Greta Van Fleet despeja rock clássico e lota casa de shows no Rio

Por Gustavo Franchini

O jovem quarteto deixa clara suas inspirações musicais e entrega uma apresentação já esperada por parte do público

Os irmãos Kiszka – Foto: Daniel Croce

Desde o início de toda a repercussão na mídia internacional, o Greta Van Fleet vem dividindo opiniões acerca de seu estilo musical, que por muitos é considerado uma cópia de bandas clássicas como Led Zeppelin (em especial na parte vocal), enquanto outros acreditam ser a “salvação do rock”, por apresentarem uma sonoridade antiga que outrora parecia estar engavetada pelas bandas atuais.

Gostando ou não do som dos jovens músicos americanos de Frankenmuth, Michigan, uma coisa é inegável: são talentosos. A qualidade dos integrantes é de fato bem clara, apesar de músicas não muito inspiradas. Muitos dizem que a experiência irá fazer com que eles amadureçam as composições, mas a realidade é que o espetáculo parecia ser mais um tributo aos anos 70 do que uma real novidade no mercado.

Como assíduo frequentador da casa de shows carioca no qual a banda fez seu show, eu confesso que jamais vi o local tão lotado em toda a minha vida; e não, não é redundância. De fato estava mais cheio do que deveria, dando a impressão de que foram vendidos mais ingressos do que a capacidade máxima permitida, devido ao espaço praticamente inexistente na pista. Muitas pessoas ficaram do lado de fora, nas áreas sociais, não por opção, mas por impossibilidade de passar para dentro da pista. Isso gerou situações um pouco desconfortáveis entre os que estavam tentando assistir de maneira aceitável a banda tocando e os que não queriam abrir mão da localização que conseguiram encontrar no meio daquela multidão de pessoas. Isso seria mais um dia normal na vida de quem curte rock, mas nesse caso aqui foi, sem sombra de dúvidas, exagerado.

A impressão, logo no início do show, é de que estavam passando o som ainda, porém, eram já os acordes da primeira música, que fizeram os desavisados só se ligarem depois de um (bom) tempo. Aliás, aqui já aparece um ponto negativo: a falta de uma produção de palco esperada para uma banda com tamanho hype. A estrutura era bem simples; a iluminação igualmente. E, para piorar, o som da casa estava tenebroso. Sim, as primeiras músicas foram bastante prejudicadas pela dificuldade técnica, que demorou quase uma hora para se estabilizar. O vocal era praticamente inaudível durante uma saraivada de minutos. Isso infelizmente amenizou os ânimos da plateia, que antes parecia tão empolgada e ansiosa pela primeira passagem da banda no país.

Logo da banda na bateria de Danny Wagner – Foto: Daniel Croce

Contudo, o show não foi marcado apenas pelos pontos negativos, muito pelo contrário. Grande parte do público aplaudia e com clamor as palavras “Olê, olê, olá, Greta, Greta” recheavam os intervalos do setlist, que foi composto por músicas dos primeiros EPs e o único álbum de estúdio lançado, Anthem Of The Peaceful Army (2018).

Ainda tímidos no palco, aos poucos foram se soltando e o destaque com certeza vai para o guitarrista Jake Kiszka que, além de demonstrar uma boa pegada e segurança em seu instrumento, dava a entender que era o verdadeiro frontman, correndo de um lado pro outro e abraçando o sentimento musical nas seis cordas. O baixista Sam demorou um pouco mais para lidar com os brasileiros, enquanto que o vocalista Josh só começou a interagir com o público carioca depois de se sentir mais à vontade e com menos receio da agitação exacerbada, à flor da pele, característica do povo brasileiro. Já o baterista Danny Wagner deu um show à parte, com uma excelente demonstração do que é capaz de fazer com as baquetas, despertando o interesse dos que estavam atentos.

Apesar de curta e burocrática, a apresentação do Greta Van Fleet foi satisfatória como um todo, arrancando elogios de alguns e críticas de outros. O que me parece claro é que a banda precisa de um amadurecimento em suas composições, pois talento e bom gosto eles têm de sobra. Encontrar um caminho que defina de vez sua proposta musical, que espero não ser apenas uma nostalgia de grandes nomes do passado, e sim uma real evolução do estilo. Em outras palavras, com mais originalidade. O rock abre portas para muitas vertentes, mas repetir emoções dos idos de anos clássicos é algo que muitas bandas já o fazem. Desejo que o grupo nos surpreenda a cada novo lançamento!

SETLIST GRETA VAN FLEET

1 – The Cold Wind
2 – Safari Song
3 – Black Smoke Rising
4 – Flower Power
5 – Watch Me
6 – The Music Is You
7 – You´re the One
8 – Black Flag Exposition
9 – Watching Over
10 – Edge of Darkness
BIS
11 – When the Curtain Falls
12 – Highway Tune

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