Petra e Bride: dois monumentos do rock cristão celebram a luz em apresentação enérgica no Rio

Texto, revisão e edição: Gustavo Franchini

Definitivamente esta é uma das resenhas que tenho o maior prazer em escrever, pois quando se trata de duas bandas tão respeitadas e que transmitem mensagens tão belas como os estadunidenses do Petra e Bride, ambas monumentos do rock cristão, de fato deixa de ser trabalho e se transforma em uma verdadeira missão. Após o início de uma turnê histórica pelo Brasil em Curitiba (22), chegou a hora dos cariocas serem presenteados anteontem (28) com uma reunião memorável, que se estenderá ainda por Brasília e Recife (mais informações sobre o evento aqui).

Confira vídeos dos shows na seção ‘Destaques’ do Instagram

Bride

A abertura ficou por conta do quarteto Bride, que é liderado pelos irmãos Dale e Troy Thompson, respectivamente vocalista e guitarrista, se juntando aos brasileiros Nenel Lucena no baixo e Alexandre Aposan (ex-Oficina G3) nas baquetas para uma formação sólida que demonstrou estar com o vigor em dia. Difícil acreditar que faziam 17 anos que não subiam aos palcos, pois o que ficou claro no show foi justamente o entrosamento, o peso e a qualidade de cada um dos músicos. A qualidade do som era tamanha que a casa escolhida pareceu pequena para uma banda tão gigante em sonoridade; um hard rock com riffs grudentos, cadenciado e com muita potência.

A ótima “Rattlesnake” iniciou a apresentação que seria marcada por uma música emendada na outra, sem intervalos, sem discurso, apenas pura música e entretenimento. “Would You Die For Me” e “Hired Gun” fez com que o público inteiro permanecesse em pé (algo que praticamente rolou durante todo o setlist), logo em seguida com a força de “Under the Influence”, antes da dupla “I Miss The Rain” e “Knockin’ On Heaven’s Door” (Bob Dylan na versão do Guns N’ Roses), baladas que combinam entre si e que trazem aquela leve semelhança no jeito de cantar notas agudas de Dale e Axl Rose. Aliás, o que foi Dale cantando aos 60 anos de idade? Que maravilha de performance, claramente se esforçando o tempo todo para entregar o melhor para os fãs e de fato não decepcionou; na realidade surpreendeu e muito!

Pelo tempo mais reduzido de apresentação, muitos álbuns não marcaram presença, então o foco ficou por conta de Snakes in the Playground (1992), Silence is Madness (1989) e The Jesus Experience (1997), enquanto outros como Kinetic Faith (1991) e Live to Die (1988) contaram com apenas uma música de cada. Os álbuns a partir dos anos 2000 foram ignorados, ou seja, o objetivo era entregar nostalgia para uma plateia que raramente tem a oportunidade de vê-los por aqui. Após “Everybody Knows My Name”, o momento de uma interação relativamente engraçada veio com “Hell No”, na qual Dale pediu para que a plateia repetisse o refrão junto a ele (“We won’t go to hell, no we won’t go”), o que soou estranho pela pronúncia que não parecia tão simples assim para quem tem português como língua nativa, mas que não afetou em nada a alegria contagiante de todos que cantavam a plenos pulmões.

A canção “The Worm”, que tem uma pegada mais alternativa/industrial bem anos 90 e uma linha de baixo marcada que dita o ritmo como um todo, é a oportunidade de descanso para a voz de Dale, já que se mantém em um tom mais grave. As excelentes “Fallout” e “End” abriram caminho para a mais esperada (e difícil) de todas: o hit máximo “Psychedelic Super Jesus”. Antes da música começar, Dale avisa que não sabe se conseguirá cantar como a gravação original, contudo novamente mostrou que ‘quem sabe, faz ao vivo’, e simplesmente destrói (no bom sentido) durante o trecho mais complicado (conforme podem conferir acima ou no Reels do Instagram). Muitos cantores de 20 anos de idade não conseguiriam cantar com tamanha técnica, feeling e clareza nas notas. Incrível!

Para a felicidade de todos, a banda avisou que voltará ao Brasil no ano que vem para tocar um repertório completo, visto que tiveram de deixar de lado muitas composições que gostariam de ter apresentado, o que fez com que uma gritaria saudável de reciprocidade pela notícia fosse gerada pelos presentes. Bom, agora resta aguardar pela próxima passagem dos gigantes por aqui; nós estaremos prontos! Vida longa ao Bride!

Petra

Com uma vasta discografia ao longo de 50 anos de carreira, é uma tarefa hercúlea para o Petra contemplar grande parte das canções de sucesso em um setlist de aproximadamente 1h30. Parece que o milagre foi realizado, já que mais de 10 álbuns foram representados em um conjunto muito bem selecionado para a ocasião, ou seja, a turnê de despedida de uma das maiores bandas do gênero. Todos ali presentes sabiam da importância daquela noite e realmente a expectativa era enorme. E não foram apenas atendidas, mas facilmente superadas! Do início ao fim, o show foi uma celebração da boa música, do respeito por quem estava ali em uma segunda-feira (apesar de ter sido feriado) e do carinho da banda pelos fãs.

