Por Danielle Barbosa
Banda canadense de indie rock faz apresentação com apelo visual, contraria projeções negativas e emociona fãs em retorno ao Rio
O Arcade Fire, banda canadense de indie rock fundada nos anos 2000 pelo casal Win Butler e Régine Chassagne no controle dos vocais, acompanhados de William Butler, Tim Kingsbury, Sarah Neufeld, Richard Reed Parry e Jeremy Gara, foi a grande atração da noite da último sexta-feira, 8, na Fundição Progresso. O grupo, que já veio ao Brasil em 2005 e 2014 – incorporando o lineup do festival Lollapalooza -, voltou desta vez com uma proposta de show mais ousada, apesar de algumas críticas e más recomendações do álbum “Everything Now”, lançado em julho de 2017. O quinto disco de estúdio produzido pela banda é indicado como sendo do gênero ‘dance rock’, em virtude da sonoridade de suas faixas mais agitadas.
Se em 2005 o Arcade Fire era apenas uma promessa do Tim Festival, que tinha o The Strokes como headliner, em 2014 a boa resposta da crítica e do público dos três álbuns que foram lançados – “Neon Bible” (2007), The “Suburbs” (2010) e “Reflektor” (2013) – se concretizou em apresentações empolgantes no Lollapalooza em São Paulo e no Citibank Hall, atualmente KM de Vantagens Hall, no Rio de Janeiro.
Todo esse panorama os credenciava, então, a projetar um salto ainda maior no retorno ao país. No Rio, a apresentação seria na Jeunesse Arena, na Barra da Tijuca, que comporta mais de 15 mil pessoas. O imbróglio, no entanto, começou quando a baixa vendagem de ingressos fez o show ser transferido para uma casa 3x menor da inicialmente planejada, meio que indo a favor dos críticos do álbum e dos shows igualmente não lotados em outros lugares pelo mundo. Será que a turnê “Infinite Content” estaria fadada ao fracasso na América do Sul?
Mesmo com todos os prognósticos apontando para um cenário não muito bom, o que se viu na prática foi completamente o oposto de tudo isso. A casa, por ser menor, acomodou muito bem os fãs e deu um aspecto de ‘sold out’ ao show. O palco, bem próximo dos fãs, ajudou a criar o clima mais intimista. O setlist, bastante democrático, com uma mescla de hits do passado com sons mais novos e até estreias de duas músicas ao vivo: “Peter Pan” e “We Exist”. Em todas, uma histeria coletiva e conexão dos fãs com os ídolos. De uma coisa, ninguém pode discordar: os seguidores do Arcade Fire são realmente fieis e entusiasmados.
Antes do horário previsto, pouco após às 21h30, o septeto de Montreal subiu ao stage com “Everything Now”, single que nomeia o atual trabalho, seguido por um clássico do Arcade Fire, “Rebellion (Lies)”. Para quem não está acostumado, pode ser estranho observar de fora a originalidade do som alternativo da banda e, além disso, o número de pessoas em cima de um palco produzindo música ao vivo. A multiplicidade de instrumentos – de tambores à violinos – dão charme e requinte ao show. Muito mais original e interessante do que se os sons produzidos por esses instrumentos fossem transmitidos ao grande público por meio de bases pré-gravadas.
O sucesso do show do Arcade Fire pode ser explicado por dois fatores bastante simples de entender: enquanto no palco os músicos se esforçaram durante as duas horas e deram tudo de si pra fazer um bom espetáculo, na plateia as pessoas estavam preocupadas somente com se divertir e aproveitar o momento. Sem crises, preocupações ou dúvidas quanto ao bom andamento dessa turnê antes dela realmente acontecer por aqui. Entre homens e mulheres, uma grande maioria de jovens, saltitando com ‘pulinhos’ entre as canções, colocando as mãos pro alto, batendo palmas e fazendo longos coros em uníssono durante os refrões.
Win Butler, o frontman, é um performer de respeito, tem um carisma nada forçado e usa looks bastante peculiares. Assim como em 2014, ele foi pra ‘galera’, arriscou um português bastante enrolado – e pediu desculpas por isso – e parecia ter os olhos brilhando com o quão festiva a atmosfera se transformou e quão receptivos os brasileiros estavam sendo com eles que, até então, vinham sendo desacreditados. Tudo isso, acoplado à uma produção impecável, foi fundamental para resultar uma experiência mágica e inesquecível para todos os que estavam presentes. Quanto à produção, o que mais chamou atenção foi o apelo visual. Telões, um globo de luz – desses de festa mesmo – no centro da pista e o espetáculo de luzes e lasers multicoloridos sincronizados que tomaram conta do espaço em todas as músicas. Era quase um convite para que as pessoas dançassem e foi bem isto o que ocorreu. Poucas vezes vi uma banda ser tão aplaudida como o Arcade Fire foi o show inteiro. A preocupação com se aproximar dos fãs e de ter um show bonito de se ver é uma constante da banda, então não foi surpresa para os fãs, que puderam experimentar disso já na turnê “Reflektor”, de 2014.
As músicas mais lentas e delicadas, no geral, ficam sob o comando da esposa de Win, Régine Chassagne. Os vocais suaves da cantora de 41 anos são música para os ouvidos. Em “It’s Never Over”, que teve uma intro de um clássico de Tom Jobim, “O Morro Não tem Vez”, ela foi pura graça e simpatia, encantando a todos. Outras canções que emocionaram as pessoas por sua popularidade foram “The Suburbs”, “Reflektor”, “My Body Is a Cage”, “Power Out”, “Afterlife” e, para fechar, a intensa “Wake Up”.
“Nós estamos muito felizes em voltar”, disse em certo momento o vocalista Win, que certamente não foi o único a sair com a alma lavada da Fundição Progresso. O cantor teve aprovação e carinho de unanimidade do público. Uma das provas de que essa afirmação é real foi quando a plateia atendeu a um pedido que veio do telão e iluminou o ambiente com as luzes dos celulares, em “Neon Bible”. Outro momento especial, esse mais pela mensagem repassada pelo músico de 37 anos, foi o gesto de caridade da banda: um dólar de cada ingresso pago naquela noite iria pra uma instituição de caridade, para ajudar os mais necessitados. Como não amar?!
Já pode voltar, viu, Arcade Fire?!
Vocês são muito bem-vindos na nossa terrinha!
Setlist:
1. Everything Now
2. Rebellion (Lies)
3. Here Comes the Night Time
4. Haiti
5. Peter Pan
6. No Cars Go
7. Electric Blue
8. Put Your Money on Me
9. Neon Bible
10. My Body Is a Cage
11. Neighboorhood #1 (Tunnels)
12. The Suburbs
13. The Suburbs (Continued)
14. Ready To Start
15. Sprawl II (Mountains Beyond Mountains)
16. It’s Never Over (Oh Orpheus)
17. Reflektor
18. Afterlife
19. We Exist
20. Creature Comfort
21. Neighboorhood #3 (Power Out)
BIS:
22. We Don’t Deserve Love
23. Everything Now (Continued)
24. Wake Up
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