Pearl Jam esbanja simpatia e leva milhares de fãs ao delírio no Maracanã

Por: Danielle Barbosa

Americanos de Seattle tocaram por cerca de três horas, com mais de 30 músicas na setlist.

Foto: Marcelo Gigante
Foto: Marcelo Gigante

Falar em Pearl Jam é sempre sinônimo de algo grandioso. As músicas, a performance em cima do palco, até o português enrolado – porém esforçado – de Eddie Vedder é uma atração à parte. Mas o PJ não se destaca somente pelo que faz musicalmente. Se a euforia pós-show dos mais de 50 mil presentes no Maracanã só reafirmaram o orgulho destes em serem fãs dos rapazes de Seattle, as atitudes pró-ambientais e de solidariedade para com os brasileiros não deixaram por menos. A título informativo, os membros da banda doaram o cachê do show de Belo Horizonte para amenizar os impactos causados pela tragédia em Mariana/MG. Os caras são do bem e engajados de verdade!*

Voltando a falar de música, esta foi a terceira passagem da banda pelo Rio de Janeiro (as anteriores haviam sido em 2005 e 2011, na Praça da Apoteose) e a empatia entre ambas as partes é evidente. Os cariocas, que ficaram de fora da rota dos americanos em 2013 – quando a banda participou do Lollapalooza em São Paulo – desta vez tiveram a responsabilidade de encerrar a Lightning Bolt Tour na América Latina. Com chave de ouro! Uma frase de Eddie Vedder resume a noite: “As pessoas do mundo inteiro usam o show do Pearl Jam como desculpa pra vir ao Brasil. E eles são muito espertos. Os brasileiros são os melhores fãs do mundo!”

O Pearl Jam, formado pelo carismático Eddie Vedder (vocais e guitarra), Stone Gossard (guitarra), Jeff Ament (baixo), Mike McCready (guitarra) e Matt Cameron (bateria), subiu ao palco do estádio mais popular do Brasil pouco depois das 21h, com cerca de uma hora após o horário previsto. No início, a impaciência e ansiedade do público tomaram forma de vaias por conta do atraso, o que foi esquecido assim que as primeiras notas de “Oceans” – tocada pela primeira vez na atual turnê – ecoaram e o clima de êxtase foi instaurado. Foram quase exatas três horas (!!!) de uma apresentação sem longas interrupções ou trocas de adereços e figurino. O que veio na sequência levantou os fãs de vez, com destaque para a energética “Do the Evolution”, cantada com coros de “It’s evolution, baby!”. Vedder, então, decidiu fazer o primeiro contato da noite com os cariocas: “Bem-vindos ao nosso último show no Brasil! É uma honra conhecer o Maracanã. Obrigado por dividirem esta noite com a gente”, disse o líder do Pearl Jam, com um sotaque bem marcado – mas o suficiente para provocar histeria na galera. “Meu português está um pouquinho melhor, mas continua uma m****”, brincou o animado vocalista.

Foto: Marcelo Gigante
Foto: Marcelo Gigante

O visual da turnê, apesar de não ser nada parecido às grandes produções cenográficas, não faz feio. Ao fundo, um telão interativo – e que mostrou algumas imagens do Rio de Janeiro e do Maracanã horas antes do espetáculo capturadas pelo staff da banda -, surpreendendo alguns que conseguiram se localizar no vídeo. Entretanto, o que impressiona mesmo é a vitalidade com que estes artistas, já considerados “cinqüentões” (e que mais parecem meninos no palco) se apresenta e consegue atrair a atenção de grandes multidões. Nem a noite abafada carioca tirou a empolgação dos músicos, que optaram por roupas despojadas e um deles (Mike McCready) chegou a tirar a camisa já no fim do show. Eddie Vedder, claro, usou seu look clássico: uma bermuda e camisa flanelada. A setlist, por sua vez, foi bem escolhida pelos músicos e um pouco diferente de shows em outras capitais, percorrendo os principais sucessos da carreira da banda e com espaço para covers de outros artistas igualmente consagrados. Dentre os covers, “Rockin’ in the Free World” (Neil Young), “Comfortably Numb” (Pink Floyd) “I Want You So Hard” (Eagles of Death Metal), “Last Kiss” (Wayne Cochra) e o hino mundial “Imagine”, eternizada na voz de John Lennon e cantada por tantos outros músicos.

