Texto: Cacau Ribeiro
Revisão e Edição: Gustavo Franchini
Contando com um line-up repleto de nostalgia vindo da era do pop dos anos 2000 e trazendo alguns nomes de peso, o último dia do Rock in Rio 2024 foi o primeiro a ter os ingressos esgotados na venda antecipada. A tarefa de se locomover de um palco para o outro pela multidão que tomava a Cidade do Rock se mostrou hercúlea, mas isso foi longe de ter sido um problema; a imensidão é tanta, que havia show por toda a parte, além das variadas atrações que já são marca registrada do evento. A nossa equipe fez a cobertura das artistas Luísa Sonza, Ney Matogrosso, Ne-Yo, Homenagem a Alcione & Orquestra Sinfônica Brasileira, Akon, Mariah Carey e Shawn Mendes.
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Palco Sunset
Ney Matogrosso
Nada mais certeiro do que abrir o Palco Sunset com o artista que foi um dos primeiros a participarem do Rock in Rio, na edição de estreia em 1985. Desta vez também com figurino literalmente brilhante, Ney Matogrosso nos deixa confusos, pois chega a ser difícil de entender como o cantor de 83 anos ainda consegue cantar em seu tom agudo característico e tanta clareza na interpretação das letras, em especial clássicos da MPB como “Eu quero é botar meu bloco na rua” (que é inspiração pro nome do show em si, “Bloco na rua”) e “Pro dia nascer feliz”.
Aliás, o repertório foi recheado de covers de outros artistas de renome nacional, tendo apenas a presença de duas músicas autorais, “Poema” e “Sangue Latino”, esta de sua época no Secos & Molhados. Mesmo considerando a plateia um pouco dispersa no meio de sua apresentação, ele se manteve firme na performance bem enérgica e constante, cantando tudo sem auxílio tecnológico, o que é uma aula para músicos jovens da era atual que se utilizam de recursos como playback e autotune para soarem perfeitos ao vivo.
Fotos / Setlist (Ney Matogrosso)
Homenagem a Alcione & Orquestra Sinfônica Brasileira
Se tem uma verdadeira diva que merece ser homenageada por todo o seu talento e legado na história da música brasileira, sem sombra de dúvidas é Alcione, uma joia rara que temos a sorte de ainda estar entre nós pra mostrar o que é tradição de verdade. É difícil destacar alguma canção no meio de tantas preciosidades, mas as participações especiais tiveram seu caráter de respeito e demonstração de como o samba raiz deve ser apresentado. O tempero delicioso neste molho de emoções foi a impecável execução de arranjos eruditos por parte da Orquestra Sinfônica Brasileira, que adicionaram um sabor clássico que remete à sonoridade de tempos de outrora.
Já tendo se apresentado no dia anterior, o polêmico Dia Brasil (que ficou conhecido pelos críticos como “festa da firma”), desta vez o setlist focou em músicas que abraçam o povo, como “Não deixe o samba morrer”, “Estranha loucura” e “Você me vira a cabeça (Me tira do sério)”. Ter Diogo Nogueira, Majur, Maria Rita, Mart’Nália e Péricles ao seu lado com certeza deram um novo ar às composições que por si só já são glamourosas. E claro, o vozeirão de sempre da gigante Alcione estava ali a todo momento.
Fotos / Setlist (Homenagem a Alcione & Orquestra Sinfônica Brasileira)
A cantora Luísa Sonza fez um show calcada na coreografia de danças no chão
Mariah Carey
Subiu ao Palco Sunset a cantora mais influente da música pop, porém com um som que não alcançava a todos. Mariah Carey surgiu com um vestido longo na cor verde brilhante e a bandeira do Brasil estampada na frente. Dona de uma voz incrível e um alcance de oitavas de dar inveja, a beldade chegou chegando cantando “Obsessed”. Fãs eufóricos gritavam pela cantora que fazia mínimos esforços corporais, mas compensava no vocal.
Sendo uma das atrações mais aguardadas do festival e também injustiçada por se apresentar no palco secundário, Mariah performou seus maiores sucessos com muita tranquilidade, incluindo uma troca de roupa para um vestido rosa de borboleta com um casacão felpudo da mesma cor. Nossa rainha natalina apresentou “It’s Like That”, “Shake It Off” e “We Belong Together”, sendo esta terceira o ponto alto da noite. Para encerrar um show que dispensa efeitos de luzes, fogos, e cenários — porque ela, por si só, basta — Mariah Carey finalizou sua apresentação com uma emocionante performance de “I Want to Know What Love Is”.
Fotos / Setlist (Mariah Carey)
Palco Mundo
Luísa Sonza
Conforme segue o roteiro de artistas nacionais abrindo os shows no Palco Mundo, no dia 22 foi o dia da Luísa Sonza levar suas coreografias e seu pop/funk para o festival. Um show que empilha hits, chegou a ser um pouco problemático, já que muitas faixas foram cortadas, talvez devido ao tempo de apresentação ser menor do que a quantidade de canções escolhidas para serem performadas. Com um cenário que seguia a estética do seu álbum, Escândalo Intimo, a cantora parecia querer inovar, mas não obteve muito sucesso.
