The Town 2023 – Dia 09: confira como foi o quarto dia do festival

Priorizando o rock alternativo, o sábado dividiu opiniões pela combinação curiosa de gêneros musicais e público arrebatador para o headliner

Por Gustavo Franchini


O quarto dia do festival The Town, que em sua primeira edição se destacou pelo tom eclético de seu line-up, foi um pouco mais conectado ao rock e, por consequência, nossa equipe estava lá para conferir! De pop rock nacional a jazz, passando por hip hop, funk e finalmente rock alternativo, as bandas presentes agradaram ao público e, em especial pelo tempo que colaborou ao não chover (apenas algumas poucas gotas) como nos dois primeiros dias, fez com que todos os palcos tivessem alguma relevância, com destaque para as apresentações do Barão Vermelho, Stanley Jordan e, claro, Foo Fighters.

Palco The One

Detonautas & Vitor Kley

Liderados pelo vocalista Tico Santa Cruz, figura já conhecida de festivais nacionais, comemorando o lançamento do seu mais novo álbum Acústico 20 anos – O Amor Não Tem Inimigos, o Detonautas Roque Clube animou a plateia que chegou mais cedo para desfilar hits chicletes de sua carreira e discursos insossos. A presença do convidado especial Vitor Kley, este que participou ao lado de Di Ferrero (NX Zero) na edição mais recente do Rock in Rio, de fato trouxe um sabor extra em canções como “O Sol”. O grande momento ficou para a melhor da banda, “Olhos certos”, que foi cantada em uníssono por todos.

Fotos / Setlist (Detonautas & Vitor Kley)

Barão Vermelho convida Samuel Rosa

Uma das grandes surpresas da noite ficou por conta da excelente apresentação da nova formação do Barão Vermelho, que após a saída de Roberto Frejat, conseguiu se reinventar com Rodrigo Suricato e, mesmo com o lançamento de um novo álbum em 2019 (Viva), optaram por focar nos hits da carreira da banda, além de clássicos do Cazuza (como “Exagerado” e “Codinome Beija-Flor”) e outros covers, o que se mostrou uma escolha muito acertada, já que grande parte do público era bem jovem e provavelmente desconhecia canções mais recentes.

Impossível não sorrir e cantar junto com músicas do porte de “Bete balanço”, “Por você” e “Puro êxtase”, que com a participação super coesa de Samuel Rosa (Skank) fez com que tudo se tornasse ainda mais especial. Viva o rock nacional!

Fotos / Setlist (Barão Vermelho convida Samuel Rosa)

Wet Leg

A vertente alternativa do festival tem início com o indie rock britânico capitaneado pela dupla Rhian Teasdale e Hester Chambers, a Wet Leg. Fundado em 2019 e com apenas um álbum de estúdio (lançado ano passado), o grupo já foi agraciado com dois prêmios no Grammy e passou a se destacar em diversos festivais ao redor do mundo. Músicas de curta duração, harmonias experimentais, linhas vocais suaves, melodias com leveza. Canções interessantes como “Wet Dream”, “Supermarket” e “Chaise Longue” animaram o pequeno número de pessoas que conferiram a sua apresentação que, por ser próxima ao horário de início do headliner da noite, não teve a atenção merecida.

Fotos / Setlist (Wet Leg)

Palco São Paulo Square – Stanley Jordan

Considerado como um dos grandes nomes do jazz fusion e inovador no instrumento, o consolidado guitarrista americano Stanley Jordan, que possui íntima relação com nosso país, já estando presente em dezenas de eventos por aqui, nos presenteia com um belíssimo espetáculo para ouvidos mais apurados. Com a participação de músicos de peso, um público majoritariamente sentado para conferir a sonoridade com tranquilidade e conforto, a emoção chegou forte na versão brilhante de “Insensatez” (Tom Jobim), demonstrando seu apreço pela música brasileira, somado a um verdadeiro tributo à carreira da lenda Jimi Hendrix e outras releituras.

Aplaudido de maneira merecida, se mostrou uma escolha mais do que acertada para o palco em questão, agraciando corações e conquistando novos fãs.

