Por: Danielle Barbosa
Banda californiana de hard rock empolgou a multidão com performance surpreendente.
Axl Rose. Slash. Duff McKagan. Três nomes que marcaram gerações de apreciadores do bom e velho rock n’ roll. Três músicos que – sozinhos – já arrastariam multidões com uma turnê atrelada a seu nome. Imagine então o seguinte cenário: uma ‘tour’ de reunião da formação original de uma das maiores bandas de hard rock no mundo após 23 longos anos de espera. Foi o que aconteceu na última terça-feira (15) no Estádio Nilton Santos, o Engenhão, na zona norte do Rio de Janeiro. A “Not In This Lifetime” Tour trouxe para cinco capitais brasileiras (Rio, São Paulo, Brasília, Curitiba e Porto Alegre) os maiores sucessos do Guns N’ Roses na setlist e uma sofisticada superprodução por trás de cada uma das apresentações.
Até aí, nada que não fosse esperado. O que surpreendeu o público, imprensa e curiosos foi a quase pontualidade britânica com que os norte-americanos conduziram o cronograma de cada show. Para aqueles que estão acostumados com a banda e ficaram cerca de 3 horas aguardando Axl e cia no Rock in Rio 2011, é de se estranhar “apenas” 20 minutos de atraso para subir ao palco. Mas é o que vem acontecendo na atual turnê e no Rio não foi diferente. E a chuva – uma presença quase carimbada nos shows do Guns no Rio* – não deu as caras dessa vez, apesar da previsão do tempo apontar para uma noite chuvosa. Brincadeiras à parte, um show do Guns é sempre um show do Guns. Com ou sem atraso, com ou sem chuva, com ou sem contratempos, a intensidade do público nunca deixa a desejar. Mas dessa vez tinha um fator especial envolvido, não se tratava de só mais uma apresentação: Slash e Duff estavam de volta! Bem, ao menos por uma noite.
*Guns na Apoteose em março/2010 – tempestade que derrubou o palco e cancelou a apresentação; em abril de 2010, a apresentação foi realizada debaixo de chuva (de novo!); *Guns no Rock in Rio 2011 – temporal que “inundou” o palco e foi um dos motivadores do longo atraso do último show da edição.
Não à toa as arquibancadas e pistas (Premium e comum) já estavam praticamente lotadas desde o fim do show da Plebe Rude, banda que fez uma rápida abertura e aqueceu os motores da plateia pro espetáculo principal. Às 20h50, os berros histéricos dos fãs – com a música tema do desenho Looney Tunes de fundo – deram as boas-vindas à Axl Rose (vocais/piano), Slash (guitarra), Duff McKagan (baixo), Richard Fortus (guitarra), Frank Ferrer (bateria), Dizzy Reed e Melissa Reese (teclados). Sem dialogar com os fãs, o Guns emendou quatro músicas e em aproximadamente vinte minutos, o público já tinha ido à loucura com “It’s So Easy”, “Mr. Brownstone”, “Chinese Democracy” e “Welcome To The Jungle”. Sinalizadores acesos no público, labaredas de fogo no palco, um BG interativo que mudava de acordo com a vibe de cada música e imensos telões de LED nas laterais que garantiam que até aquelas pessoas que estavam bem longe pudessem acompanhar a transição dos músicos pelo palco muito bem. Tudo isso em menos de 30 minutos e sem que o senhor de cabelos ruivos tivesse proferido uma palavra sequer.
A única coisa que desviava a atenção de Axl Rose era Slash. Os músicos, que já trocaram farpas por diversas vezes – e, inclusive, surpreenderam muita gente ao anunciar uma tour em conjunto no início do ano -, mantiveram uma relação profissional e cordial em cima do palco, sem interações e trocas de olhares, mas com respeito. É inegável o poder de influenciar e carregar multidões que ambos têm, portanto seria uma bobagem não saber aproveitar desse potencial de venda da turnê por picuinhas pessoais. A importância de Slash, de 51 anos, é muito clara dentro do Guns N’ Roses: sem o guitarrista, banda e público só perdem. Por melhor que seja o músico que ocupe seu lugar, para o fã nunca será a mesma coisa um show do Guns sem os solos executados com perfeição por Slash. No Rio, ele abusou do seu talento, se esmerou no empenho com o show e fez a guitarra “gritar” no Engenhão – para delírio dos apaixonados pelo artista. “20 anos esperando por isso!”, um fã gritou ao meu lado emocionado. Apesar do sucesso com o projeto pessoal em parceria com o cantor Myles Kennedy – vocalista da Alter Bridge -, o britânico com pose de americano devia isso ao público, que é fiel à sua música e o idolatra desde os anos 80.
“É bom estar aqui de volta! Como vocês estão?”, puxou os holofotes pra si novamente Axl Rose ao introduzir “Live and Let Die” – com fogos nos refrões. Aliás, pirotecnia foi o que não faltou na apresentação do Guns no Rio. O barulho das explosões chegou a assustar as pessoas que estavam mais próximas à grade por algumas vezes e o calor produzido pelos estouros só esquentou mais a atmosfera do show. A sequência com “Rocket Queen”, “Out Ta Get Me”, “You Could Be Mine” e “You Can’t Put Your Arms Around A Memory” encerrou a primeira metade do show com a divisão de protagonismo entre Axl, Slash e Duff. Até o baixista, que de certa forma é um pouco ofuscado pela presença de seus colegas de banda, teve seus momentos de glória e tomou conta do microfone com destreza por alguns minutos.
