Cobertura Summer Breeze Brasil 2024 – Dia 27

Por Gustavo Franchini


Considerado pelo público geral como o mais bem-sucedido do festival, pela reunião de tantas bandas de qualidade dentro do gênero proposto, o segundo dia foi abraçado pelo sol novamente, talvez até mais forte do que o do dia anterior, mas que em nada comprometeu a presença de um número massivo de fãs de todas as idades. O Waves brilhou com uma apresentação marcante, já no Sun teve o considerado melhor show de todo o final de semana e o Hot/Ice só espetáculo de primeira, ou seja, um dia inesquecível para todos.

A sessão de meet & greet esquentou com filas gigantescas de pessoas querendo conhecer seus ídolos e tirar fotos memoráveis. A Horror Expo também estava movimentada e até mesmo as lojas de tatuagem, discos etc foram contempladas. Teve até espaço para uma coreografia de luta medieval na parte externa! Neste segundo dia tivemos a cobertura das bandas Jelusick, The Night Flight Orchestra, Dark Tranquility, Noturnall, Jeff Scott Soto, Nervosa, Forbidden, Gamma Ray, Lacuna Coil, Hammerfall, Epica e Within Temptation.

Confira vídeos dos shows na seção ‘Destaques’ do Instagram

Sun Stage

Jelusick

Sem sombra de dúvidas a maior revelação para muitos dos presentes no festival, o cantor croata Dino Jelusić, integrante do The Voice em seu país, ex-membro da ótima banda Animal Drive e agora com carreira solo, Jelusick, simplesmente demonstra com sua qualidade vocal o motivo de ser tão bem falado por pessoas de destaque na cena. Sem exageros, a sua técnica é tão bem trabalhada que chegou a deixar alguns boquiabertos enquanto soltava notas super difíceis com uma facilidade impressionante, além de ter um controle sobre cada aspecto do drive, belting e um timbre que lembra David Coverdale, assim como ficou conhecido Jorn Lande.

Diferente de comparações que podem ser feitas automaticamente por veteranos do gênero, Dino oferece um som autoral de altíssimo nível, pesado na medida certa e com uma banda recente que, mesmo com pouco tempo de convivência, conseguiu apresentar um excelente show calcado em seu único álbum lançado, Follow the Blind Man (2023), tocado praticamente na íntegra. O repertório também contou com duas músicas de sua antiga banda com “Fade Away” e “I Walk Alone”. Tudo executado de maneira primorosa e de fato recebendo a atenção dos que tiveram a sorte de conferir a voz que tem tudo para conquistar o mercado nos próximos anos.

Fotos / Setlist (Jelusick)

The Night Flight Orchestra

Provavelmente o show mais esperado pela maioria dos amantes da boa música, já que os suecos do The Night Flight Orchestra estavam apresentando seu AOR por aqui pela primeira vez. Não só isso, mas pelo fato de a banda ser uma das mais interessantes que já surgiram nos últimos anos, visto que possuem uma sonoridade bem única, que mistura uma pegada clássica e moderna, um visual fora da caixinha e um vocalista que, pasmem, é um daqueles raros com interpretação e timbre diferenciados. A expectativa era alta e felizmente foi superada em todos os aspectos. Todos!

Björn Strid (Soilwork) e cia. pareciam estar dispostos a de fato celebrar a estreia no Brasil da melhor maneira possível, trazendo para cá todos os apetrechos de sua turnê, seja nas vestimentas, seja no clima maravilhoso que encantou a todos. Difícil ver alguém que não estava dançando na plateia, ainda mais ao som de “Divynils”, “Burn for Me”, “White Jeans”, “Satellite” e o hit “West Ruth Avenue”, dentre outras. Riffs sensacionais em um tema de aviação, enquanto a performance vocal perfeita ao vivo de Björn envolve o palco com uma banda afiada, ainda com o luto de David Andersson, guitarrista, cofundador e companheiro de composição que se foi em 2022, tudo isso somado se tornou uma verdadeira celebração da vida.

Fotos / Setlist (The Night Flight Orchestra)

Dark Tranquility

Outro grupo proveniente da Suécia já conhecido do público brasileiro é o Dark Tranquility, que com seu death metal melódico e com uma pegada gótica, cheio de nuances emotivas, apresentou um show enxuto para um bom número de pessoas que não debandaram para o Epica, que estava tocando ao mesmo tempo no Ice Stage. O vocalista e líder Mikael Stanne realmente se esforça para levantar a bandeira do gênero e, mesmo sendo o único membro da formação clássica, ao seu redor contava com músicos competentes que conseguiram executar as músicas de maneira satisfatória, mesmo com alguns pequenos erros técnicos.