Fotos (Stanley Jordan)

Rhian Teasdale do Wet Leg em sua performance que agradou a plateia presente

Palco Skyline

Pitty

Comemorando os 20 anos do seu aclamado álbum Admirável Chip Novo, a carismática cantora baiana Pitty e seu rock bem estruturado fizeram a plateia agitar do começo ao fim. Ao lado da Nova Orquestra, que deu um toque interessante às canções radiofônicas como “Máscara” e “Equalize”, o show mostrou que mesmo à luz do dia existe público para o gênero, que lotou o espaço. Curiosamente, a apresentação se conectou mais no contato com as câmeras de TV e o visual trabalhado que seria transmitido em canais como Multishow, do que as pessoas que estavam ali presentes e essa interação propriamente dita. Apesar disso, o show encantou a todos e abriu o palco principal com maestria.

Fotos / Setlist (Pitty)

Garbage

Representação bem fiel do rock dos anos 90, o Garbage subiu ao palco para uma apresentação que dividiu a atenção entre os que estavam curtindo a oportunidade de absorver aquela experiência diferenciada, e os que apenas guardavam lugar para a grande atração da noite. Mesmo com integrantes veteranos na indústria da música, como o baterista (e produtor) Butch Vig, os guitarristas Steve Marker e Duke Erikson, somada a presença marcante da vocalista Shirley Manson, era notável que, diferente do show anterior, o público não parecia valorizar canções tão bem-sucedidas como “Supervixen”, “Stupid Girl”, “I Think I’m Paranoid” e “Only Happy When It Rains”, presentes em álbuns que venderam milhões em um período de ouro da carreira da banda, hoje já não tendo a mesma força para levantar a plateia, sabe-se lá o real motivo.

Fotos / Setlist (Garbage)

Yeah Yeah Yeahs

Com a tarefa hercúlea de substituírem o Queens of the Stone Age (que precisou cancelar a apresentação devido à recomendação médica), era de se esperar que o trio norte-americano Yeah Yeah Yeahs sofreria com certo desinteresse do público, até por conta de seu som bem atípico. Seu single de sucesso “Heads Will Roll”, que chegou a fazer parte da trilha sonora em esquetes de streamers famosos na Twitch brasileira, encabeçou o show e definitivamente foi o momento mais atraente para os que estavam ali presentes. Contudo, as “sonoplastias” super esquisitas da vocalista Karen O, que passava grande parte das músicas só produzindo sons indecifráveis, quase não cantando de fato e que, em determinado momento, chegou a falar (em outras palavras) que sabia que todos esperavam ter outra banda ali no lugar, acabou por tornar a interação mais rara e a recepção foi genuinamente fria.

Para completar a distração, no meio da apresentação uma pessoa ficou travada na tirolesa e, sem surpresa alguma, todos pareciam mais interessados em assistir a resolução deste imprevisto do que de fato estar ali pela banda (deu tudo certo!). Apesar disso, boas composições fizeram parte do repertório, como “Wolf”, “Maps” e ironicamente o desfecho se deu com “Date With the Night” sendo introduzida com “Song for the Dead”, do Queens of the Stone Age, talvez como uma brincadeira ou tentativa de simpatizar com o público frustrado em relação à mudança repentina.

Fotos / Setlist (Yeah Yeah Yeahs)

Shirley Manson se destacou na apresentação do Garbage para um público distraído

Foo Fighters

Se tem uma banda que representa resiliência, força de vontade, ímpeto de ‘ser mais’, definitivamente é o Foo Fighters e seu frontman Dave Grohl, multi-instrumentista com inúmeras qualidades como músico; em especial como ser humano. Após o falecimento do baterista Taylor Hawkins, no início do ano passado, o grupo entrou em um hiato de meses, o que poderia provocar o encerramento das atividades, mas Dave mais uma vez nos surpreendeu com a notícia de que iria continuar, só que de uma maneira diferente, seguindo um caminho distinto. Com o lançamento do primeiro álbum pós-tragédia, intitulado But Here We Are (2023) e seu emblemática capa em branco, além do anúncio de que fariam parte do cast, fez com que praticamente todos os ingressos fossem vendidos como água e, verdade seja dita, fosse o motivo principal de as pessoas irem ao festival neste dia.

