Texto: Luis Antonio Gonçalves
Revisão e Edição: Gustavo Franchini
Foto: Iris Alves
O Linkin Park ganhou uma nova vida em 2024. A banda (que se tornou um dos grandes nomes de sua geração) estava inativa desde o falecimento de seu vocalista, Chester Bennington, em julho de 2017. O futuro do grupo era incerto – o que gerou várias especulações de uma possível volta –, assunto este que sempre era desconversado pelos integrantes.
Mesmo sem retomar suas atividades no palco, o Linkin Park se manteve ativo e relevante, lançando edições comemorativas de seus principais discos, o já clássico Hybrid Theory (2000) e o icônico Meteora (2003), além da coletânea Papercuts. Os lançamentos traziam músicas nunca antes lançadas pela banda, dando aos fãs a chance de ouvir novamente os vocais de Chester em canções inéditas, como em “Lost” e “Friendly Fire”. Até que, em agosto deste ano, o grupo iniciou uma contagem regressiva de 100 horas em seu site que, ao se encerrar, deu origem a uma nova contagem. Voltaram à tona os burburinhos de um retorno da banda com uma nova formação.
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O início de uma nova fase
Somente em setembro deste ano, através de um evento em Los Angeles transmitido pelo Youtube, que a banda anunciou sua nova formação com Emily Armstrong (Dead Sara) nos vocais e Colin Brittain na bateria. Junto ao anúncio da nova formação, veio também a notícia de que um novo álbum intitulado From Zero seria lançado e que a banda faria seus primeiros shows após sete anos de hiato.
Inicialmente, a América do Sul havia sido contemplada apenas com uma data na Colômbia, no dia 11 de novembro. Não demorou muito para a banda anunciar uma data no Brasil, marcada para o dia 15 de novembro, no Allianz Parque, em São Paulo. Com os ingressos esgotados em poucas horas, uma data extra foi anunciada para o dia 16 de novembro.
Além das duas datas no Brasil, o Linkin Park trouxe para o país uma loja pop up na famosa Galeria do Rock e a audição antecipada do novo álbum. O show realizado na última sexta-feira (15) teve transmissão ao vivo no Multishow e Globoplay (para o público brasileiro) e via Youtube (para os outros países). Todas essas ações criaram uma grande expectativa em relação à passagem da banda pelo país, principalmente para o show do dia 15, que tinha tudo para se tornar um evento histórico na trajetória da banda e na memória dos fãs brasileiros.
Foto: Iris Alves
A abertura com Ego Kill Talent
A abertura da noite ficou por conta da banda Ego Kill Talent, que assim como a atração principal, também passou por uma troca de vocalista, coincidentemente com nome similar; Emmily Barreto (Far From Alaska) assumiu os vocais em 2022, dando início a uma nova fase do grupo.
A banda abriu seu show com a canção “Reflecting Love”, agitando o público do Allianz Parque. Emmily é muito carismática e tem uma presença de palco muito forte, dançando e agitando na maioria das músicas. Sua potência vocal também é um dos destaques, mesclando momentos mais intensos com outros mais melódicos. Com faixas como “Call Us By Her Name”, “Need No One To Dance”, “When It Comes” e “Last Ride”, o Ego Kill Talent mostrou uma performance muito competente e segura, obtendo uma boa resposta do público e conquistando algumas interações em momentos específicos da apresentação. Emmily destacou a felicidade do grupo em abrir para o Linkin Park e disse que logo estaria curtindo o show na pista com todos ali presentes.
O poderoso primeiro ato do Linkin Park
Quando a introdução com elementos de “Castle of Glass” começou a tocar e os telões e luzes do palco ganharam vida, o Linkin Park subiu ao palco para fazer o primeiro de dois shows em um Allianz Parque sold out. Nos primeiros momentos de “Somewhere I Belong”, canção do álbum Meteora que abriu a apresentação, o público do estádio já estava completamente entregue, cantando com um sentimento e devoção emocionante. Os fãs cantavam tão alto que no início do show era até difícil ouvir os vocais de Emily Armstrong, que aparentava estar um pouco contida nas primeiras músicas.
