Texto: Cacau Ribeiro
Revisão e Edição: Gustavo Franchini
Se a primeira semana do Rock in Rio 2024 impactou o público com variedade musical e dias lotados de alegria contagiante, a segunda foi tão boa quanto em sua proposta peculiar. Após um intervalo, o festival retomou com um line-up de dar inveja aos amantes da boa música. Especificamente na quinta-feira (19), rolou uma surpresa ao adicionar um dos maiores atores da geração anos 90, que chegou a cantar em português e nos brindou com muita nostalgia.
O quarto dia na Cidade do Rock deu espaço para gêneros de ritmo cadenciado, como o pop, rap, R&B e até mesmo soul. A nossa equipe fez a cobertura dos artistas Pedro Sampaio, Jão, Joss Stone, Will Smith, Charlie Puth, Gloria Groove e Ed Sheeran.
Confira vídeos dos shows na seção ‘Destaques’ do Instagram
Palco Sunset
Pedro Sampaio
O Dj Pedro Sampaio foi a primeira atração do palco secundário, apresentando um show inteiramente dançante. Deu para notar que, além do TikTok, a galera se joga nas coreografias; arrisco dizer que não tinha uma pessoa na plateia que não soubesse ao menos uma dancinha de algum dos seus sucessos. Um verdadeiro baile funk!
Com suas produções que mesclam batidas de funks antigos, atuais e até mesmo músicas internacionais, Pedro apresentou alguns de seus sucessos como “Galopa”, “Dançarina” e “Atenção”, hits do seu álbum de estreia intitulado Chama Meu Nome. Além das músicas que já estavam na boca do povo, o cantor também apresentou algumas faixas do seu novo álbum, Astro, lançado no começo de setembro. É só uma questão de tempo para que as novas faixas tomem conta das festas e das trends nas redes sociais.
Fotos / Setlist (Pedro Sampaio)
Will Smith
Um momento inesquecível e com certeza uma atração inusitada (anunciado poucas semanas antes do início do festival), o ator e rapper Will Smith, querido dos brasileiros pelo seu personagem em The Fresh Prince of Bel-Air, aqui traduzido como Um Maluco no Pedaço, além de inúmeros filmes de sucesso, fez uma rápida apresentação, não de standup comedy, nem palestra, mas sim cantando músicas com seu inquestionável carisma (e playback), o que deu uma impressão de ser realmente um encaixe de horário entre os outros artistas.
Mesmo com poucos minutos em cima do palco, o ator/rapper cantou alguns de seus raps, passou uma mensagem sobre autoajuda e interpretou músicas como “You Can Make It” e “Work Of Art” com o grupo Cariocanto. Arriscou até mesmo cantar em português, demonstrando carinho pelos fãs e chegou a descer para a plateia, o que de fato foi algo prazeroso para os presentes.
Fotos / Setlist (Will Smith)
O cantor e rapper Will Smith alegrou o público com seu inquestionável carisma
Gloria Groove
Com um reportório gigantesco que transita entre o pop, funk e pagode, a drag queen Gloria Groove trouxe um show repleto de hits e um balé impecável para o festival. O que, ao mesmo tempo, foi um pouco problemático, já que, com tantas músicas para apresentar, o show foi dividido em três blocos e deu uma impressão de ser ‘corrido’. Do começo para o meio, quase não ocorreram momentos de interação da cantora com o público e pra completar o som do palco deixou a desejar para quem estava mais ao fundo, pois estava com o volume geral baixo. Mas isso foi longe de ser um problema, porque quando a bonekinha falou com o público era para anunciar festa: “Se o Rock in Rio está fazendo 40 anos, vou fazer o que toda drag faz, festa”, declarou.
Com músicas autorais e alguns covers, nossa Lady Leste cantou sucessos como “Leilão”, “Pisando Fofo” e “Bonekinha” no primeiro bloco. Já no segundo, foi a vez do “Serenata da GG”, aquele pagodinho que faz todo mundo colocar uma mão no peito e a outra para cima, enquanto solta a voz com a pessoa amada. Esse foi o momento de admirar a cantora soltando o gogó em um momento mais intimista e romântico.
O terceiro ato entra em cena e Gloria aparece vestida como uma passista de carnaval em “Aquarela do Brasil” (Ary Barroso). Assim se seguiu com “Bruxaria 3000 / Um morto muito louco”, ou seja, a festa foi garantida. “Gloria Groove e Rock in Rio te convocam pra arrastar!”. E foi com esse trocadilho de seu sucesso com participação do cantor Léo Santana, que Gloria agitou a galera em “Arrasta”. O ponto alto da noite ficou por conta do hit “Vermelho” e “A Queda”, nos quais a cantora pôde soltar todo o seu lado teatral, em uma apresentação com uma pegada circense que marcou o final do seu espetáculo.
