mouse”, “Constragimento”, “Para de cantar” e mais venerações à Slash.

De fato, a voz de Axl deixou a desejar e não é de longe o que era outrora. Mas isso todos já sabiam, então me causou espanto a quantidade de ridicularizações e como o foco do show – para muitos – era esse: o quanto a voz de Axl havia arruinado tudo. De perto, não foi o que vi. Tecnicamente falando, o vocalista segurou bem nos graves – o que fez canções como “Patience” serem muito bem apresentadas – e falhou bastante em alguns agudos e, principalmente, nos tons médios. “This I Love” e “Black Hole Sun”, por exemplo, não ficaram o supra-sumo que poderiam ter sido.

Mas por que o centro das atenções deve ser a crítica e desvalorização da apresentação, quando o que aconteceu ali foi histórico? Vamos aos fatos: a voz de Axl estava melhor em novembro de 2016, na turnê “Not in This Lifetime”? Sim, absolutamente! Isso estragou o show? Obviamente não! É impossível dizer que o que estes três fizeram no palco foi ruim. Bastava sentir a energia compartilhada por quem estava no Parque Olímpico. Aquela sinergia, definitivamente, não caracteriza a de um show ruim. Continuemos com os fatos: uma setlist tão longa para passar das 3h pode ter comprometido ainda mais a voz de Axl? Sim e não.O desgaste, é claro, afeta a performance no seu durante. Mas a dificuldade de acertar nos médios foi uma constante desde o início do show, compensada pelo esforço vocal e precisão nos graves e alguns agudos bem executados. Mas uma figura, até então pouco falada e que teve espaço no show para assumir o microfone numa canção inteira, é Duff McKagan. A base que ele deu nos vocais de apoio segurou a onda legal nos momentos em que o fôlego ou voz de Axl não apareciam tão bem. Uma salva de palmas para o baixista!

Apesar de tudo isso, o saldo é positivo e quem comprou ingresso, que certamente são os alvos principais a serem satisfeitos pelo que acontece no palco, ficou satisfeito. Não vi um sair reclamando do que viu. Foi histórico! E história escrita com muito suor e dedicação de músicos que já vem na estrada faz mais de três décadas. Não dá pra reclamar disso não. Só agradecer por ainda fazermos parte da geração de bandas casca-grossa como eles.

Vida longa ao Guns N’ Roses!

Setlist:

1. Looney Tunes
2. The Equalizer (Harry Gregson-Williams song)
3. It’s So Easy
4. Mr. Brownstone
5. Chinese Democracy
6. Welcome to the Jungle
7. Double Talkin’ Jive
8. Better
9. Estranged
10. Live and Let Die (Wings cover)
11. Rocket Queen
12. You Could Be Mine
13. Attitude (Misfits cover)
14. This I Love
15. Civil War
16. Yesterdays
17. Coma
18. Slash Guitar Solo
19. Speak Softly Love (Nino Rota cover)
20. Sweet Child O’ Mine
21. Wichita Lineman (Jimmy Webb cover)
22. Used to Love Her
23. My Michelle
24. Wish You Were Here (Pink Floyd cover)
25. November Rain
26. Black Hole Sun (Soundgarden cover)
27. Knockin’ on Heaven’s Door
28. Nightrain

Bis:
29. Sorry
30. Patience
31. Whole Lotta Rosie (AC/DC cover).
32. Don’t Cry
33. The Seeker (The Who cover)
34. Paradise City


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