Momentos como “A Dona Aranha”, “Toma” e “Modo Turbo” foram responsáveis por levantar a galera. Com um balé impecável, Luísa recriou suas coreografias, famosas por serem feitas a maioria no chão, dificultando a visão do público, já que o palco é um pouco alto. Nas canções mais lentas, ela ganha destaque com sua voz acompanhada do público e por um violão, o simples que funciona. Isso aconteceu na faixa “Melhor Sozinha”, canção que possui gravação da saudosa Marília Mendonça. Luísa enalteceu a rainha da sofrência, dizendo: “Essa é uma das músicas mais importantes da minha carreira porque me permitiu ter uma música com uma das melhores cantoras que já pisaram nesse mundo”.
Com a dobradinha de “Penhasco.” e “Penhasco2” , a cantora engatou na canção “Chico”, lembrando o público sobre a indicação ao Grammy Latino como Melhor Canção em Língua Portuguesa, que recebeu por essa faixa; “Essa música vai ganhar um Grammy”, disse Luísa muito confiante. “Musa do Verão”, “Cachorrinhas” e “Braba” voltaram a levantar o astral da multidão e para encerrar seu show Sonza cantou “Lança Menina”, homenageando mais uma artista que nos faz falta, Rita Lee. A imagem que ficou foi que Luísa parece um pouco perdida querendo escandalizar um pouco demais, a prova disso veio em “Carnificina” que deu uma chocada na galera e talvez essa fosse mesmo a intenção.
Fotos / Setlist (Luísa Sonza)
O artista Ne-Yo surpreende com belo show que levantou a galera com hits
Ne-Yo
Já podemos pedir Ne-Yo em todo festival de música aqui no Brasil? Dono dos maiores hits dos anos 2000, o cantor nos leva com sua musicalidade para uma verdadeira viagem no tempo. Esbanjando sensualidade, charme, carisma, beleza e talento, do início ao fim o norte-americano entregou um show impecável.
Com muita tranquilidade, Ne-Yo conseguiria ficar em cima do palco assistindo os fãs brasileiros darem um show cantando “Closer”, seguido de “Because of You”. Usando um figurino vermelho, acompanhado por suas bailarinas na mesma paleta, o astro deu um show com seus passos de danças em “Sexy Love” e “She Knows”. Uma apresentação bem rápida e meio solta no contexto de tudo (mas carregando consigo uma mensagem importante) foi a participação de MC Daniel cantando “Vamo de Pagodin” e, no final, mostrando uma mensagem em sua camiseta pedindo o fim das queimadas.
Sob um mar de celulares, a clássica “So Sick”, faixa de grande sucesso de 2005, foi cantada com todo o coração, criando as melhores lembranças. Realmente um show para ninguém botar defeito. Completamente desinibido, o astro pop sugeriu um concurso de dança entre três fãs que subiram ao palco para mostrar seu gingado ao som de “Push Back”. Ne-Yo foi um querido com todas e pareceu bem à vontade dançando com as sortudas.
Transitando do pop para o R&B com facilidade, ele apresentou um medley repleto de hits, como “Let Me Love You”, “Knock You Down”, “Take a Bow” e “Irreplaceable”. Esse foi o auge da sua apresentação que não parava de surpreender positivamente. Mostrando que não só canta, mas também atua, produz e compõe, o artista dá um show à parte quando se trata de passos de dança, esbanjando sensualidade em “Miss Independent”. Outro medley de sucesso roubou a cena do show, mas dessa vez para se despedir: Com “Let’s Go”, “Play Hard”, “Time of Our Lives” e “Give Me Everything”, as famosas músicas de balada, Ne-Yo tirou a galera do chão e também ironicamente a sua camisa, arrancando gritos do público feminino enquanto deixava o palco.
Fotos / Setlist (Ne-Yo)
Akon
Com playback no último, Akon fez um show um tanto especial (dependendo do ponto de vista). O cantor, que não poupou energia ao chamar o público carioca de “São Paulo”, chegou a tirar algumas pessoas do sério por insistir tanto no erro. Dono de muitos hits, ele “cantou” seus maiores sucessos, como “Beautiful Day”, “Locked Up”e “Baby I’m Back”.
A multidão que estava ali, não sabia muito bem o que esperar, mas também se soubessem, não sei se estariam prontos. Seu show pode facilmente ser uma daquelas playlists dos anos 2000 que pesquisamos quando queremos ouvir só as relíquias. Com suas faixas de maior sucesso, “Don’t Matter”, a versão remix de “Danza Kuduro”, “Sorry, Blame It On Me”, “Lonely” (que ainda contou com uma versão mais brasileira com uma pitada de funk, pelo DJ brasileiro Hitmaker), além de “Dangerous”, “I Wanna Love You” e “Smack That”, que dispensa comentários, quem tem repertório merece ser respeitado. Hit atrás de hit, mal dava para guardar o celular, porque vinha uma música boa atrás da outra e a vontade de registrar tudo era maior.