Fotos / Setlist (Gloria Groove)
Palco Mundo
Jão
Um dos melhores shows dessa edição de 40 anos aconteceu no Palco Mundo, protagonizado por um dos maiores nomes do pop nacional da atualidade: Jão. Após a famosa abertura da Esquadrilha Céu fazer sua apresentação aquecendo o público com suas acrobacias, alguns movimentos no palco chamaram a atenção do mar de gente que esperava pelo menino do interior. Com uma enorme estrutura cor-de-rosa em formato de estrela e uma escadaria, era possível ainda enxergar uma plateia em cima do palco. Com seus bailarinos e músicos, Jão transformou seu show em um programa de auditório. A estética dos anos 70/80 tomou conta; figurinos e elementos da época compuseram a apresentação, tornando tudo ainda mais especial.
O popstar deu início ao seu show levando todos à loucura durante “Alinhamento Milenar”, música do seu álbum mais recente, SUPER (2023). O setlist, que misturou seus mais novos sucessos com os antigos, fizeram com que o cantor chegasse ao festival com uma enorme gratidão aos fãs presentes: “Muita gente acha que esse palco me foi dado de mão beijada. Não foi bem assim.”. Longe de ser uma figura que só conquista adolescentes e jovens adultos, grande parte do público contava com pais acompanhando seus filhos, que estavam eufóricos a cada música. Durante “Locadora”, o cantor fez imagens do palco que foram reproduzidas no telão. Então, apontou a câmera para o seu namorado e sócio/diretor criativo que estava assistindo tudo na área reservada.
Conhecido por suas mega produções, honrando os mais de 25 ensaios realizados e toda a estrutura montada no evento, a apresentação da música “Escorpião” foi uma das mais enérgicas e vibrantes cantadas em uníssono pelo público. Juntamente com a sua banda, o cantor foi para a passarela, pulou e distribuiu beijos e acenos para a multidão. Ao final de algumas faixas, era possível ouvir uma espécie de diretor de cinema gritando “corta” e “ação”, remetendo a um espaço de TV. Maquiadores entraram no palco para ‘retocar’ a maquiagem dele, enquanto uma pessoa caminhava pela passarela com uma placa de “Aplausos”, criando uma imersão divertida que aproximava ainda mais a plateia do artista.
Perto de finalizar sua incrível passagem pelo evento, o cantor brincou ao dizer: “Minha carreira só aconteceu porque, um dia, eu escrevi essa canção. E eu prometi a mim mesmo que eu ia cantar ela para sempre, mesmo que ela seja muito irritante”, referindo-se a “Imaturo”, faixa do álbum Lobos (2018), que teve grande influência na sua trajetória.
Fotos / Setlist (Jão)
Esbanjando talento e delicadeza, a diva Joss Stone foi um dos grandes destaques
Joss Stone
Conquistando a todos com a sua doçura e vozeirão, a premiada cantora Joss Stone subiu ao palco cantando “Star (trecho) / You Had Me (trecho)”, trajando um vestido comum longo, descalça e um enorme sorriso. Já na segunda música caiu nas graças do público e, ao som de “Super Duper Love”, a festa foi garantida, mesmo após um atraso para o início da apresentação.
Ao cantar “Stoned Out of My Mind”, a britânica declarou que não cantava essa música havia um tempo, já que a pessoa para quem ela escreveu a canção, um ex-namorado, não mereceria essa atenção. A confissão rendeu ótimas risadas do público, especialmente após o medley de “Forget Me Nots / Everybody Dance / Fight the Power / Dance it Off / Got to Be Real”, que fez todo mundo dançar. Em seguida, ela voltou a fazer o público rir ao apresentar a próxima música, “Mr. Wankerman” (“wanker” é “babaca” na tradução livre). Foi quando ela perguntou para o público como chamamos um “wankerman” na nossa língua e alguém gritou “vacilão”. A partir daí, a música inteira foi cantada na versão “Mr. Vacilão Man”, mais uma vez provando que Stone sabe como cativar, sem precisar fazer muito esforço.
Chega a ser encantador como a presença de palco e o talento de Joss criam uma conexão tão leve e pura. Alguns fãs no local chegaram a comparar a diva a um anjo, por todo o carisma esbanjado e, claro, pela atmosfera de tranquilidade e leveza que tomou conta do momento. Após apresentar mais um medley, transitando da sua música” Put Your Hands On Me” e emendando nos covers de “Son of a Preacher Man (trecho)” e “Piece of My Heart (trecho)”, a cantora deixou o palco para o bis, retornando com um novo figurino brilhante de tirar o fôlego. Então, marcou o final de um show lindo com “(For God’s Sake) Give More Power To The People”, do The Chi-Lites, e um dos seus maiores sucessos, “Right To Be Wrong”. A diva do soul agradeceu fortemente o carinho dizendo o quanto amava seu público e jogando girassóis para seus fãs.