Sem aviso prévio, o quinteto subiu ao palco com “Destiny” e “Dance”, da fase Unseen Power (1991), o que deixou clara a prioridade em álbuns que o vocalista John Schlitt gravou na sua entrada a partir de meados dos anos 80. “Just Reach Out” aqueceu o público para o primeiro medley, que reuniu algumas dos primeiros álbuns da era anos 70, muito bem recebida por sinal, em uma coloração de melodias e harmonias, característica forte de um show do Petra. A partir dali, um solo climático do tecladista John Lawry abriu espaço para “Creed”, um dos grandes sucessos do emblemático Beyond Belief (1990). Já a potente “Angel of Light” (do Never Say Die, de 1981) veio em conjunto com “Judas’s Kiss” de More Power to Ya (1982).

As luzes ficaram mais introspectivas, o competente baixista Greg Bailey assumiu o violoncelo elétrico (segundo Lawry, ele é multi-talentoso em diversos instrumentos), o guitarrista Bob Hartman (fundador e único integrante remanescente da formação original) pegou seu violão e o baterista Cristian Borneo se preparou para uma percussão mais suave, pois tinha chegado a parte mais acústica do show, em um medley que foi disparado o destaque da noite. Genuína miríade de emoções, músicas sensacionais como “Rose Colored Stained Glass Windows”, “No Doubt” e “The Coloring Song” simplesmente envolveram a plateia na vibe celestial de cada acorde, frase e solo executados com maestria. O que se podia ver ao redor eram pessoas felizes, dançando, levantando as mãos, se abraçando. Como não enxergar a beleza deste momento?


Era bonito de se ver também a variedade de faixa etária presente ali, desde crianças, adolescentes, até adultos e idosos, provando que música de verdade não tem idade e, além disso, que o show do Petra é garantia de tranquilidade. Voltando com a parte elétrica, a excelente “Jekyll & Hyde” veio na sequência, seguida da maravilhosa “Beyond Belief”, um solo de Hartman e, claro, o popzão de “Lord, I Lift Your Name on High” (cover de The Maranatha! Singers) com seu refrão cativante. Antes do bis, “Somebody’s Gonna Praise His Name” foi incorporada com coros de Aleluia e a magia se manteve no público que cantava em uníssono.

Vale ressaltar que não teve um minuto sequer que o espetáculo perdeu o ritmo, se mantendo com uma constância louvável. Aliás, quando o assunto é louvor, o Petra sabe muito bem como se portar no palco. Antes da última música (“He Came, He Saw, He Conquered”, que geralmente encerra os shows da banda), Hartman vai ao microfone e transmite uma breve mensagem religiosa de muita profundidade, algo que vai além das suas letras cristãs, que toca até os que não tem a mesma crença. Afinal, a frase ‘ter Deus em tudo o que você faz’ pode ser também interpretada como um simbolismo para realizar boas ações, de fazer o bem sem ver a quem, de tratar o próximo como gostaria de ser tratado, de solidariedade, de paz, de amor. De luz. Não à toa a positividade impressionante e a musicalidade da banda (que transcende a compreensão) geram um bem estar, que todos podem sentir, independente de religião. Só podemos agradecer pela existência do Petra, rezar pelo retorno deles ao nosso país e, caso realmente tenham se despedido dos palcos de vez, se aposentarão com a certeza de que cumpriram o objetivo principal e deixaram um legado para toda a eternidade!

Nossos agradecimentos a todos os responsáveis por tornarem o evento possível e, em especial, para a Lex Metalis Assessoria, En Hakkore Records e Sacrament Production pela parceria, confiança e credibilidade dada à equipe do Universo do Rock.


Veja a galeria de fotos do show (Bride/ RJ):

Setlist Bride:

1 – Rattlesnake
2 – Would You Die for Me
3 – Hired Gun
4 – Under the Influence
5 – I Miss The Rain / Knockin’ on Heaven’s Door
6 – Everybody Knows My Name
7 – Hell No
8 – The Worm
9 – Fallout
10 – End
11 – Psychedelic Super Jesus


Veja a galeria de fotos do show (Petra/ RJ):

Setlist Petra:

1 – Destiny
2 – Dance
3 – Bema Seat
4 – Just Reach Out
5 – Sight Unseen / It Is Finished / Think Twice / I Am on the Rock / Midnight Oil / Mine Field / This Means War! / It Is Finished
6 – Creed
7 – Judas’ Kiss
8 – Angel of Light
9 – Rose Colored Stained Glass Windows / Road to Zion / More Power to Ya / No Doubt / The Coloring Song / Love
10 – Jekyll & Hyde
11 – Beyond Belief
12 – Lord, I Lift Your Name on High
13 – Somebody’s Gonna Praise His Name
14 – He Came, He Saw, He Conquered


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