Por Daniela Baroni
Nesta última quinta-feira (01/09), o Espaço das Américas foi palco de uma noite histórica: a primeira edição do Rock Station, festival que reuniu 3 nomes gigantes do punk rock e fez a alegria dos paulistanos.
O festival, que estava marcado para começar às 20h, não atrasou um minuto e o público ansioso começou a lotar a casa rapidamente. A banda autoral Dona Cislene ficou encarregada de abrir a noite e, embora muita gente ainda estava na fila para entrar na casa, os brasilienses fizeram um ótimo trabalho de começar a aquecer a longa noite que vinha pela frente com seu som marcante da cena musical do Distrito Federal.
Com a casa consideravelmente mais cheia, entra em palco o Anti-Flag. Quem já viu os caras ao vivo sabe bem que poucas bandas sabem contagiar a plateia tão bem quanto eles. Bastou a primeira estrofe de “Press Corpse” para agitar todo mundo e fazer com que surgissem diversas rodas de bate-cabeça pelo Espaço das Américas. Justin Sane, vocalista da banda, e Chris no. 2, o guitarrista, constantemente conversavam com a plateia dizendo como era bom estar de volta no Brasil depois tanto tempo e dizendo que São Paulo é uma das cidades mais punk rock que eles conhecem.
Com suas letras de cunho político, o Anti-Flag não podia ter vindo ao Brasil em melhor hora e foi tocante ver a paixão com que o público cantava “Fuck Police Brutality”, música que trata de um assunto um tanto real para o paulistano nos últimos tempos. Provavelmente ciente da situação política brasileira atual, Chris no. 2 vai ao microfone e diz “Independentemente de seus ideais políticos, estou orgulhoso de estar com pessoas que estão prontas para lutar. O Brasil pertence a vocês, não aos políticos. Vocês podem tomá-lo de volta. Vamos fazer com que os políticos tremam de medo daqui até Washington DC”, o que levou ao início de “One Trillion Dollars”. Com o show próximo do fim, Justin Sane diz que não sabe como e onde São Paulo encontrou o punk rock, mas que mostrariam como a banda o havia encontrado ao tocar um cover energético de “Should I Stay or Should I Go” do The Clash. A essa altura, o público já estava em frenesi, as rodas de bate-cabeça estavam enormes e quem não conhecia a banda com certeza correria para o computador quando chegasse em casa para conhecer. A apresentação do Anti-flag foi, sem dúvida, um dos melhores momentos, senão o melhor show, da noite.
Com a plateia devidamente aquecida (leia-se suada), é a vez do Dead Kennedys subir no palco carregando nas costas todo o seu peso histórico e político. Foi uma pena, no entanto, observar que poucos dos presentes estavam interessados na banda e que o público se mostrou disperso durante grande parte da apresentação. Percebendo isso, o (não tão) novo vocalista Skip e o baixista Greg Reeves tentaram, sem êxito, conversar e brincar com o público e, observando a persistência do desinteresse, seguiram o show sem novas tentativas de interação, mas sempre com entusiasmo.
Com alguns de seus sucessos tocados, a banda fez uma pausa para que o baterista D.H. Peligro, infelizmente um dos poucos representantes da comunidade negra no punk rock, falasse sobre os problemas de desigualdade racial que ainda persistem tanto nos Estados Unidos quanto no Brasil e sobre o quanto é importante lutar por essa causa; e ainda brinca “É muito difícil ser eu!”. Com isso, a banda inicia a famosa “Nazi Punks Fuck Off” e a plateia finalmente se envolve no show como deveria e todos começam a pular. Aproveitando a animação que tardou, mas não falhou, o Dead Kennedys toca então seu maior sucesso, “California Über Alles” e causa euforia por toda a casa. Com a volta da banda para o bis, “Bleed for Me”, um cover de “Viva Las Vegas” de Elvis Presley e “Holiday in Cambodia” terminam um show que começou incerto, mas que terminou de forma espetacular.
Beirando meia noite, com o Espaço das Américas já abarrotado de gente, vem ao palco a atração principal da noite: The Offspring. Com os assuntos políticos e sociais já abordados pelas outras bandas, o headliner da noite ficou encarregado da festa. Iniciando com “You’re gonna go far, kid” e “The Noose”, o Offspring mandava um hit atrás do outro fazendo com que os gritos e pulos do público não parassem um segundo.
Foi bom ver como a banda estava mesmo pronta para essa festa toda, considerando que a última vez que os californianos estiveram em São Paulo, em 2013, fizeram um show curto e com um pouco de desinteresse, já que também haviam se apresentado para um público muito maior no Rock in Rio. O vocalista Dexter Holland e o guitarrista Noodles conversavam e brincavam muito com o público e diziam repetidamente que não existe plateia como a brasileira e que eles amam São Paulo.
Foi preciso que o setlist incluísse a balada “Kristy, are you Doing okay?” para que a banda pudesse dar uma pausa na agitação incessante da plateia, que não parecia nem um pouco cansada apesar de estar pulando sem parar há mais ou menos três horas. Mas, em seguida, o Espaço das Américas voltou esquentar quando o single “Why don’t you get a job?” começou e a banda aproveitou o gancho para seguir com “Want you bad”, “(Can’t get my) head around you” e dois de seus maiores sucessos “Pretty Fly (For a white guy)” e “The Kids aren’t alright”.
Deixando claro que há uma parceria enorme entre as bandas do line-up, Holland agradece o Anti-Flag, dizendo como são incríveis e diz que foi uma honra dividir o palco com o Dead Kennedys, brincando, ainda, que ele e seus companheiros de banda já apanharam muitas vezes da polícia em shows do clássico grupo.
Retornando do bis, The Offspring encerra a noite com “Americana” e “Self-Esteem”, agitando mais ainda a casa que já parecia estar pegando fogo. Agradecendo outra vez, a banda deixa o palco e as luzes se acendem nos rostos de um público que parecia desapontado com o fim e que aguentaria mais sem problemas.
Assim, todos deixam o Espaço das Américas com um sorriso no rosto, sem dar a mínima para o fato de que passava da 1:00 da manhã e que todos teriam que trabalhar em poucas horas. Afinal, as horas de sono perdidas valeram a pena. E muito.
Set List – The Offspring
1. You’re Gonna Go Far, Kid
2. The Noose
3. Come Out and Play
4. Coming for You
5. Original Prankster
6. All I Want
7. What Happened to You?
8. Staring at the Sun
9. The Meaning of Life
10. Bad Habit
11. Hit That
12. Kristy, Are You Doing Okay?
13. Why Don’t You Get a Job?
14. Want You Bad
15. (Can’t Get My) Head Around You
16. Pretty Fly (For a White Guy)
17. The Kids Aren’t Alright
Encore:
18. Americana
19. Self Esteem
Veja mais fotos : Edi Fortini
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