Fotos / Setlist (Joss Stone)
Charlie Puth
O norte-americano Charlie Puth retorna ao festival em grande estilo, considerando que sua primeira participação foi em 2019 no Sunset, e agora teve a oportunidade de mostrar todo o seu talento para um público maior no Mundo. Ao som de “How Long”, ele agitou a plateia, e essa animação se seguiu ao longo de hits como “Attention” e “Charlie Be Quiet!”. Não dá para negar a qualidade musical que Charlie possui, não só cantando, mas também atuando em produção e composição. Contudo, seu show demonstra ter uma clima morno, não empolgando tanto quanto outros artistas que se apresentaram no mesmo dia, o que dava pra notar em alguns momentos com músicas menos conhecidas do público, o que foi amplificado pelo uso de playback e gravações de apoio. Independente disso tudo, há um ótimo trabalho no piano solo, sempre brincando com as suas próprias melodias.
“Left and Right” voltou a animar a galera, e Charlie soube como aproveitar esse momento para deixar o público mais eufórico ainda quando anunciou “Marvin Gaye”, um dos seus primeiros e maiores sucessos, faixa que ele não cantava há nove anos. Outro ponto alto do show foi o trecho de “Garota de Ipanema”, além da canção “We Don’t Talk Anymore” e “Stay” (música interpretada por Justin Bieber; composição de Charlie).
Recém-casado, o cantor brincou nas faixas mais românticas, colocando a mão esquerda próxima do rosto, todo apaixonado, mostrando sua aliança com orgulho, já que estava no festival praticamente em época de lua de mel. Transformando o momento em uma pegada mais sentimental (já aquecendo o público para o headliner da noite), Charlie encerrou sua apresentação com muita emoção envolvida. E aí lanternas foram acesas nos celulares em um enorme mar de gente iluminada para “See You Again”, canção de Wiz Khalifa, na qual ele faz participação especial e com certeza um dos destaques. Essa música, que marcou uma geração de fãs do filme “Velozes e Furiosos”, foi encerrada com a merecida sensibilidade.
Fotos / Setlist (Charlie Puth)
Em show introspectivo e clima romântico, Charlie Puth provocou emoções mistas
Ed Sheeran
Com seu sotaque britânico, o cantor Ed Sheeran fez seu tão aguardado show para uma multidão composta por pessoas de todas as idades, usando uma camiseta escrito “Rio”. Canção após canção, ele falou de maneira breve entre uma música e outra; sua pressa parecia indicar que ele queria falar menos e cantar mais. Sua energia no palco é algo mágico, ele se diverte batucando no violão e interagindo com os seus fãs.
Chega a ser difícil afirmar que o ruivinho só apresentou hits, mas é exatamente o que ele possui. Com literalmente um sucesso atrás do outro, “Castle on The Hill” e “Shivers” foram tocadas, seguidas por “The A Team”. O cantor comentou sobre não ter nenhuma esperança de que essa música algum dia fizesse sucesso e relembrou os momentos em que a tocava em pubs. Dono das muitas trilhas sonoras românticas e marcando presença na história de amor de milhares de pessoas, Ed fez os apaixonados de plantão se emocionarem ao cantar “Thinking Out Loud e “Photograph”. Com efeitos mega coloridos no telão e arriscando um “obrigada” a cada término de sua apresentação, o artista aproveitou para agradecer a presença de todos ao dizer: “Obrigado por ficarem até tão tarde em uma quinta-feira, agradeço aos motoristas de trem e de ônibus, às babás, a todo mundo que nos permitiu estar aqui.”.
Seja brincando com suas músicas nos instrumentos ou até mesmo com o apoio do público que participava de tudo, Ed Sheeran foi do romantismo ao rap, dos hits mais dançantes aos de ritmo mais tranquilos com tamanha facilidade. Cantando “You Need Me, I Don’t Need You”, “Shape of You” e “Bad Habits”, ele encerrou seu show (de aproximadamente 1h50 de duração) com a promessa de retornar ao Brasil em breve na sua nova turnê.
Nossos agradecimentos a todos os responsáveis por tornarem o evento possível e, em especial, para a Approach Comunicação pela parceria, confiança e credibilidade dada mais uma vez à equipe do Universo do Rock. Nos vemos em 2026!
Confira as fotos gerais do quarto dia (19/09) no Rock in Rio 2024:
Seja o primeiro a comentar