Por Gustavo Franchini
O encontro de Di Ferrero com Vitor Kley abriu o palco Sunset agitando o público
O quinto dia (terceiro e último dedicado ao rock desta edição) do Rock in Rio aprofunda ainda mais o leque de representações do rock, valorizando um estilo que há muito não se fazia presente no cotidiano de fãs do gênero: o emocore. No palco Supernova, curiosamente combinando os nomes, temos o grupo capixaba Supercombo (veja fotos e setlist aqui) brilhando em tons de rosa, enquanto no Rock District um exemplo de superação com a banda The Lokomotiv e sua vocalista, show este que gerou uma linda repercussão no festival (confira a história aqui). Uma verdadeira homenagem a beleza das cores musicais!
Palco Sunset
Di Ferrero & Vitor Kley
Falar de emo no Brasil sem citar o NX Zero é um crime. Não à toa o vocalista da saudosa banda citada, Di Ferrero, foi o primeiro a pisar no palco com sucessos da carreira (solo e da ex-banda) e contando com a participação de Vitor Kley em todas as músicas, que teve a oportunidade de também apresentar um pouco do seu trabalho. Destaque para “Cedo ou Tarde” e “Razões e Emoções”. A reciprocidade da plateia indicou um dia longo e frutífero para os fãs da boa música!
Fotos / Setlist (Di Ferrero & Vitor Kley)
Jão & Convidado
O novato no cenário do pop Jão, que recentemente foi indicado para o Grammy Latino, teve uma oportunidade de ouro de mostrar seu trabalho, bastante inspirado em Cazuza, diante de uma multidão de milhares de pessoas. Definitivamente os momentos em que o público esteve mais conectado ao artista foram os que interpretou músicas (com arranjos orquestrais) como “Exagerado”, “Codinome beija-flor”, “O tempo não para” e “Pro dia nascer feliz”, inclusive com uma breve aparição da mãe de Cazuza, Lucinha Araújo. No encerramento do show, durante a música de sua carreira solo intitulada “Idiota”, foi para o meio da galera e levou o público da grade à loucura.
Fotos / Setlist (Jão & Convidado)
1985: A homenagem
Com participação de um time de peso como Ivan Lins, Alceu Valença, Pepeu Gomes, Andreas Kisser, Blitz e Elba Ramalho, dentre outros, o palco teve um show bem diferente com objetivo de celebrar a memória da primeira edição do festival, no chamado 1985: a homenagem. Artistas veteranos e respeitados na história da música brasileira se encontraram com a nova geração, que ainda está caminhando seus próprios passos, fazendo uma mistura saudável, mas que em alguns momentos soou um pouco esquisita, como na interpretação da magnífica “Love of My Life” (Queen), que realmente deixou a desejar. Como um todo, o repertório foi satisfatório e o público cantou junto.
Fotos / Setlist (1985: A homenagem)
Avril Lavigne
Provavelmente o momento em que o Sunset mais lotou de pessoas em seus arredores, o show da cantora franco-canadense Avril Lavigne, musa teen do pós-grunge e pop no início dos anos 2000, de fato era bastante esperado pelos brasileiros. Apesar de toda a expectativa, mesmo com um setlist que percorreu toda a sua carreira (priorizando o lançamento mais recente, Under My Skin, lançado este ano, e o disco de estreia Let Go, há 20 anos), o show se tornou um pouco morno por estar com o volume baixo vindo dos P.A.’s, algo que muitas pessoas da plateia estavam reclamando.
Os hits “Complicated”, “My Happy Ending” e “Sk8er Boi” foram os que mais fizeram os fãs cantarem, pularem e gritarem seu nome. Infelizmente, a melhor música de toda a sua discografia, “Nobody’s Home”, não foi inserida neste show, o que desapontou muitos dos presentes. O encerramento ocorreu com “I’m With You”, que deixou um ‘gostinho de quero mais’ e se deu às pressas, pois já tinha se iniciado a apresentação da banda do palco Mundo (Fall Out Boy).
Fotos / Setlist (Avril Lavigne)
Palco Mundo
Capital Inicial
Pela oitava vez consecutiva no festival e com 40 anos de carreira, os experientes do Capital Inicial, como sempre, entregaram um show digno de sua trajetória. Respeitados no rock nacional, o vocalista Dinho Ouro Preto, depois de tanto tempo, ainda consegue manter o público empolgado com tantos sucessos, um atrás do outro, correndo pra todos os lados do palco. E quem não sabia cantar hinos como “Olhos vermelhos”, “Primeiros erros”, “Fátima” e “Natasha”, além do cover sempre presente do Legião Urbana, “Que País É Esse?”? Só quem dormiu no tempo! Ainda sobrou espaço para “O passageiro” (versão de “The Passenger”, de Iggy Pop) e “Should I Stay or Should I Go”, clássico do The Clash. Um show para tirar qualquer um do chão!
Fotos / Setlist (Capital Inicial)
A banda Supercombo brilhou com canções autorais e ainda convidou fãs ao palco
Billy Idol
Depois de um intervalo de 31 anos (como ele sempre gosta de repetir), o carismático cantor britânico Billy Idol, símbolo do punk pop rock do início dos anos 80 e sucesso em clipes da MTV, juntamente com a volta do lendário guitarrista Steve Stevens, proporcionaram um momento singular para todos os presentes. Afinal, é impossível não dançar com a famosa “Dancing With Myself” (de sua antiga banda Generation X) e a empolgante “Rebel Yell”! O público estava ávido por um show que remetesse ao sentimento de ter vivido aquela época tão mágica.