O setlist passeou por praticamente toda a discografia da banda, em especial Fiction (2007) com “Nothing to No One”, “Terminus (Where Death Is Most Alive)” e a aguardada “Misery’s Crown”, assim como o ótimo Damage Done (2002) com “Cathode Ray Sunshine” e “Hours Passed in Exile”, álbum este que foi responsável por popularizar a banda no mercado. Do álbum prestes a ser lançado teve “The Last Imagination”, que foi bem recebida pelos presentes, dentre outras que foram ouvidas com respeito por quem buscou um clima mais intimista.

Fotos / Setlist (Dark Tranquility)

Waves Stage

Noturnall

Substituindo a banda Spektra no festival, os paulistas do Noturnall e seu metal progressivo moderno foram responsáveis por um show animado no palco menor, mesmo com um repertório reduzido. Dando prioridade ao álbum mais recente, Cosmic Redemption (2023) e algumas canções dos primeiros álbuns, o vocalista Thiago Bianchi soltou a voz com vontade durante toda a apresentação, chegando ao ponto de se jogar literalmente no meio do público (veja vídeo nos Destaques do nosso Instagram) e cantar um cover decente de “Thunderstruck” (AC/DC), representando bem a cena nacional.

Fotos / Setlist (Noturnall)

Jeff Scott Soto

Quem teve a ideia maravilhosa de conferir o show de um dos artistas mais carismáticos e respeitados da cena e que tem um carinho especial pelo Brasil, país que visita frequentemente há mais de 20 anos, de fato fez a coisa certa, pois provavelmente o verdadeiro espetáculo apresentado pelo americano Jeff Scott Soto e sua voz poderosa foi o melhor de todos que já tivemos o prazer de conferir. Sem exageros, o setlist beirava à perfeição e de longe representou o maior público do palco Waves de todo os três dias do festival. Recheado de participações especiais (algumas delas foram surpresa até para o próprio Soto, como o guitarrista Pontus Norgren do Hammerfall), mesmo com seus 58 anos de idade, o vocalista é impecável na sua performance em todas as canções. Todas, sem exceção.

Após uma introdução instrumental com várias músicas conhecidas pelas bandas que já passou, como Yngwie Malmsteen, Talisman e W.E.T., dentre muitas outras, o show parecia uma celebração de sua carreira, já que o repertório foi bem diversificado, até com a impressão de ter algumas improvisadas e um medley de respeito nos últimos minutos. Acompanhado da banda Spektra, formada por músicos brasileiros de primeira, como o guitarrista Leo Mancini, o multi-instrumentista e vocal de apoio BJ, além de Henrique Canale no baixo e Edu Cominato nas baquetas, Soto parecia tão feliz que quase em todos os intervalos entre as músicas fazia um discurso positivo se colocando cada vez mais próximo da plateia.

Para os fãs mais antigos, a alegria parecia constante, já que o vocalista cantou músicas que não tocava há décadas e outras inéditas ao vivo. A referência aqui é de “Caught in the Middle”, da sua época jovem na banda de Malmsteen e “Blissful Garden” do Talisman, o puro suco do hard rock. Além dessas, destaque para “Time After Time” e “Just Between Us”, esta segunda com o guitarrista Pontus Norgren (Hammerfall), que curiosamente estava assistindo a apresentação na parte lateral do palco e resolveu participar, assim, de repente. Outro guitarrista que resolveu dar o ar de sua graça foi Magnus Henriksson (Eclipe), durante o medley de músicas do W.E.T.. Teve até o brilhante cover de “Frozen” (Madonna), antes de encerrar com zero defeitos em “I’ll be Waiting”. E sim, o público brasileiro estará esperando pelo retorno de Soto!

