Bruce Dickinson com banda e orquestra em tributo a Jon Lord: apresentação impecável emocionou público no Rio

Em um mix de emoções que percorreram momentos dramáticos, enérgicos e de pura nostalgia, o cantor demonstra respeito pelo legado de sua banda favorita

Por Gustavo Franchini


O que poderia dar errado em um evento que conta com a participação de um dos mais idolatrados vocalistas do heavy metal, além da principal orquestra sinfônica do país, conduzida por um maestro que possui conexão íntima com o homenageado da noite e, ainda por cima, uma banda afiada com integrantes que fazem jus ao nível exigido para uma execução deste porte? Absolutamente nada!

Um verdadeiro espetáculo. É justamente o mínimo que se pode dizer sobre a noite de sexta-feira (21), no Vivo Rio, casa escolhida na cidade maravilhosa para ser o palco da turnê pelos Balcãs e Brasil que reproduz o clássico Concerto for Group and Orchestra (1969), idealizado por Jon Lord e o Deep Purple, como a perfeita comunhão entre a música erudita e o rock progressivo. E que união! Após passar com sucesso por cidades brasileiras como São Paulo e Curitiba, chegou a vez dos cariocas terem a honra de presenciar um dos momentos mais históricos da música. Sem exageros, a noite foi de arrancar lágrimas dos (des)avisados, pois as emoções foram muitas. E já começaram pela performance de todos; em especial, claro, do queridinho dos brazucas: a lenda viva Bruce Dickinson (Iron Maiden).

Após anos aprimorando a própria peça ao vivo, o saudoso mestre dos teclados Hammond, Jon Lord, se fez presente espiritualmente ali naquela celebração que de fato respeitava o estilo que sempre prezou em vida. Com regência de Paul Mann, que também conduziu outras versões (como a do Royal Albert Hall, em 1999) e também a última gravada em estúdio com Jon em 2012, os shows no Brasil tiveram a presença de mais de 80 instrumentistas, da OSESP (Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo) e de algumas das principais sinfônicas do país.

A banda que acompanha Bruce é formada pelo tecladista John O’Hara (Jethro Tull), o guitarrista Kaitner Z Doka (Jon Lord, Ian Paice), a baixista Tanya O’Callaghan (Whitesnake), o baterista Bernard Welz (Jon Lord, Don Airey) e percussões de Mario Argandonia (Scorpions).

O repertório começa justamente com a parte orquestrada e dividida em 3 movimentos: “Moderato – Allegro”, “Andante” e “Vivace – Presto”. Cada um deles apresenta uma cadência diferente, em ritmos que exploram a criatividade de arranjos que se confrontam, se misturam à vozes dramáticas e, por fim, se unem em prol de um caminho épico. Com duração de cerca de 40 minutos, a plateia ficou hipnotizada durante toda a performance, considerando como leva o espectador/ouvinte a uma viagem à outra realidade, sem desprender sua atenção por um minuto sequer, dada à qualidade de toda a complexa estrutura harmônica, de cair o queixo, que chega a ter ares de trilha sonora cinematográfica. Enquanto isso tudo rolava, Bruce Dickinson mostrou ter talento também para o teatro, interpretando cada um dos trechos com danças e movimentos descontraídos, arrancando risadas de todos.


Foi anunciado um intervalo de 15 minutos e todos aguardavam ansiosos pela segunda parte do show. Neste momento com as luzes ligadas, era possível observar a diversidade da faixa etária do público, algo muito bonito de se ver, tornando o momento ainda mais especial. Já com Bruce Dickinson, banda e orquestra no palco, a partir dali seria a hora de ouvir gritos, olês e “Bruce, Bruce” por diversas vezes. A sequência de músicas tanto da carreira solo do cantor quanto emblemáticas da carreira do Deep Purple, se mostraram muito eficientes em aproximar ainda mais os fãs, que estavam quase se levantando da carreira tamanha era a empolgação.

O hit do álbum Balls to Picasso (1994), segundo álbum solo do vocalista, a balada “Tears of the Dragon” ganhou uma versão interessantíssima com orquestra. Tocada em seu tom original, simplesmente era inacreditável ver um senhor de 64 anos cantar com tanta maestria como Bruce o fez. Logo em seguida, uma canção do sensacional The Chemical Wedding (1998), “Jerusalem”, que por ter já uma vibe fantástica encaixou como uma luva nos novos arranjos. Que versão linda!

Os sentimentos mais intensos viriam à tona com “Pictures of Home”, “When a Blind Man Cries”, “Hush” e “Perfect Strangers”. Além de serem canções clássicas do Deep Purple (exceto “Hush”, que originalmente foi escrita por Joe South), cada uma delas possuía uma energia diferente. O destaque particular vai para a emocionante “When a Blind Man Cries”, na qual Bruce demonstrou como sua voz combina naturalmente com seu ídolo Ian Gillan, colocando todas as notas com a interpretação necessária e que não duvido ter arrancado lágrimas de alguns dos presentes. Mas o arranjo mais empolgante vai para “Pictures of Home”, que de fato se tornou ainda mais grandiosa, parecendo que foi feita para ser tocada com orquestra. A versão cover de “Hush”, popularizada pelo Deep Purple, talvez tenha sido a com mais interações da plateia até então, que cantava junto com Bruce a todo momento. E, óbvio, o punch de “Perfect Strangers” era o encerramento perfeito da segunda parte do setlist.

Chegou o momento mais rock do show. Na terceira parte, as cadeiras foram deixadas de lado, público todo em pé pulando e abraçado na grade. Sim, tinha chegado a hora de “Burn”, clássica da era Coverdale/Hughes, que mais uma vez teve uma performance vocal impecável de Bruce Dickinson. E para encerrar com chave de ouro, não poderia ser outra: “Smoke on the Water”, a mais famosa do Deep Purple e que todos conheciam a letra de cor. A cantoria era tão alta que competia com o microfone de Bruce, o que deixava ele ainda mais feliz com tamanho carinho de todos os fãs brasileiros. Que venham mais espetáculos como esse; vida longa à boa música!


SETLIST BRUCE DICKINSON CONCERTO FOR GROUP AND ORCHESTRA (RJ):
Primeira Parte

1 – Primeiro Movimento: Moderato – Allegro
2 – Segundo Movimento: Andante
3 – Terceiro Movimento: Vivace – Presto
Segunda Parte
4 – Tears of the Dragon
5 – Jerusalem
6 – Pictures of Home
7 – When a Blind Man Cries
8 – Hush
9 – Perfect Strangers
Terceira Parte
10 – Burn
11 – Smoke on the Water


GALERIA DE FOTOS (BRUCE DICKINSON CONCERTO FOR GROUP AND ORCHESTRA/ RJ):


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