Bandana vermelha, chapéu na cabeça, óculos escuros, camisa xadrez amarrada na cintura e calça com rasgos. A descrição do figurino de Axl Rose nos remete ao menino de 21 anos na década de 80, cheio de atitude e de frente ao que viria a ser um dos grupos mais poderosos do rock mundial. Mais de 30 anos se passaram e – aos 54 anos hoje -, o músico não tem mais o mesmo pique de outrora – e convenhamos, seria impossível manter exatamente o mesmo fôlego e potencia vocal. Mas se a disposição de Axl não é a mesma, o cantor compensa com muita experiência e inteligência para conduzir o show da melhor maneira possível: com pausas providenciais e não muito longas, goles d’água entre as canções e focando seus esforços em cantar bem, deixando de lado os diálogos no meio de sua performance no palco. Entretanto, há que se destacar a melhora visível do frontman do Guns N’ Roses se tomarmos como base comparativa o Rock in Rio 2011. Na ocasião, alguns levantaram a hipótese do vocalista parar de cantar dentro de pouco tempo devido às falhas vocais e falta de vigor físico. A versão 2016 do Axl está com a voz renovada (e fica muito mais perceptível nas canções mais lentas), condicionamento físico pra percorrer todo o palco e estar fisicamente bem após 2h30 de show.
De volta ao show, muitos foram os momentos de comoção generalizada na noite do feriado da Proclamação da República no Rio. Em “This I Love” e “Civil War”, Axl Rose brilhou com seu timbre incomparável e iluminação impecável acompanhando os melismas do cantor. Ao seu lado, Slash – e sua estilosa guitarra gêmea – e Richard Fortus compondo o pano de fundo das canções com solos melódicos, estendidos e que davam conta da habilidade e técnica instrumental de cada um deles. Difícil de não chorar e não se envolver com a atmosfera que, naquele momento, já era de jogo ganho para o Guns N’ Roses: o público estava 100% vidrado na apresentação.
Intros longas – que não foram cansativas, porém – e muitos riffs acompanhados de palmas e gritos de êxtase dos fãs enquanto os artistas se movimentavam pelos degraus do palco na transição de uma música pra outra. Toda sinergia de público e banda desenvolvida a partir de olhares e linguagem corporal; a fala foi dispensada. “Sweet Child O’Mine”, “Yesterdays” (com a luz dos celulares criando uma espécie de constelação nas arquibancadas), o Jam de “Wish You Were Here/Layla” e “November Rain” (com coros de ‘oooh’ e balões vermelhos jogados pro alto no fim) completaram vinte músicas da setlist em 2 horas. De pura música. De rock n’ roll enraizado na alma de um público composto por pessoas da geração de 80 e 90, em sua maioria. Os mais antigos, que tiveram a oportunidade de ver as apresentações do Guns no auge, não contiveram a emoção por ver tão de pertinho a formação clássica da banda que fez e faz a cabeça deles há anos.
Nos 30 minutos finais, mais clássicos e hits poderosos! Em “Knockin’ on Heaven’s Door”, Axl brincou pela primeira vez com um de seus companheiros de cena, Duff McKagan. O músico norte-americano tirou o chapéu que usava e pôs rapidamente na cabeça do baixista, que deu uma pequena risada e seguiu a interagir com o público do lado esquerdo do palco. O refrão, como de costume, foi jogado para o público, que fez um belo coro do trecho “Knock Knock Knockin’ on Heaven’s Door”, para satisfação de Axl. Já “Night Train” fechou o bloco de canções antes do bis e, especialmente a figura de Richard Fortus chamou atenção. Já com a blusa desabotoada e o corpo coberto de suor, o guitarrista do Guns rodou por todo o cenário incitando o público a dar um gás extra na música, que já por si só levanta os ânimos de qualquer um.
A banda deixou o palco por alguns instantes, tradição que compõe todo bis. O público, já frequentador assíduo de shows e ciente disso, sabia que os músicos voltariam ao palco e, talvez por isso, os gritos de “Guns n’ Roses” foram até tímidos pro tamanho de empolgação concentrada em cada um que estava ali. A trinca “Don’t Cry”, “The Seeker” (cover do The Who) e a explosiva “Paradise City” no bis fecharam a épica (sim, ÉPICA!) noite do Guns N’ Roses na Cidade Maravilhosa. A plateia carioca, coberta por uma chuva de papeis picados em verde e amarelo, fez reverência às grandes estrelas da noite, com uma merecida ovação de pé. O destaque, sem dúvidas, para as três peças fundamentais na trajetória do Guns N’ Roses:
Axl Rose, Slash e Duff McKagan.
Viva o Rock!
Set List:
1. It’s So Easy
2. Mr. Brownstone
3. Chinese Democracy
4. Welcome to the Jungle
5. Double Talkin’ Jive
6. Better
7. Estranged
8. Live and Let Die
9. Rocket Queen
10. Out Ta Get Me
11. You Could Be Mine
12. You Can’t Put Your Arms Around A Memory/Attitude
13. This I Love
14. Civil War
15. Coma
16. Band intros into Slash solo – Speak Softly Love (Love Theme From The Godfather/Andy Williams)
17. Sweet Child O’ Mine
18. Yesterdays
19. Jam (“Wish You Were Here/Layla”)
20. November Rain
21. Knockin’ on Heaven’s Door
22. Nightrain
BIS
23. Jam (Babe I’m Gonna Leave You)/Don’t Cry
24. The Seeker
25. Paradise City
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