Fotos / Setlist (Jeff Scott Soto)


Hot/Ice Stage

Nervosa

Abrindo os shows do Ice Stage, as brasileiras do Nervosa (e duas gregas), banda capitaneada pela vocalista e guitarrista Prika Amaral, mostraram por que o brasileiro não desiste. Após enfrentarem diversos problemas técnicos (a ponto de estourar uma das cordas da guitarra de Prika e ela ter que seguir apenas cantando, defeitos no retorno em cima do palco etc), persistiram em manter o setlist e fizeram um show com boa reciprocidade do público, calcado no álbum mais recente, Jailbreak (2023) e também do Perpetual Chaos (2021), com apenas três músicas de outros lançamentos anteriores, ou seja, o objetivo era mostrar a nova fase da banda. E o fizeram com maestria!

Fotos / Setlist (Nervosa)

Forbidden

Pela primeira vez em solo brasileiro, os californianos do Forbidden, lendária banda de thrash metal da Bay Area com décadas de carreira (sem contar os longos períodos de hiato), se sentiram à vontade em um dia que era atípico para o gênero, mas que a boa música fala mais alto. Mesmo sem contar com o vocalista antigo (Russ Anderson), os integrantes encontraram em Norman Skinner uma ótima escolha, visto a qualidade do cantor em reproduzir as canções originais com bastante fidelidade. Aliás, o setlist do show se baseou nos clássicos Forbidden Evil (1988) e Twisted Into Form (1992), um verdadeiro deleite para os fãs.

Considerando a quantidade de pessoas que foram lá conferir o show, além de pequenas rodinhas que seriam prelúdio do terceiro dia do festival, ainda mais com uma interação bem marcante entre a banda e público, o mínimo que podem fazer é voltar ao Brasil para uma apresentação individual completa, assim como outras que estrearam no país depois de tantos anos. “Step by Step”, “Infinite” e “Chalice of Blood” foram os destaques.

Fotos / Setlist (Forbidden)

Gamma Ray

Sempre um dos shows mais queridos pelos adoradores do power metal, os alemães do Gamma Ray, banda tônica quando se trata do estilo em escala mundial, mostraram o motivo de o público enfrentar o calor demasiado para vociferar a plenos pulmões músicas como “Land of the Free”, “Rebellion in Dreamland”, “Heaven Can Wait” e “Somewhere Out in Space”, dentre outras que são pura nostalgia. O lendário vocalista e guitarrista Kai Hansen, detentor do título de (provavelmente) o maior compositor de power metal melódico da história, com seu carisma inegável apresenta um show exclusivamente com músicas do grupo, sem contar com nenhum cover de Helloween (na qual retornou há uns anos para a formação com os três vocalistas que fizeram história na discografia).

A novidade ficou por conta do vocalista Frank Beck, que não só fez vocais de apoio, como dividiu algumas canções com Hansen e quase pareceu se tornar a voz principal, ou seja, Hansen assumindo exclusivamente as guitarras e fazendo backing vocals, já que a idade começou a afetar a sua performance em um show completo, mas nunca sua capacidade de emocionar o público só pela sua presença e energia em cima do palco. Da formação clássica, temos ainda o sensacional baixista Dirk Schlächter, com a cozinha sendo completada pelo guitarrista Kasperi Heikkinen e Michele Sanna nas baquetas.

Fotos / Setlist (Gamma Ray)

Lacuna Coil

Lotando o espaço do Ice Stage, a plateia enlouqueceu com a presença dos italianos do Lacuna Coil, que completa 30 anos de carreira este ano e é dono de uma discografia de respeito, em especial por conta do dueto de vozes Cristina Scabbia e Andrea Ferro, algo que se tornou padrão no gênero, de certa maneira responsáveis por popularizarem tal formato, junto a outras bandas marcantes como Nightwish. A presença feminina foi uma constante neste dia, recheado de divas que representam o que há de melhor no gothic e symphonic metal (e claro, também com as meninas da Nervosa e seu death metal).

Com uma produção de palco relativamente simples, mas roupas e maquiagens a todo vapor, a banda focou em músicas do Black Anima (2019) no setlist, mas dando também espaço a hits como “Heaven’s a Lie” (versão 2022) e “Our Truth”, assim como a excelente cover do Depeche Mode em “Enjoy the Silence”, dentre outras que empolgaram demais o público. De fato a cozinha estava afiada e não faltou peso para os headbangers e inclusive moshs mais intensos!

