Por: Danielle Barbosa
Banda britânica de rock alternativo mostrou potência em primeiro show na cidade desde o Rock in Rio 2013.
Intensidade e maestria na condução do show já são esperados de uma apresentação do Muse. O trio, formado por Matthew Bellamy (guitarra, piano e vocal), Christopher Wolstenholme (baixo/backing vocals) e Dominic Howard (bateria) – com a participação especial de Morgan Nicholls nos teclados -, se apresentou na HSBC Arena na última quinta-feira (12), sob um coro empolgado e apaixonado de “Ole ole ole, Muse, Muse!” dos fãs.
Apesar da euforia do público ter sido evidente e tão energética quanto à performance dos rapazes em cima do palco, é bem verdade que a casa ficou longe da sua capacidade total. Isso fez com que a organização do evento fechasse um dos setores mais distantes e com pior visibilidade do palco (nível 3) e distribuísse essas pessoas entre a pista comum e o nível 1. Até aí, era o esperado para evitar que os “buracos” fossem visíveis quando a banda encarasse a plateia. O questionamento que fica é: o que causa uma situação dessas? Alguns podem apontar os preços dos ingressos, talvez a localização difícil em um dia útil chuvoso, a oferta de vários shows em um curto espaço de tempo ou o dimensionamento incorreto do apelo da banda no país. Muitos fatores podem ter contribuído para as vendas terem sido abaixo do esperado.
No entanto, ainda que com esse inconveniente para a produção, o Muse é daquele tipo de banda que sempre faz valer o ingresso por ter músicos excepcionais na linha de frente e capazes de transformar o que poderia ser um fracasso em um frenesi de vozes vindas de um público completamente devoto ao grupo. Não é à toa que a fama do grupo é a melhor possível no showbusiness: uma coleção de estádios lotados e shows em grandes festivais para milhares de pessoas, inúmeros prêmios durante a carreira – incluindo um Grammy -, dezenas de milhões de discos vendidos, um público fiel e sete álbuns de estúdio bem-sucedidos. A experiência dos 21 anos de estrada foram fundamentais para que a banda fizesse a rápida hora e meia passar e deixar um gosto de “quero mais”.
O trio subiu ao palco com certo atraso – por volta das 22h30 – com uma das faixas mais potentes do álbum “Drones”, a aguardada “Psycho”, emendada com as igualmente vigorosas “Reapers”, “Plug in Baby” e “The Handler” e “Dead Inside”. A escolha das faixas de abertura foi muito apropriada, pois desde as primeiras notas e solos que ecoaram da guitarra de Bellamy, o público vibrou, pulou e cantou cada trecho junto com o vocalista. Além disso, o som que a banda faz no palco impressiona! Quem acompanhava bem de perto do palco e estava próximo às caixas de som, sabe do que estamos falando. A reação, ainda que os fãs estejam acostumados com a potência e intensidade dos instrumentos do Muse, é sempre a mesma: jovens se olhando meio incrédulos e com a expressão de: “Uau, que som é esse?!”
A perfeição técnica e capacidade de agitar uma plateia também chamam a atenção. Matt Bellamy, frontman do Muse, não precisa trocar muitas palavras para causar histeria. Um simples “Boa noite, Rio!”, “Yeah, Rio!” e alguns “obrigados” durante a apresentação já foram o suficiente. Não se trata de antipatia e sim de objetividade. O músico sempre optou por, ao invés de dialogar e fazer longas pausas para interagir com o público, dar ritmo ao show e isso não desmerece nem um pouquinho sequer a entrega e presença de palco do artista, seja em uma apresentação frente à milhares ou um evento mais íntimo e com menos “convidados”, como foi o que houve no Rio de Janeiro. Outros dois fatores que contam pontos na apresentação do Muse são a fidelidade instrumental e vocal das canções, uma vez que parece estarmos escutando o CD gravado em estúdio; além do belo cenário – sem extravagâncias – montado, com um jogo de luzes psicodélicas perfeito para quem queria guardar uma bela fotografia de lembrança.
A setlist, por sua vez, cumpriu bem seu papel de divulgar o que o “Drones” tem de principal (5 faixas no total), sem esquecer de alguns dos hits consagrados (“Hysteria”, “Madness”, “Time Is Running Out”, “Supermassive Black Hole” e “Uprising”) e canções mais antigas e que já não eram executadas em outras turnês há algum tempo. Um exemplo disso foi a introdução – para a surpresa e delírio de muitos – de “Muscle Museum” na listagem, música do primeiro álbum de estúdio da banda (Showbiz), lançado em 1999. A canção fazer parte da setlist era uma promessa que Matt havia feito aos fãs via twitter após a passagem da banda pelo Lollapalooza em 2014.
A comoção geral, como de costume, veio em “Starlight”. Um mar de palmas regidas por Matt e um impressionante coro de vozes à capella durante o refrão do single trouxe às lágrimas muitos dos fãs grudados à grade – que apareceram no telão da arena visivelmente emocionados. Sabendo disso, Matt jogou o microfone para a plateia e deixou que a galera cantasse longos trechos por conta própria. Na sequência, o grande sucesso “Uprising” – acompanhado de gritos de “Hey” e socos no ar incentivados pela banda – encerrou a primeira parte do show, com balões gigantes surgindo sobre o público e divertindo a todos.
Nos poucos minutos de pausa, mais gritos de “Ole, ole ole ole, Muse, Muse!” vinham da pista e da arquibancada, sendo interrompidos pela volta da banda ao palco para o bis com “Mercy”. Na ocasião, mais uma surpresa para os fãs: uma chuva de papeis picados e serpentina fez a festa dos fãs – não só pelo belo efeito visual -, mas muitos levaram as fitinhas coloridas pra casa e tiraram uma selfie ali mesmo, no próprio cenário do show. Para fechar a noite demonstrando toda a versatilidade e competência do Muse, não podia faltar a extremamente harmônica “Knights of Cydonia”, quase um hino dos “musers”, como se intitulam os fãs. O charme da gaita tocada por Chris na introdução acoplado ao som e vocais robustos de Matt deram o tom de despedida, com a certeza de que a noite tinha sido especial e jamais fosse esquecida por todas aquelas pessoas que acompanham a trajetória de sucesso dos britânicos. Em especial (é claro), os sortudos que conseguiram ainda levar como recordação uma das baquetas entregues bem de pertinho por Dom ou alguma palheta.
Nota da redatora: No fim, o desastre em termos de número não foi tão decisivo nem atrapalhou o conjunto da obra. Com o passar da apresentação, a medida tomada pela produção de aproximar os fãs e a vitalidade daqueles que compareceram ao espetáculo, tudo terminou bem e, apesar de curto, o show foi digno de uma banda do porte do Muse. Que voltem em breve!
SETLIST:
Drill Sergeant
Psycho
Reapers
Plug In Baby
The Handler
The 2nd Law: Unsustainable
Dead Inside
Interlude
Hysteria
Muscle Museum
Apocalypse Please
Munich Jam
Madness
Supermassive Black Hole
Time Is Running Out
Starlight
Uprising
Bis
Mercy
Knights of Cydonia (‘Harmonica’ intro)
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