Calejados como headliners em eventos de grande porte, inclusive no Rock in Rio, a única preocupação dos fãs era de o emocional ter afetado os integrantes a ponto de a apresentação ser um pouco morna. Todavia, parece que todo o sofrimento da perda foi transformado, mais uma vez, em determinação para seguir com o grande legado deixado pelo ex-companheiro de banda, da melhor maneira que sabem fazer: através da música. E bota música nisso, pois o setlist abrangeu praticamente toda a carreira do Foo Fighters, inclusive algumas em versão estendida. Ou seja, o ingresso valeu por si só apenas pelo espetáculo diante de nossos olhos (e ouvidos). Com uma cozinha de dar inveja, formada pelo vocalista/guitarrista Dave Grohl, o baixista Nate Mendel, os guitarristas Pat Smear e Chris Shiflett, além do tecladista Rami Jaffee como músico de turnê e, claro, a entrada do novo baterista, o experiente Josh Freese, parece que tinha tudo pra dar certo. E deu. Muito!

Apesar da dificuldade enfrentada pelo público para conseguir ver o palco com clareza, devido à diversas torres de transmissão para TV, mesas de controle e telões que não funcionavam 100% como deveriam, o que não faltava era empolgação desde a primeira música, com a poderosíssima dupla “All My Life” e “The Pretender”. Ambas revelaram um Dave com vocal relativamente cansado, o que foi potencializado pela equalização do som que deixou as guitarras mais baixas que os outros instrumentos, algo gradualmente consertado ao longo do setlist. Mas considerando que a banda é uma fábrica de hits, o público cantava junto e pulava com muita alegria, relevando qualquer tipo de problema, até por compreensão à situação como um todo.

Já se tornando uma marca registrada do grupo, os diversos interlúdios com músicas famosas do rock/metal se tornaram mais presentes do que nunca com trechos de Black Sabbath, Metallica, Beastie Boys, Ramones etc, espalhadas ao longo das canções, tendo até direito a solos de bateria de Freese, que aliás parece ter agradado bastante a plateia em sua primeira performance como membro do Foo Fighters aqui no país. Não à toa é respeitado na indústria musical no concerne à sua versatilidade e técnica, o que se deu com a estreia de “Run”. Outras músicas ganharam versões interessantes que misturavam elementos mais baladísticos e cadenciados, como “Times Like These”, “My Hero” e, agora obrigatória em todos os shows da banda, a bela “Aurora”, dedicada a Hawkins (era sua música favorita da discografia).

O protagonista da noite, Dave Grohl com o Foo Fighters em noite memorável

Em determinado momento, Dave perguntou quem estava vendo ao vivo o Foo Fighters pela primeira vez e, deixando-o boquiaberto, metade das pessoas presentes levantaram a mão, o que é uma conquista grandiosa para uma banda com décadas de estrada. Para garantir que todos saíssem satisfeitos, do novo álbum só foram tocadas duas, as ótimas “Rescued” e “The Glass”, enquanto que álbuns clássicos como The Colour and the Shape (1997) e There Is Nothing Left to Lose (1999) foram representados com o total de 7 músicas, como “Learn to Fly”, “Monkey Wrench” e obviamente “Everlong”. O repertório foi bem similar ao apresentado no show feito em Curitiba na mesma semana, apenas mudando um pouco a ordem em que foram tocadas e reduzindo o set de 24 para 21 músicas para encaixar com o tempo determinado pelo festival. Ainda assim, acredito que muitos foram nos dois dias para aproveitar ao máximo a oportunidade de ver uma das maiores bandas da atualidade.

Os percalços da vida não impediram que Dave mantivesse seu carisma e respeito pelo público brasileiro, dando o seu melhor para nos presentear com mais do que um show, um verdadeiro espetáculo! Para muitos, foi o auge do The Town e um momento que ficará para sempre na memória dos que tiveram a sorte de estarem presentes na fase de reerguimento de uma potência do rock mundial. Que noite!

Fotos / Setlist (Foo Fighters)

Nossos agradecimentos a todos os responsáveis por tornarem o evento possível e, em especial, para a Approach Comunicação pela parceria, confiança e credibilidade dada mais uma vez à equipe do Universo do Rock. Nos vemos em 2025!


Confira as fotos do quarto dia (09/09) no The Town 2023:


Seja o primeiro a comentar

Faça um comentário

Seu e-mail não será divulgado.


*