Texto, revisão e edição: Gustavo Franchini
Foto: Paty Sigiliano
O título acima não é mera breguice, típica de jornalistas que adoram colocar clichês por falta de um leque gramatical mais elaborado. O que não só os cariocas, mas também os paulistas, mineiros e brasilienses tiveram o privilégio de presenciar foi o que todo pai roqueiro sonha em apresentar aos filhos: o que é um show de verdade do gênero que tanto amamos. E é exatamente isso que os nova iorquinos do Living Colour entregaram na noite de quinta-feira (10), na casa Sacadura 154, conhecida por eventos de porte intermediário no Rio de Janeiro.
Desde o show que fizeram com a participação mais do que especial do lendário guitarrista Steve Vai no Rock in Rio 2022 (veja como foi aqui), a curiosidade por mais um show completo deles (o mais recente foi no Circo Voador em 2019) circulou a mídia especializada durante um breve período, que logo foi sanada com o anúncio de uma turnê pela América Latina que passaria por quatro cidades brasileiras. O repertório não seria baseado na comemoração de algum álbum específico, mas sim um passeio por toda a sua discografia, que por sinal é riquíssima em musicalidade.
E de fato música é algo que os integrantes do Living Colour respiram dia e noite, visto a quantidade de projetos paralelos (o baixista Doug Wimbish que o diga) que gravaram ao longo dos anos, já que como banda são um supergrupo, enquanto que individualmente são músicos de primeira categoria. Não há sequer dúvidas de que se encaixariam em qualquer outro gênero que desejassem, mas escolheram o rock/metal como alicerce da carreira e em todas as instâncias são bem-sucedidos no caminho percorrido por 40 anos.
É difícil rotular uma banda tão versátil, considerando que percorrem diversos estilos para criar a sua sonoridade peculiar, em um misto de funk (americano, por favor), rock, soul, rhythm & blues, heavy metal, tudo isso com bastante groove. A voz extraordinária de Corey Glover facilita bastante tal criatividade, já que em seu terno iluminado por cores chamativas ele é capaz de cantar notas de uma maneira tão técnica/orgânica ao mesmo tempo, além de ter bastante feeling, usar o melisma com a maestria dos grandes e, como se não fosse o bastante, ainda tem uma presença de palco fenomenal. Chega a impressionar ver um cantor prestes a completar 60 anos apresentar uma baita performance de um jovem talento de 20 anos, em todas as características possíveis. O controle e consciência de sua própria tessitura vocal é tamanha a ponto de ele simplesmente brincar com a voz, como se estivesse em casa se divertindo com os amigos, entonando melodias que ficariam certamente esquisitas na maioria dos cantores, mas nele ficam sensacionais.
O guitarrista Vernon Reid é outro show à parte. Com muita personalidade nas seis cordas e um carisma arrebatador, a cada nota que reverberava por toda a acústica do lugar, era possível perceber a importância de ter sua identidade reconhecida apenas pelo tocar. E o que dizer do veterano Will Calhoun? Demonstrando sua competência nas baquetas, tendo direito a quase 5 minutos de solo que foi prontamente ovacionado por todos, não à toa é um dos artistas mais requisitados da indústria. O já mencionado baixista Doug Wimbish consegue transformar o seu instrumento em uma miríade de sentimentos. Utilizando diversos efeitos no pedal que geram atmosferas brilhantes, tudo fica mais denso e aprofundado. Ou seja, com um time dos sonhos desse, realmente o resultado não poderia ser menos do que um verdadeiro espetáculo!
Foto: Paty Sigiliano
Após a introdução com “The Imperial March” (John Williams, tema do Darth Vader da saga Star Wars), curiosamente abriram com “Leave It Alone”, canção do injustiçado Stain (1993), seguido de “Desperate People” e “Ignorance Is Bliss”. É sempre esperado um compilado dos dois álbuns de maior sucesso da banda, o de estreia Vivid (1988) e Time’s Up (1990), só que o segundo teve apenas a presença da belíssima “Love Rears Its Ugly Head”, “Type” e a homônima, o que diferencia de outras turnês por aqui. Até “Flying” e “Sacred Ground”, excelentes trilhas de Collideøscope (2003), se mostraram fortes ao vivo, enquanto que músicas do The Chair in the Doorway (2009) e Shade (2017) foram ignoradas. Um medley que prestigia o trabalho de Wimbish na Sugarhill Records caiu como uma luva, agregando e muito à ambientação gerada pela química rítmica do quarteto.
Um dos destaques do show ficou por conta de “Glamour Boys”, cantada em uníssono por toda a plateia, que era representada por pessoas de todas as faixas etárias, algo bonito de se ver. Claro que o público estava ansioso pelo hit “Cult of Personality”, que simplesmente envolveu cada centímetro do local em sorrisos contagiantes com o deleite do famoso riff de guitarra. Apesar de muitos gritarem por “Middle Man”, desta vez não rolou, dando espaço para “Type” e fechando com “What’s Your Favorite Color?”. Que venha a próxima turnê em terras tupiniquins!
Nossos agradecimentos a todos os responsáveis por tornarem o evento possível e, em especial, para a Rider2br pela parceria, confiança e credibilidade dada mais uma vez à equipe do Universo do Rock.
Veja a galeria de fotos do show (Living Colour/ RJ):
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