O show do Linkin Park era dividido em atos, com uma sequência de músicas que conversavam e faziam sentido entre si, trazendo uma dinâmica diferenciada para a performance. No primeiro ato, a banda enfileirou uma sequência matadora, dando sequência com “Crawling”, canção que explodia no refrão com o coro dos fãs. “Lying From You” botou o estádio todo para agitar, mas foi com o recente single “Two Faced”, do álbum From Zero (que estava sendo lançado no mesmo dia do show e estava sendo executado ao vivo pela primeira vez), que o moshpit pegou fogo e a banda mostrou como sua nova fase é poderosa e cheia de vida. A dinâmica de Emily e Mike Shinoda é muito forte nesta canção e o público brasileiro mostrou que fez o dever de casa ao cantar com força a estreante.
Logo depois, “New Divide” (que fez parte da trilha sonora do filme Transformers: Revenge of the Fallen) destacou os vocais de Emily, que vem se provando a escolha perfeita para o novo momento da banda. Apesar de cantar em outro tom, já que o alcance vocal de Chester Bennington era algo completamente fora da curva, a vocalista conseguiu se adaptar e encontrar sua própria personalidade nas canções antigas. “The Emptiness Machine”, primeiro single do novo trabalho, já nasceu clássica, sendo cantada do início ao fim pelos fãs, deixando a banda extremamente alegre e feliz com aquele momento. A faixa ganhou ainda mais corpo ao vivo, mostrando a potência vocal de Emily, que mostrou segurança nos momentos mais agressivos da canção.
A calmaria antes da tempestade
Já no segundo ato, as músicas da fase mais eletrônica e pop do Linkin Park deram as caras. “The Catalyst” fez uma parte do público da pista premium abrir um círculo e se preparar para um moshpit que não encontrou seu momento, visto que a música não tem um momento de explosão e peso. Seu final rendeu um dos momentos mais belos da noite, quando o público acendeu luzes rosas e iluminou o estádio de uma maneira diferente ao cantar junto com a banda.
“Burn It Down” novamente colocou a performance vocal de Emily em evidência. Os telões e a produção de palco também são um show à parte, complementando a experiência das músicas com jogos de luzes impressionantes em momentos estratégicos da apresentação. “Waiting for the End” e “Castle of Glass” trouxeram um momento de calmaria para o show, um respiro em meio a tantas músicas intensas, mas mantendo viva a dose carregada de emoção que essas faixas despertam nos fãs.
O grande Mr. Hahn mostrou suas habilidades como DJ para o público, dando a deixa para Mike Shinoda ter seu momento solo no show. O vocalista performou “When They Come For Me”, que fez o público cantar o instrumental da canção, o que deixou Mike extremamente sorridente e emocionado. O carismático vocalista disse que sempre sonhou em ter uma música que pudesse ser cantarolada em um estádio de futebol. O músico também cantou “Remember the Name”, faixa de seu projeto solo Fort Minor.
O momento de calmaria chega ao fim com a dobradinha de tirar o fôlego: “Casualty” e “One Step Closer”. A primeira delas é uma das faixas mais pesadas e agressivas do novo disco. Por outro lado, a segunda é um clássico do Linkin Park que fez os fãs delirarem ao expurgar seus demônios na parte ‘Shut up when I’m talking to you’.
A delicadeza do terceiro ato
No terceiro ato do show, a banda desacelerou um pouco e trouxe um momento mais intimista para a performance. Com um teclado posicionado na passarela do palco, Emily e Shinoda apresentaram uma versão mais curta de “Lost” no piano. O resultado ficou emocionante e mostrou a beleza da voz de Emily em canções com uma estética mais delicada. E aí veio “Breaking the Habit”, que é uma das queridinhas entre os fãs. “What I’ve Done” fechou com mais potência o curto e delicado terceiro ato, que trouxe alguns dos momentos mais tocantes da noite.