Contudo, os problemas técnicos vieram à tona justo em um dos seus maiores hits, “Eyes Without a Face”, forçando a banda a interromper a introdução duas vezes seguidas, atrapalhando todo o ritmo do show. Nas redes sociais e em alguns veículos musicais, muitas pessoas disseram que o cantor tinha esquecido a letra, mas na realidade foi claramente um problema no retorno, pois as letras estavam todas no monitor, na frente do artista, o que resultava em um delay dos instrumentos e voz. Por conta disso, Billy (bastante frustrado com a situação) não conseguia entrar no tempo certo da música e o baixista de sua banda de apoio acabou errando o tom em certos momentos. Uma pena!
Mas isso não apagou a magia da apresentação, que foi bem sólida, apesar de tudo. Destaque para uma ótima versão do tema do filme Top Gun (1986), cujo riff e linhas de guitarra foram originalmente gravados por Steve Stevens, o que elevou e muito o nível da música. Agora resta aguardar por uma nova turnê pelo nosso país. No que depender da reciprocidade que o público teve e todo o carinho que foi demonstrado, é bem provável que Billy virá mais vezes!
Fotos / Setlist (Billy Idol)
Fall Out Boy
O público saiu correndo do Sunset para o show dos americanos do Fall Out Boy (momento este registrado aqui), que com seu emo-pop-punk-rock prometiam uma noite muito enérgica. Despejando uma vibe positiva durante a noite inteira e uma produção de palco invejável, mostraram estar aptos a tocar em um palco desta magnitude. Foram quase 20 músicas que não deixavam ninguém parado, o que chegou a ser surpreendente, pois muitas pessoas berravam as letras como se não houvesse amanhã, o tempo inteiro, sem intervalos.
Percorrendo sete álbuns de sua vasta discografia, priorizando o disco American Beauty/American Psycho (2015), o show foi quase um ode ao amor, no qual os amigos e famílias se abraçavam, todos com um sorriso no rosto. O cansaço parecia não existir, mesmo àquela altura do festival, depois de tantos shows incríveis. A banda se entregou ao máximo, interagindo bastante com a plateia e realmente merecendo aplausos. O destaque da noite vai para o hit máximo deles, “Thnks fr th Mmrs”, do terceiro álbum de estúdio, Infinity on High (2007).
Fico imaginando qual banda ainda poderia ser capaz de superar toda a emoção testemunhada no show do Fall Out Boy. E parece que a resposta veio alguns minutos depois, com o headliner da noite.
Fotos / Setlist (Fall Out Boy)
Green Day
Já daremos um spoiler logo de cara: definitivamente foi o melhor show de todo o festival. O que falar sobre uma banda que tem a plateia nas mãos desde a primeira nota ecoada, que todas as músicas são hits, que foi a única capaz de manter o público em pé (total de zero pessoas ficaram sentadas) durante todo o repertório? Um verdadeiro espetáculo em forma de luzes, melodias, sentimentos e muita, mas muita felicidade no olhar de todos que tiveram a sorte de estar ali. É o que os californianos do Green Day nos proporcionaram com seu punk/pop rock em uma noite mágica e inesquecível.
O trio que conta com o vocalista, guitarrista e frontman Billie Joe Armstrong, o baixista Mike Dirnt e o baterista Tré Cool, que surpreendeu o mundo com a obra-prima Dookie (1994), álbum este que conseguiu a proeza de não ter sequer uma música mediana, mostraram que, mesmo com muitas fanfarronices, sabem fazer um show genuíno não só para os fãs, mas para todos. Então, podem esperar por uma chuva de “ieeeooo”, gritos de amor pelo Brasil, pedidos de casamento (confira este momento aqui), alguém aleatório da plateia cantando e tocando uma das músicas na guitarra (e ganhando de presente), luzes, fogos, beijinhos e ‘linguadas’ na câmera, tudo que for possível para gerar entretenimento. E foram muito bem-sucedidos!
Em aproximadamente duas horas de show, conseguiram condensar uma seleção de hits que agradassem a todas as gerações que acompanham a banda desde o final da década de 80. Músicas como “American Idiot”, “Boulevard of Broken Dreams”, “Longview”, “Welcome to Paradise”, “Hitchin’ a Ride”, “When I Come Around”, “Wake Me Up When September Ends” e, claro, nesta incrível festa não poderia jamais faltar as clássicas absolutas “Basket Case” e “Good Riddance (Time of Your Life)”. O sentimento que fica é de voltarem ao Brasil o quanto antes para tocarem ainda mais músicas, visto que tiveram exclusividade no contrato para tocarem apenas no Rock in Rio.
Agora podemos dizer com certeza absoluta que os três dias do festival dedicados ao rock nesta edição fecharam com maestria!
Fotos / Setlist (Green Day)
Nossos agradecimentos a todos os responsáveis por tornarem o evento possível e, em especial, para a Approach Comunicação pela parceria, confiança e credibilidade dada mais uma vez à equipe do Universo do Rock. Nos vemos em 2024!
Confira as fotos do quinto dia (09/09) no Rock in Rio 2022:
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