Texto e Edição: Gustavo Franchini
Os nova-iorquinos do The Reign of Kindo, banda com sonoridade original que mistura rock progressivo, jazz fusion e até mesmo influências de bossa nova, desde a primeira vez que pisaram em solo tupiniquim fizeram um enorme alvoroço, conquistando ainda mais fãs. Isso se deve ao fato de entregarem uma performance ao vivo que vai além das já espetaculares canções em estúdio; há uma atmosfera vibrante que é gerada durante toda a apresentação, que só ao viver a experiência é possível de se entender o sentimento. Após quase uma década, finalmente voltaram ao país e as cidades honradas com a presença deles foram São Paulo (em duas datas sold out) e Rio de Janeiro (no último domingo, 23).
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Nossa equipe teve o prazer de conferir o show no Rio de Janeiro, na já agitada casa Agyto (desculpem-me o trocadilho, foi irresistível) para um público modesto, mas bastante apaixonado e que esteve conectado durante 100% do tempo. Como é de praxe na vida do jornalista, o que vos fala deu uma olhada no setlist que rolou antes em São Paulo para saber o que possivelmente nos aguardava naquela noite. E qual foi não foi minha surpresa com a seleção sublime de canções que não só parecia um compilado de hits, mas também uma organização profissional de climas distintos para um evento completo, sem tirar nem pôr; não há nada que uma pessoa em bom juízo possa criticar da escolha que foi certeira em todos os aspectos possíveis.
Com a ansiedade a todo vapor, mesmo não sendo britânicos, o agora quarteto (já foi sexteto anteriormente) surge no palco com apenas 2 minutos de atraso e todos com sorrisos estampados no rosto. Sim, é uma alegria voltarem à cidade que foram tão bem tratados desde a primeira vinda e tudo que os fãs da boa música desejavam era um retorno de qualidade. E isso ofereceram do início ao fim. Já era esperado, né? Afinal, o cantor e guitarrista Joseph “Joey” Secchiaroli, o tecladista Rocco DellaNeve, o baixista Jeffrey Jarvis e o batera Kendall Lantz formam uma cozinha entrosadíssima de músicos de verdade. Sem autotune, sem efeitos pomposos, sem playback, sem samples. Musicalidade pura!
Após a introdução com “City Lights & Traffic Sounds”, nada poderia preparar os sentimentos do público que estava prestes a se deleitar com a obra-prima “The Moments in Between”, do disco de estreia Rhythm, Chord & Melody (2008), que logo de cara veio pra mostrar que a experiência não seria apenas calcada nas canções mais conhecidas, já que muitos hits foram tocados na primeira parte do repertório. Do Rhythm também tivemos a belíssima “Great Blue Sea”, além das grandiosas “Morning Cloud” e “Till We Make Our Ascent”. Do segundo álbum, o maravilhoso This Is What Happens (2010), simplesmente foram sete músicas, assim como a introdução, tivemos até a sensacional “Nightingale”, que de fato não poderia faltar. E claro, a cinematográfica “Thrill of the Fall”. Que refrão!
Do EP de 2007 que lançou a banda para o mundo, a que mais se destaca é “Just Wait”, que impressionou a muitos no YouTube da época. É de deixar qualquer um boquiaberto como a progressão é feita dentro da estrutura harmônica desta música em especial. Aliás, por mais que a banda seja complexa na maioria de suas canções, há também um lado pop bem forte, como em “Blistered Hands”, que poderia facilmente estar nas paradas de rádios americanas. Esses caras sabem compor qualquer gênero musical!
Durante os intervalos entre as músicas, o simpático frontman Joey se comunicava com a plateia agradecendo bastante por estarem ali, pois imaginava que ninguém compareceria depois de tanto tempo de espera, sem notícias recorrentes, sem nenhum novo lançamento. Ledo engano; sempre que tiver um show do The Reign of Kindo por aqui, é certo de ter público fiel. As interações com coros e todos juntos cantando trechos dos versos foi algo surpreendente pela força que as notas soavam, como se cada um dos presentes tivesse sonhado com aquele momento. Vale ressaltar a linda voz de Joey, limpa e bem empostada, projeção tonal sensacional, somado ao exímio trabalho nas seis cordas. E a constante agitação de Rocco? Acho que não teve uma vez sequer que olhei para o lado direito do palco e ele não estava pulando enquanto tocava os seus dois teclados com maestria.
O contraste vem do lado esquerdo com o competente Jeffrey nos graves, muito calmo e concentrado, às vezes sentando em um banco nas linhas mais suaves que não exigiam tanto virtuosismo. Kendall, claramente experiente nas baquetas, muitas vezes improvisava em viradas e percussões que se diferenciavam da gravação original, adicionando sua própria identidade, pois Kindo sempre foi uma banda que deu liberdade para os integrantes demonstrarem sua personalidade no instrumento.
Os dois álbuns mais recentes, Play With Fire (2013) e Happy However After (2018), antes de um relativo hiato, tiveram menos participação no repertório, os dois somados com apenas cinco músicas, como “Sing When No One’s Around” e a pop a la Maroon 5, “Smell of a Rose”. Ou seja, mesmo em 2 horas de show com uma discografia consideravelmente curta, o The Reign of Kindo tem tantas músicas boas que fica difícil não colocar algumas ótimas de fora. Pra tentar solucionar este “problema”, eles resolveram colocar um medley que contou com a top 10 de músicas mais pedidas em shows deles, “Let It Go”, tendo o público inteiro (incluindo funcionários da casa) cantando em uníssono com a banda.
A surpresa ficou pelo cover das clássicas atemporais “Careless Whisper” (George Michael) e “Something” (The Beatles). A primeira teve sua marca registrada, a melodia de saxofone, sendo tocada por um arranjo de guitarra e a segunda se transformou em uma versão mais pesada em versão rock, já que na gravação a balada de George Harrison é tocada no ukulele. No meio disso tudo tivemos “Something In The Way You Are” dividida em duas partes. Genial!
Ao chegar próximo do fim da apresentação, Joey perguntava aos cariocas se já estavam cansados ou se era o suficiente, e todos gritavam rapidamente “Não!”, arrancando mais risadas de todos. Explicando que precisavam pegar um voo cedo para o próximo show que fariam (pela primeira vez no Chile, que foi um sucesso total), eles se despediram com muita humildade e respeito pelos fãs, sem prometer diretamente uma volta sem tanta demora, mas postando nas redes sociais a derradeira frase “até a próxima”. Seja com o The Reign of Kindo ou com outros projetos dos integrantes (Rocco tem Rocco of the Snow, Jeffrey tem o The Dead Sages e Kendall o Kinglet), a certeza é de que queremos mais! Vida longa à música de verdade.
Nossos agradecimentos a todos os responsáveis por tornarem o evento possível e, em especial, para a Tedesco Assessoria e Overload pela parceria, confiança e credibilidade dada mais uma vez à equipe do Universo do Rock.
Veja a galeria de fotos do show (The Reign of Kindo/ RJ):
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