Por: Andre Nascimento
É sempre muito complicado escrever sobre o novo trabalho de sua banda preferida, pois é difícil separar a predisposição de gostar da isenção para avaliar. De qualquer forma, é inegável que, em seu décimo álbum, o Opeth mostra a alguns o que parecia impossível: mesmo após quase 2 décadas evoluindo com um conteúdo independente, e mesmo após ter assinado com a Roadrunner, a banda continua a se recusar a ser previsível e a seguir fórmulas. Nesse trabalho, a banda levou a outro nível a abordagem feita em“Damnation” (2003), e compôs um ótimo disco de progressivo.
Já na abertura, a faixa título nos coloca no clima vintage que permeia toda a obra, com um belo instrumental solo de piano. Em seguida, “The Devil´s Orchard”, que, apesar de ser a que mais lembra a carreira pregressa da banda, comprova que estamos diante de um capítulo diferente no desenvolvimento de Akerfeldt e cia. enquanto artistas; com uma estrutura totalmente diferente e imprevisível, usa timbres setentistas em meio a um arranjo totalmente inrotulável.
O que se percebe com as tantas mudanças de formação ocorridas nos últimos anos, é que oOpeth torna-se, cada vez mais, um projeto solo de seu líder, o que deixa a pergunta no ar: esse movimento é causa ou consequência das mudanças? O que parece certo é que Akerfeldt não parece disposto a acomodar-se e repetir o que já deu certo. A surpresa positiva é que, mesmo com essa decisão, o público da banda não para de crescer.
“I Feel the Dark” anuncia que o clima setentista realmente prevalecerá no álbum, com timbres e vocais limpos. Mas a surpresa não fica apenas nisso: há momentos de blues, jazz, rock, e até uso de percussão. Interessante o fato de que a melancolia e a intensidade não foram perdidas, ainda que a evidente perda de peso vá inevitavelmente frustrar alguns fãs. No entanto, se você é fã de Opeth, espera justamente o inesperado.
“Heritage” é o álbum em que Akerfeldt aumenta ,e muito, não apenas o escopo de criação da banda, mas também sua amplitude vocal, com novas possibilidades e harmonias. O título indica ser mesmo uma homenagem aos artistas que o influenciaram. A destacar a interessante participação do batera/percussionista Alex Acuña, ex-membro da banda de jazz Weather Report, outra prova de que os horizontes realmente se alargaram.
“Slither” surpreende pela simplicidade, quase um rock´n´roll à antiga, direto e com refrão marcante. Já “Nepenthe” faz a transição para a segunda metade do álbum; seu tema principal dedilhado mostra a capacidade que Akerfeldt tem de criar melodias diferentes, e com um clima etéreo, totalmente diferente do que normalmente faz. “Haxprocess” poderia estar em“Damnation”, com um trabalho de cordas admiravelmente rico e sensível.
“Famine” reforça o clima viajante, traz a participação de Acuña e os vocais mais ousadamente variados da carreira de Akerfeldt; na segunda parte, um riff marcante e um clímax muito bem preparado. É perceptível a tentativa do compositor de concentrar a complexidade dos arranjos na parte estrutural, e menos da parte da execução propriamente dita. “The Lines in My Hand”reforça a abordagem setentista, com destaque para o trabalho da “cozinha”.
Aliás, se há algo previsível neste álbum, é o apuro técnico dos músicos; Mendez, como sempre, faz ótimo trabalho no baixo, e Axenrot, a princípio um baterista mais mecânico, apesar de tecnicamente perfeito, está cada vez mais solto, e mostra que pode acrescentar também na criatividade dos arranjos.
“Folklore” é uma das melhores do álbum, também com um clima próximo de “Damnation”, mas com uma duração maior. “Marrow of the Earth”, outra instrumental, fecha muito bem o trabalho, que consegue a proeza de ser, a um só tempo, diverso e coeso. É um disco que causa algum estranhamento nas primeiras audições, mas que é difícil não admirar quando se começa a compreendê-lo.
Track List:
01. Heritage
02. The Devil”s Orchard
03. I Feel The Dark
04. Slither
05. Nepenthe
06. Haxprocess
07. Famine
08. The Lines In My Hand
09. Folklore
10. Marrow Of The Earth
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