Por Gustavo Franchini
Uma celebração do mais puro rock em forma de espetáculo. Esta é a definição do que foi ter o prazer de assistir os californianos do Green Day, na noite de sexta-feira. A banda foi formada em 1987 por Billie Joe Armstrong na guitarra e vocal, Mike Dirnt no baixo e, posteriormente, Tré Cool, na bateria (substituindo John Kiffmeyer, conhecido como Al Sobrante, após o primeiro álbum), sendo esta a formação definitiva, que dura até os dias atuais.
Conhecidos mundialmente por terem reciclado o punk rock dos anos 80, ao trazer à tona o estilo de forma vibrante e comovente a partir da década de 90, o Green Day está no coração dos adolescentes, com letras que abordam temas jovens, cômicos, descontraídos e políticos. As melodias fortes e as linhas de vocal pegajosas de Billie Joe, em conjunto com muito feeling e emoção em cada interpretação, transformaram a banda em um dos maiores sucessos comerciais de todos os tempos.
A última passagem do Green Day pelo Rio de Janeiro foi em 1998, no antigo Metropolitan (hoje chamado Citibank Hall), e já foi uma surpresa agradável para os brasileiros. Confesso que estava muito ansioso para ouvir a banda em 2010, doze anos depois, com os integrantes mais experientes e pelo fato de terem se voltado mais para o pop rock, a partir do álbum Warning (2000) e, especialmente, os dois últimos álbuns, American Idiot (2004) e 21st Century Breakdown (2009). Queria saber como estavam soando e se eu conseguiria me sentir imerso nas melodias ao vivo, da mesma forma que me sentia ao ouvir os impecáveis Dookie (1994) e Nimrod (1997).
Minhas expectativas foram mais do que supridas. Foram superadas. O Green Day não apenas é uma banda excelente ao vivo, tanto na parte técnica quanto na de interação com o público e escolha de repertório. É uma banda que consegue fazer você assistir o show do início ao fim e não perder o pique por um minuto sequer. Um verdadeiro espetáculo visual, teatral e musical. Emociona qualquer amante do rock.
Sim, o show foi bem ensaiado, em todos os momentos, nas brincadeiras com o público, nos gritos intermináveis “êêê ôôô”, nas pausas das músicas, nos convites de fãs para subir no palco e, claro, nas declarações de amor ao Brasil. Mas e daí? O que importa é que cada um, repito, cada um dos fãs presentes no show estavam mais felizes do que nunca. E não tinham como não estar: Billie Joe é um dos artistas mais carismáticos que já pisaram nesse mundo. É um verdadeiro ator, que consegue fazer o espectador mais sério sorrir através de suas piadas e poses. Além disso, claro, é um vocalista inacreditável ao vivo, cantando todas as músicas, do início ao fim, com o mesmo fôlego, sem desafinar, sem diminuir o tom (pelo contrário, muitas vezes cantando acima), correndo de um lado para o outro, animando a plateia e tocando guitarra (e, diga-se de passagem, de forma esplendorosa)!
Billie Joe beijou uma fã na boca, dançou e tocou guitarra com uma criança de 12 anos, cantou junto com várias pessoas da plateia ao mesmo tempo e — só para deixar inveja nos milhares que ali estavam no show — na música “Longview” deixou um deles cantar e tocar a música na íntegra e ainda o presenteou com uma guitarra. Sim, isso mesmo! Jogou papéis picados, rolos de papel higiênico, atirou camisas em bolinhas de paintball e jatos de água na pista premium. E, pra não dizer que esqueci desse detalhe inusitado (rs), mostrou até as nádegas! Tudo isso nos intervalos de algumas músicas, sem tirar o ritmo das rodinhas que, a todo momento, incendiavam os adoradores do bom e velho punk rock.
Não apenas Billie Joe foi o astro da noite. Os demais integrantes da banda e as participações foram essenciais para tornar tudo aquilo grandioso. Ver Tré Cool vestido de mulher e cantando como uma, Mike Dirnt com seu chapéu hilário e as extraordinárias apresentações de Jason Freese no teclado/saxofone/acordeon foram de arrepiar! O guitarrista Jason White também mostra o motivo pelo qual acrescenta tanto ao peso das canções ao vivo. As músicas soavam de forma tão fenomenal e perfeita, que era difícil acreditar que aquilo tudo não era gravado em estúdio. Era tudo incrivelmente audível, sem nenhuma saturação ou exageros. O Green Day surpreende no quesito qualidade sonora ao vivo. É de deixar qualquer um boquiaberto. E os fogos de artifício, as labaredas, faíscas e explosões de fumaça? Que espetáculo!
