Entrevista com Seb Byford (Heavy Water)

Entrevista: Marcelo Vieira
Transcrição: João Marcello Calil
Edição: Gustavo Franchini

Foto: Steph Byford/ Divulgação

A impossibilidade de reagrupar o Saxon para um novo álbum de estúdio (por conta do severo lockdown imposto pelas autoridades britânicas durante o auge da pandemia no ano  passado) deu ao lendário vocalista Biff Byford a chance de tirar do papel a ideia de gravar em parceria com seu filho Seb. O resultado da parceria denominada Heavy Water é o álbum Red Brick City, que acaba de ser lançado em CD no Brasil pela Heavy Metal Rock (veja o release aqui).

Nós tivemos a oportunidade de conversar com Seb, que abraçou a missão de atender à imprensa sozinho, enquanto o pai encontra-se em estúdio dando os retoques finais ao vindouro trabalho do Saxon. Boa leitura!

Universo do Rock: Gravar um álbum juntos era algo que você e o seu pai já tinham em mente antes da pandemia?

Seb Byford: Para ser honesto, não. Ter muito tempo [durante o lockdown] nos deu a oportunidade de focar e gravar o álbum.

Universo do Rock: Quando exatamente surgiu a ideia?

Seb Byford: Começamos fazendo vídeos no YouTube. Covers do Saxon e alguns outros. Também fizemos algumas lives pagas, que meio que deram o pontapé inicial. Depois delas, as pessoas começaram a sugerir: “Vocês deviam gravar algumas músicas”, “Vocês deviam gravar um álbum”. Então nós gravamos! [Risos.]

Universo do Rock: O álbum foi gravado durante o lockdown, mas todas as músicas foram escritas nesse período também?

Seb Byford: Algumas sim, acho que três ou quatro. As outras, mais antigas, foram ideias minhas ou do meu pai que meio que tínhamos guardadas. O que o lockdown fez foi nos dar a oportunidade de vasculhar esse material antigo e retrabalhá-lo.

Universo do Rock: Quanto à gravação em si, vocês quatro gravaram as suas partes remotamente ou conseguiram se reunir em um estúdio para gravar?

Seb Byford: Gravamos assim que pudemos nos encontrar uns com os outros. Pudemos gravar juntos em estúdio, só tivemos que usar máscaras e tomar outras precauções.

Universo do Rock: O disco foi, de certa forma, uma maneira que vocês encontraram para escapar do tédio e da tristeza impostos pelo lockdown?

Seb Byford: Sim, com certeza. O lockdown não foi muito bom para ninguém em particular, mas para nós meio que nos deu algo para fazer, algo em que trabalhar, o que foi ótimo.

Universo do Rock: É muito cedo para perguntar se a experiência foi boa o suficiente e se provou viável a ponto de vocês estarem pensando em fazer um segundo álbum juntos?

Seb Byford: Um segundo álbum está definitivamente nos planos. Se este vender bem e muitas pessoas gostarem… É aquilo: temos muitas músicas prontas, então, sim, está definitivamente nos planos, com certeza.

Universo do Rock: O álbum é descrito como uma viagem por influências e inovações. Bem, posso ouvir muito do que presumo serem as suas influências, porque “Solution” soa como um Audioslave mais moderno enquanto “Now I’m Home”, que presumo ser do seu pai, tem um toque de Beatles. Foi difícil classificar e combinar inspirações tão diferentes ou simplesmente aconteceu naturalmente?

Seb Byford: Acho que aconteceu naturalmente. Tínhamos um monte de músicas essencialmente bem diferentes, mas não queríamos que isso fosse um problema. Individualmente, eram todas excelentes, independentemente do estilo.

Universo do Rock: Antes de entrar nos meus destaques pessoais do álbum, gostaria de entender o título. Seria “Red Brick City” uma referência a algum lugar?

Seb Byford: “Red Brick City” remete a alicerce, construção. Eu morava em Manchester e estava passando por um período muito difícil. Há muitas casas revestidas de tijolos vermelhos em Manchester; coisa típica de cidade velha do Norte, então acho que “Red Brick City” refere-se a cidades antigas, essencialmente. Queríamos que não fosse apenas um lugar e que todos pudessem se identificar com ele, porque todos no lockdown estavam passando por um momento muito difícil, presos entre quatro paredes, onde quer que estivessem. Acho que “Red Brick City” poderia ser qualquer cidade, qualquer lugar.

Universo do Rock: A música que mais me chamou a atenção foi “Tree in the Wind”. Quando você canta “contra todas as probabilidades, sobrevivemos”, provavelmente estão se referindo à pandemia, certo?

Seb Byford: Sim, definitivamente.

Universo do Rock: É uma música de esperança, mas também uma música sobre ser resiliente, permanecer forte… Podemos considerar essa música sua mensagem para aqueles que ainda enfrentam tempos difíceis em razão da COVID?