O puro suco do caos é o que define o final do show do Akon que, a medida que vai se aproximando, o cantor dá espaço ao DJ mascarado (DJ Benny-Demus), que transforma o festival em uma festa brasileira. Ressuscitando a música “Se ela dança, eu danço”, as vozes que cantavam deram lugar às risadas quando começou a tocar “Casca de Bala” e “Só Fé”, duas músicas virais no Brasil no momento.
Você pensa que acaba por aí? Não mesmo! O cantor aparece em uma bola gigante transparente com a ideia de ir literalmente para a galera. Obviamente o plano não passou dos degraus da passarela, onde a bola furou e o cantor pediu desculpas: “Eu queria fazer algo especial para vocês”, disse, muito frustrado pela ideia não ter obtido sucesso. Ele segue fazendo TUDO! Para consertar o ocorrido, emendou os hinos “Right Now (Na Na Na)” e “Beautiful”. Como de costume, o público reforçou sua fama de melhor plateia cantando alto e com vontade. Akon parecia não querer encerrar seu show. Mesmo após cantar “Play Hard”, “Sexy Bitch” e “Til the Sun Rise Up”, o cantor só deixou o palco porque o áudio do seu microfone foi cortado. Daqueles roles aleatórios que a gente conta e ninguém acredita, ainda bem que tem vídeos para provar tudo isso. Brincadeiras à parte, o show não agradou a todos, mas não dá para negar que foi divertido, uma verdadeira farofa do jeito que o brasileiro gosta.
Fotos / Setlist (Akon)
O canadense Shawn Mendes encantou com seu talento e carinho pelo Brasil
Shawn Mendes
A nova passagem do cantor Shawn Mendes pelo festival foi marcada por muito carinho e amor da parte do artista em relação ao seu público. Um show repleto de “obrigado” e “eu te amo” cativou até quem não era fã, com seu jeito carinhoso e educado. Logo na primeira música, um momento que é tão esperando — ver o artista — foi frustrado por um problema técnico no telão, que seguiu desligado até o meio de “Holding Me Back”. Assim que tudo voltou aos eixos, o público foi à loucura ao ver o sorriso e a felicidade com que o cantor se apresentava.
Sua apresentação foi algo diferente de tudo que rolou no evento até agora pela vibe do cantor e pelo seu estilo musical: calma e com muitas pausas para agradecer ao público pela presença. Não tinha como não se apaixonar pelo canadense. Com uma sequência de hits, após apresentar “There’s nothing holdin’ me back”, emendou em “Monster”, sua parceria com Justin Bieber. Totalmente encantado, Shawn não poupou elogios ao Brasil. Assim que cantou “Señorita”, faixa de parceria com sua ex namorada, Camila Cabello, aproveitou uma brecha para dar um recado aos brasileiros.
Já posicionado em uma plataforma mais próxima da plateia, Shawn declarou: “Nos últimos dias, fiquei pensando no país e nas pessoas daqui, a verdade é que apesar de o Brasil sofrer, tem as pessoas mais iluminadas. A gente vem e vocês dançam, cantam, amam. Vocês têm muito a ensinar ao mundo”, falou antes de dar uma palhinha de “Mas que nada”. O cantor que não fazia show desde 2022 por questões de saúde mental, chegando até mesmo a interromper sua turnê na época, falou sobre achar que não voltaria aos palcos: “Passei tempos com a minha família e meus amigos e percebi que não estou sozinho no mundo”. “E de volta no palco, eu não precisava fazer muita coisa, porque eu tenho 200 mil brasileiros comigo. Vocês fazem ficar divertido.”, disse. O momento perfeito para cantar a sua faixa “It’ll be okay” e seguir o show mostrando um pouquinho do que tem trabalhado no novo álbum, que recebe seu nome e que depois foi lançado no dia 08 de outubro.
Com “Isn’t that enough”, “Nobody Knows” e “Why Why Why”, faixas do seu novo trabalho com uma pegada mais country, Shawn então tirou a camisa e fez o público delirar, após uma provocação da sua banda sobre o calor e o empurrãozinho das fãs que gritavam. Sob um céu coberto por fogos de artifícios, o cantor encerrou o último show no Palco Mundo nessa edição tão especial de 40 anos ao som de “Mercy” e “In My Blood”. Que se torne presença cativa no país!
Fotos / Setlist (Shawn Mendes)
Nossos agradecimentos a todos os responsáveis por tornarem o evento possível e, em especial, para a Approach Comunicação pela parceria, confiança e credibilidade dada mais uma vez à equipe do Universo do Rock. Nos vemos em 2026!
Confira as fotos gerais do sétimo dia (22/09) no Rock in Rio 2024:
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