Red Hot Chili Peppers empolga público carioca com hits e músicas recentes

Por Pedro Viana


Ainda na euforia e enxurrada de shows do pós-pandemia, o Red Hot Chili Peppers retorna ao Rio de Janeiro em tom mais do que especial. O guitarrista John Frusciante está de volta e o sucesso entre os fãs (incluindo os mais saudosistas) de Unlimited Love e Return Of The Dream Canteen deram à apresentação, agora em show exclusivo e fora de festivais, uma aura mais intimista e uma expectativa sem precedentes aos fãs mais assíduos do grupo desde seus áureos tempos de Californication e By The Way.

A abertura ficou por conta dos também californianos do Irontom. O quarteto entregou um som intrigante, surpreendente e carismático, acalmando a ansiedade do público e levando os que se permitiram curtir a uma viagem quase lisérgica e intensa, com pitadas de indie rock e até mesmo uma veia progressiva em suas guitarras. O destaque acabou ficando para a versão de Gorillaz, “Feel Good Inc.”, cantada em uníssono por todos.

Terminada a abertura, cerca de 40 minutos depois, o Red Hot iniciava seu espetáculo com uma intro ultra orquestrada e imponente. Ao soar do gongo (literalmente) do batera Chad Smith, todos foram à loucura quando os 3 instrumentistas com a simplicidade do “menos é mais” entregaram uma baita jam com um brilho único a cada um deles, sem disputa, sem duelos. Já na ponta dos pés aguardando a entrada de Anthony, os fãs foram em crescente empolgação junto à banda dando início a “Can’t Stop” e toda ansiedade foi drenada em vozes potentes. Banda e público eram um só e a energia se tornava cada vez mais forte no estádio. 


“The Zephyr Song” e “Snow (Hey Oh)” descem o ritmo e a empolgação iniciais para a famosa vibe contemplativa e leve da banda. “Here Ever After” é a primeira dentre as novidades tocadas e é recebida pelo público com bastante empolgação. De cara, o Red Hot mostra o variado setlist que preparou para esta tour. “Otherside” dá início à era Californication e a plateia é tomada pela magia da fase mais icônica da banda. Um hit tão marcante como esse iniciava um momento diferente do show e em meio a sorrisos, pessoas aos prantos e gritos, a banda emenda em uma vibe mais old school com “Suck My Kiss”, também extremamente contagiante. Neste momento, o público dança junto de Flea enquanto canta o refrão com vontade.

“Eddie” e “Soul To Squeeze” colocam o público novamente em uma vibe mais contemplativa e desta vez com um certo tempero e, ainda que a banda estivesse em perfeita sintonia, fica a impressão de que este foi o momento mais morno da noite. O baixista Flea, sempre muito comunicativo e carismático, parece conectar público e banda em momentos onde parece que falta aquela energia compartilhada nas músicas mais agitadas da banda; sempre merece destaque por sua presença, essencial para manter o ritmo do show lá no alto.

A banda segue com a intro de “London Calling” do The Clash e logo emenda com a rápida e empolgante “Right On Time”. Pegada, groove, presença e as linhas de baixo marcantes de Flea trazem a banda para um tom agitado e com isto levantam a plateia novamente. Esta foi matadora! Não só por ser uma faixa mais b-side de Californication, mas também por ressaltar o que a banda tem de melhor no seu âmago, somado ao fato de que resgata a agitação perdida nas músicas anteriores. “Tippa My Tongue” retorna a calmaria, mas com uma vibe diferente, que parecia caminhar para um momento em que o fã mais assíduo e também casual deve estar se perguntando: onde estão os clássicos?


“Havana Affair” (cover dos Ramones) é cantada a plenos pulmões pelos presentes e embala para um dos momentos mais aguardados da apresentação e talvez o hit mais icônico da banda; “Californication”. Entre seus momentos mais amenos e seu refrão extremamente marcante, todos estavam completamente nas mãos dos californianos. Seu refrão, cantado em alto e bom som nos quatro cantos do Engenhão com um público em êxtase e, de alguma forma, uma sensação de nostalgia preenche o ambiente.

Na sequência, “The Heavy Wing”, que acalma os ânimos novamente. A sensação que fica é de um show que passa por altos e baixos e isso não é necessariamente ruim, mas momentos de euforia seguidos por calmaria, mostram um público por vezes um pouco perdido e sentindo falta de mais hits. Em “Black Summer”, primeiro grande sucesso de Unlimited Love, a euforia e empolgação retornam e o conforto de que mesmo próximos do fim do repertório, agora finalmente os fãs terão os hits que tanto desejam.

“By The Way” abre a sequência tão esperada levando o estádio abaixo, com todos pulando juntos. Batera e baixo pulsantes, guitarra alucinante e um Anthony mais solto e empolgado. Aliás, vale ressaltar que mesmo com uma faixa em seu joelho e uma bota ortopédica, o frontman em momento algum deixou sua presença cair de nível. Foi esta sequência que de fato brilhou, sendo seu auge no show. 


A banda sai do palco e o telão vira o destaque, mostrando bandeiras de vários países, fãs com bandeiras da banda caracterizadas, um fã com uma camisa e bandeira dos Lakers, além de um fã com um simples papel dizendo que começou a tocar guitarra por causa de John. O referido, ao final do set, diz para o fã “I got you” e manda o roadie devolver o papel autografado a ele, momento muito emocionante.

E quanto ao bis? A banda retorna ao palco e John começa “Under The Bridge”. O público que tanto esperava por mais clássicos pareceu ali finalmente satisfeito, com destaque para os backings de John. O público cantou tão alto a ponto de quase deixar a banda inaudível. “Give It Away” fecha em tom de festa, muito groove, empolgação e obviamente o público dançando junto de Flea, que esbanja carisma.

Ao término do show, vamos falar de expectativas? Quando falamos de Red Hot, sabemos que são altas, como também difíceis de agradar a todos. O vasto repertório da banda, diferentes fases e o próprio retorno de John, podem fazer com que o fã mais saudosista queira somente ouvir a nata, o auge e o óbvio em meio a tanta qualidade que entregam. Mas a real é que o Red Hot entregou um pouco de tudo, momentos altos, momentos mais amenos, b-sides, hits e tudo em alta performance, carisma e bom tom. Um belo show pra agradar aos marinheiros de primeira viagem e aos fãs mais antigos. A pergunta que não quer calar é: cadê Dani Califórnia? Acho que se perdeu e não chegou ao Rio.



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