Seb Byford: Sim, com certeza. Isso é o que queríamos que a música fosse: uma luz no fim do túnel. É definitivamente uma mensagem para qualquer um que esteja lutando, seja contra a pandemia ou quaisquer outras circunstâncias. Nós definitivamente queríamos colocar um pouco de esperança nessa música, com certeza.

Universo do Rock: Outra música da qual que eu gostaria de falar é “Revolution”. Nestes tempos em que os artistas evitam falar sobre política, vocês estão mirando nos poderosos responsáveis pela destruição da natureza em nome de um suposto progresso. Em primeiro lugar, o que você acha desses artistas que optam por não se pronunciar sobre política?

Seb Byford: Respeito-os completamente. Nossa ideia com essa música não era nos posicionarmos politicamente porque poderia soar um pouco enfadonho. Não queríamos que a música fosse um “faça isso”, “faça aquilo”, mas apenas a nossa opinião pessoal e honesta sobre como nos sentimos perante o assunto. Por mais que certas coisas precisem ser ditas, é complicado porque quando o assunto é política, todo mundo tem algo a dizer e nem todos concordam que exista o errado e o certo, então é preciso ter cuidado.

Universo do Rock: Mas quando se trata de escrever uma música de protesto, não seria melhor, mais legítimo, deixar a raiva e as frustrações falarem mais alto do que entrar numa de tentar encontrar as palavras certas e, assim, evitar interpretações errôneas indesejadas?

Seb Byford: Como eu disse, acho que em músicas como essa você definitivamente tem que pensar um pouco mais nas palavras. Com assuntos pesados ​​como esse, você tem que ter certeza de que as palavras estão certas e que vão ser compreendidas. Letras de protesto têm que fazer sentido, ir direto ao ponto e significar algo.

Universo do Rock: Qual a sua música predileta do álbum?

Seb Byford: Eu diria que “Follow This Moment”, porque essa música tem muito de mim e do meu pai. Acho que me lembra de toda a experiência. Quando a ouço meio que traz tudo à tona; fazer o álbum e a relação entre meu pai e eu. Fora que a música em si é muito poderosa para mim.

Universo do Rock: Como você avalia a forma como suas vozes se misturaram, especialmente nas músicas em que cantam ao mesmo tempo?

Seb Byford: Acho que essa definitivamente foi uma das partes mais desafiadoras do álbum. Nós dois somos cantores, então tivemos que descobrir uma maneira de nos misturar ou algo assim e não apenas revezar estrofes em cada música. Mas essa foi a parte mais engraçada: acho que o que mais gostamos de fazer foram as harmonias. Algumas delas soaram muito bem e funcionaram imediatamente, mas outras não, então tivemos que descobrir quais funcionavam.

Universo do Rock: Você é o guitarrista do álbum, certo? Quais são as suas influências como guitarrista? Quem são os seus guitarristas favoritos?

Seb Byford: Gosto muito de Jeff Beck, Jimi Hendrix, Eric Clapton e muitos outros músicos de blues e jazz também.

Universo do Rock: E quanto ao heavy metal tradicional? Não curte?

Seb Byford: Na real, não. Raramente ouço metal.

Universo do Rock: Que ironia! [Risos.]

Seb Byford: Pois é, e esse é um dos motivos pelos quais fizemos o álbum Heavy Water, me dá a oportunidade para fazer algumas coisas mais pesadas e permite ao meu pai cantar em algo um pouco mais suave do que o Saxon. Foi diferente para ele e para mim. Foi algo que realmente gostamos de fazer. Foi desafiador e muito divertido.

Universo do Rock: Vocês se encontraram no meio do caminho. [Risos.]

Seb Byford: Exatamente! [Risos.]

Universo do Rock: Red Brick City saiu em CD no Brasil, curiosamente, por uma gravadora especializada chamada Heavy Metal Rock. Qual o seu recado para aqueles que estão dispostos a comprar o álbum e ouvi-lo à moda antiga?

Seb Byford: Coloquem o CD no aparelho, apertem o play e deixem tocar! [Risos.] Espero que curtam!

Universo do Rock: O que você acharia de vir tocar no Brasil?

Seb Byford: Adoraria. Acredito que o Saxon estará de volta ao Brasil em algum momento, mas independente disso eu adoraria ir ao Brasil, nem que fosse apenas para vivenciar a cultura e talvez pegar onda! [Risos.]

Universo do Rock: Para encerrarmos, o que você acha que a sua geração pode fazer ou continuar fazendo para tornar o futuro do rock ‘n’ roll possível?

Seb Byford: Continuar a dedicar-se à descoberta de novos artistas, apoiá-los e à indústria musical e, acima de tudo, se divertir com a música.

Saiba mais sobre o projeto: Facebook, Instagram e Twitter.

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