Mas vamos ao que interessa: as músicas. E, para os que não acreditavam que fosse possível, o Green Day conseguiu abranger todas as fases da carreira e ainda presentou os fãs old school (como eu) com pérolas dos primeiros álbuns. Claro que a ênfase foi nos últimos dois álbuns da banda, mas não há do que reclamar: 32 músicas (contando o medley de covers) em um show com mais de três horas de duração. Sim, três horas!
Da fase atual, foram executadas logo de cara “Song Of The Century”, “21st Century Breakdown”, “Know Your Enemy”, “East Jesus Nowhere” e “21 Guns”, do álbum mais recente 21st Century Breakdown (2009). Ao longo da noite, o álbum American Idiot (2004) foi quase tocado na íntegra, representado pelas músicas “Holiday”, “Give me Novacaine”, “Letterbomb”, “Are We The Waiting”, “St. Jimmy”, “Boulevard Of Broken Dreams”, “American Idiot”, “Jesus of Suburbia”, “Wake Me Up When September Ends” e “Whatsername”.
Da fase antiga, a banda desfilou clássicos como “Nice Guys Finish Last”, “Hitchin’ A Ride”, “King For A Day” e no segundo bis, encerrando o show, a indispensável “Good Riddance (Time Of Your Life)”, todas do álbum Nimrod (1997). Claro que não poderiam faltar “Burnout”, a já citada “Longview”, “When I Come Around”, “She” e o hit “Basket Case”, todas do Dookie (1994). Para quem sentiu falta do Insomniac (1995), eles soltaram a “Geek Stink Breath”, “Brain Stew” e “Jaded”. Ainda tivemos espaço para a “Paper Lanterns”, do disco de estreia 1,039 Smoothed Out Slappy Hours (39/Smooth – 1990), a clássica “2000 Light Years Away”, do Kerplunk (1991) e “Minority” do Warning (2000).
No meio dessa caminhada pela carreira da banda, houve uma celebração das bandas que influenciaram o Green Day, com um medley excelente de covers, como a “Iron Man” do Black Sabbath, “Rock’N’Roll” do Led Zeppelin, “Sweet Child O’ Mine” do Guns N’ Roses (cantada de forma hilária por Billie Joe), “Highway To Hell” do AC/DC, “(I Can’t Get No) Satisfaction” do Rolling Stones e “Hey Jude” do Beatles, dentre outras. Tem como não sair emocionado de um espetáculo como esse?
O sentimento que paira sobre os milhares de fãs que tiveram a sorte de assistir um show da turnê do Green Day no Brasil é de que o preço do ingresso valeu cada centavo, não importa o setor. Uma verdadeira resposta aos que criticavam a banda por lançarem discos mais comerciais, pois o espírito do punk rock está lá, na atitude dos integrantes perante o público. Uma apresentação que dispensa comentários. Vamos agora torcer para que o Green Day volte a pisar em terras brasileiras na próxima turnê! I hope you had the time of your life!
SET LIST:
01 – Song Of The Century
02 – 21st Century Breakdown
03 – Know Your Enemy
04 – East Jesus Nowhere
05 – Holiday
06 – Nice Guys Finish Last
07 – Give Me Novacaine
08 – Letterbomb
09 – Are We The Waiting
10 – St. Jimmy
11 – Boulevard Od Broken Dreams
12 – Burnout
13 – Geek Stink Breath
14 – Hitchin’ A Ride
15 – Paper Lanterns
16 – 2000 Light Years Away
17 – When I Come Around
18 – Medley de Covers (Parte 1)
19 – Brain Stew
20 – Jaded
21 – Longview
22 – Basket Case
23 – She
24 – King For A Day
25 – Medley de Covers (Parte 2)
26 – 21 Guns
27 – Minority
Bis 1
28 – American Idiot
29 – Jesus Of Suburbia
Bis 2 (acústico)
30 – Whatsername
31 – Wake Me Up When September Ends
32 – Good Riddance (Time Of Your Life)
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* Veja as fotos da apresentação do Green Day no HSBC Arena, no Rio
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