Foto: Iris Alves
Entre baladas e hits
Não faltou emoção no show do Linkin Park. Ao performar “Leave Out All The Rest”, uma das faixas mais belas da discografia da banda, todo o Allianz Parque se pegou emocionado cantando. Era possível ver alguns casais curtindo a balada com mais intensidade e amor. “My December” ganhou uma maravilhosa versão acústica e foi um verdadeiro presente para os fãs old school. Trazendo mais uma vez o disco novo para o repertório, o single “Over Each Other”, que contou com Emily nos vocais e guitarra, foi um dos momentos de destaque do ato. É realmente impressionante ver como a vocalista está confortável com as músicas de From Zero e como sua voz cresce em faixas como essa, reforçando que a nova fase do Linkin Park está em boas mãos. A resposta do público para as músicas novas também é outro destaque do show. É evidente que os fãs abraçaram com alegria e entusiasmo a nova fase da banda, cantando todos os singles do início ao fim.
Chegou então a hora de fazer o público cantar e pular como se não houvesse amanhã: A trinca “Numb” (que teve a introdução de “Numb/Encore”), “In the End” e “Faint” promoveu uma verdadeira catarse no estádio. Em “In the End”, um verdadeiro hino do Linkin Park e do nu metal, o público cantou tão alto que era até difícil escutar a banda. Inclusive, o próprio Mike Shinoda destacou isso, que só conseguia ouvir o público no seu retorno. “Faint” tirou todo mundo do chão, mostrando que mesmo o show caminhando para o final, os fãs ainda tinham muita energia para queimar. Em faixas como essa é possível perceber que Emily às vezes exagera em ‘jogar para a galera’, deixando o público dar conta de alguns momentos que exigem um pouco mais da performance vocal. Talvez a vocalista ainda esteja se adaptando e tentando encontrar a melhor forma de cantar algumas músicas antigas do conjunto, já que adaptar as performances de Chester está longe de ser uma tarefa fácil para qualquer vocalista.
O encerramento perfeito para uma noite histórica
Para o encore, a banda reservou uma sequência perfeita. Começando com “Papercut”, umas das melhores faixas do clássico Hybrid Theory, a resposta foi como se o show tivesse acabado de começar. “Lost in the Echo” foi uma agradável surpresa no setlist. Durante a canção, uma bandeira do Brasil foi jogada para Emily, que pendurou a bandeira em seu pedestal. Já a outra bandeira que foi jogada em direção à passarela, repousou nos ombros de Mike Shinoda. O single “Heavy is the Crown” (do novo álbum) fez Emily mostrar toda a sua agressividade e potência vocal, contagiando o público e entregando uma das melhores performances da noite.
Para encerrar com chave de ouro, todo o Allianz Parque começou a bater palmas em sincronia para acompanhar a execução de “Bleed It Out”, onde Mike Shinoda acrescentou um pedacinho da canção “A Place For My Head” no meio da música, deixando os fãs mais antigos salivando por uma versão completa. A energia era surreal e o público continuou cantando até o último momento. Fogos de artifício deram a triste notícia de que o show havia chegado ao fim com a banda completamente emocionada e os fãs gritando “O Linkin Park voltou”, encerrando de maneira emocionante uma noite tão especial.
O Linkin Park fez um show histórico celebrando sua nova fase com os fãs e mostrou que está mais vivo do que nunca. A resposta do público para as músicas do novo álbum e da performance da atual vocalista não poderiam ser mais positivas. Ficou evidente como a banda ainda está em evidência e tem importância na cena; seu retorno foi um dos grandes acontecimentos do ano. Entregaram com facilidade um dos melhores shows de 2024 e celebraram com alegria deste momento com os brasileiros, respeitando seu legado com um olhar promissor para o futuro.
Nossos agradecimentos a todos os responsáveis por tornarem o evento possível e, em especial, para a Live Nation pela parceria, confiança e credibilidade dada mais uma vez à equipe do Universo do Rock.
Confira a galeria de fotos do show (Linkin Park/ SP):
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