Fotos / Setlist (Lacuna Coil)


Hammerfall

Se for pra existir uma banda de metal melódico farofa, esse título certamente seria dos suecos do Hammerfall, que mantém seu estilo tradicional (e por que não clichê?) do famoso “metal espadinha” de maneira simples, direta e repetitiva, mas que todos amam, devido ao carisma e entrega da banda, algo que é louvável, considerando que muitos outros artistas passam a ter menos esmero com seus trabalhos ao longo dos anos. O vocalista Joacim Cans mantém seu timbre e segura bem os tons mais agudos sem demonstrar sinal de falta de potência, o que é agradável para os ouvidos e denota longevidade pra uma banda com uma carreira que dura décadas.

O setlist foi certeiro, não só por praticamente repetir o que já tinham feito dois anos atrás por aqui, mas por abranger grande parte da discografia com sucessos sempre muito requisitados pelos fãs, como “Renegade”, “Let the Hammer Fall” e “Hearts On Fire”. A dupla de guitarristas Pontus Norgren e Oscar Dronjak estava bem coesa, em especial nos solos divididos, utilizando boa timbragem no instrumento. Para saciar a curiosidade em relação ao novo álbum que será lançado ainda este ano, a banda mandou a nova “Hail to the King”, que teve resposta positiva do público.

Fotos / Setlist (Hammerfall)

Epica

Surpreendendo quem já tinha visto os shows anteriores com produção de palco mais simples, os holandeses do Epica (a banda mais “jovem” de estrada dentre as do gênero que se apresentaram no dia) presenteia o público com um verdadeiro espetáculo visual, que com uma iluminação de cores ricas e pirotecnia, além de outros efeitos interessantes, resolveram mostrar que voltaram ao país com força total. Claro, a simples presença de Simone Simons (vocal principal) e seu fiel companheiro Mark Jansen (guitarrista e vocal de apoio/gutural), fundador da banda, já dá o ar da graça e prometia ser uma das melhores apresentações do festival. E, no final das contas, foi o destaque da noite.

Músicas mais recentes como “The Essence of Silence” e “Victims of Contingency”, do The Quantum Enigma (2014), assim como “Code of Life” e “The Skeleton Key” do mais recente Omega (2021) dão a entender que o material mais atual da banda funciona bem ao vivo e o público sabe cantar tudo, mantendo a qualidade já esperada pelo sexteto. Na “Storm the Sorrow”, do Requiem for the Indifferent (2012) tivemos a participação especial de Cristina Scabbia dividindo as vozes. Só que se não tivesse a emocionante “Cry for the Moon” ou “Sensorium” ou mesmo “Unleashed” e “The Obsessive Devotion”, os fãs reclamariam, já que são praticamente obrigatórias em suas apresentações. Podemos dizer que o show de fato foi épico!

Fotos / Setlist (Epica)

Within Temptation

Com um som atualmente mais moderno e trazendo a mesma qualidade de produção de palco da apresentação anterior, além de setlist ainda maior com quase 20 músicas, o Within Temptation despejou carinho pelos fãs durante a noite inteira, inclusive com a vocalista Sharon den Adel vestindo um modelito da bandeira brasileira e demonstrando preocupação com uma pessoa da plateia que não se sentiu bem, parando o show até que fosse atendida. Bem legal de ver!

Lançado ano passado, Bleed Out marcou presença com a faixa-título, “Don’t Pray for Me”, “Entertain You” e “Wireless”. O cadenciado Resist (2019) também teve o mesmo número de músicas executadas, com destaque para “Mad World” e “The Reckoning”. Outro álbum que também seguiu com o mesmo número é The Heart of Everything (2007) e a ótima balada “All I Need”, dentre outras. Tecnicamente a banda estava impecável, mesmo o baixista Jeroen van Veen sendo em conjunto com Sharon e o guitarrista Robert Westerholt (em estúdio desde 2011) um dos três membros da formação original.

“Faster” mostra o lado mais moderno do grupo, enquanto “Paradise (What About Us?)” volta um pouco às raízes sinfônicas. E sempre a mais aguardada de todas, o hit “Mother Earth”, que foi o pontapé inicial para o sucesso da carreira deles, com certeza precisava fechar não só o show, mas também uma noite incrível que ficará marcada na memória dos que tiveram o privilégio de ver tantas bandas maravilhosas reunidas no mesmo evento.

Fotos / Setlist (Within Temptation)

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Nossos agradecimentos a todos os responsáveis por tornarem o evento possível e, em especial, para a Agência Taga, Consulado do Rock e Roadie Crew pela parceria, confiança e credibilidade dada mais uma vez à equipe do Universo do Rock. Nos vemos em 2025!

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