The Rolling Stones se despedem de São Paulo em show memorável

Por: Carla Maio
Foto: Miguel Schincariol
Foto: Miguel Schincariol

A temperatura amena e o dia ensolarado anunciavam: o show dos Rolling Stones do último sábado (27) certamente repetiria a grande festa da quarta-feira. Com a mesma disposição e energia, Mick Jagger, Keith Richards, Ron Wood e Charlie Watts voltaram ao palco do Morumbi ainda mais cativantes e empenhados em fazer uma apresentação memorável, a segunda e última na capital paulista antes de seguirem para Porto Alegre, para um público de cerca de 65 mil pessoas, gente alegre e bonita que estava ali para ver o maior espetáculo do planeta.

Logo na abertura, o desejo de ver e rever os Stones veio a galope no melhor estilo gas, gas, gas com “Jumping Jack Flash”. Na sequência, outro hit fez o coração do público saltar pela garganta e era tudo o que eles precisavam para endossar o refrão de “It’s only rock ‘n’ roll”, sim, sim, nós gostamos e muito!

“Oi paulistas! E aí, galera!”, cumprimenta Jagger e a banda toca a esperada e magnífica “Tumbling Dice” e a blusera “All down the line”. Atencioso, ao final dessa última, Jagger quis saber se o público havia gostado e a resposta veio em forma de aplausos. Ambas são do álbum “Exile on main street”, de 1972, disco classificado pela Revista Rolling Stone em sétimo lugar entre os quinhentos álbuns de rock mais importantes já lançados.

“Vamos quebrar tudo!”, convida o vocalista antes de “Out of control”, que começa com um sussurro extremamente sensual da backing vocal Sasha Allen. Com o desenrolar dos primeiros versos, a música vai crescendo e outros elementos sonoros vão sendo incorporados a ela, com a gaita de Mick Jagger, tornando-a ainda mais expressiva e curiosamente melódica.

“São Paulo, Corinthians, Palmeiras, Santos. É a primeira vez que temos os quatro times juntos no Morumbi”, brinca o humorado Mick Jagger.

Psicodelia pura e romantismo
O show desse sábado foi marcado também pela opção dos fãs por “She´s a rainbow”, do álbum Their Satanic Majesties Request, o oitavo da banda, gravado no Reino Unido, em 1967. A canção agrega sons completamente psicodélicos com a magia da letra; enquanto Jagger agita os acordes principais ao violão, o pianista Chuck Leavell faz um belíssimo solo e nos deixa a todos maravilhados.

Dos meandros da psicodelia, a banda nos transporta ao romantismo de “Wild horses”, momentos em que os casais apaixonados aproveitam para segurar fortemente as mãos uns dos outros e já há relatos secretos de gente que se apaixonou nesse mesmo instante. Nesse momento, vale um beliscão para termos certeza de que não estamos sonhando.

Enigmática e mística, “Paint it black” quase dispensa comentários, sobretudo por promover uma verdadeira experimentação musical transcendental e alucinante. Depois de “Honky tonk women”, Mick Jagger faz graça: “desculpem, estou meio devagar porque comi muitas coxinhas” e o público se diverte.
Se por um lado vemos os músicos empenhados na performance de mudar de figurino e trazer belíssimos cortes coloridos, o destaque da noite de sábado foi para o baterista Charlie Watts, que usou a mesma camiseta amarela do show da quarta-feira. Detalhes à parte, sua simplicidade não esconde a técnica que faz de seu instrumento o coração da banda.

Foto: Miguel Schincariol
Foto: Miguel Schincariol

Keith Richards rocks
Como aconteceu também no show da quarta-feira, Keith Richards foi muitíssimo aplaudido pelo público. Mais uma vez, em retribuição, ele assume os vocais, mas dessa vez canta a expressiva “Slipping away” e, na sequência, o blues “Before they make me run”. Sua voz, cabulosa e característica, está presente em muitos refrãos, um verdadeiro aconchego para os ouvidos de quem os ouve.

No palco, a alegria como tocam e cantam revela perfeita sintonia entre Richards e Jagger, e a interação de ambos além de respeitosa é também incrível, e isso ficou evidente no belíssimo solo que fizeram em “Midnight Rambler”, aquele na guitarra; este, na gaita.

E da série ‘ficamos todos arrepiados’, os destaques vão para “Miss you”, com um solo de baixo incrível de Darryl Jones, “Gimme shelter”, com o backing vocal sedutor de Sasha Allen, e “Start me up”, que ficou bem melhor ‘at the end of the show’, de acordo com os próprios fãs.

“Sympathy for the devil” e “Brown sugar” encerram a grandiosa apresentação da noite de sábado e deixam todos enlouquecidos. Ninguém quer esperar mais 10 anos para ver os Rolling Stones por aqui. Como sempre, eles se despendem e nos deixam com um gostinho de quero mais, mas antes de seguir viagem, voltam para o bis e, de novo, arrasam!