“Even Flow” (do álbum Ten) foi uma das mais populares e celebradas da noite, colocando fogo na apresentação. Algumas rodinhas se formaram perto do palco, embora a maior parte do público tenha concentrado energias para cantar a pleno pulmões e pular (pular realmente muito!) do início ao fim da canção. Ainda antes da primeira pausa, o grupo reservou espaço para “Who You Are”, “Setting Forth”, “Not For You”, “Sirens”, “Given to Fly”, “I Want You So Hard (Boy’s Bad News)”, “Comatose”, “Lukin” e “Rearviewmirror”. O curioso e mais bacana desse primeiro trecho do show foi a banda ter lembrado o ocorrido em Paris e ter usado um cover da banda Eagles of Death Metal – que estava no Bataclan na noite do dia 13/11 – para levantar uma bandeira em homenagem aos parisienses, além de um adesivo da torre Eiffel estampando o bumbo da bateria de Matt Cameron.

No retorno ao palco, mais uma das multifacetas de Eddie Vedder e do Pearl Jam. Um banquinho, um violão e uma sessão mais intimista do cantor com a plateia, com direito a menção à Lua em “Yellow Moon”. “Essa é para vocês e para Lua”, disse o cantor, rodeado por um cenário repleto de adereços iluminados e que deixaram o palco realmente muito bonito. Em “Just Breathe”, Vedder homenageou um casal de fãs que completavam 22 anos de casamento e fez questão de mostrar como o “casamento” da banda também havia dado certo: 25 anos juntos! Mas foi o cover de “Imagine”, sem dúvidas, o momento mais emocionante da noite. A canção foi uma referência à memória de Pierre-Antoine Henry – fã francês morto em um dos ataques terroristas à Paris – e que era conhecido da banda por sempre estar presente nas apresentações do PJ. “Ele estava sempre na primeira fileira dos nossos shows na França. Isso partiu nosso coração. Por favor, acendam seus celulares e nos ajudem a cantar essa música pra um cara que é parte da nossa família”, pediu Vedder. E o Maracanã virou um céu estrelado cheio de bons sentimentos e vibrações.

Foto: Marcelo Gigante
Foto: Marcelo Gigante

Para encerrar o segundo trecho da noite, uma das “queridinhas” do público. Mas nessa noite um sortudo na audiência foi o escolhido para um duo com Eddie Vedder. O rapaz, colado na grade com um cartaz em mãos chamou a atenção do líder do Pearl Jam. “Hoje é meu aniversário. Por favor, deixe-me cantar uma música com você”, dizia o cartaz. “Mas eu já te vi outras noites com esse cartaz. Quantos anos você tem?”, fez piada Vedder, poucas músicas antes de convidá-lo para o palco. O fã, identificado como o “homem do aniversário”, abraçou o cantor, bebeu vinho com ele e cantou os versos iniciais de “Porch” (e mandou super bem!). O mundo ideal de todo fã, certo?!

No último bis da noite, mais hits. “Black” (regida sob um coro de palmas), “Better Man” e “Alive” (com a bandeira do Brasil nas costas) deram o tom da despedida. Ainda teve Eddie Vedder subindo na grade para os fãs tirarem uma casquinha, palhetas jogadas avulso e duas pandeiretas que estavam nas mãos de Vedder como recordação da brilhante noite.

Quem viu, viu. Não parecia a reunião de uma banda veterana, cheia de histórias de estrada no currículo para mais um dia “normal” de trabalho. Nada no Pearl Jam parece forçado, a energia que cada integrante da banda põe assim que pisa no palco transforma a atmosfera de qualquer lugar no mais propício ambiente para uma festa da música.

O resultado? O público certo (e de todas as idades), no lugar certo, com a banda certa. Excepcional!
Volte sempre, Pearl Jam! Mais uma, duas, dez vezes!

* Obs:
Além disso, o grupo prometeu incentivar projetos de revitalização de florestas ambientais no Brasil e Peru, para diminuir os efeitos que uma turnê global deles possam ter trazido ao meio ambiente.

Setlist
1. Oceans
2. Present Tense
3. Corduroy
4. Hail Hail
5. Mind Your Manners
6. Do the Evolution
7. Amongst the Waves
8. Save You
9. Even Flow
10. Who You Are
11. Setting Forth (Eddie Vedder)
12. Not for You
13. Sirens
14. Given to Fly
15. I Want You So Hard (Boy’s Bad News) (cover de Eagles of Death Metal)
16. Comatose
17. Lukin
18. Rearviewmirror
BIS 1:
19. Yellow Moon (acústica)
20. Elderly Woman Behind the Counter in a Small Town (acústica)
21. Just Breathe (acústica)
22. Imagine (cover de John Lennon)
23. Jeremy
24. Why Go
25. The Fixer
26. Porch
BIS 2:
27. Last Kiss (cover de Wayne Cochra)
28. Comfortably Numb (cover de Pink Floyd)
29. Spin the Black Circle
30 . Black
31. Better Man
32. Alive
33. Rockin’ in the Free World (cover de Neil Young)
34. Yellow Ledbetter

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