Como na última quarta-feira, o Coral Sampa chama “You Can’t Always Get What You Want”. “Satisfaction” põe fim ao maior espetáculo do planeta. Eles mal foram e já deixam saudades. Então, eu me pergunto: mas porque essa sensação? Sem resposta à pergunta feita no vácuo, em meio ao barulho e à fumaça dos fogos de artifício, lembro-me da garota que não parava de gritar à minha frente: “Mick, we love you!”.

Foto: Miguel Schincariol
Foto: Miguel Schincariol

Muitas histórias e um sonho em comum
Muitas histórias; o mesmo sonho. Não importava se essa era a primeira, segunda, quinta ou décima vez que você estava vendo o show dos Rolling Stones, se estava na arquibancada, pista, camarote ou área VIP, ou se tinha 15, 22, 43, 57, 65 ou 92 anos. Uns mais fãs, outros menos, o fato é que todos que tiveram a chance de estar no estádio do Morumbi para ver a banda realizaram um grande sonho.

E que sonho! O vendedor Juliano Pereira saiu de Sorocaba na última sexta-feira e se hospedou na casa de um amigo na zona leste da capital. Visitou a galeria do rock, comprou uma camiseta e alguns vinis: “vi os Stones em 1998 e cada show tem uma energia diferente, estar aqui é muito bom”.

Bruno e Melissa Borgiani acordaram cedinho, pegaram a estrada saindo de Valinhos depois do almoço, deixaram o carro em um hotel na zona sul e pegaram um transporte até o estádio: “vamos de táxi para poder tomar umas antes, durante e depois do show”, diz Bruno.

Depois de 300 km e mais de 4 horas de viagem, o grupo de 30 pessoas que saiu de Itaí, no interior paulista, às 10h da manhã, chegou ao estádio do Morumbi: “muitos de nós tivemos a honra de vê-los pela primeira vez, um show inesquecível e espetacular, que superou todas as nossas expectativas”, conta Sheila Duarte Michelin, uma das organizadoras da excursão.

Dias antes do show em Copacabana, o funcionário público Fellipe Domingues Mazzola, 30, sofreu um acidente de carro e não conseguiu ir para o Rio de Janeiro. Dez anos depois, ele estava satisfeito em poder ver a banda: “Gosto de Rolling Stones desde que me entendo por gente; são eles a maior influência musical que tenho em minha vida”.

No início da noite da última sexta-feira, a professora Jozana Carla Soares, 40, recebeu mensagem de uma amiga oferecendo um ingresso de meia-entrada na arquibancada: “fiquei muito feliz, estava realmente muito a fim de ir, mas perdi a chance de comprar pela internet e estou muito agradecida por poder ver esse show tão lindo”.

Cláudia tem 37 anos e Claudete Márcia 65, são mãe e filha e vieram de Belo Horizonte para realizar o sonho de ver os grandes ídolos das duas: “Eu considero o Mick Jagger um fenômeno, fico intrigada como ele pode dançar 2 ou 3 horas sem parar, ele é contagiante”, conta Claudete com brilho nos olhos.
O metalúrgico Rafael da Silva Araújo tem 24 anos, mora em Mauá e estuda fotografia: “eles são lendas do rock, e é incrível pensar que eles estão na estrada há mais de 50 anos”.

A professora Natália Mattioli, de 27 anos, e o skatista Jeff Freitas, de 44, moram em Araraquara e se programaram para ver os Stones. “Quando assisti o show na praia de Copacabana, eu tinha só 16 anos, é uma banda que gosto muito e eu tinha que ver de novo”.
E o rock’n’roll é isso, um estilo de música realmente agregadora, que une pessoas de diferentes lugares e idades em um objetivo comum e delicioso de pura diversão e satisfação.

As pedras continuam rolando
Os Rolling Stones deram início à turnê latino-americana no dia 3 de fevereiro, com show em Santiago, no Chile. Antes de pisar em solo brasileiro, os lendários roqueiros fizeram três shows no Estadio Único Ciudad de La Plata, em Buenos Aires, na Argentina, e em Montevideo, no Uruguai.

Depois dos shows do Rio de Janeiro e São Paulo, eles seguem para Porto Alegre, onde encerram a turnê brasileira, no dia 2 de março.

E a Olé Tour não para por ai. Os Stones passarão ainda por Lima, no Peru (6/3), Bogotá, na Colômbia (10/3) e encerram a turnê na Cidade do México, no dia 14 de março.

Set list
Jumping Jack Flash
It´s only rock’n’roll
Tumbling dice
Out of control
All down the line
She´s a rainbow
Wild horses
Paint it black
Honky tonk women
Slipping away
Before they make me run
Midnight Rambler
Miss you
Gimme shelter
Start me up
Sympathy for the devil
Brown sugar
Bis
You can’t always get what you want
Satisfaction

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